quinta-feira, 29 de julho de 2010

Comer

Eu ando numa maratona de filmes... Durante algum tempo, olhava os lançamentos ou mesmo filmes muito comentados e ficava com um ar de desconfiança... agora resolvi colocar em dia e tive ótimas surpresas. Quem sabe eu não ganho motivação para postar essas dicas.

Engraçado como funciona a cabeça da gente. Estava assistindo "Julie e Julia" e numa determinada cena, em que eles estão com a irmã de Julia num restaurante, quebrando nacos de baguette, bebendo vinho e degustando queijos, eu me peguei pensando. Pensamento provocado pelo desejo de comer um Brie: existe na vida da gente um marco, lógico que não para todos, mas para aqueles que apreciam boa comida e boa bebida. Esse marco é que determina quando a gente deixa de simplesmente se alimentar para efetivamente apreciar comida. Quando a gente fica parecendo assim meio bobo, meio esnobe, por idolatrar um certo tipo de queijo, uma marca de azeite ou uma boa garrafa de vinho.

Parei a cena do video e fiquei tentando imaginar quando isso pode ter acontecido comigo. Se foi na época em que eu li Peter Mayle, em que nem estressada eu era com a vida moderna ainda, mas em que eu incorporava um executivo inglês, cansado do ritmo excessivo do trabalho, conhecendo e se apaixonando aos poucos pela região da Provence. Ou melhor teria sido na época da mania de Isaías Pessotti, na qual entre um prato de massa e uma taça de delicado vinho italiano e beges paisagens, se desvendava um crime já arquivado, num ritmo quase de Agatha Christie mas infinitamente mais saboroso? Ou do tal "vol-au-vent" de codorna da memorável "Festa de Babette"?

Devo dizer que essas delícias, eu nem as havia provado ainda. Ficava a curiosidade sem nem saber ao certo como elas seriam exatamente. Quase como a criança que degustava mentalmente os tais pastéis de vento do fantasminha Pluft.

Muitos anos se passaram. Viagens, jantares, mais livros. Inacreditavelmente, vol-au-vent de codorna. Filmes. Mais uma paixão cultivada, entre tantas artes: o prazer de comer. Só que agora de verdade. Com o tempo, com mais sabedoria. "Sin perder la ternura", sem deixar de reconhecer o gozo das coisas simples, do cheiro de um arroz bem feito.

Incrível essa cabeça da gente. Que por causa de uma simples cena, leva-nos a revisitar quase que uma vida inteira.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Tales of Mere Existence

É uma pena não ter disponível com legendas, apesar de que grande parte da graça está em como ele fala as coisas.


Eu recomendo esse aí para começar. "A typical conversation with my mom".

Gatilho

Estava lendo no outro dia um livro chamado "Deus usa batom" de Karen Berg. Esse livro fala sobre a Cabala com um enfoque para mulheres. Acredito que a espiritualidade, independentemente da linha adotada, é necessária na vida de todos. Eu sempre busquei a minha, lamento dizer que nunca no grau de maturidade e disciplina que eu gostaria de atingir. Mas saber que pelo menos eu penso no assunto, que pelo menos a consciência existe, isso me traz um mínimo de conforto. No outro dia uma amiga me escreveu: "não se martirize". E é este um dos grande ensinamentos que eu preciso aprender e interiorizar. Martirizar-se não soluciona nada.

Voltando ao livro, existem muitos ensinamentos bacanas e que considero lógicos. Práticas que eu já entendi há muito tempo atrás serem necessárias. Leio esses livros, me identifico, mas no fundo vem uma frustração (olha eu me martirizando de novo). Eu não me conformo com a distância que existe entre aquilo que a gente considera bom e que a gente gostaria de aplicar de forma consistente na vida com o que a gente realmente consegue por em prática. Creio que um dos grandes mistérios da vida está em encontrar a chave da reprogramação de nossos pensamentos e ações. Por mais que a gente saiba que determinada atitude não faz bem (vou me isentar aqui da classificação de certo ou errado), isso infelizmente não previne a atitude em si. A gente não gosta, sabe que o resultado não vai ser bom mas continua fazendo do mesmo jeito.

Sabe o que me frustra mais? Tem coisas que a gente faz por inconsciência. Digamos assim, que até tem uma certa desculpa. E aquilo que a gente tem consciência a respeito mas não consegue controlar? Talvez o controle seja o pior de tudo. Sempre digo que a situação ideal é quando algo se torna um hábito bom. Você não precisa se forçar àquilo. Você simplesmente faz. Aquilo já se tornou parte de você. O controle, especialmente em pessoas explosivas, parece ter o efeito contrário ao desejado. Me parece que o controle leva em algum ponto ao descontrole. Vem um gatilho e "buuummmm", lá se foi pelos ares o controle. E pior, parece que com mais força do que se não tivesse ocorrido uma tentativa de evitar.

Gatilho. Sim, percebi que existem gatilhos. Frases, repetições externas. Coisas que nos incomodam e que a gente não tem como mudar. Não dá para fugir, não dá para calar. Não dá para evitar. E a gente tem que aprender de alguma forma (que forma será essa?) a aceitar. Aquilo que nos incomoda, não necessariamente está errado. Às vezes não dá nem para mensurar ou classificar. Simplesmente incomoda.  E ninguém, aí que está o mais difícil de tudo, a não ser nós mesmos, vai conseguir solucionar. "Para toda ação existe uma reação". Eu gostaria sinceramente que a reação não fosse eternamente a mesma disparada pela ação. E que a intensidade, como na equação física, fosse na medida do possível, proporcional.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Por que é assim?

Pode me chamar de chata. Eu sou o tipo de pessoa que lava a louça se perguntando se é água demais. Que fica tentando imaginar o que vai acontecer com todas aquelas embalagens jogadas fora. Que pede licença quando vai passar na frente de alguém que olha a prateleira no supermercado e que devolve o carrinho para o lugar ao final das compras. Eu agradeço quando alguém me abre a porta e dou bom dia. Com o tempo fui adquirindo mais algumas manias. Tento não fazer fofoca, não julgar e não comer doces. Eu detesto que façam mal aos animais, não gosto de gente que só reclama e abomino falta de educação no trânsito. Ah, esqueci! Eu dou passagem e respeito o farol vermelho. E as faixas. E o limite de velocidade. Eu não pego dinheiro no chão da rua. Para mim, achado não é roubado mas também não é meu. É de alguém que pode voltar para buscar.

Poderia dizer que estas são coisas "pequenas" que me preocupam. Muitas regras que eu inventei para mim, formas de respeitar e viver  bem. Ser uma pessoa educada, agradável e que sabe viver em comunidade. Tão chata eu sou.

Não é de admirar então que cada vez mais eu veja um abismo se formar entre mim e a realidade. Existem coisas que não deixam de me surpreender negativamente. Cada vez mais e a cada dia mais. Quanto menos eu minto, cada desculpa esfarrapada que deixo de dar aumenta a minha estupefação diante das mentiras deslavadas e desnecessárias. Certos conceitos como não roubar e não matar, são coisas inquestionáveis, práticas naturais desde que me entendo por gente, então é inacreditável dentro do meu universo que possam existir pessoas capazes de praticá-las e pior, por motivos fúteis. Lógico que não sou míope, não sou alienada e consigo entender o pano de fundo do problema social, da infância desprovida, da violência doméstica. Vejo as atrocidades nas notícias e no cotidiano, longe ou perto de mim e antes costumava me perguntar: por que tem que ser assim? Por que eles precisaram fazer isso? Sim, eu vivia me perguntando.

Com o tempo cansei de que querer saber o por quê. Cansei ou concluí ser inútil. O por que, se a gente sabe, não resolve. No mínimo previne, se for possível. Não me interessa mais saber por que é assim. Eu só gostaria que não fosse assim.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Pensamentos

Estou tentando lembrar onde foi que eu li ou ouvi recentemente que não importa quantas coisas boas tenham sido feitas para você na infância, que você provavelmente vai esquecer isso tudo e só vai lembrar daquela única coisa, ou poucas coisas ruins que aconteceram.

Nas minhas leituras pelos blogs afora, vejo o assunto adolescência como um tema recorrente. Quase todo mundo conta algo, se não uma situação específica, que marcou negativamente, dissertações sobre a fase, sobre as angústias, os medos, as inseguranças.

Já li, tanto na corrente espiritualista, como em textos pedagógicos, que a idade de 7 anos é um marco na vida de uma pessoa. Até os 7 anos, a criança encontra-se em formação; o que for recebido de valores éticos, de conceitos que servem para a formação do indivíduo, a construção da auto-estima, é isso o que vai determinar a conduta do adulto no futuro. Houve quem dissesse até que se a criança não recebeu até essa idade a base adequada, que ela seria de certa forma um "caso perdido".

Não gosto de radicalismos. Eu tento sempre acreditar que tudo é possível se a gente acredita, se se esforça. Reconheço o papel da dor como agente de mudanças. Preciso acreditar em tudo isso.

Mas não posso deixar de admitir que certas frases, certos pensamentos dessa tenra idade, mesmo que equivocados, nos perseguem mesmo que subliminarmente. Por vezes as mensagens são identificadas e trabalhadas e em muitas outras, elas movem ações e pensamentos presentes sem que nós tomemos consciência. Isso é cruel.

Como minimizar essas marcas? Como voltar ao passado e explicar para aquela criança que sentia medo e solidão que seus temores eram infundados? Que a dimensão de suas preocupações era exagerada?

Se a adolescência foi uma fase difícil? Com certeza sim. Mas felizmente não deixou traumas eternos. Tenho a satisfação de reconhecer que aqueles problemas, os da adolescência, eu esqueci.