sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

A arte de desconstruir


Certa vez, ignorante a respeito da história de Picasso, eu visitei uma mostra que explicava a trajetória do pintor, desde a escola clássica até a criação do estilo que finalmente o consagrou como artista. Os trabalhos exibidos, que demonstravam esta evolução, eram na sua maioria retratos e o interessante era que o retrato original e a pintura que derivava dele eram colocados lado a lado de forma que podia-se perceber que olhos e narizes assimétricos tinham na verdade uma "lógica".

Se fosse pedido a Picasso que ele executasse uma obra correta e virtuosa do ponto de vista clássico, ele sabia fazê-la com precisão e competência. Por outro lado, o que lhe aprazia era mostrar as coisas não como as vemos, mas de acordo com uma interpretação própria, que apesar de incômoda para muitos, denota a sua habilidade e uma beleza singular.

Fiquei pensando sobre isso. Existem gênios em fazer a coisa certinha e gênios em fazer a coisa nem um pouco certinha. Fiquei aqui, admirando a capacidade de um gênio em potencializar sua habilidade, fazendo o certinho de forma excelente e o nem um pouco certinho de forma mais surpreendente e admirável ainda. Fiquei pasma diante da constatação que me atingiu de pronto, em perceber a força de se saber a regra, o método, a organização, para então jogar tudo para o alto e criar de novo, mostrando que é possível sim, haver ordem e beleza no caos.

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