quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Trilha sonora de nossas vidas

Fiquei pensando hoje sobre se um dia eu tivesse que fazer o filme da minha vida, como seria a trilha sonora. Comecei pensando em listar 20 músicas. Conforme fui escrevendo, vi que 20 músicas não seria o suficiente. Aí tem aqueles grupos que a gente tem vontade de colocar o disco inteiro. E cheguei à conclusão de que muitas músicas são significativas porque são as músicas da época. Vamos colocar assim, na mesma época em que eu só ouvia Hard Rock, por exemplo, pode ter uma música da Madonna ou Michael Jackson que faz sentido citar. Algumas músicas lembram pessoas. Outras lugares. E por aí vai.

Não é uma tarefa fácil. Coloquei e tirei músicas. Restringi ao máximo. Acho que pulei alguns períodos e lembrei mais de outros. Hoje saí com esta lista de 50 músicas. Parei uns 5 anos atrás. Mas segue aí o resultado:

Teresinha de Jesus - Cantiga de Roda
O cravo e a rosa - Cantiga de Roda
Estúpido Cupido - Celly Campello
Diana - Paul Anka
Bridge over troubled water - Elvis Presley
Dancing Queen - ABBA
Mr. Postman - Carpenters
As frenéticas - Frenéticas
Mania de Você - Rita Lee
Beat it - Michael Jackson
Hard to Say I'm sorry - Chicago
Let it grow - Renaissance
Flight of Icarus - Iron Maiden
Fever - Judas Priest
The rain song - Led Zeppelin
Close to the edge - Yes
Lovers in the wind - Roger Hodgson
Kayleigh - Marillion
Highway star - Deep Purple
Bohemian Rhapsody - Queen
Sonata Patética - Beethoven
Private Idaho - B52's
Sunday Bloody Sunday - U2
Tom Sawyer - Rush
Message in a bottle - The Police
Tempo perdido - Legião Urbana
Como eu quero - Kid Abelha
Até quando esperar - Plebe Rude
Sub-culture - New Order
Boys don't cry - The Cure
The boy with the thorn in his side - The Smiths
Everybody wants to rule the world - Tears for Fears
Hide in your shell - Supertramp
Wish you were here - Fleetwood Mac
Like a prayer - Madonna
Pump up the Jam - Technotronic
Samba do avião - Tom Jobim interpretado por Leila Pinheiro
Cantaloop - US3
Linger - Cranberries
Because the night - 10000 Maniacs
Na estrada - Marisa Monte
Possession - Sarah McLachlan
Charlie Brown's Parents - Dishwalla
You oughta know - Alanis Morrisette
Comfort Eagle - Cake
Everybody's fool - Evanescence
In the end - Linkin Park
Pump it - Black Eyes Peas
Everybody's changing - Keane
The scientist - Coldplay

Pequenas coisas que mudam o dia da gente

Vou ser sincera. A gente tapa o sol com a peneira. Ninguém gosta de encarar a verdade. Até que ela entra na frente da gente na forma de dificuldade a ser enfrentada.

Desde ontem eu só penso em morte. Morte rápida, morte lenta. A função da morte. Carma. Vida após a vida. Eu me prometi no passado a utilizar o blog como forma de externar sentimentos de uma forma positiva. Descobri que pensar sobre morte não é algo negativo. Dependendo da forma como se pensa, se for reflexiva, se tirarmos destes pensamentos ensinamentos, é enriquecedor. Pensar sobre a morte, repito, não é negativo. É necessário em algum ou vários momentos, ao longo da vida. É ponto de parada, dor e reflexão. É melancólico mas não negativo. Por que faz parte do ciclo da vida. Eu estou convivendo com a morte. Mas ontem nasceu o filho de uma amiga. A vida é assim.

Eu abri o meu Orkut e recebi uma surpresa. Há 2 dias atrás, estava escrevendo e ouvindo músicas do meu Itunes de forma alfabética. Entre uma faixa e outra, entrou a célebre saudação do Supertramp no show do álbum duplo "Paris". Não sei por que cargas d'água a saudação entrou lá e a música seguinte não, mas ficou no ar o prenúncio dessa canção.

Eu entrei no Orkut e escrevi no meu status: "Bonsoir, Paris". Como um enigma, uma frase que ficasse para quem quisesse entender que o que vinha depois era parecido com o meu estado de espírito. "The logical song", o que eu ouvia na minha cabeça era o seguinte refrão:

"When I was young,
it seemed that life was so wonderful,
a miracle, oh it was beautiful, magical.
And all the birds in the trees,
well they'd be singing so happily,oh joyfully, oh playfully watching me.
But then they sent me away to teach me how to be sensible,
logical, oh responsible, practical.
And then they showed me a world
where I could be so dependable,oh clinical, oh intellectual, cynical.

There are times when all the world's asleep,
the questions run too deep
for such a simple man.
Won't you please, please tell me what we've learned
I know it sounds absurd
but please tell me who I am..."

Deixei a frase lá. Teve gente, eu creio, que entendeu que eu tava com saudades de Paris. Hoje pela manhã, entrei nos recados e tinha o seguinte, escrito por um amigo:

"Bonsoir Paris et bienvenue a une soiree avec Supertramp! Nous sommes très heureux de jouer a Paris...."

É amigo. Você matou a charada. E eu fiquei com um sorriso nos lábios.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Sobre a dor

Eu fico muito chateada quando penso em citar um filme mas não consigo lembrar do nome dele e nem tenho dados suficientes que me permitam achá-lo no google. Eu queria ser mais precisa mas não vou conseguir.

Uma vez eu assisti um filme, creio que iniciava na Turquia. Era um país que estava atravessando um período difícil, guerra ou revolução. A estória (baseada em fatos reais) começava com algumas famílias combinando entre si uma fuga para os países mais ricos da Europa. Tudo o que compreende uma fuga deste tipo é mostrado. Desde o prático, como compra de passaportes, até os questionamentos entre os envolvidos e a expectativa pela nova vida.

Desde o início, pequenas dificuldades vão aparecendo. Até a maior de todas: a travessia, se não me engano da Itália para a Suíça a pé, através dos Alpes. Era algo já programado no roteiro deles. Mas os fugitivos só se dão conta da dificuldade da tarefa quando já estão por executá-la e sem opção de volta. São famílias inteiras: maridos e mulheres, filhos, mulheres grávidas.

Neste dia fazia frio. Eu não me recordo direito mas estimo que 30% do filme tenha mostrado a travessia. Neve para todo lado, noite, pessoas cansadas, pessoas carregando umas às outras, gente morrendo e frio. Muito frio. A sensação provocada pelas cenas foi potencializada pelo escuro e o frio do próprio cinema.

Eu sou de chorar muito em filmes. Qualquer ceninha mais emocionante já me arranca lágrimas. Eu chorei no Wall-e, por exemplo. Neste dia, enquanto as cenas na neve se desenrolavam, eu me envolvi de tal forma no filme que todo o desespero, o cansaço e o frio dos fugitivos, parece que tudo aquilo eu senti dentro de mim. Quando o filme terminou, eu estava esgotada, apática, vi as cenas de pessoas morrendo com tanto sofrimento que nem uma lágrima sequer rolou dos meus olhos.

Fui para casa triste e abatida e acordei do mesmo jeito no dia seguinte. Torpor, apatia, tristeza profunda.

Desde este dia, aprendi que determinadas dores são tão fortes que nos impedem até de chorar

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Over time


Champagne e música. Inebriante combinação.

Estava pensando sobre amizades. Uma amizade não é igual à outra. E se tivermos sorte, conseguiremos firmar novas amizades ao longo da vida. Alguém me disse que a vida é feita de ciclos, de fases, e que a cada fase firmamos um novo contrato. Acho que é assim que acontece com a amizade.

Existem aquelas que nos conheceram quando crianças. Pura inocência e descoberta. As da adolescência: busca pela identidade própria, rebeldia, caos interno. Amizades de início de fase adulta: realização, conquista, esperança, medo da entrega. Maturação da fase adulta: revisão, "lessons learned", entrega sem medos.

Sinto-me privilegiada. Fui brindada com todas as fases. Todas as amizades, atuais e ressurgentes, tempo e atemporalidade, muitas mensagens, comunicação. Exatamente como a minha revolução solar previu para este ano. Comunicação. Esta é a palavra.

Cada amiga ou amigo, algo de bom a extrair. Aprender que somos todos seres humanos em busca de algo. Exatamente o que, não sabemos. Momentos bons, momentos ruins. Cabe a nós equilibrar a balança. Eu ouvi isso de uma amiga e repito: adoro gente. "I like people". Me too.

Todo post tem uma motivação. Lembrança, estado de espírito. Este post tem uma motivação bastante simples. Um presente: ganhei neste domingo um livro, "Conversas com Woody Allen". Diretor que acompanho desde sempre e que aprendi a amar ao longo dos anos. Gente como a gente. Imperfeito e fascinante. Este presente, não tão simples como afirmei antes, pois exige conhecimento "over the time", provocou essa avalanche de emoções. Pacote aberto, enquanto falava ao celular. Constatação em microssegundos. E em 15 minutos de post, despertar de toda uma história de amizades.

Homenagem sincera a todos os meus amigos.

Auto-reflexão

A colega do "De Salto Alto" postou hoje uma pergunta e isto inevitavelmente provocou uma reflexão. Afinal, blogueiro adora uma reflexão.

A pergunta foi: "Quem é você?"

Eu diria que sempre achei que tentava ser quem eu queria ser. Talvez realmente tenha conseguido por um bom tempo. Um dia, entretanto, me dei conta que sem querer eu estava tentando ser o que várias pessoas diferentes gostariam que eu fosse. Não só não consegui como terminei sem saber quem eu sou e quem eu quero ser.

Complicado né?

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Professor cuca fresca

Eu sempre fui boa aluna. Não me classificaria como cdf ou nerd mas boa aluna. Eu odiava física e química. Estudava por pura obrigação. Mas no resto ia muito bem.

Entrei para uma faculdade de Tecnologia. O primeiro semestre foi um baque. Choque cultural, adaptação com a instituição, estilo das aulas. Tudo diferente. Fora isso, tinha o fato de que eu havia passado uns 8 meses em casa, curtindo academia e praia pois o meu curso só iniciava no segundo semestre. Então havia um certo embotamento mental para ajudar a dificultar a história.

Havia matérias parecidas com o que eu já havia estudado no colégio e outras muito diferentes de tudo o que eu já havia vivenciado. Criar conceitos. Lógica. Uma das matérias era fundamentalmente lógica de programação aprendida através de uma linguagem de programação. Eu entrava na aula e aquilo tudo me parecia muito estranho. O professor falava e eu entendia pouco. Na verdade, fui entender mais tarde que é daquelas coisas que dependem de um clique. Num momento você não entende nada. Depois vem a luz e tudo fica muito claro.

O professor tinha um estilo todo pessoal de dar a aula. Ele falava de lógica de programação como quem fala de algo transcedental. Dava uns exemplos curiosos, a forma como ele movimentava o corpo era toda particular. Parecia um iogue, um naturalista. E na verdade ele era mesmo.

Eu ia muito mal na matéria. O clique ainda não tinha chegado. Quanto mais eu queria entender, menos eu entendia. Várias pessoas na minha turma estavam passando pelo mesmo drama que eu. Não sei como surgiu a idéia. Mas o professor nos prometeu, além de uma aula de reforço na matéria, que na véspera da prova faria uma sessão de meditação.

Minha faculdade ficava num local privilegiado do Rio de Janeiro. Micos e todo tipo de aves e animais silvestres passeavam pelo local. Havia matas tropicais, ar úmido de verão. Entramos na mata, um grupo de aproximadamente 10 pessoas seguindo o professor. Seguiu-se um momento esotérico. Não lembro exatamente como foi. Lembro apenas que estávamos num local onde havia uma pequena ponte, que ele foi nos dando instruções e que ficamos em círculo. Foi uma experiência de paz, bastante relaxante.

Eu bombei. Sim, bombei feio. Fiz meditação mas bombei. Minha nota foi péssima, pior do que as anteriores e eu tive que repetir a matéria. Eu estudava por sistema de créditos. Haveria um prejuízo mas nem tanto pensando que eu podia ir seguindo as outras matérias que não dependiam daquela. O pior de tudo foi trabalhar com a derrota, o fracasso para uma pessoa que nunca havia perdido nada.

Lembrei dessa historinha quando ontem, conversando a respeito de religiões com uma amiga, descobri que ela conhecia o meu professor. Não pela faculdade de tecnologia, até porque a formação dela é outra, mas porque atualmente ele é uma autoridade numa área de estudo religioso.

Sonho - Igreja

Sonhei que fui a uma igreja assistir um culto. Embora fosse uma igreja protestante, para entrar tínhamos que entrar numa caixa de madeira escura que tinha a ponta superior triangular e passavam essa caixa por cima de uma espécie de biombo e ela caía dentro de um confessionário.

Passaram primeiro o meu pai. Depois eu entrei. Quando me vi dentro do confessionário, percebi que havia uma passagem direta da rua para dentro da igreja que não exigia essa manobra complicada. Eu pensei: "por que tive que entrar por aqui se dava para ir direto?".

Dentro da igreja todos os bancos eram de madeira escura e havia muita confusão lá dentro. Pessoas andando de um lado para o outro e falando alto. A parte posterior da igreja também tinha bancos e era mais estreita. Parecia um playground. Todas as crianças estavam concentradas lá brincando e havia também um piano que aparentemente seria tocado somente para as crianças. Fiquei imaginando se quando o culto começasse as pessoas fariam silêncio.

Eu vi meu filho e minha filha no meio daquelas crianças. Eles estavam muito felizes com a brincadeira. Aproximei-me do meu filho e ele estava mais alto do que eu. Calculei 1,70m mas ele continuava com o rosto infantil de 9 anos. Falei para ele que a viagem de férias havia lhe feito bem pois ele tinha crescido bastante.

domingo, 25 de janeiro de 2009

De novo, Orkut

Dava pra fazer um tratado de sociologia olhando o Orkut. Tá bom, vai. Todo mundo tem defeitos. Eu tenho esse vício inexplicável de Orkut.

Já falei isso anteriormente. O Orkut me proporcionou algo sem preço que foi reencontrar amigos de longa data. Amigos de infância, de adolescência que mesmo não presentes fisicamente, têm me trazido momentos de emoção, acarinhando-me com palavras muito bonitas.

Eu já pensei em sair do Orkut algumas vezes. Pensei quando ouvi algumas histórias cavernosas de vinganças e coisas do tipo. Ou quando alguém escreveu alguma coisa não muito discreta nos meus recados. Mas a vontade passa porque eu sempre me lembro do lado positivo que supera em muito o lado negativo.

Sobre vingança, fiquei pensando também sobre o quanto a pessoa fez para merecer aquela atitude. Para provocar assim a raiva de uma pessoa, deve ter havido um motivo. Não justifica o ato mas explica.

As pessoas são do tamanho que elas querem ser para a gente. Eu tive vontade de excluir alguém do meu Orkut. Tive vontade por decepção. Mas por outro lado, refleti sobre o meu erro. Às vezes a gente conhece uma pessoa, enxerga várias qualidades que ela tem e a valoriza de acordo com essas impressões. Classifica-a no grupo de amigos. Com o tempo a gente percebe algumas atitudes não muito boas. Até que algo joga ao chão toda a antiga admiração. Digo que refleti sobre o meu erro porque de fato fui eu que me equivoquei com a minha impressão.

Seguindo a minha linha do não julgar, desisti de fazer a exclusão. Desisti porque ninguém pode decidir como eu me sinto ou como devo agir. Agindo de forma supostamente vingativa, eu estaria me igualando a esta pessoa na sua inabilidade social, praticando da mesma forma que ela, o julgamento precipitado e o sentimento ruim em relação às pessoas.

Segue assim, sendo o Orkut, um exercício de convivência virtual. Um aprendizado sobre como agir numa nova ética tecnológica. Onde por trás da foto, da máscara de arrogância e confiança, ou da aparente alegria, vive um ser assustado e inseguro como outro qualquer. Como qualquer um de nós se sente algum dia.

Sobre Deus e a Fé

Eu não tive formação religiosa. Meus pais não frequentavam nenhuma religião. Mas eu acredito em Deus.

Creio que aprendi uma crença própria baseada em coisas que li e ouvi. De pequena acostumei-me a fazer uma reza todo dia antes de deitar. Eu falo na minha cabeça sobre coisas que me incomodam e agradeço muitas coisas. Como uma conversa entre eu e Deus. Andei um tempo afastada dessas conversas há alguns anos atrás. Mas eu as retomei. Um costume que eu tenho em face a alguma dificuldade é rezar para que aconteça o melhor dentro da situação. Já aconteceu de pedir algo específico e o resultado não ser bom. Aprendi que nem sempre a gente sabe o que é bom de verdade. É o tal "escrever por linhas tortas".

Talvez eu tenha simplificado demais as coisas. Tomei para mim conceitos como: fazer o bem, agindo da forma mais ética possível e evitando fazer com os outros coisas que eu não gostaria que fizessem comigo. Muitas vezes falho neste tarefa mas procuro me corrigir numa próxima oportunidade. Operar pequenos milagres diários oferecendo a ajuda que posso. Acredito que quando ajudamos, praticamos a nossa semelhança com Deus. Reconhecer e acreditar no bem das pessoas. Enfim, a minha espirituosidade vem desses atos praticados e refletidos. E com o tempo, gradualmente tenho aprendido na prática outros conceitos. Não julgar, por exemplo.

Vejo pessoas que se dedicam muito a uma religião e acabo questionando a minha fé. Ouço falar de milagres e é algo que não consigo compreender. Se Deus existe para todos, como pode então o milagre ocorrer apenas num determinado local e através de uma pessoa específica? Não seria trair a confiança, questionar a própria fé? Se a pessoa não tem acesso àquilo, ela não tem o direito ao milagre?

Eu não duvido do milagre. Eu acredito no milagre assim como acredito em Deus e todas as coisas boas que vivencio credito à sua existência. Eu duvido é do "querer um milagre" de uma forma cega, colocando o instrumento acima de Deus. Eu acredito que Deus é um só.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Momento numerologia

Cacau, esse é para você.

Embora eu faça parte da comunidade "O meu orkut não sabe contar", preciso relatar que neste momento ele registra:

333 amigos
33 recados

E a sorte de hoje coincide com o meu post anterior:

Sorte de hoje: Hoje pode ser um dia excelente e maravilhoso - só depende de você

3 beijos para você.

E durma com esse barulho. ;)

A room with a view


Quando a gente viaja, principalmente para o exterior, tudo é bonito. A gente presta atenção nos cartazes, nos formatos das coisas, na arquitetura dos prédios, na maneira como as pessoas estão vestidas. Na nossa própria cidade, por mais que ela tenha a oferecer para ser visto, os detalhes nos passam desapercebidos, apagados pela rotina.

Saindo da rotina normal, se nos dermos a oportunidade, somos capazes de capturar novamente essas sutilezas, beneficiando-nos destes pequenos momentos de beleza.

Hoje eu estava num humor um tanto melancólico, facilmente explicável pelo momento de vida em que me encontro. Entrei num determinado restaurante, local teoricamente não agradável para almoçar. Atrairam-me umas mesinhas coladas na janela. Escolhi a que estava mais no fundo e sentei-me de uma forma que eu visualizava todo o pequeno salão de refeições.

Uma vez acomodada, olhei para fora da janela. Fui engolfada por uma vista espetacular. Ali estava, no alto de sua imponência, o MASP que pelo que constatei naquele momento é muito mais bonito visto pelos fundos do que pela frente na Avenida Paulista. Seus contornos de vermelho vibrante constrastavam com o céu inevitavelmente cinzento e nublado, corpo de vidro parecendo um tanto grande para as colunas de sustentação. Logo abaixo, pracinhas de acesso à Avenida Nove de Julho e os túneis da mesma avenida, remetendo com seus desenhos a épocas longínquas.

Que tenha sido por apenas alguns segundos. Momentaneamente a opressão do peito diminuiu e entreguei-me à tarefa de imaginar um novo post. A cada dia difícil, uma nova mostra de que passamos por momentos recheados de diferentes sensações e sentimentos. Não existe um estado permanente de tristeza ou alegria. O quanto mais eficientes formos em administrar estes momentos, melhor nos sentiremos.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

História Real - The Straight Story

Embora dê essa impressão, este não é um post cinematográfico.

Um dos melhores filmes que eu assisti nos últimos tempos foi "História Real" de David Lynch. Talvez o que tenha tornado o filme melhor ainda foi que não criei expectativas em cima dele. Estava um dia de bobeira em casa, zapeando a televisão e parei num Telecine da vida no exato momento em que o filme começava.

Não sei se eu acabo com a graça do filme contando sobre o que ele é. Começa com um velhinho, vários problemas de saúde, quase cegueira provocada por uma diabete grave e mal-tratada. Ele recebe a notícia de que o seu irmão com quem não fala há mais de 30 ou 40 anos está morrendo. Então ele decide visitá-lo. Sem dinheiro e quase cego, ele se utiliza do único recurso que lhe resta. Seu cortador de grama, de um modelo parecido com um mini-trator.

O velhinho, Alvin Straight, atravessa 3 estados americanos, de Iowa a Wisconsin, dirigindo seu cortador de grama, no acostamento das estradas, para rever seu irmão no leito de morte. E o incrível disso tudo é que o filme foi mesmo baseado numa história real.

Tão real é este tipo de história que acontece quando a gente menos espera. Não precisa ser um cortador de grama, pode ser uma ponte-aérea. Não precisa levar mais de 1 mês. Bastam 40 minutos. O importante é que acontece, provando que com o tempo, quem estiver disposto, pode resolver quase tudo na vida.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Eu simplesmente ADORO

ser leonina. Está escrito nas estrelas...

Aos filhos de leão

Obrigada, amiga!!

Chuva

Vou confessar uma coisa agora. Adoro chuva! Gosto do cheirinho de terra molhada que precede a chuva. Gosto de estar olhando pela janela quando cai um temporal. E gosto de apanhar chuva.

No Rio, quando eu era adolescente, aconteceu várias vezes de eu estar no meio da rua no momento em que caía aquela chuva de verão. Caminhando na rua sem lugar para me abrigar. Cheguei várias vezes completamente encharcada em casa. Sensação de alma lavada. Aliás, devo acrescentar que nunca entendi, no meio de uma tempestade, porque as pessoas correm. Correr mais ou caminhar. Não faz a menor diferença quando já estamos encharcados.

Hoje eu caminhava na rua. Cabelo maravilhoso, liso perfeito. Começou a cair aquela garoa mais forte. Gotículas de água flutuando no vento. Eu me despreocupei. Meu cabelo é liso, anyway. Life is about minimizing regrets. Let it rain. Caminhei no meu ritmo normal. Deixando-me levar pelo fluxo da avenida. Peguei o metrô. Andei uma estação. Perto de casa a garoa era mais forte. Life is beautiful. Even when it rains.

30 Rock, como sempre, sensacional



Jack: - Lemon, life is about minimizing regrets.

Sliding Doors - De caso com o acaso

Fiquei pensando sobre algo que de uma certa forma tem a ver com o que a minha amiga vive escrevendo. Ela diz que tem algumas "coincidências" que acontecem com a gente. E realmente acontecem. Coisinhas pequenas que não dão para explicar, que provavelmente não significam muita coisa, mas que ficam curiosas.

Eu lembrei hoje de um filme antigo da Gwyneth Paltrow (ô nomezinho difícil de escrever). Chama-se "Sliding Doors". O tema trata de duas estórias paralelas envolvendo uma situação totalmente corriqueira que eu não recordo qual é, algo como entrar no metrô ou não entrar. Mais ou menos assim: numa situação ela se atrasa e não entra e na outra ela entra. E dependendo deste fato teoricamente desprezível, a vida dela transcorre de uma forma completamente diferente. Não deixa de ter algo em comum com "Efeito Borboleta", só que é um filme infinitamente mais light.

Às vezes temos atitudes simples: falamos algo, decidimos ir ou não ir a um determinado lugar, optamos por algo e ficamos remoendo coisas acerca desta atitude, achando que provocamos com isso tempestades, fazendo suposições inúteis. Lembrei então deste filme, do quanto um ato completamente fora do controle ou mesmo inconsciente pode mudar toda uma trajetória. É aí, que me questiono de que vale nos torturarmos por tão pouco.

São Paulo como São Paulo é

Céu cinzento... friozinho... que alívio!

Que o sol só volte no sábado!

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Existir

Eu li "Perto do coração selvagem". Não sei dar uma opinião precisa. O que posso dizer é que infelizmente me identifiquei com muitas coisas no livro. Digo infelizmente porque pelo pouco que li de Clarice Lispector, creio que ela era a rainha da melancolia. Fiquei pensando quando terminei o livro se a melancolia é algo que nasce com a gente. Que vem no DNA e do qual não conseguimos nos livrar.

Enquanto lia o livro, marquei várias passagens.

Me marcou muito uma onde ela pergunta para a professora do primário, que ficou obviamente muito chocada, como é ser feliz.

Ser feliz. Se não somos felizes, estamos desperdiçando a vida? Vamos adquirir um grave câncer? É amedrontador. Sei ser bastante alegre e me cobro ser feliz. Mas não sei se sei ser feliz. Eu sei ser profunda, envolvente, dominadora. Está em mim. Mas feliz?

Estava lendo um post sobre a fé. Fé é entrega. Para mim, quase irracionalidade. Porque não sei não racionalizar. E me lembrei de algo da infância.

Eu tinha um quarto com móveis brancos, cortina com desenhos de circo e colcha de crochê feita pela minha avó. Isto foi entre 4 e 6 anos. Todo dia, antes de ir para a escola, a empregada, a Miriâm me penteava. Fazia "maria-chiquinha" ou "rabo-de-cavalo". E prendia com um elástico com duas bolas transparentes, cor-de-rosa, que mal parava nos meus lisos cabelos negros. Enquanto ela me penteava, eu me olhava no espelho.

Lembro-me que um dia, me olhei no espelho sozinha. Olhei para o meu quarto visto através do espelho. Pensei: "será que lá do outro lado, dentro do espelho, existe outra história? Outra Lilly, outra realidade, uma história paralela?".

Outro dia me olhei novamente no espelho: "A Lilly que vejo refletida no espelho, a imagem, é idêntica à Lilly que pensa? Imagem e pensamento, formando uma única coisa, são realmente a mesma coisa?".

Não sei se as palavras foram exatamente essas. Mas foi essa a sensação. Mais de 30 anos atrás.

Sensibilidade


Garota: - Você surfa onde, não fica longe?
Garoto1: - Não, até São Vicente dá uns 40 minutos.
Garoto2: - Antigamente eu fazia aquele negócio... body board com a minha irmã.
Garoto1: - Pô cara, body board é meio feminino.
Garota: - Era isso o que eu ia dizer... dizer que faz body board no Rio seria algo como... dizer que não joga futebol, que joga handebol...
Garoto2: - Ah! Mas eu também jogava handebol...
Garota: - Xi... jogava? Olha, se você chegasse no Rio com um morey na mão ia ser extremamente zoado...

Alguns assuntos depois, falando sobre cerveja:

Garoto1: - Eu gosto de ir no Bar Brahma, gosto de cerveja escura.
Garoto2: - Ah, da cerveja escura eu nem ligo para o líquido, eu gosto é da espuminha, pode ser quase tudo de espuminha.
Garota : - Poxa, to querendo te ajudar mas tá difícil.... Toma mais cuidado com o que você fala!

Fábrica de sonhos


Eu fico assistindo essas bobagens que eu gosto: O.C., Gossip Girl... a gente acaba aprendendo um pouco sobre os costumes americanos.

Existe uma festa que seria equivalente a nossa antiga festa de debutantes (acho que ninguém faz mais isso, faz?) que o americano chama de "Cotillion". É praticada na altíssima sociedade. A moça que vai fazer o seu "début" precisa ter um "escort" de família igualmente nobre. Quando a moça entra no salão, seu nome é anunciado, bem como o do acompanhante e um breve resumo de hobbies e aspirações da moça é lido. Lógico que ela tem que ter uns hobbies muito chiques e aspirar cursar alguma top universidade como Harvard, Brown, Yale, etc.

Estava vendo hoje de manhã a dancinha do Obama com a Michelle num deslumbrante vestido branco. Parecia um anjo. Casal perfeito, discurso de amor.

Eu adoro glamour, adoro festa. Mas estou ciente dos vícios presentes em situações como o tal "Cotillion". Discriminação, arrogância, superioridade, futilidade, enfim: fogueira de vaidades . Acho que todo mundo gosta de sonhar, e eu me entrego à beleza dos vestidos, à elegância, ao aparente romantismo. Só que olhando a televisão hoje de manhã, senti um certo mal-estar. Olhei aquela cena bonita de se ver e achei tudo meio parecido com um episódio de "Gossip Girl". A despeito das palavras bonitas, fui invadida por uma certa dúvida: "Are you sure you can?".

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Hiato

Estou pensando aqui sobre o hiato. Sobre pausas no tempo. Sobre pessoas que nos conhecem desde sempre. Pessoas que a gente deixa de ver e que reencontra. Parece que não faz tanto tempo assim. 20 anos, 15 anos, 1 mês. Pessoas que lembram daquilo que já esquecemos. Que resgatam a nossa essência. Que enxergam em nós aquilo que negamos enxergar. Saudades, dor no peito, vontade de reencontrar. Abraço. Pessoas que vemos em sonhos.

No outro dia caminhava na rua. Avenida grande, agitada. Eu estava alheia ao barulho. Movimento de carros, pessoas andando, não havia buzinas, não havia conversas. Só eu andando. Perdida nos meus pensamentos, nas minhas lembranças, nas dificuldades a serem enfrentadas.

Agora escuto novamente vozes. Vozes amigas, pessoas que me escrevem. Mensagens, opiniões, a pura essência humana. Amor, carinho.

A vida vale a pena.

O marketing da natureza

Quando vejo televisão com os meus filhos ou quando eles comentam de algum comercial infantil, eu sempre explico para eles que quem faz o comercial quer vender, que nem sempre o produto mostrado é bom ou tem os efeitos que a propaganda promete.

Fico ouvindo umas histórias e pensando sobre a vida. O homem é bicho esperto. Observa, analisa, inventa. O marketing da televisão não é diferente do marketing da natureza. Do instinto básico como o que faz com que o pavão exiba a sua cauda para a fêmea.

As pessoas se apaixonam como quem compra pacotes de biscoito. Acham a embalagem bonita. Imaginam um biscoito de chocolate e quando começam a comê-lo, percebem um tanto de creme que não era o exato sabor, mas continuam atraídas pela ilusão da embalagem. Comem o pacote inteiro e só então se dão conta de que o sabor desejado não era exatamente aquele. Mas a propaganda continua lá, latejando, como o monitor de lcd do metrô ou do elevador, que não faz esquecer. A valorização da embalagem sobre o conteúdo. E se não conseguem comprar mais, ficam para sempre com a ilusão de que aquele era o sabor ideal, mesmo sabendo no fundo, que não era.

Não sei se é culpa delas. O homem se acha racional mas tem instinto. E o instinto por vezes domina a razão.

A emoção de ler

Quando a gente lê e se emociona é porque o escritor conseguiu atingir lá no fundo algo que estava calado mas que existia mesmo sem a gente se dar conta. A gente percebe que existem coisas que andam no consciente ou no inconsciente das pessoas e que fazem com que elas estejam ligadas pelo sentimento.

Sinto que o post abaixo é algo que eu gostaria de ter escrito. Já tentei algumas vezes descrever essas impressões. Ligo através de um link aquilo que já estava ligado num outro plano virtual.

Saudade

Obrigada, amiga.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

O curioso caso de Benjamin Button

Eu ainda não vi mas li a sinopse e isto me fez pensar. Num momento mais oportuno emocionalmente, assistirei.

Eu li uma vez, não me recordo onde. Não sei se era dado científico ou tema filosófico. Isso pouco importa porque para mim faz sentido. Li que os bebês, os filhotes, nascem engraçadinhos para criar uma espécie de feitiço na mãe. Para que ela enternecida por aquele ser encantador, sinta-se compelida a cuidá-lo, pois não é uma tarefa tão fácil.

Reflito então sobre o filme que eu ainda não vi. Se o filhote é engraçadinho para encantar e se ao envelhecermos por vezes voltamos a agir como os bebês, então melhor é viver de forma digna, honrada, inspiradora. Para que no momento em que a pele não for mais viçosa e nem o cabelo tão brilhoso, quando necessitarmos de cuidado, que as pessoas que nos olham vejam através da pele enrugada. Que nos enxerguem na alma, lembrando dos bons momentos que passaram, das grandes pessoas que somos mesmo que momentaneamente presos a um corpo frágil.

Esse post é para o Anderson

Vocês devem estar se perguntando: quem é Anderson? Anderson, é um profissional de saúde. Plantonista da madrugada de uma UTI. Tive a oportunidade de acompanhar o seu trabalho por algumas horas. A gente se pega quase todo dia reclamando de coisas. Coisas mínimas se compararmos com o que vou falar agora.

Tem pessoas, como o Anderson, que lidam todo o dia com o sofrimento humano. Doenças de todo o tipo, gente chorando, gente desesperada, risco de contaminação, presenciam óbitos, limpam, trocam curativos, controlam o horário dos medicamentos. E eles fazem isso tudo com amor. Quem disse que amor incondicional é só de mãe? Amor incondicional existe, mesmo sem ser de mãe. Meninos, eu vi.

Eu queria citar outros nomes. Mas já esqueci. Como esqueci, invento. Que esta seja uma homenagem a todos os que eu conheci e aos que também não conheci. Teve a Sueli e a Vilma, sempre sorrindo, palavras amigas e de incentivo, a mocinha grávida que trabalha no pronto-socorro, checando o soro, olhando por cada um. O Anderson me inspirou, me fez colocar para fora esta emoção pelo capricho, a competência, e principalmente o carinho. O Anderson se apresentou, perguntou o nome de todos, preocupou-se com o conforto, com a posição, em melhorar a dor, em trocar a fralda. Orientou, fez força para entender as palavras confusas, cobriu, nutriu, tranquilizou. Falou como eu falava com os meus filhos, quando eram bebês. Amor incondicional.

Queria saber qual o mistério desta vocação. Lembremos do Anderson na próxima vez que buzinarmos para quem está distraído pensando na vida. Quando respondermos mal ao colega que nos fez uma pergunta. Quando nos impacientarmos com qualquer coisa que dure menos do que 5 minutos, porque amigos, creiam-me. As horas numa UTI não passam. A dor de uma UTI não passa. Só pessoas como o Anderson é que trazem um pouco de conforto para esse sofrimento que parece que não termina.

Julgamento, culpa, visão, medo

Estou aqui com tantos pensamentos, constatações e insights. Queria dividir tudo isto com as pessoas, falar sobre o que tenho aprendido mas é difícil. Difícil de se organizar e difícil de me fazer entender. É aquilo que eu sempre falo, da constatação, do "cair a ficha". A gente fica preso nuns pensamentos, sem ver saída. Um belo dia acontece algo, vem o clarão e a gente enxerga o erro. E tenta melhorar. Por mais que a gente tente explicar isto para outra pessoa, na maior parte das vezes não é possível. A pessoa compreende o que a gente diz mas não consegue praticar. Ou nem alcança o ponto de vista. Tem que sentir na pele para aprender. E às vezes nem aprende.

Estou percebendo o seguinte. A gente nasce míope. Aprendemos um monte de regras ao longo da infância, da adolescência, regras mínimas para nos tornarmos seres aptos a viver em sociedade. Algumas vezes aprendemos regras de mais, outras de menos. Estas regras fazem com que olhemos para os outros e os julguemos de acordo com o mínimo que aprendemos e o que a nossa visão alcança. Um exemplo: a gente aprende que tem que dar bom dia, agradecer que a pessoa abriu a porta do elevador. Aí a gente dá bom dia e o outro não responde, pronto: julgamento! "Que pessoa sem educação". Mas se a gente parasse para conversar com a pessoa, poderia descobrir que ela não respondeu simplesmente por estar enfrentando um problema sério, nem se deu conta de tão sofrida.

Me lembrei de um dia, tava numa loja, em Paris. Veio uma mulher e pediu licença para alguém que estava comigo. E esta pessoa não se mexeu. E a mulher, brandiu em francês: mas parece que é surdo! E o fato é, a pessoa em questão, realmente tinha problemas de audição exatamente do lado que a mulher falou. Por sorte, não se deu conta do ocorrido.

Presenciando fatos assim, a gente fica menos míope, amplia a visão. A gente lembra do acontecido e passa a julgar menos. Quanto mais a gente enxerga, menos a gente julga e menos culpado a gente se sente, creio eu. E mais feliz a gente fica, mais apto a se doar e a receber. Este é o ciclo da vida. Não ter medo, "se jogar" dentro dos seus limites. Galgar cada degrau no seu tempo certo. Conversar muito. Falar com o máximo de pessoas, ouvir diferentes pontos de vista. Ampliar, ampliar a visão (não entendia porque a Clarice Lispector ficava repetindo as palavras. Acabei de entender).

Não ter medo de errar. Ser responsável e caprichoso na medida certa. Sem culpas, sem medo. Não ter vergonha. Não ter vergonha do corpo, de pedir desculpas. Perdoar. Não se achar menos do que os outros. Não pensar que não é suficiente para os outros.

Eu vejo as coisas de fora. Vejo as pessoas se aprisionando em si próprias, se boicotando. Algumas vezes enxergo por ter cometido os mesmo erros e já ter me libertado de alguns. Não sou perfeita, longe disso. Tenho muito a melhorar. E já melhorei muitas coisas. Temo só não conseguir enxergar em mim mais coisas que me aprisionam e não conseguir melhorar mais.
Temo por esperança e não por impossibilidade. Aprendi que as coisas são possíveis.

É tudo isso que tenho aprendido e pensado. Mas não consigo dizer direito.

As aparências enganam

Recebi um e-mail certo dia de uma amiga com a qual não falava há muitos anos. Respondi para ela que tinha visto umas fotos dela no Orkut e que gostei de ver que ela está muito bonita e transparecendo muita felicidade. Ela respondeu para mim: "você já reparou como no Orkut todo mundo é feliz?"

Tive que concordar com ela.

Experimente dar upload de fotos no Orkut. No dia seguinte, vai perceber que o contador de visitas sobe estrondosamente. Seja por voyeurismo, por saudade ou curiosidade, as pessoas olham as fotos. E quem sobe as fotos, também tem um propósito.

As pessoas querem demonstrar felicidade e sucesso no Orkut por vários motivos. Alguns porque estão felizes mesmo, sobem as fotos no momento da empolgação. Outros por vingança, aquele sentimento meio "good girl gone bad" (pode ser "good boy gone bad" também), querem "passar o recado" para alguém de que "a fila andou". Tem os otimistas e os que querem usar um momento legal para se visualizarem sempre naquele estado feliz e terem forças para enfrentar as dificuldades. Há os exibicionistas, que gostam de mostrar o físico. E há os que vivem em "negação": sobem as fotos querendo que todo mundo veja mas se alguém comenta algo ou percebem que os outros viram as fotos, ficam ofendidos e reclamam que ninguém tem privacidade no Orkut.

Assim acontece com um blog também. Alguns escrevem absolutamente tudo o que se passa na cabeça no momento, como um diário pessoal. Outros mais românticos, se concentram em despejar as mazelas amorosas, com muito sofrimento e muito sentimento (o que geralmente provoca posts muito emocionantes, particularmente gosto, é a galera com perfil "Clarice Lispector"). Tem os cômicos, que também adoro. E há os que como eu usam o blog como terapia, tentando canalizar o sofrimento de forma positiva. É a "blogueterapia". Se esse termo não existe, inventei agora.

Não sei se dá para ser Poliana o tempo todo. Hoje por exemplo, não estou com muita vontade. Mas sigo aqui, tentando buscar boas palavras, bons assuntos que me tranquilizem e que também possam encantar o dia de alguém que perca alguns minutos lendo essas coisinhas que eu despretensiosamente escrevo. Mas peço desculpas se não conseguir ser muito positiva e tiver que escrever algumas coisas mais amargas algum dia. Aliás, peço licença.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Ser feliz é um aprendizado

No outro dia eu estava conversando com uma pessoa e ela me disse: estou criando o meu filho de forma que ele aprenda a ser feliz. Achei engraçado essa afirmativa porque isso já foi tema de várias conversas minhas com uma grande amiga.

Olhe uma criança, ela nasce feliz. As pequenas descobertas do dia-a-dia, o cumprimento das menores necessidades básicas já trazem satisfação. A criança espera menos, ou quase nada das pessoas e das coisas.

Aí começam as regras: não pode isso, não pode aquilo, tem que fazer desse jeito. Espera que ainda não é a hora. Só que raras vezes as pessoas nos dizem: faça isso que é bom, isto que você acha que não pode, pode sim, também não precisa ser tão rígido, aquilo lá, não precisa esperar tanto, pode fazer agora que não faz mal. A gente exercita ao longo da vida a culpa, o tempo todo. E quase nada de felicidade.

Nem 8 nem 80. Nem ter regras de menos e nem de mais. Porque a falta de regras também gera infelicidade. É o que eu sempre comento. Se não deu para aprender a ser feliz de criança, ainda é tempo. Não é fácil encontrar o equilíbrio mas é possível. E quanto mais cedo "cair a ficha", melhor.

Lembranças inesquecíveis

Lembro-me exatamente de praticamente tudo o que aconteceu comigo neste exato dia, há 9 anos atrás. Certas lembranças são assim; os anos vão passar e para sempre lembramos. É engraçado isso: ter data marcada para lembrar.

Na noite anterior já comecei o jejum. Era muito cedo quando acordei, por volta de quatro e meia da manhã. Acordei quando ainda era escuro. Será que cheguei a dormir? Eu me arrumei, pegamos as malas já arrumadas havia meses e rumamos para a maternidade.

Entrei na sala de parto sozinha, aguardando a anestesia. Pouco a pouco, foram entrando médicos, assistentes. O que se seguiu, lembro em detalhes. Fatos, sensações. Mas seria cansativo ler a respeito, portanto poupo-lhes desta narrativa.

A emoção do nascimento, o que a gente sente quando colocam aquele bebê morninho ao lado da gente, o chorinho fraco, a primeira vez que os pegamos no colo, pegar naquelas mãozinhas minúsculas, não vou tentar descrever aqui. Não cabe num post, não tenho palavras suficientes. E nem olhos que segurem as lágrimas.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Construtivismo


Como eu sempre gostei muito de ler, costumo utilizar a leitura como um momento "lúdico-filosófico" com os meus filhos. Normalmente eu não me restrinjo à estória. Ao longo da leitura (na maior parte das vezes antes de dormir), procuro fazer perguntas, associar a ilustração à narrativa, buscar o porque das coisas. Isso tudo eu sempre fiz intuitivamente e acompanhando o que eu sentia que era apropriado à faixa etária deles, já que não tenho nenhuma formação pedagógica.

Quando meu filho era ainda bem pequeno (2 ou 3 anos) eu procurava contar as verdades sobre as coisas numa linguagem que ele pudesse entender. A chuva, por exemplo, era quando um dia muito quente transformava a água dos lagos e dos rios num vaporzinho que subia até o céu e que chegando lá em cima encontrava de novo o frio que o transformava de volta em água fazendo com que as gotinhas caíssem de volta para a terra. Historinhas que ele gostava e memorizava. Tinha várias outras histórias. Do Sol que iluminava uma parte do planeta e o restante ficava no escuro criando a noite, das nuvens que ficavam se arrastando no céu fazendo muito barulho, os trovões, e assim por diante.

Depois que meu filho cresceu e comecei a trocar experiências com as professoras que seguem o método construtivista, cheguei à conclusão de que o que eu praticava empiricamente era um pouco do que se exercita nesse método. Eu sempre evitei dar respostas prontas. Estimulo o pensar. Num exercício de escola, se vejo um erro, tento apontar que existe uma falha para que o meu filho relendo o exercício o encontre. E na maior parte das vezes ele encontra.

Dois fatos interessantes aconteceram com meus filhos, os dois envolvendo dinossauros. O primeiro foi quando meu filho tinha uns 5 anos de idade, foi comentado pela professora durante uma reunião individual. Ela disse que explicou na classe que na época em que os dinossauros viveram, os homens ainda não existiam e que tudo o que se conhece hoje sobre os dinoussauros foi descoberto através dos fósseis. Meu filho perguntou para ela como então os cientistas conseguiram descobrir as cores dos dinossauros já que os fósseis não têm pele.

Hoje tive uma experiência com a minha filha. Menos científica e mais filosófica, eu diria. Estávamos no carro e ela tagarelando a respeito dos dinossauros. Ela tem cinco anos e meio e me disse: mamãe, os cientistas não sabem porque os dinossauros foram extintos (sim, é isso mesmo, as crianças dessa idade falam assim). Eu tenho uma idéia. Eu acho que o homem precisava existir e os dinossauros carnívoros comiam todos, então eles tiveram que morrer para que o homem existisse.

Há mais de um ano atrás eu comprei esse livro do Josteïn Gaarder, "Ei! Tem alguém aí?", para ler com meus filhos. Como eu já havia lido 2 livros deste autor e sabia que se trata de filosofia, li sozinha antes para ter certeza de que seria apropriado. Eu ainda achei um pouco avançado para eles. Mas devo dizer que fiquei bastante satisfeita pois percebi, de novo, que várias temáticas abordadas no livro são tratadas em nossas conversas ou brincadeiras.

Devo fazer somente uma ressalva. Meu filho que tem um perfil mais lógico, tem alguns problemas com a espiritualidade e religiosidade. Como ele sempre procura o porque das coisas, tem dificuldade de aceitar Deus. Ele estuda num colégio católico e espero que as aulas de formação religiosa o auxiliem nisso. Minha filha sempre foi mais "artista", sensível, menos ligada ao motivo das coisas. E embora consiga seguir muito bem uma linha de raciocínio, ela ainda consegue acreditar mesmo que logicamente não faça tanto sentido. Sendo assim, ela ainda acredita em Papai Noel. É quase como se ela ainda quisesse acreditar pois quando algo lhe parece inverossímil, ela mesma trata de buscar uma justificativa que resgate a veracidade da estória.

Sorte de hoje no Orkut

Viver amanhã é muito tarde. Viva hoje.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

O que aconteceu com o velho e bom "de nada"?

Tem umas expressões que vão se incorporando na linguagem falada e a gente nem entende muito bem de onde surgiram. A mim causam inclusive uma certa estranheza. Experimente dizer "Obrigada" para alguma atendente ou vendedora e você irá receber algumas das respostas abaixo. Mas nunca "de nada".

1. Imagina! (com uma pronúncia quase "magina").
Essa é engraçada mas até bonitinha.

2. "Por" nada
isso é muito curioso. Em espanhol também é "de nada". Em francês "de rien".
Aí a criatura fala assim, achando que está sendo mais polida, trocando o "de" por "por".

3. "Brigada eu".
Sem comentários... Uma corruptela de "eu que agradeço", imagino.

4. Não por isso.
Outra corruptela: de "não há de que" (no francês seria "Il n'y a pas de quoi")
Toda vez que escuto essa resposta, inicialmente me sinto rejeitada.
Depois lembro que a pessoa está querendo ser gentil comigo.

Normalmente essas respostas são dadas por pessoas que apreciam a interessante conjugação de 3 verbos "gerundiana": "eu vou estar verificando", por exemplo.

domingo, 11 de janeiro de 2009

Caminhada

Acordava todo dia às seis da manhã. Tinha que entrar até as sete. Controlando os bocejos se vestia, separava alguns livros que havia deixado fora da mochila no dia anterior. Se fazia frio, vestia um casaco. Na vitrola, Legião Urbana: "Todos os dias quando acordo, não tenho mais o tempo que passou mas tenho muito tempo, temos todo o tempo do mundo".

A caminhada não era tão longa; algumas vezes se juntava a umas colegas mais velhas. Outra vezes, seguia sozinha. Direita, esquerda, atravessar a avenida larga. Essa é perigosa, precisava tomar cuidado. Seguia mais um pouco em frente.

Quando virava na rua do colégio, algumas casas depois da esquina tinha um prédio. Já naquela hora, tão cedo, ouvia o som vindo da janela. Não saberia dizer exatamente qual era o conjunto. Nenhum do qual fosse fã. Mas o som lhe agradava. Rock progressivo. Naquele exato trecho da rua, diminuia um pouco o ritmo de seus passos, insconscientemente, prolongando por mais alguns momentos o deleite musical. Quem ouviria aquela música? Algum garoto interessante.

"Estou quase chegando lá", pensava. "Que vontade de matar o primeiro tempo. Será que o irmão Bruno deixa eu sair hoje?".

Se a aula estivesse chata, lia. Escondia o livro debaixo da carteira e lia. Alheia ao movimento em volta, ao professor, ao sinal do intervalo. Simplesmente lia, até acabar.

Bossa Nova





Eu ainda não tinha assistido. Que delícia de filme, alto astral.
Que saudades do meu Rio de Janeiro.







Acho que fui resumida demais ontem. Ainda estava sob o efeito do filme. Agora que passou, resolvi complementar: diria que tem uma ou outra situação que pretende ser cômica e fica um pouco exagerada. Mas de resto, fotografia, a combinação de cada música com a cena, o romance do Antônio Fagundes com a Amy Irving, tudo muito bonitinho. Ah! E tem uma coisa que é para gringo ver: todas as janelas têm vista para a praia. Até a janela do escritório do advogado. Mas tudo bem, o que importa é que ficou bonito.

Tal mãe tal filha


- Mamãe, o computador tá tocando uma música que encanta o meu coração!!

("Clocks" do Coldplay)

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Salão de baile


Minha amiga Cacau vive falando de umas coincidências que acontecem de vez em quando que se tornam meio curiosas. Comigo elas também acontecem como hoje mesmo, por exemplo.

Faz umas 2 semanas que eu assisti no DVD o filme: "Chega de Saudade". Eu não postei nada sobre o filme porque fiquei ao final sem saber qual era a minha opinião sobre ele. Diria que não foi perda de tempo mas também não recomendaria com medo de desagradar. O filme se passa num salão de dança, desses que tocam ritmos mais antigos como bolero, cha-cha-cha, samba-rock, etc. E no salão rolam várias estórias paralelas entre os frequentadores, na maioria veteranos da dança. A crooner da orquestra que toca no baile é a Elza Soares.

Há um destaque para o prédio onde se situa o salão. Um prédio de esquina em formato triangular, parecendo um micro-"Flat iron building" (de NY).

Pois estava eu hoje com duas crianças tagarelando dentro do carro à procura do "Estação Ciência" (que vale um post próprio) quando subitamente bati os olhos, em plena rua Guaicurus na Lapa, no tal prédio do filme, que é de verdade um salão de bailes entretanto chamado "União Fraterna". Fiquei embasbacada com a coincidência e um pouco triste de ver um prédio tão bonito totalmente pichado. Outro fato interessante é que no filme criaram um letreiro "Chega de Saudade" para o prédio, seguindo o mesmo padrão de forma e cores que o letreiro original.

Provavelmente isto tudo deve ter sido contado na divulgação do filme. Mas como eu não tinha lido nada a respeito, adorei descobrir por acaso. Parece que o filme agora ficou ainda mais interessante!

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Avenida Paulista


Quando me mudei para São Paulo, impressionei-me muito com a Avenida Paulista. Fazia frio naquela época e caminhar por esta avenida era algo comparável a caminhar em NY. Pessoas elegantes, a imponência dos prédios. No final de semana mudava o perfil. Via-se figuras interessantes, vestimentas originais, tribos demarcadas.

Isso não mudou. Mudei eu. Há certos momentos na vida em que olhamos em volta e pensamos: "eu gostava disso, por que parei de fazer?". Na maior parte das vezes a gente sabe a resposta, existe uma justificativa, mas não evita que sintamos um vazio, uma saudade daquilo que não vivemos.

Muitos anos depois, tenho a oportunidade de caminhar novamente na Paulista por exigências profissionais. Emociono-me ainda com a vastidão da avenida, os prédios muito altos, o colorido das pessoas, a inegável elegância, o movimento nas estações de metrô, os inusitados skatistas, lojas, restaurantes, carros, ônibus, construções históricas, pessoas, pessoas, tic-tac temos pressa. Em cada esquina um ponto de interesse e uma nova impressão. Vale a pena conhecer.

Coincidências amorosas


Recebi um e-mail de uma amiga no outro dia dizendo que ela se reconheceu num post quando leu a palavra "jaburu". Esta minha amiga tem um vocabulário todo rebuscado se comparado à média das pessoas e também alguma historinhas curiosas. Pessoa muito divertida e interessante. Às vezes ela atribui determinada palavra à região onde mora, ela diz: "lá em Jundiaí se diz assim". E muitas vezes eu comento que no Rio também se diz assim. De onde se conclui que não é o fato de ser a cidade A ou B, é a necessidade que a pessoa tem de permear suas narrativas com palavras e expressões mais variadas e ricas.

Devo dizer para decepção dela que a palavra "jaburu" foi incorporada ao meu vocabulário bem cedo, na flor da adolescência. Na 5a. série fomos apresentados em grupo aos novos professores de Educação Física: era um professor para os meninos, chamado Ângelo e uma professora para as meninas chamada Ângela. E o curioso é que Ângelo e Ângela além de terem a mesma profissão, eram casados. Ângelo tinha o perfil "professor de educação física", divertido mas durão. Normalmente para os meninos eram partidas de futebol. E no meio da partida, a título de incentivo ele gritava para um e para outro: "vai lá, jaburu". E a palavra era utilizada de "n" outras formas.

Fiquei lembrando daquele casal. Até a 8a.série, quando mudei de escola, Ângelo e Ângela estavam sempre juntos, saiam e chegavam da escola juntos, aparentando completa sinergia. Lembrei-me de outros casais com coincidências de nome. Por exemplo, há um casal conhecido meu que assina Lu & Lu. E outro em que os nomes começam por G e que também assinam os seus nomes pelos respectivos apelidos, juntos.

Devo dizer que essa coincidência de nomes imprime no casal uma certa coesão. Mesmo se ilusória, imaginamos os dois sempre juntos. É quase como se não pudéssemos pensar em um sem o outro.

Eu acho isso bonito.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Fazendo arte

- Mamãe, desenha a porca grávida, ela vai ter filhotinhos.
- Pronto, já desenhei.
- Não mamãe! A barriga tinha que ser grande, com o filhote dentro!!
- Desenha o filhote no chão.
- Mamãaaaae!!!! O filhote não nasce da terra!!!!

domingo, 4 de janeiro de 2009

Acredito piamente


Que os olhos são as janelas para a alma.

Tenho dificuldade em confiar ou me identificar com quem não consegue olhar nos olhos.

Olho direto nos olhos, no fundo deles. Apreendo significados. Intuo.

Olhos são janelas para a alma.

Reforma Ortográfica

Estava lendo aqui na Folha de São Paulo uma tabela que tenta simplificar as mudanças na ortografia.

Não entendo qual a função de criar tantas regras para o hífen. Em alguns casos dá a impressão de que resolveram apenas inverter. O que tinha hífen deixa de ter e o que não tinha passa a ter. São umas 4 ou 5 regrinhas que se tinham o propósito de simplificar, no meu ver complicaram.

Retirar os acentos me parece uma decisão descabida. E veja que não é em todos os casos. O clássico exemplo que estão usando: assembléia passa a ser assembleia. Vai todo mundo depois de um tempo começar a falar como nas novelas de época. Porque assembleia dá vontade de falar assemblêia. E baleia que não tinha acento, haverá quem pronuncie baléia, tenho certeza.

Sinto-me incapaz de absorver essas mudanças. Perfeccionista como sou e certa de que mesmo tentando ser correta muitas vezes cometo erros ao escrever, fico achando que a pressão da mudança vai ser quase insustentável.

Estou pensando que uma boa decisão será talvez passar a escrever este blog em inglês...

Pão líquido

é uma das formas como os alemães chamam a cerveja. Cerveja alimenta, segundo eles.

Tive o privilégio de realizar um city tour a pé pela cidade de Nuremberg (ou Nürnberg para ser mais correta). E a guia não era uma guia qualquer. Era uma "Doktor" em alguma coisa relacionada a história, de uma universidade local. Títulos universitários para os alemães são importantíssimos. Definem até o degrau na carreira que um profissional pode atingir dentro de uma empresa.

Contou-nos a guia que a cidade em questão fora centro de comércio de especiarias, uma cidade muito rica, nos tempos antes da descoberta da América quando as riquezas ainda vinham do oriente.

Curiosidade que me marcou foi que, em época que faltava alimento e a água nem sempre era confiável mas não faltavam cereais e nem cerveja, os médicos aconselhavam as mulheres grávidas a tomarem muita cerveja. Não recordo a quantidade exata mas eram vários litros por dia, creio que cinco litros. Segundo eles, a cerveja tinha nutrientes equivalentes aos dos cereais e garantiam uma saudável formação do feto.

Seria ácido fólico?

Resolvi complementar este post porque acho que gerei má interpretação. Quando citei o uso da cerveja na gravidez, não foi para defender esta prática. Na verdade, achei engraçadíssimo o médico receitar litros e litros de cerveja. Fiquei imaginando as barrigudas trombando na rua. Foi isso... :))

Caminho da escola

A avó a levava para a escola todos os dias. Não saberia dizer quanto tempo antes da entrada ela saía de casa. Certamente um tempo considerável já que o caminho era cheio de paradas obrigatórias.

Primeiro tinha o murão de pedra. Olhando para cima avistava um prédio. Entre as pedras do muro nasciam centenas de florezinhas amarelas que gostava de colher. Mais tarde, quando era mais velha disseram-lhe que o prédio era um convento, possivelmente de Carmelitas.

Cada casa no caminho com suas cores, jardins e portões. Tudo era observado em detalhes. A última casa antes de terminar a rua era bastante sombria, ar de mau-cuidada. Mas nem por isso menos interessante. Talvez fosse até a mais interessante da rua. Acontece que transbordavam para fora de sua cerca amoreiras. Pegava as amoras mais vermelhinhas e comia ali. Nem eram tão gostosas. Azedinhas, bem azedinhas. Mas era o prazer inusitado de comer a fruta no pé. E ainda por cima uma fruta tão exótica.

Na esquina havia uma padaria. E ao pé da geladeira de sorvete estava sempre deitado um gato. Listrado de branco e laranja, dócil. Gostava que lhe acariciassem o pescoço e a cabeça. Ela tinha certeza de que o felino já a conhecia e aguardava a sua chegada, sempre naquele horário. Antes do colégio.

A aula terminava, era hora de voltar para casa. A volta exigia uma sutil mudança. É que na volta o interessante era a calçada do outro lado. Uma das primeiras casas do outro lado era verde-água. Como quase todas daquela época, tinha um pequeno jardim, piso de ladrilho vermelho quebrado em mosaico. E solto no jardim, um cão muito dócil. Veja que não era um cão qualquer! Era igualzinho à Lassie. O cão se deixava tocar na cabeça por entre as grades. Certa vez disse-lhe a dona que ele se chamava Ach.

Saltitava. No verão havia uma planta com cheiro acre que lhe incomodava o nariz. Amendoeiras com suas folhas grandes. Catava os frutos no chão. Quase chegando no seu prédio, duas ou três casas parecidas, daquelas que nem pareciam de cidade. Jardim comprido na frente, vegetação densa de um lado e do outro e um estreito caminho no meio que levava até a casa lá no fundo. Casinhas com porta no meio, entre duas janelas.

Mesmo depois de adulta o caminho para a escola aparecia-lhe em sonhos. Muito real. Como se nenhum tempo tivesse passado desde a sua infância. Às vezes andava para a escola. Em outras passeava na sua bicicleta de rodinhas.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Caixinha de música


"Devil wouldn't recognize you" tem uma introdução parecendo uma caixinha de música.

Lembrei de quando eu tinha uns 6 anos de idade. Eu ganhei uma caixinha de música. A gente pensa que nunca vai fazer isso, dizer que antigamente as coisas eram melhores. Mas acaba fazendo. O melhor a que me refiro neste caso é o valor das coisas. Eu ganhei essa caixinha que na época foi comprada numa importadora chinesa. Retangular, na tampa um trabalho filigranado com uma pedra no meio imitando rubi. Por dentro dividia-se ao meio. Uma "pista de dança" com um desenho circular e a outra metade para colocar jóias, forrada de veludo vermelho.

A caixinha era sólida, durável, de boa qualidade. E durou a minha infância e toda a minha adolescência. Pode ser que ainda esteja perdida por aí, no meio das minhas coisas antigas.

Eu dava corda na caixinha, colocava a bailarina e observava o seu rodopiar até a corda acabar. A música era do "Romeu e Julieta", o filme antigo, não a versão moderna com a Claire Danes.

A corda acabava, eu tornava a girar e via tudo de novo. Várias vezes, sem cansar. Era como se eu estivesse olhando uma bailarina de verdade, rodopiando. Às vezes eu até rodopiava junto.

Prazeres simples.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Apenas um exemplo...

..de por que a privação alimentar não leva a nada.

Um dia na vida de uma pessoa de férias e tentando ter hábitos alimentares saudáveis:

8:00h - Café com leite (desnatado), adoçante, 2 fatias de pão integral levemente besuntados de manteiga.

9:00h - Aula de local

10:00h - "Não dá tempo de comer. Preciso resolver aquele assunto".

14:00h - Almoço no shopping. Salada levíssima: mix de folhas verdes, tomate cereja, peito de peru, mussarela de búfala. Suco. Nada de refrigerantes.

16:00h - "Que fome... mas não dá tempo, tá na hora de fazer as unhas".

17:00h - "Que fome.... que vontade de comer um hamburguer".

18:00h - "Um hamburguer definitivamente ia bem".

19:00h - "Um hamburguer com uma cerveja seria ótimo".

20:00h - "Vou comer aquele hamburguer com cerveja".

20:30h - "Droga, a fome não passou".

21:00h - "Vai esse salaminho mesmo. Com pão integral é menos ruim".

21:30h - Ainda comendo salaminho e bebendo cerveja.
"Amanhã preciso correr".

Sobre coxinhas

Nem sei como começou esse assunto. Acho que foi porque contei para o meu amigo (que ama coxinha) que comprei uma para o meu filho e que ele começou a comer pela ponta. Expliquei para o meu filho: "N., não é assim que se come coxinha".

Meu amigo imediatamente retrucou:
- Mas eu também como coxinha pelo bico!

E eu que tento não ser mas acabo sendo meio explicadinha, disse para ele:
- Que bico?! Coxinha salgadinho é uma imitação da coxa de frango verdadeira, logo a ponta que você vê é a imitação do osso. Sendo assim, tem que pegar pela ponta!

Mas ele não se convenceu; disse que comendo do outro jeito não tem o mesmo sabor.

E foi assim, através do meu amigo, que aprendi que no Orkut tem uma comunidade chamada: "Eu como coxinha pelo bico" a qual obviamente ele já é filiado.

Strange people.

Momento Seinfeld

Toda vez que eu vou no supermercado eu me pergunto: por que é que estando o restante do corredor vazio sempre tem alguém que escolhe parar ao lado do único carrinho no corredor, bloqueando a passagem? Deve ter alguma explicação de Física para isso.

Hoje eu presenciei uma cena imperdível. Quis entrar numa loja para comprar o meu CD da Madonna, uma loja pequena com a entrada do tamanho de uma porta normal, como as de casa só que de vidro. Pois pasmem, uma mulher estava olhando os CDs dentro da loja com o carrinho de bebê encaixado exatamente na entrada da loja, bloqueando o acesso.

Eu fiquei sorrindo com um sorriso irônico para o vendedor que não se mexeu. Então eu (que odeio barraco) não aguentei, me espremi pelo lado e falei em alto em bom tom que "as vendas da loja seriam prejudicadas caso as pessoas não conseguissem entrar". O vendedor disse-me que de onde estava não havia percebido que o carrinho estava na porta (e foi quando me dei conta de que ele deve ter pensado que eu sorria porque gostei dele, um "jaburu-martelo"). E a mulher que além de tudo devia ser surda, só saiu porque não encontrou o que queria.

Unbelievable.