terça-feira, 29 de setembro de 2009

O olhar


Vou arriscar dizer que não existe artista de um talento só. O que torna o artista de verdade, conhecido ou desconhecido, não é a habilidade, a virtuosidade. O que torna o artista de verdade é o olhar e a vontade de expressar, de transbordar para o mundo o que vai lá dentro. Se a crítica é boa ou não, não importa. O crítico nada mais é do que alguém que decidiu classificar as produções alheias e que foi imponente o suficiente para fazer-se prevalecer. Sentir, visualizar, viajar, expressar, aí reside a verdadeira arte. Seja qual for o meio ou combinação, idade, sexo, origem, etnia, o que importa é a sensibilidade. A emoção provocada numa cena, por uma pincelada mais forte, num feixe de luz, composição de sons e ritmos, escritos poéticos, confissões, sabores. O perceber que somos também um pouco artistas quando aprisionamos aquela beleza, nem que por um segundo somente. O embevecimento, o enlevamento da alma, o sublime, o vencer do abstrato e das sensações.

Sofremos porque somos sensíveis. Mas somos artistas. E vemos. E sentimos. E vamos de um extremo ao outro. Do inferno ao céu.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

What a sunny day

Fiquei olhando pela janela e vendo o sol lá fora... Para variar minha mente voou. Pensei que a gente se cobra regularidade. Comportamentos e emoções estáveis, sentimentos de preferência positivos e nos lugares certos. Esse parece ser o estado ideal, "correto". Sim, acho que deve ser mesmo. Mas olhando para o sol lá fora, lembrei de repente sobre um comentário que ouvi ontem: "é, o tempo melhorou, tá gostoso o calor lá fora, mas quinta-feira vai esfriar de novo". Foi então que me dei conta de que a natureza não é regular. Os dias não são lineares. Esquenta e esfria, venta, o ar pára, tudo sem um padrão bem definido. Tentamos equacionar a natureza, a criação, a origem das coisas e esbarramos nos padrões irregulares. E na incapacidade de normalizar, aplaudimos a Teoria do Caos, quase como se se admitisse o fracasso da busca. Isso é que é genialidade, formular uma teoria para demonstrar que não o padrão não existe e ainda ser aplaudido de pé.

Pois é, da próxima vez que nos cobrarmos a felicidade ou a eficiência permanente, lembremo-nos de que somos parte da natureza. E como parte dela, suscetíveis a ruídos e a interferências que mudam o resultado do cálculo no meio do caminho. Não que isso não seja bom. Se não houvesse chuva, não brotariam maravilhas a cada dia.