domingo, 2 de janeiro de 2011

Balanço

"Antes de ter sido sequestrada, eu acho que a felicidade estava relacionada ao sucesso. Atualmente a felicidade está relacionada para mim ao descanso, paz, serenidade".

Um dia desses caiu em minhas mãos uma revista contendo uma entrevista com Ingrid Betancourt, ex-senadora colombiana sequestrada pelas FARC e mantida em cativeiro durante 6 anos. Não posso dizer que acompanhei de tão perto a trajetória de Ingrid mas a sua história me chamou a atenção desde a ocasião do seu sequestro. O documentário que eu assisti a retratou como uma mulher de garra, que lutava contra a pobreza e a corrupção no governo colombiano. Se era verdade ou não, se a postura dela após a sua libertação em 2008 foi correta, nada disso cabe a mim julgar ou defender. O que me interessa nesse caso é a conclusão a que ela chegou após anos de reclusão e ao momento de vida em que ela se encontra.

Estamos iniciando um novo ano. Momento de inevitável reavaliação, de planejamento. Muitos dizem que estamos no início de uma nova era, mudança que se concretizará com alterações drásticas na forma como a vida é vista e valorizada no planeta. Dizem que tudo isso se concretizará em 2012, que as mudanças embora radicais e sofridas, não resultarão no fim do mundo como previa Nostradamus mas como um fim do que há de ruim e início de nova era. Bom, me parece que todo ano existem previsões deste tipo ou de todos os tipos. Eu gostaria muito que dessa vez fosse verdade.

Eu assisti muitos filmes nesse final de semana. Duas temporadas de Dexter, um serial killer que por incrível que pareça a gente aprende a amar, "Whatever Works" de Woody Allen e Casamento Silencioso, um filme de produção romena. E estou iniciando o "Petit Nicolas", livro que eu li há muitos anos atrás e que agora estou tendo o prazer de assistir, com todas as suas deliciosas interpretações infantis do mundo adulto. Ah! E antes que vocês perguntem, se é que vocês se recordam de um post meu antigo, sim, eu consegui reconhecer várias palavras em romeno.

Eu fiquei pensando após essa overdose de informação que há um momento na vida em que a gente tende a olhar para trás, avaliar o que a gente fez de bom ou de ruim e em que a gente sente necessidade de mudar. Quase sempre isso resulta em mudanças radicais. E se a gente não resolve por livre e espontânea vontade promover essas mudanças, parece que de alguma forma a vida se encarrega de forçá-las. Acho que não é nada assim de espetacular, parece ser parte da vida, como um roteiro pré-definido. Sabe aquela história de que os bebês parecem se comportar mais ou menos igual, têm um tempo de chorar, um tempo para sentar, um tempo para engatinhar, e por aí, uma cronologia mais ou menos parecida? Aí vem a adolescência em que por mais popular que se possa parecer, quase sempre lutamos contra nossas próprias inseguranças e dúvidas? Pois é, então existe um período pós-realização ou não realização, por volta dos 40 anos em que a gente resolve jogar tudo para o alto. Não necessariamente porque foi inútil, talvez simplesmente porque foi o certo durante um tempo mas deixou de ser. Ou porque a gente viu que tentar ser o que os outros querem que a gente seja e não o que a gente realmente é, não funciona. Isso me lembra que eu assisti também um documentário sobre Freud. E essa batalha foi o que ele tão brilhantemente descreveu como a luta entre o nosso Superego e o nosso Id.

Estou lendo um livro do Nick Hornby onde várias pessoas tentam suicídio no mesmo local e não só elas não se suicidam como começam uma jornada de conhecimento dos problemas uns dos outros. Eu ainda estou no início do livro. Mas o que me chamou a atenção nesse caso não foram os problemas em si mas o "awakening", o cair da ficha. O "Whatever Works", "Tudo pode dar certo", pinta de uma forma muito divertida essas oportunidades de um "fresh start" como o americano costuma dizer e termo que eu particularmente gosto pois me parece muito simpático ser refrescada com a oportunidade de um novo início. Woody Allen parece ter retomado neste filme seu velho e querido estilo de história passada em NY regada a intelectuais com seus problemas aparentemente sofisticados e complexos mas que na verdade não têm nada de particulares, são apenas de natureza humana. Filme regado a diálogos inteligentes, belas prateleiras de livros que eu tanto gosto e o principal: o sarcasmo brilhantemente bem-humorado.

Bom, parece que o meu balanço não resultou em muita conclusão. Sigo aqui pensando em todas essas coisas, refletindo sobre a vida, nas verdades que um dia a gente questiona, chega a pensar que não eram verdades como a gente imaginava. Sonhando com um novo mundo, desejando que um dia deixemos de ser prisioneiros, seja de um sistema político, uma relação equivocada, uma expectativa ou mesmo de nossos próprios pensamentos. Desejando estudar cada vez mais, melhorar não somente intelectualmente mas como ser completo e único e ao mesmo tempo interconectado. Esses são os meus desejos para o ano que se inicia e para os que estão por vir. E é o que desejo a todos vocês. Um feliz 2011!!

9 comentários:

Pri S. disse...

Pois pra mim esta postagem-mix fez todo o sentido! Tenho pensado sobre estas coisas tb. E mais importante do que chegar à conclusões definitivas é nunca parar de refletir, de nos questionarmos.

Que seu 2011 seja muito especial! :-)

Bjos!

Lilly disse...

aaahh! Adorei o "postagem-mix".

Beijos!!!

Márcia de Albuquerque Alves disse...

Lilly, que bom que você não concluiu! Que bom que você ainda tem muito a questionar, verificar, reavaliar, recomeçar... acho que o inicio de um novo ano é isso, é recomeçar do zero, é zerar tudo e recomeçar. Gostei demais da tua avaliação, também estou fazendo algumas kkk! bjssss

Lilly disse...

Pois é Márcia, todo mundo precisa disso, né? É algo assim simbólico pq se for pensar bem nada muda de verdade... mas a gente precisa tomar as oportunidades que aparecem!!

Beijos.

Beth Blue disse...

Eu fiquei pensando após essa overdose de informação que há um momento na vida em que a gente tende a olhar para trás, avaliar o que a gente fez de bom ou de ruim e em que a gente sente necessidade de mudar. Quase sempre isso resulta em mudanças radicais. E se a gente não resolve por livre e espontânea vontade promover essas mudanças, parece que de alguma forma a vida se encarrega de forçá-las.

Eu estou exatamente nessa fase e tem sido muito doloroso (basta ler meu último post)...mas vai passar, eu sei. Porque tudo na vida passa. né?

Aproveita pra te desejar um ano novo com muitas realizações e que você consiga o que teu coração deseja. beijos e vamos em frente (de preferência sem olhar muito pra trás)

Beth Blue disse...

Voltei pra só dizer que gostei muito de Whatever Works mas não me lembro se comentei lá no blog. De qualquer forma. sou suspeita porque sempre gostei de Woody Allen.

Memória fraca é ruim demais!

Lilly disse...

Ah Beth, mudanças são difíceis para todos. Eu tb tenho minhas crises... mas é como vc disse, uma hora melhora. Muito legal Whatever Works, né? Eu curti demais, leve, divertido. Gostei mesmo!!!
Beijos.

Anônimo disse...

Lilly,
Coincidentemente, ontem vi na recepção de um consultório, uma pessoa lendo o livro de Ingrid Betancourt: "Não Há Silêncio que Não Termine", e senti uma vontade enorme de lê-lo também.
Penso que a vida é uma linha tênue e uma escola onde nunca nos formaremos. Sempre há o que aprender, sempre temos o que descobrir, e isso, além de mágico, é o nosso combustível.
Viver é uma delícia, mesmo com e apesar dos problemas.
Ah, quanto ao Petit Nicolas, vi no cinema... é uma delícia de personagem!
BeijO*

Lilly disse...

Engraçadas essas "coincidências", não? É uma espécie de inconsciente coletivo onde a gente fica meio que conectado com os mesmos assuntos, mesmo os que parecem menos óbvios.
Beijos!!