domingo, 30 de novembro de 2008

Cease the day...

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Eu me empolguei...

Ano passado na apresentação de ballet da minha filha, meu pai tirou uma foto primorosa. Em close, ela vestida de anjo, um desfoque meio acidental, a quadra de futebol ao fundo. A pele de porcelana e os cabelos quase negros contrastando com o branco e prata da roupa. Asas parecendo verdadeiras.

"Boom", veio na minha cabeça imaginativa: "Asas do Desejo". E eu, na empolgação, joguei no Photoshop, transformei o fundo todo em preto e branco, aumentei o brilho na minha filha, desfoquei um pouco mais a parte em PB. A página artesanal, é claro, tinha que ser em preto. Um pouco mais de branco, uns brilhinhos e estava pronto.

Ao exibir, toda orgulhosa, o resultado final para a minha filha, percebo no seu rostinho um certo desconcerto. Ela que aos seus 5 anos ainda está mais para "Ma Vie en Rose", me pergunta: "Mamãe, porque você fez dessar cor?". E eu, meio balbuciando, tento me explicar, palavras desconexas de quem já sabe de antemão que não importa o que seja dito, não vai convencer. Que preto e branco é chique, lindo, que ela tava linda de branco, e etc e tal.




Em tempo: O "Ma Vie en Rose", ao qual me refiro não se trata da tradicional canção interpretada por "La Piaf", "La Vie en Rose". Lembrei-me do excelente (quase homônimo) filme francês que vi uma vez de um menino que era gay e tinha visões de Barbies dançando ao ritmo disco. Imperdível.



Do amor platônico

Assim ela me contou e faço deste blog instrumento:

Ela tinha uns 10 anos. Nem sabe direito como começou. Parece que foi num dia, sala de aula um tanto agitada, olhou para trás e no meio da confusão estava ele, alheio ao barulho, cabelos castanhos e pele branca, na fileira ao lado. Ela diria que foi "amor à primeira vista".

A partir daí, as aulas nunca foram mais as mesmas. Entre uma matéria e outra, lições copiadas do quadro-negro, olhares furtivos para trás cheios de curiosidade e timidez. Chegar ou sair da sala, movimentos automáticos até então, foram preenchidos com expectativa e surpresa.

Ela ia a pé para a escola. Mas nunca se encontraram no caminho. Não é de se surpreender então que ela ficasse tão entusiasmada um dia, quando saindo da padaria, ela o visse lá do outro lado da rua. Havia um carro. O que estavam fazendo, ele e seu pai, se consertando ou lavando, pouco importou. A camisa de estampa diferente, meio parecendo pano de cortina, que em qualquer outro menino pareceria engraçada, nele lhe pareceu interessante.

Passar naquela calçada, em frente àquele prédio, tornou-se também motivo de anseio, quase angústia esperançosa.

O ano terminou, outro ano começou e ele não estava mais. Nunca mais o viu, nem mesmo em frente ao prédio. Depois de alguns meses, acreditou que tinha se mudado dali para outro lugar.
Restou daquele ano apenas a foto escolar que durante as férias havia lhe dado conforto.

Seis anos se passaram. Chamou-lhe a outra amiga, um certo dia, para ir à sua casa. Chegou a ter, no fundo de sua memória, um lampejo de lembrança daquele que morava anos atrás, no prédio ao lado. E qual não foi a sua confusão de emoções ao ver que quem conversava com o irmão da sua amiga, em frente ao prédio era justamente aquele menino. Menos menino é claro, quase corpo de homem, mas o mesmo rosto tranquilo. Num tempo praticamente incontável, talvez menos de um segundo, vieram-lhe na mente todas aquelas imagens: sala de aula, foto escolar de final de ano, camisa de cortina...

Foram apresentados. O nome, ela já sabia. No olhar dele, não conseguiu vislumbrar nenhum traço de reconhecimento. Sendo assim, guardou para si o fato de já se conhecerem. Naquele momento, mesmo tantos anos depois, reacendeu-se com mais vigor adolescente o amor infantil.

A partir dali, encontraram-se muitas vezes, durante mais alguns anos. Roda de amigos divertida. Tornou-se a relação bem menos platônica mas nem tanto possível. Seguiram-se mais encontros e desencontros, até que o movimento da vida finalmente os separou.

Eu que vejo de fora observo: como é bonito perceber que seus olhos brilham, quando daquela época ela me conta. Lembrando que naquele tempo despreocupado bastava um olhar ou uma conversa para preencher o seu dia de alegria. Roubo para mim um pouco da memória dela, na esperança de que ao torná-la minha, retire algum ensinamento.

Neste Natal...

Não quero enfeite de porta e nem guirlanda colorida.
Árvore de Natal e Papai Noel também não quero.
Nem peru, farofa ou pernil.
Ou nozes, castanhas e frutas secas.
Talvez uma taça de vinho.
Sem ceias ruidosas ou íntimas.
Se possível, apenas um cartão (pode ser branco) que diga:
Paz, saúde e amor.
E não quero acreditar nessas palavras tampouco.
Quero que sejam verdadeiras.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Não quero ser geek!

Li certa vez, creio que foram palavras do sr. Bill Gates, que a verdadeira revolução da informática seria quando o computador fosse para o usuário do dia-a-dia como uma geladeira ou um fogão, o verdadeiro "plug-use". Ligou e pronto.

Com todo este problema da internet em casa, que eu ainda não consegui resolver, comecei a refletir sobre o assunto. O fato é, eu tenho essa sina de trabalhar com informática (sim, leitores desconhecidos, pasmem, eu sou do mundo da tecnologia). Então, todo mundo espera que eu seja a expert em tudo relacionado a informática. Mas na área de TI, acontece algo parecido com a medicina. Não é porque o cara é ginecologista que ele vai sair tratando de cérebros, por exemplo.

Mesmo sem conhecer tudo relacionado à microinformática, eu tenho alguma atração natural pelos computadores. Gosto de fazer uns downloads, escrever blog, adoro um Photoshop, conversar no MSN e no Orkut, enfim... Me acostumei a um entretenimento digital. Mas me revolto com toda a sobrecarga que vem junto. Não quero saber se o windows é 2000 ou Vista, de firewall, de senha de wireless, de anti-vírus, qual o melhor navegador, se já tem o plug-in x ou y.... Tudo isso me cansa.

E é aí, que vejo com uma certa desilusão, que estamos cada vez mais longe de ter o nosso "micro-fogão" ou "micro-geladeira". Por que no fim é assim: a internet parou? Foi o Bitcomet que eu baixei que ferrou tudo? Ou será que o problema é do provedor? É no modem? O firewall tá configurado direito? Ah! E como se não bastasse, tem o celular também. Porque se o servidor pop não tiver correto, não dá para mandar e-mail, e o MMS.... arrrgh...

Se há algo de Polyanna nessa história a extrair é que pelo menos a gente se volta aos prazeres normais. Ler um bom livro ou revista, resgatar aquele CD antigo, ir ao cinema... Até porque no fim, com internet e tudo, não troco um bom papo na mesa do bar com os amigos por nenhum MSN...

Tá vendo? Eu detesto a Polyanna mas não deixo de dar-lhe um certo crédito....

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Sonho - Viagem para Boston

Sonhei hoje que arrumei 3 malas e que ia para Boston. Resolvi sair direto de algum lugar (acho que era do trabalho) mas não tinha passaporte. Olhei no relógio, 8:55h, faltava apenas 1 hora para embarcar. Tempo que não dá nem para chegar no Aeroporto de Guarulhos. Eu olhava em volta e pensava: "onde estão as 3 malas"? E nas mãos, tinha um molho de chaves. E fiquei naquela indecisão, entre ir para casa buscar as malas ou sair direto para o aeroporto, pensando que mesmo assim, não dava mais tempo...

Acordei, passei a mão na bochecha esquerda para tirar uns fios de cabelo. Pensei: "ufa, ainda bem que não foi na testa. Não vou esquecer o sonho"...

Gris


Desde sábado estou me sentindo assim. Cinza. Os dias estão cinza e eu também, por dentro.

Ontem não me ocorreu nada para dizer. Nadinha. E de noite, ainda briguei com a moça da Central de Relacionamento do meu provedor, como se isso adiantasse alguma coisa. Ainda estou sem internet em casa, faz 1 semana e meia.




O inverno cismou de voltar né? Posso até usar a citação francesa que encontrei:

"Novembre est un beau mois. Mais il fault aimer le gris. Et l'oeil en saisir la lumière."
Gilles Vigneault
(Novembro é um belo mês. Mas é preciso amar o cinza. E o olho segurar a luz).

Ontem vesti um suéter amarelo canário para tentar quebrar o cinza. Mas misturei com preto, acho que não adiantou. Me lembrou aquele filme, acho que sueco, onde tudo é preto e branco mas de repente as pessoas começam a ficar da cor do sentimento que elas têm por dentro, e é então que se instaura a confusão. Sim, as pessoas disfarçam bem.

Não lembro o nome do filme. Se lembrar, falo depois.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Mais de Charlie e Lola











- Mãe, inconstitucionalíssimamente tem 11 sílabas, mais do que paralelepípedo que tem 7 sílabas.

Contando nos dedos:

- Mamãe! Prédio tem 4 SÍBOLAS!

Tentei não rir. Mas foi inevitável. Rimos os três, descontroladamente.

Passeio na Cultura

Ultimamente, em 99% das vezes que tenho um aniversário de criança para ir, compro livro de presente. Vou à Livraria Cultura e me farto. Porque a escolha em si já é divertida; quando as crianças são menores, eu leio os livros antes para me assegurar de que a estória é boa. É comum eu sair com o presente e com mais uns 2 ou 3 livros para os meus filhos. Se o livro é mais extenso, leio bem a sinopse e pelo menos algumas páginas.

Ontem, fomos os 3 lá. E meus filhos, como bons leitores, já se sentaram ao pé do dragão de madeira e pegaram uns livros para olhar. O N. leu o "Grinch" inteirinho, que eu não sabia, mas é do Dr.Seuss e a edição traz também os textos originais em inglês. Acabei comprando dois, um para ele e outro para o amigo dele. A S. pegou uns livrinhos das "Princesas do Mar", que é desenho de televisão, mas eu incentivo por ser de um cartunista brasileiro, o Fábio Yabu.

Olho para o lado do dragão e o que vejo? "A mulher que matou os peixes", de Clarice Lispector. Já contei num post passado a frustração infantil que este livro me causou por ter sido retirado de circulação na época da ditadura. Nem preciso dizer que comprei o livro né...

Ouvi uma mãe negociando o livro que ele ia comprar e me intrometi na conversa dos dois. A mãe, muito gentilmente, me atualizou sobre o fato de que existe versão em português (O pequeno Nicolau da Martins Fontes) para "Le Petit Nicolas" de Sempé e Goscinny que eu li quando estava estudando francês. É um livro muito engraçadinho, divertido mesmo para adultos (meio infantis como eu).

Só não deu tempo de ler o livro da Clarice ontem...

Shanghai Kiss


É engraçado como certas traduções de títulos de filmes e a foto que usam na divulgação podem arruinar com um filme.

Eu já tinha visto este filme na locadora várias vezes. O título em português é "O amor em Beverly Hills". Considerando que a atriz que está em destaque normalmente faz filmes no papel de cheerleader, eu nunca cogitei em pegar. Mas como estava meio sem opção, resolvi ler a sinopse. Me chamou a atenção o fato de que o personagem principal faz uma viagem a Shanghai, tem contato com fatos do passado familiar e tudo mais. Então resolvi arriscar. Oportunidade para uma dose de drama.


Posso dizer que o filme não é ruim. A trilha sonora é agradável, a gente tem oportunidade de ver Shanghai, uma cidade limpíssima, moderna e ao mesmo tempo com construções antigas preservadas, o filme aborda muito de leve umas questões sobre orientais criados no mundo ocidental que talvez só sendo oriental para entender. E como eu sou meio oriental, entendo perfeitamente. E me parece paradoxal o fato de que no filme, quem tem o papel relevante é o chinês mas quem aparece em destaque na propaganda é a americana estilo Barbie que apesar de principal, ataca quase que de coadjuvante.

A conclusão é: o filme não tem nada a ver com a imagem que o poster acima passa... E eu não me arrependi. Concordam comigo que o título original é infinitamente mais interessante?
Deu vontade de ir a Shanghai.

Sonho - Mar


Sábado eu fui agraciada com um sonho. Sonhei que estava no mar, de roupa e tudo. Eu, a madrinha da minha filha e a filha dela (que também estavam com roupa normal). Era um mar de águas cristalinas, de um verde claro. O céu estava azul e eu não sentia o sol queimando. Onde eu estava, não avistava areia para nenhum dos lados embora conseguisse ficar com os pés firmes no chão. E o engraçado é que apesar de não ver a areia, sabia que ela estava a esquerda de mim, embora pela posição das ondas, o normal seria que estivesse atrás. De tempos em tempos via umas ondas enormes e quando elas chegavam perto, apenas nos levantavam do chão, lá no alto, sem estourarem em cima da gente. A água tinha a temperatura agradável, nem fria e nem morna demais. Minha única preocupação era com I., a menina de 4 anos que estava conosco. Quando vinha a onda, eu achava que ela podia se afogar e a segurava firme. Mas a onda passava e ficava tudo bem.

Foi um sonho muito agradável.

sábado, 22 de novembro de 2008

O fracasso de uma intelectual

Tentando retomar o meu espírito intelectual abandonado há alguns anos atrás, tentei ler 2 livros nestes últimos dias:

- O elogio ao ócio: comentei sobre esse livro recentemente. Não me perguntem como mas eu tinha o livro lá em casa. Fiz a besteira de ler o prefácio. Besteira porque esse é daqueles livros em que você já entende a teoria do cara e daí em frente o o escritor só faz girar em círculos em cima deste tema principal. Ele discute muito os sistemas políticos: comunismo, socialismo, etc. Digamos assim, no momento não tô com espírito pra isso.

- Intrigada com a minha recente incapacidade de sonhar, me deparei com uma autobiografia de Jung e achei que seria interessante já que Jung trabalhava muito com interpretação de sonhos. Ia tudo muito bem, lembranças de infância e tal. Em determinado ponto ele começou a descrever um sonho de infância e no momento em que ele começou a interpretá-lo, um sonho de menino de 4 anos, foi quando no meu ponto de vista a coisa desandou e eu desisti do livro. Ele enxergou um "falo" não sei onde... pode ter sido o meu sono atacando. Mas o fato é que percebi que não ia "virar".

Sigo no meu empenho em achar algo para ler...

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

As confirmações deram para conversar comigo...

Sabe quando a gente vai salvar um comentário e aparece aquela palavra de confirmação que quase parece uma palavra mas não é? Pois é! Fui comentar agora para uma amiga e veio para mim: "mistral" e em seguida "really". Fiquei pensando se na verdade são todas palavras de fato, mas como eu não falo croata, por exemplo, não tava entendendo... :P

Mundos Paralelos

Nem sei bem o que quero dizer com isso.
Também não sei se eu queria dizer isso.

Mas pensei: "o perigo é se ficar mais confortável aqui dentro do que lá fora".

Sobre escrever (dedicado aos blogueiros)

Terminei de ler o "Cartas perto do coração" do Fernando Sabino com a Clarice Lispector.

Eu gostei "mais ou menos" do livro. Acho que porque eu esperava mais revelações sobre as vidas deles. Em determinados momentos, existem comentários evasivos demais, como se eles sentissem que essas cartas poderiam ser publicadas no futuro.

Eu até reconheço que posso ter colocado uma expectativa no livro que não era o propósito dele. Como só me interessei por Clarice Lispector agora, ficou aquele anseio por algo mais biográfico.

Guardadas as devidas proporções, a gente percebe que mesmo os grandes gênios passam por dúvidas e inquietações como as que nós, humildes blogueiros, passamos. A escolha de um título, a elaboração de uma frase, o gostar ou não do que foi escrito, o quanto deve ser dito, se a peça deve ser assinada ou não.

Tem dois comentários que me chamaram a atenção. Por um lado, o FS diz que deixou de criar, que passou a escrever somente para sustento próprio. Ele diz que colunas de jornal e crônicas não são arte de verdade. E por outro lado, a Clarice diz num determinado momento, sobre "Grande Sertão - Veredas", que ela considera uma das obras-primas da literatura brasileira, que livro bom é aquele que prende, que faz com que o leitor não queira largar o livro.

Pensando sobre o comentário da Clarice, tive que discordar do Fernando. Claro que existe uma diferença entre escrever com licença poética e escrever crônicas. Eu mesma, invejo quem escreve poesia. Não tenho talento para isso. Creio que possuo um vocabulário considerável mas quando leio um livro como "Água Viva" ou mesmo uma poesia de qualquer autor, me pego me perguntando porque, se eu conheço todas aquelas palavras e entendo tudo o que está sendo dito, não sou capaz de produzir textos com tanta riqueza e colorido e com metáforas tão emocionantes. Invejo o ritmo da poesia, a colocação de uma vírgula que muda todo o sentido, uma palavra solta...

Por outro lado, é como a Clarice disse. Se um texto é bem escrito e consegue prender a atenção do leitor, creio que ele acaba cumprindo bem o seu papel. No momento da criação, teve a função de exorcisar algum pensamento do autor ou de compartilhar uma idéia ou experiência. Teve a preocupação quanto à elaboração, ao formato, à fluência. E do lado de quem lê, tem o interesse, a concordância, o divertimento, o se sentir apoiado ou compreendido. A gente poderia até dizer que um blog, por exemplo, alimenta o lado "voyeur" de todos nós. Mas vamos "combinar" que se for mau escrito, ninguém vai querer ler.

E por último, devo observar em benefício próprio, com humilde orgulho de quem escreve intuitivamente (quase que empiricamente, eu diria), que tem uma passagem em que eles comentam sobre a inocência do iniciante. Da beleza que existe naquilo que é escrito por alguém que ainda não ficou viciado ou guiado (tolhido) por modelos. Isso me deu muito conforto.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Sonhos

Ando preocupada. Ultimamente não estou conseguindo lembrar de meus sonhos. Isto me chamou a atenção porque li vários blogs em que as pessoas relatam seus sonhos. E no livro que estou lendo, Fernando Sabino também conta alguns sonhos por carta para Clarice Lispector.

Já tive todo tipo de sonhos. Aqueles óbvios, que aparentemente todo mundo tem, do tipo ser véspera de início de aulas e sonhar que estava indo para a escola sem sapatos, por exemplo. Sonhar que estava sem roupa em público, eu nunca sonhei.

Muito antigamente, eu tinha dois sonhos recorrentes. Nunca mais eles vieram. No primeiro, eu estava andando num shopping e olhava para uma escada rolante que subitamente aumentava a velocidade e as pessoas começavam a voar lá de cima. Em outras vezes, eu estava na escada e desesperada me agarrava ao corrimão para não voar. Eu nunca voava. O segundo sonho, pode parecer mais tranquilo mas não era. Eu entrava num elevador antigo, de madeira escura, com 4 portas e 4 painéis de botões. Às vezes, tinha porta pantográfica (essa palavra é o máximo). Eu "mirava" num botão, achando que ia para um determinado andar, e o elevador parava em outro. E lá ficava eu, para sempre, naquele elevador, tentando achar o andar certo. Era algo Stephen King.

Certa vez, tive um sonho impressionante. Só de imagens, sem pessoas, como se fosse um filme de Akira Kurosawa. Belo e simples. Imagens fluidas, passando de uma a outra. Eu não participava dele. Acordei com vontade de escrever sobre esse sonho. Fiz umas anotações num caderno. Esse merece um post a parte.

Ultimamente, vinha tendo uns sonhos interativos. Coisa impressionante. De dormir, começar a sonhar como continuação da realidade, acordar meio perdida, sem saber se eu tinha sonhado ou não.

E agora, estou sem memória. Para sonhos.

A pergunta que não quer calar

Quem diabos é Michael Bublé?

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Vicky Cristina Barcelona


Eu gostei.

Eu estava desde ontem ensaiando para escrever sobre o filme. Certos assuntos eu fico digerindo durante dias porque quero falar mas não sei muito bem por onde começar. Como li hoje uma crítica num blog em que a pessoa não gostou do filme, resolvi me manifestar.

Eu gostei dos atores, das inúmeras tomadas de Barcelona. Eu estive em Barcelona em Maio deste ano e o espírito é exatamente esse. Gaudí é referência constante. As ruelas do Born, do bairro gótico. A impressão que a gente tem de estar o tempo todo tomando vinho e comendo tapas. Lamento não ter ido ao Parc Guell. E a Sagrada Família é realmente impressionante. A cidade emana cultura e criatividade: nas construções, na decoração e na moda. E tudo isto está no filme.

Mantendo-se fiel a alguns elementos constantes em seus filmes: a obsessão por uma determinada atriz, a queridinha do momento, como já foi Diane Keaton, Mia Farrow e agora Scarlett Johansson, os diálogos nervosos, as complicações amorosas. Adoro quando determinado personagem encontra outro e durante alguns segundos a câmera concentra-se somente na pessoa que foi surpreendida e a gente anseia para ver a reação do outro personagem mas ele adia até o último instante (isto foi algo que eu já tinha notado mas só me dei conta neste filme). A trilha sonora é interessante como sempre. Tem algo de Almodóvar, de Volver, na cena do violão. O colorido é bege-dourado. Como Barcelona inteira.

Claro que Penélope Cruz rouba a cena. Javier Bardem é o "xavequeiro" do pedaço. Aquele cara que se aproveita dos momentos de carência e se utiliza dos clichês para ganhar a mulherada. O tipo falso sofredor. Dentro da situação, a gente já sabe o que ele vai dizer. Está no perfil psicológico. E María Elena é a essência, o verdadeiro talento, a referência. E nas discussões, natural que seja abandonado o polido tom nova-iorquino para o tom escandaloso espanhol, recheado de "conhos", "mierdas" e "puta-qualquer coisa", coisa que Penélope personifica de maneira triunfal. E a trama se complica e a gente imagina um modo de vida meio à la Picasso.

Pronto. Não sei se me expliquei. Mas falei.



Batalha linguística

Carioca: Pois é, tive que levar o meu carro para fazer lanternagem depois daquela batida.
Paulista: Ahahahaha.... lanternagem? Quer dizer que no carro só tem lanterna para arrumar?
Carioca: Olha, me diz onde fica o funil?

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Linha Cruzada

A: olha essa mulher
B: qual ?
A: a da impressora...
B: sim
A: teve um dia que ela falou uma grosseria, hj ouvi outra no banheiro ela fala que nem homem, meio machona
B: pois é.. é meio estranha ne?
A: sim, muito. Eu não escutei direito a conversa, foi algo assim, outra pessoa tava no banheiro com ela e perguntou: onde está tal coisa?
A: aí ela respondeu com voz de macho: aqui, cacete, não tá vendo? me deu muito medo dela
B: nooosssa
A: eu queria ver esse desenho: Persepolis
B: nossa .. como vc muda de assunto rapido
A: rsrs... a M. diz que eu e ela somos Gilmore Girls porque no seriado, elas conversam exatamente assim aí é engraçado porque às vezes, mesmo depois de mudar o assunto, a gente volta no anterior aí dá uma linha cruzada, confunde tudo. Acho que mulheres em geral são assim
B: pois é.. mas eu nao sou mulher
A: rsrs... desculpe

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Cada um com o seu presente

Tem uma coisa muito legal em ter mais de um filho pequeno que é ouvir os diálogos deles. Às vezes, estou deitada de manhã cedinho na cama e eles já estão se aprontando para ir para o colégio com a babá. E saem uns diálogos muito interessantes.

Teve aquele dia em que eu não lembro exatamente o assunto mas, tentarei reproduzir. S. é uma menina de 5 anos e N. um menino de 8.

S: é no planeta Terra né?
N: é sim.
S: eu conheço outro planeta sem ser a Terra! A Lua!
N: S., a Lua não é um planeta, é um satélite!

Irmão mais velho é assim. Fica querendo tirar onda em cima do mais novo, bancar o maioral. Para piorar, junta um mais velho que é pura razão e a mais nova que é pura criatividade. Saem essas conversas assim. Os dois são os próprios "Charlie and Lola", coisas que só quem tem filhos e assiste Discovery Kids vai entender. Com a diferença de que o Charlie é um amor com a Lola.

Hoje teve essa:

S: Mamãe! Eu já sei o que vou pedir de Natal para a tia P.! Uma pasta de dente Colgate! (isso porque eu compro pasta infantil Tandy e ela adora afirmar a individualidade dela escolhendo coisas diferentes das que eu escolho).

N: S.! Pasta de dente de presente de Natal! (gargalhadas misto de incredulidade e deboche) Onde já se viu pedir pasta de dente de Natal!

E eu, com pena:
N., deixa... cada um pede de Natal o que bem entende....

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Sobre o perdão

Estava voltando esbaforida do Body Jump hoje de manhã e não sei porque me veio essa idéia na cabeça. Deve ter sido o esforço da aula; eu já suspeitava mas no outro dia li que para produção de arte e escritos, geralmente o artista vivencia os maiores surtos criativos em momentos de emoção extrema. Parece que o sofrimento realmente provoca belas criações...

Brincadeiras à parte, tava pensando o seguinte: tem coisas que a gente ouve mas não apreende. Aí, um belo dia vem um estalo: e aquilo que falaram para a gente ou que a gente leu, faz todo o sentido.

Uma das coisas mais difíceis para pessoas teimosas, de opinião forte, é perdoar. Acho que tem gente que nem precisa perdoar porque simplesmente não guarda mágoas. Acontece que a vida proporciona oportunidades para a pessoa exercitar o perdão, entretanto às vezes a pessoa não se dá conta da oportunidade.

Perdoar é necessário porque ao guardar a mágoa, a pessoa interioriza um sentimento ruim que só traz mais sentimentos ruins. Quem guarda o rancor, vive com uma errônea sensação de que ao guardar esta raiva, estará indiretamente fazendo o provocador da mágoa sofrer. Mas isso não é verdade. Na maioria das vezes, a pessoa nem se dá conta, pois a gente nunca sabe o que se passa realmente dentro da cabeça de outra pessoa.

Remoendo esses pensamentos negativos, a pessoa sofre. E quem fez sofrer, continua lá, inatingível.

Outro ponto é: as pessoas tomam atitudes muitas vezes motivadas por sentimentos próprios, dilemas pessoais. Se a consequência foi fazer alguém sofrer, muitas vezes não era a intenção. Mas quem guarda a mágoa se apega no sentimento de que o ato foi pessoal, com a pura intenção de prejudicar.

Somente no momento em que nos colocamos na posição inversa é que estamos prontos para perdoar. Imagine a pessoa que foi demitida e remói a experiência durante muito tempo. Um dia ela sobe na carreira e se vê na posição de demitir alguém. Neste momento é que vem a constatação do dilema que o seu empregador no passado pode ter vivido.

As oportunidades aparecem. Cabe a nós notá-las e usá-las como aprendizado, perdoando ao final...

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Hein?



O que a China tem em comum com a Venezuela? O filme "Três Gerações - Um Destino".
Motivada por excelentes filmes que assisti no passado: "Banquete de Casamento", "Comer, Beber e Viver", "As Coisas Simples da Vida", "Lanternas Vermelhas", embarquei neste filme por ser cinema chinês.




Mas me arrependi... vi o filme inteirinho.... mas conforme o filme se desenrolava, mais vontade eu tinha de desligar o aparelho de DVD. O bonito figurino e colorido do filme não foram suficientes para me conquistar.

A trama longa e arrastada, onde filha vai se transformando em mãe até que a "maldição" que recai sobre esta linhagem de mulheres acabe, se assemelha a qualquer dramalhão de novela venezuelana ou mexicana, onde mulheres apaixonadas e inocentes engravidam e são abandonadas por seus "algozes", com direito a mais de um suicídio.

O mais engraçado é que até a filha adotada fica com a mesma cara depois que cresce... só vendo para entender (ou não entender).

Não quero influenciar ninguém, cada um com a sua opinião... Mas até o sonolento "Cheiro de Papaya Verde" (franco-vietnamita) consegue ser mais empolgante...





domingo, 9 de novembro de 2008

Estória ou história

Cara... vou sair desse blogger. Hj eu tô atacada...

Essa eu achei para responder a pergunta de um amigo:

(referência: http://www.nlnp.net/)

_ ESTÓRIA ou HISTÓRIA?

As palavras "estória" e "história" são aceitas por diversos autores, com significados distintos:

- estória: exposição romanceada de fatos imaginários, narrativas, contos, fábulas;

- história: para dados históricos, que se baseiam em documentos ou testemunhos.

Estas duas palavras constam do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras. Mas o Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa recomenda simplesmente a grafia história, nos dois sentidos. E o dicionário de Caldas Aulete refere-se à forma estória como um brasileirismo, isto é, apenas um aportuguesamento da forma inglesa "story".



Dior Kiss


Eu avisei que um dia ia começar a publicar essas gafes... demorei... essa até que é bem antiga.

Tenho uma amiga que é muito falante e espontânea e acontece de quase toda semana ela dar um fora...

Essa minha amiga tem um gosto por maquiagens caras. Tudo dela é muito chique: Lancôme, Dior, marquinhas como essas. Um dia, ela comprou um gloss novo, daqueles tubinhos melecadinhos que se passam direto na boca e que dão um ar "espelhado" nos lábios. Voltando do banheiro do trabalho com o gloss devidamente passado, ela me chamou no msn para me mostrar, pois ela sentava a uma distância visível de mim. Foi uma mensagem do tipo: "Olha pra cá", e quando olhei, ela fez um bico para mostrar o tal gloss maravilhoso. Só que no exato momento em que ela fez o bico para mim, passava no corredor entre eu e ela um rapaz. Ele arregalou os olhos para ela e não teve dúvidas: mandou um beijo de volta.

Nós rimos descontroladamente por mais ou menos uns 15 minutos, daqueles risos de tirar o fôlego e de chorar...

Mas a estória não parou por aí...

Acontece que o tal rapaz, desconfia-se, tem opções sexuais diferentes. Ele, muito gentil, voltou à mesa dela, mais ou menos uma hora depois com uma caixa de bombons importados:

- Please, take one.

Bottom-line: "Sorry, dear, here's a token of my appreciation".

Comfort Eagle


Tava ouvindo aqui o CD e lembrei... como eu disse antes, tenho uma certa tendência a ficar "obcecada" por algumas músicas. Às vezes compro um CD e fico ouvindo durantes meses no carro, o mesmo CD. Sim, eu ainda tô na era do CD, ainda não me acostumei a ficar baixando músicas, ainda me apego ao objeto. Mas isto é um hábito a ser quebrado.

É comum, devido à essa obsessão que as músicas me lembrem coisas que eu fazia numa determinada época. No final de 2002, quando eu descobri o "Cake", fiquei com o CD no carro ouvindo direto. E isso me lembra uma determinada estrada que eu pegava todo dia durante 4 meses. Acontece que no final desse período eu engravidei e estava sempre enjoada, e ouvir "Cake" começou a me enjoar... Durante um bom tempo, mesmo depois que a minha filha nasceu eu não podia mais ouvir esse grupo porque me lembrava do enjôo. Ainda bem que passou...

sábado, 8 de novembro de 2008

Viver devagar

Em "Cartas perto do coração", Fernando Sabino escreveu para Clarice Lispector de Nova York, no dia 6 de julho de 1946:

"... Sendo vidas, nada mais nos resta fazer senão irmos vivendo. Atravessei um período duro, Clarice. Também precisei muito de uma palavra amiga, e, afinal, o meu livro está ali, num canto, esperando uma resolução. Já nem sei mais nada, e às vezes tinha vontade de ir mais devagar. Viver devagar é que é bom, e entreviver-se, amando, desejando e sofrendo, avançando e recuando, tirando das coisas ao redor uma íntima compensação, recriando em si mesmo a reserva dos outros e vivendo em uníssono. Isso é que é viver, e viver afinal é questão de paciência. É isso mesmo, é ir olhando e dizer: aquilo é bonito! ..."

Há um tempo atrás, postei um poema de Mário Quintana em que ele fala sobre o tempo e eu comentava exatamente isso, que a falta de tempo é um sentimento atemporal, ele sempre existiu, independentemente de avanço tecnológico. Vai do quanto a pessoa aspira na vida e das prioridades que ela coloca. Coincidentemente, me caiu no outro dia uma "Super interessante" nas mãos e num artigo sobre ansiedade, li o seguinte:

Tempos ansiosos?
"Mas essa noção de que vivemos numa época especialmente estressante é coisa ultrapassada, na verdade. A idéia de "era da ansiedade" nasceu antes da internet e do computador. Apareceu pela primeira vez em 1947, num poema do inglês Wystan Hugh Auden, que, desiludido com a humanidade depois da 2a.guerra mundial, criticou o homem e sua busca sem sentido por significado"

O que o artigo fala e que serve para reflexão é que a vida sempre apresentou dificuldades a serem enfrentadas e que são fatores geradores de ansiedade. Na pré-história o homem precisava buscar a comida e fugir de animais selvagens, na Idade Média eram as guerras e invasões, e por aí vai. Peste Negra, guerras mundiais, tudo isso sempre gerou stress...

Já deu para perceber que estou nessa fase Clarice Lispector agora né... Encontrei esse livro na prateleira e estou lendo...

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Da amizade entre menino e menina

Menina de 5 anos, exasperada:

- Mamãe, eu adoro o T.A. e ele me adora. Mas sabe, a gente não quer se casar. O L. vive falando pra gente assim: "namoradinhos, namoradinhos". E a gente não quer mais isso. Vou pegar um papel para escrever uma carta para a mãe do L. que é para ele parar com isso porque a gente não aguenta mais. Mas eu não sei escrever. Você escreve pra mim?

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Filosofando


Este post de certa forma é uma resposta a um comentário que uma amiga me fez no post passado. Eu já li algumas coisas budistas (poucas) . Confesso que fiquei um pouco irritada com a filosofia do nada. Acho que não dá para aplicar esta filosofia o tempo inteiro, jogar tudo para o alto, radicalizar e ficar ali, vivendo como uma planta.


Por outro lado, a gente até entende o benefício de se desligar de si mesmo por alguns minutos. Em certos momentos, isso é extremamente necessário, pois acontece de certos pensamentos incômodos e repetitivos invadirem a gente. Tem pessoas que são naturalmente "zen" e parece que nada lhes atinge. Infelizmente eu não sou assim. Outra coisa é, às vezes, o quadro nem é tão negro mas se estamos num momento ruim, tendemos à auto-punição e enxergamos os fatos vestidos de negativismo, criando situações na nossa cabeça que nem existem.


É nessas horas que temos que nos valer dos ensinamentos orientais para esvaziar a cabeça. Esvaziá-la dos pensamentos que desnecessariamente causam sofrimento. Quem faz Yoga sabe que no momento final da aula, há um momento de meditação. E o instrutor nos conduz a um estado de consciência corporal. É o existir sem pensamentos. Ele manda que nós nos concentremos e abandonemos todos os pensamentos desnecessários e que não fazem parte daquela prática. E olha, funciona.


É amiga, você tem razão. Clarice Lispector, de certa forma tem algo de budista. Pelo menos no livro que estou lendo "Água Viva", ela "pincela", como ela mesma diz, alguns pensamentos que lembram esta filosofia. Vou transcrever algo que li logo após o seu comentário e que acho que tem a ver com o que estamos discutindo:

"Quando se vê, o ato de ver não tem forma - o que se vê às vezes tem forma, às vezes não. O ato de ver é inefável. E às vezes o que é visto também é inefável. E é assim certa espécie de pensar-sentir que chamarei de "liberdade", só para lhe dar um nome. Liberdade mesmo - enquanto ato de percepção - não tem forma. E como o verdadeiro pensamento se pensa a si mesmo, essa espécie de pensamento atinge seu objetivo no próprio ato de pensar. Não quero dizer com isso que é vagamente ou gratuitamente. Acontece que o pensamento primário - enquanto ato de pensamento - já tem forma e é mais facilmente transmissível a si mesmo, ou melhor, à própria pessoa que o está pensando; e tem por isso - por ter forma - um alcance limitado. Enquanto o pensamento dito "liberdade" é livre como o ato de pensamento. É livre a um ponto que ao próprio pensador esse pensamento parece sem autor.

O verdadeiro pensamento parece sem autor.

E a beatitude tem essa mesma marca. A beatitude começa no momento em que o ato de pensar liberou-se da necessidade de forma. A beatitude começa no momento em que o pensar-sentir ultrapassou a necessidade de pensar do autor - este não precisa mais pensar e encontra-se agora perto da grandeza do nada. poderia dizer "tudo". Mas "tudo" é quantidade, e quantidade tem limite no seu próprio começo. A verdadeira incomensurabilidade é o nada, que não tem barreiras e é onde uma pessoa pode espraiar sem pensar-sentir.Essa beatitude não é em si leiga ou religiosa. E tudo isso não implica necessariamente no problema da existência ou não-existência de um Deus. Estou falando é que o pensamento do homem e o modo como esse pensar-sentir pode chegar a um grau extremo de incomunicabilidade - que, sem sofisma ou paradoxo, é ao mesmo tempo, para esse homem, o ponto de comunicabilidade maior. Ele se comunica com ele mesmo."

Para quem ouve pela primeira vez, parece "viagem" mas a gente só se dá conta do que é o tal do "nada", do não existir, da consciência corporal, enfim, como queiram chamar, depois que a gente consegue vivenciar esta experiência pelo menos uma vez.




terça-feira, 4 de novembro de 2008

Sintonia

Comentei com uma pessoa sobre o livro que eu estou lendo e ela me enviou uma passagem muito legal (não sei de qual livro, vai ver que é do mesmo):

"Um meio de obter é não procurar, um meio de ter é o não pedir e somente acreditar que o silêncio que se crê em você é resposta ao seu mistério".

Racionalidade

Em "Água Viva", Clarice Lispector escreve como quem compõe uma música ou quem pinta um quadro abstrato. Livre do compromisso de contar uma estória, da estrutura 'introdução-desenvolvimento-conclusão", ela vai pincelando as idéias. É muito louco e muito sedutor. E difícil de ler.

Fiquei pensando sobre esta forma de escrita "fluida" e no quanto de irracionalidade existe dentro de nossa racionalidade. Sim, porque, é o que dizem, o homem é racional. Racional porque consegue tomar dados e chegar a conclusões lógicas. Sendo assim, como entender o pensamento que tem vida própria? Não é verdade que frequentemente somos tomados por pensamentos que entram e vão "soltos", sem controle? Às vezes passam-se anos e num estalo, lá está aquele pensamento novamente.

Passamos um dia inteiro concentrados, sem devaneios, "focados" nas atividades diárias. Dormimos e lá está o pensamento de novo, em forma de sonho. O que é um sonho? Sonhamos com o presente e com fatos e pessoas muito antigos, praticamente esquecidos. É o pensamento que vive livre enquanto dormimos. Acordo de noite e os ecos do pensamento e de músicas me invadem.

Pensamos o tempo inteiro. Resolvemos equações matemáticas ao mesmo tempo em que escutamos sons e sensações. Achamos que pensamos linearmente, mas contrariando qualquer teoria de física, os pensamentos estão lá, todos ao mesmo tempo, ocupando o mesmo espaço no mesmo lugar.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Clarice Lispector

Acho que começou quando eu tinha uns 8 anos e a professora da 3a.série mandou comprar um livro: "A mulher que matou os peixes". Minha mãe procurou em algumas livrarias e o livro simplesmente não existia para ser comprado. O problema foi comunicado por várias mães e então o colégio resolveu substituir o livro.

O registro que ficou na minha memória foi de que Clarice Lispector era algo meio obscuro, meio subversivo, porque, imagina, o livro foi recolhido. E parece que foi por causa da tal da ditadura.

Eu não me dava conta, mas de criança, vivi vários mandatos. Médici, Ernesto Geisel, Figueiredo. Eu morava no Méier e me lembro das eleições, de apenas 2 partidos: Arena e MDB. Todo o horror daquela época ficava distante do meu mundo de criança. E o que ficou na memória foi apenas a "Moreninha", "Escrava Isaura", "Estúpido Cupido", os "Flintstones", "Batman", "Speed Racer". Sobre a ditadura mesmo, só fui aprender anos mais tarde, durante o então 2o.grau.

Deve ser por isso, que adiei. Durante a adolescência, tudo o que soava pelo menos remotamente intelectual, me interessava. Li vários clássicos brasileiros e ingleses (sou fã das irmãs Brönte e Jane Austen), li "1984" em 1984 e já emendei na "Revolução dos Bichos". Os jovens de hoje nem sonham com o real significado do "Big Brother". Era natural ler também "Admirável mundo novo". Roland Barthes, Milan Kundera, Marina Colasanti, Roberto Freire, Herman Hesse, um mundo de sonhos, sentimentos e ideais. Mas Clarice Lispector não.... Clarice Lispector é avançado demais, visceral demais, cansativo demais... Não vou conseguir, pensava eu.

Eis que só agora, após ler algumas postagens de outros blogs, decidi resolver esse bloqueio. Me lancei nesse novo projeto. Clarice Lispector, aqui vou eu: "Água viva". Quem sabe depois eu não me animo com Proust?

Agradeço aos bloggers de "Cafeína" e " Festa Móvel" pois indiretamente me incentivaram através de seus posts.

Como assim?

Como assim, Capitu não traiu?! Ai meu Deus, essa discussão não termina.

Não vale lançar no ar e não explicar porque. Estou esperando a réplica!!!

Ponte para o passado

"The rain song" em algum dia num passado distante:

"Uniforme escolar, a "bonita" calça Levi's marrom e camisa bege, 16 anos, impaciente para sair da aula de físico-química, 2o. andar de um prédio que não existe mais, querendo estar em qualquer lugar menos naquela cadeira de colégio. O nome do professor? Coitado, Ibiapina. Acho que a culpa não é dele. É simplesmente a incompatibilidade da matéria com os meus gostos. Na aula do Menezes, tudo melhora, penso eu. Matemática é sempre bom. Cacau e Marco, um cabeludo metaleiro chamado Armando, Mônica, meus amigos de turma.

O sinal vai tocar, a aula vai terminar e eu vou correndo pra casa. Sinal de intervalo já é alguma coisa. Dá para ver o pessoal todo no corredor que mais parece um varandão e fofocar rapidamente com as amigas. Tênis All Star para os privilegiados, mochila Cantão, casaco Company. Oportunidade de expressar a individualidade mesmo naquele horrendo uniforme marrom. Calça rabiscada também vale. E desfiada na barra. Brinco de prata, brinco hippie, segundo furo, pulseirinha de tear. Cresce logo, cabelo. Quero bem comprido, igual ao da Lenora, enrolado só na ponta.

O Walter, desenhista do pedaço, desenha umas tatuagens temporárias nas meninas com nanquim. Sim, com nanquim mesmo, e verniz. Henna? O que é isso? Imagina o sol em cima dessa tatuagem. Tenho sorte, ganhei dele também uma divisória de fichário do Dio. Os pedidos não param.

Segundo ano, o que vou fazer da vida? Ano que vem é pré-vestibular. Música ou informática? Nossa, tudo a ver né? Definitivamente não sou CDF. Não gosto de nota baixa mas não sou. Melhor saber se alguém vai na Mamute neste final de semana. Marisa, Carla, Mário, André, Max. Ou que filme ver no final de semana. "O primeiro ano do resto de nossas vidas?". Aquele Rob Lowe é um gato.

Toca logo, sinal... Quero ir embora pra casa."

domingo, 2 de novembro de 2008

A traição de Capitu

Terminei de ler o livro (Dom Casmurro). Foi uma experiência interessante. Aos 11, 12 anos eu já era uma leitora voraz. Mas de novo tenho que dizer que o aproveitamento do livro na época deve ter sido baixíssimo. Se bem que, a gente observa as crianças, o que elas são capazes de aprender com tão pouca idade e é surpreendente. Talvez eu tenha esquecido de como foi naquela época.

Aviso ao leitor: se você pretende fazer como eu e reler o livro, então pare por aqui. Eu não lembrava praticamente nada do final e fiquei ansiosa pela conclusão. Aconselho parar por aqui porque vou comentar o final.

Que Capitu traiu, traiu. Sem sombra de dúvida, o Ezequiel era filho do Escobar. Se hoje eu tivesse que participar novamente do trabalho da escola, eu levantaria uma questão diferente. Na verdade, nem lembro se a dúvida na época era quanto à traição ou o motivo da traição. Porque o que fica no ar realmente é o motivo.

Machado de Assis coloca dois elementos muito fortes no livro: primeiro, ele enfatiza muito o anseio que o Bentinho tem por um filho. Depois de um número significativo de anos de casados, ele comenta a frustração de não ter um filho. E ao que parece, Capitu era muito dedicada e apaixonada por ele. Pode ser que de uma forma "bizarra", ela tenha decido agradar o marido com um filho... quem sabe...

Em nenhum ponto do livro, enquanto havia a amizade entre os dois casais, houve uma suspeita do Bentinho em relação a um possível relacionamento entre Capitu e Escobar. Mas, ao mesmo tempo, há um momento em que ele mesmo sente despertar uma atração passageira por Sancha. Eu diria que esta é a segunda hipótese. Que algo muito rápido tenha se passado entre Capitu e Escobar, somando-se a isso o fato de que ela tinha um talento para dissimular as coisas mesmo... desde nova ela conseguia disfarçar muito melhor do que Bentinho, como ele mesmo descrevia.

Talvez o intuito do escritor tenha sido deixar o leitor com a mesma dúvida que Bentinho. Na verdade, creio que ele nunca pensou na primeira hipótese que eu coloquei. A constatação dia após dia da semelhança de Ezequiel com Escobar levou-o a concluir que Ezequiel não era seu filho. E a dúvida era apenas sobre quando a traição poderia ter ocorrido, pois ele mesmo não conseguiu descobrir. E Capitu, dissimulada, obviamente negou o caso até a morte.