quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Fazendo contas


Quem, seja por interesse ou necessidade, já se embrenhou nas literaturas disponíveis a respeito de finanças pessoais, deve se lembrar que um dos ensinamentos básicos das cartilhas propostas, é o de prestar a atenção nos pequenos gastos.

Em linhas gerais significaria o seguinte: vamos supor que todo dia você tome um cafezinho para descontrair. Se o cafezinho custa três reais e você o toma todos os dias de trabalho, então na semana isso representa quinze reais e no mês em torno de sessenta reais, o que ao fim de um ano, somaria aproximadamente setecentos e vinte reais.

O conceito seria listar os gastos feitos, atribuindo valores e propondo cortes e repriorização. A tendência que as pessoas têm é a de assumir vários pequenos gastos que "cabem" no orçamento e com isso, o salário se esgota no final do mês, impossibilitando projetos maiores como uma viagem ou a casa própria. Tem até aquela passagem do "Confessions of a Shopaholic" que exemplifica bem esse exercício, quando a protagonista, afundada em dívidas, resolve recorrer a um livro do tipo que eu citei. Enervante mas engraçado ao mesmo tempo.

Fiquei eu filosofando ao estilo "mesa de boteco" hoje. Vai tentar praticar uma "vida simples" na cidade de São Paulo e optar por caminhar no lugar de usar o carro. Veja que aqui não estou sendo política e nem abraçando causas impossíveis. O que me chamou a atenção, mesmo que óbvio, dessas obviedades que nos arrebatam em determinados dias, foi que faixas de pedestres são meramente decorativas. Não estou me referindo às faixas das principais avenidas e cruzamentos. Estas sim tem função, que é a de multar o motorista indisciplinado ou distraído que ousar ficar em cima delas no momento em que o sinal fecha. Mas as faixas nas ruas secundárias, nas centenas de ruas de bairro, essas, que deveriam ter a principal função de auxiliar o pedestre, em verdade são totalmente alegóricas.

Daí, deriva que o pedestre tem que se treinar na arte de atravessar a rua. Saber aproveitar aqueles segundos entre um sinal e outro em que dá um tempinho de correr, tomando o cuidado de não ser pego por um motoqueiro que é muito mais rápido e menos respeitador dos sinais. Sim, torna-se uma arte ou um esporte, nem sei bem direito. Bobeou, é lançado da curva, exatamente como um atleta olímpico. Triste mas verdadeiro.

De pensar que as faixas são "de enfeite", pus-me a imaginar, apenas imaginar, pois não teria competência para atribuir os devidos valores, na economia que a prefeitura teria em não pintar mais as faixas que não servem para nada. Sim, se está escrito no código de trânsito que o motorista deve parar na faixa para o pedestre atravessar, isso não é mesmo respeitado por ninguém. E quem tenta cumprir a regra, leva buzinaço na traseira.

Enfim, fiquei eu imaginando se melhor não seria aceitar que a regra não é cumprida e economizar os milhares de reais de tintas, provavelmente especiais por refletirem a luz, mão de obra, sinalização de obra, e todos os outros custos envolvidos que eu não consegui vislumbrar.

Quem sabe assim, não sobraria dinheiro para fazer projetos mais urgentes ou úteis.

Cansativo, né?

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Live the life you have imagined


Vou jogar aqui um balde de água fria. Acho que todo mundo precisa, de tempos em tempos de umas frases de efeito, "inspiradoras", como atualmente se diz. E não vejo mal nisso. Em termos.

Frases inspiradoras são necessárias. Naqueles momentos de baixa, quando a gente não se sente capaz, quando precisamos de um empurrãozinho. E são essencialmente boas, eu diria. Mas creio que o verdadeiro valor das frases de efeito esteja na reflexão que elas nos provocam. Na grande complexidade que existe por trás de algo aparentemente tão simples. Nos milhares de caminhos e facetas que elas evocam.

O meu medo em relação às frases de reflexão, é que as atitudes motivadas por elas, sejam elas lidas em outdoors ou banners de cafés ou livrarias, sejam reflexos de um "fast-thinking", ops, expressão que acabei de inventar, tão impressionada que estou diante da velocidade destes dias. Ler, refletir e agir, em questão de minutos e horas. Horas? Sim, horas. Parece absurdo né. Imagine horas, numa contagem de tempo atual, quando estamos acostumados a contar em segundos. Parece uma eternidade.

Eu acredito que todo mundo tenha direito a viver a vida que imaginou ou sonhou. Acho que é o que move a vida. Totalmente necessário. O que eu não acredito, e aí está o perigo da frase, é que isso aconteça sem dor. Imagina você, adolescente de vida estável, vivendo a vida que você imaginou. Vai ser bom até um momento. Até o ponto em que, não sei porque, você vai colocar tudo em questão diante do marasmo.

Equilíbrio. Equilíbrio é a palavra que não deixo de repetir. Nem tanto a calmaria e nem o sofrimento absoluto. Desculpe, mas não acredito na genialidade sem uma parcela de sofrimento. Fico olhando os exemplos, os modelos que admiro. O que levaria uma pessoa a cortar a orelha fora? Van Gogh, amigos. Ou Alexander McQueen a se matar depois de tantas conquistas. Não interessa se você não é fã de moda. O "cara" criou um estilo, influenciou mentes, marcou sua passagem por aqui.

O que quero dizer é: "live the life you have imagined". Mas isso não quer dizer que tudo serão flores. Que você não terá que "comer grama", pegar ônibus, ficar sem dormir, trabalhar no final de semana. Eu proclamo que todos vivamos as vidas que imaginamos. Com os esforços e sacrifícios necessários. Desde que a gente consiga decifrar a hora de começar e de parar.

Carpe diem.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Food for the creative mind






A dica eu peguei no Noites em Claro. Vale a pena visitar. Um sopro de boa inspiração: Kelly Rae Roberts.

Enjoy!

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Slumdog Millionaire - A India de verdade


Ultimamente, com bastante frequência, eu diria, tenho sido tomada por um sentimento de "eu acredito em Papai Noel". Eu não sei dizer exatamente porque isso ocorre. Se é porque a minha angústia por me tornar uma pessoa em paz consigo mesma e com o mundo me tornou excessivamente otimista ou se eu realmente era incapaz de enxergar algumas verdades.

Eu confesso que tinha uma visão "super-hiper-adocicada" a respeito da India. No passado, lembro-me de ter lido, embora não consiga citar, inúmeros livros que tratavam a India como um pólo de espiritualidade, quase que um nirvana em terra. Eu tive a minha fase espiritualista e esotérica, quando lia com avidez tudo o que pudesse encontrar dentro do tema.

Talvez a minha visão, em particular, tenha sido formada a partir de um relato de uma colega de trabalho que nos idos dos anos 90 aderiu ao movimento do "Sai Baba" passando um mês num ashram. Segundo ela, na India as pessoas eram pobres, até miseráveis, mas eram felizes. Estavam sempre sorrindo. E essa imagem, de alguém que sonhava em encontrar um mundo verdadeiro, dentro da perfeição espiritual, ficou forjada a ferro, como se nada de ruim pudesse existir dentro daquele país.

Se eu estava errada ou não, não vem ao caso, creio eu. Concluo que era um ideal meu, sonhador, embora absoluto. O meu erro, não foi em acreditar que a espiritualidade pudesse tornar sim, uma pessoa mais feliz. O meu maior erro foi acreditar que a evolução espiritual de alguns, pudesse excluir tudo o que houvesse de mau naquele lugar. Eu errei em esquecer que seres humanos, uns mais evoluídos ou não, estão sempre sujeitos a erros, ao domínio da vaidade e no quanto a religião pode matar, contrariando os reais ensinamentos de seus líderes.

Pois foi assim que "Slumdog Millionaire - Como ser um milionário", me ajudou a ver uma India mais verdadeira. Na minha visão do passado, que era equivocada, assim como no presente. Cenas de conflitos religiosos, matança, miséria absoluta que não tem nada de bonita, criminalidade e prostituição, todas elas me surpreenderam, me trouxeram de volta ao chão. Sem no entanto, praticar o que aquele país também tem de bonito. A combinação da miséria com o sonho, a dualidade viva. O sonho de Jamal, um muçulmano sobrevivente a todos os contratempos. Que dentro de toda a maldade e a pobreza foi capaz de cultivar no íntimo a sua inocência.

A cena final ao estilo "Bollywood" nos traz de volta a esperança. E não preciso nem comentar sobre a genialidade do roteiro, a forma como as perguntas se entremeiam com a história. Meus aplausos para o filme.


segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Stella - O doce refúgio da leitura


Eu que ando para lá de atrasada nos lançamentos cinematográficos, consegui assistir ontem "Stella". Para ser sincera, o filme não me entusiasmou muito. Achei-o lento além da conta, a mãe, dona de bar, elegante demais para o nível do local... mas não deixa de ser um filme que eu recomendo. Vale a pena assistir pela sensibilidade e reprodução de época. Talvez a minha insatisfação tenha sido um pouco também pela comparação inevitável com o excelente "A culpa é do Fidel" que segue uma linha parecidíssima sendo entretanto infinitamente mais interessante e menos dramático.

O ponto do filme que me tocou mais foi a forma como a leitura passou a ser um refúgio para a solitária Stella. Eu mesma, filha única, embora criada num lar estruturado, lembrei-me com carinho das centenas de tardes passadas junto aos livros.

Há uma cena em que se vislumbra na capa do livro o nome "Duras". Eu não tenho problema em confessar (aliás já o fiz diversas outras vezes) os livros que tentei desbravar mas não consegui. Com certeza já andou pelas minhas mãos algum de Marguerite que eu não aguentei além do primeiro capítulo. O bom é que a esperança é a última que morre, e quem sabe um dia eu consiga voltar nesses livros abandonados.

Tudo isso me fez refletir sobre a forma como a leitura é tratada hoje em dia. Fico pensando que Stella, com aproximadamente 12 ou 13 anos, lia com interesse Marguerite Duras, assim como eu, apesar de não ter conseguido depois de adulta, fui capaz na mesma idade de enfrentar e desfrutar de outros grandes e densos autores.

Preocupou-me então que os jovens de hoje estejam limitados pelo marketing a visitar seções de livrarias específicas e um tanto pasteurizadas. De autores que, não tirando o mérito, repetem-se nos temas de dragões, seres fantásticos em geral, fadas e temas adolescentes que versam quase sempre as fórmulas de garotas populares, problemas escolares e namoro.

Na minha época, onde o consumo era menos estimulado, as visitas às livrarias eram menos frequentes. A gente acabava explorando as estantes de casa e as bibliotecas. Com isso, éramos menos direcionados, me parece que havia menos limites. Se Dostoievski era o que se tinha disponível e havia uma fome de leitura a alimentar, então era isso o que se lia.

Não gostaria de soar nem saudosista e muito menos metida a intelectual mas creio haver um valor inegável na leitura diversificada e com vários graus de dificuldade. Eu mesma gosto de um chick-lit e já li outros tantos autores "dedicados aos seres fantásticos" como mencionei anteriormente. O que eu não gostaria, creio eu, seria que meus filhos tratassem a leitura como uma visita a uma lanchonete de fast-food.

"I've made my point".



Eu não levo desaforo para casa


Me ocorreu no outro dia que quem se utiliza da máxima "eu não levo desaforo para casa", paradoxalmente é o que mais leva o desaforo para casa.


Pessoas que proferem desaforos, normalmente estão desgostosas com a vida, num momento de surto de mau-humor ou passando por alguma situação difícil. Eu me refiro a desconhecidos como atendentes de lojas, vizinhos com quem temos pouco ou quase nenhum contato, motoristas de ônibus. Não vou entrar neste momento no mérito dos conflitos familiares ou de rusgas antigas, mesmo achando que a análise proposta também possa se aplicar nestes casos.


Eu diria que é um erro tomar determinada atitude desagradável de um desconhecido como "desaforo" pois a forma de agir dessa pessoa não tem absolutamente nada de pessoal em relação a nós. Ela não nos conhece o suficiente para elaborar em questão de segundos um ataque que tenha qualquer base na análise de nossa personalidade. Vou dizer, com o risco de me atrever demais, que quase sempre nos sentimos ofendidos neste casos como resultado de nossa própria insegurança interna, seja ela causada por um mal momentâneo ou por algum abalo mais sério em nossa auto-estima.


Agora eu explico porque ao "não levar o desaforo para casa", nós estamos de fato "levando o desaforo para casa". Se ao recebermos um suposto desaforo, reagimos a ele com alguma ofensa de qualquer nível, raramente a disputa pára neste ponto. O nosso coração acelera, a respiração fica mais pesada, por vezes a temperatura corporal aumenta, há quem sinta pressão nos olhos ou na cabeça, dependendo do grau de fúria que o embate possa ter provocado. E existe, não sei porque, mesmo após o episódio terminado, uma tendência do nosso cérebro a visitar e revisitar a situação várias vezes após o ocorrido, algumas vezes até propondo frases que poderiam ter sido ditas no lugar daquela que de fato foi usada. Há ainda o reviver da situação quando relatamos aos amigos o acontecido e a forma como enfrentamos a batalha.


Dona de uma personalidade explosiva, bem mais no passado do que no presente, tenho por objetivo, mesmo que nem sempre atingido, reprogramar esta frase. Na minha forma de ver, o verdadeiro "não levar desaforo para casa" ocorre quando ao recebermos qualquer atitude ríspida, nos isolamos do fato e do agente, percebemos que a pessoa que está do outro lado, preferencialmente merece a nossa compaixão e o nosso perdão, no lugar de nos tornar tão desgostosas ou agressivas quanto ela. O desaforo não nos segue pois é imediatamente esquecido. Nós não o levamos para casa.


Sim, sei que é muito difícil. Mas creio que é a solução.


quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

A Simpler Life

Quem acompanha este blog há muito tempo deve se lembrar que comentei sobre uma outra blogueira que tem muitas coisas em comum comigo, apesar da distância física e de nunca termos nos conhecido pessoalmente. Dessas coincidências cibernéticas. Um dia desses estava me atualizando nos posts dela e li um que (como vários outros) poderia ter sido escrito por mim:


Podem dizer que eu ando obcecada com o assunto que não vou ligar. É verdade mesmo. O que eu tenho a comentar a respeito é que não importa a situação, não adianta ler auto-ajuda ou receber conselhos. A gente só passa a praticar determinadas coisas na nossa vida quando vem aquele "insight" que muda a perspectiva de tudo e então a gente passa a ver determinada atitude como solução. Eu ando sim, pensando em simplificar a vida. Ser feliz é um objetivo constante. Por outro lado, descobri que não é fácil ser feliz. Este é um objetivo que envolve sim, uma parcela de sofrimento. Seja ele auto-imposto ou não.

Eu nem lembro se já comentei em post anterior, mesmo tendo sido os posts escassos ultimamente. Mas fica a referência literária: "Carl Honoré". Eu não terminei de ler o primeiro livro ainda: "Slow"-. Mas posso dizer que durante minha leitura, pude constatar mais uma vez que existem pensamentos, sensações que estão no ar, algo meio "jungiano", constatações que nos tomam em segundos e que a gente se surpreende ao notar que não são exclusivamente nossas. Como a impressão que me invadiu em determinado capítulo, a respeito do "slow food", em que me veio uma imagem completamente "Peter-Mayle-de-ser". E na página seguinte era exatamente a referência citada pelo autor. Naquele momento, livro e eu, nos conectamos por completo, compartilhando não só as sensações como também as conclusões.


quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Muito bom


Fora as situações hilárias, tem aquela frase que eu ouvi no outro dia do Sheldon:

"I feel like I am talking to a wall".

Quem é muito certinho e lógico demais com certeza já se sentiu assim...

I've been there, I've done that...