quinta-feira, 25 de março de 2010

Uma nova perspectiva


Há coisas que me parecem óbvias mas que não deixam de se tornar cada vez mais óbvias conforme o tempo vai passando e eu as vou praticando. Com relação a ler, a se informar. Eu não canso de me surpreender com as diversas facetas e visões que vou adquirindo através da leitura ao longo dos tempos. Bom, isso também acontece com bons filmes.

Estou lendo "A menina que roubava livros" de Markus Zusak. Eu diria que o aspecto destacado por este meu post nem é o que mais surpreende no livro. O bacana do livro é a estrutura em si, a disposição inusitada dos parágrafos e principalmente a personificação da morte, a poesia com que ela nos fala dos momentos em que as vidas são levadas por ela e até os questionamentos que ela se faz sobre o seu "trabalho". Genial.

Voltando ao assunto principal, a imagem que ficou marcada de um modo geral foi a do judeu subjugado pelo Nazismo e pelos horrores do Holocausto. Não tenho dúvidas de que foi de um sofrimento inimaginável. O que me incomoda nessa história a partir do momento em que começamos a conhecer outros relatos como o que o livro expõe tão bem, mesmo em forma de ficção, é a unilateralidade. Sim, porque o povo alemão ficou como um todo com a fama de mau. Só que com menos frequência ouvimos falar daqueles que mesmo sendo alemães não compactuavam com o regime e que se em determinados momentos agiam de acordo, era por pura coação, por medo. Poucos conhecem o martírio daqueles que viam seus filhos sendo levados para batalhas impossíveis de serem vencidas, das crianças que já na escola sofriam os rigores e a lavagem cerebral, da fome, do medo dos bombardeios, das mortes e da destruição que enfrentavam nas cidades alvo.

O filme "A Lista de Schindler" hollywoodianamente mostra o esforço de um militar de alto escalão na luta para salvar judeus dos campos de concentração. Na época em que foi lançado lembro-me que revolucionou a forma de ver o Nazismo pois pela primeira vez um militar alemão em pleno período de guerra foi retratado fora do papel de mau. E por americanos.

Uma das belezas da maturidade bem informada é que com o tempo vamos ficando cada vez mais "em cima do muro". O que quero dizer com isto não é que nos abstemos da opinião. Não estou falando sobre omissão. Seria uma posição central mais justa, que pesa a maioria dos aspectos e das oposições, que avalia melhor e julga menos.

2 comentários:

Anônimo disse...

Um professor de alemão( idioma que estudei por uns tempos) me disse que hoje os alemães têm vergonha de falar sobre o nazismo, que muitos negam ou não acreditam mesmo que o povo do país deles fez tudo aquilo. É claro que existiam pessoas boas, que mesmo sendo alemãs, escondiam judeus, ajudavam( e com pavor de serem pegas), não tenho dúvidas... qdo assisti ao filme " Bastardos Inglorios" dormi mal a noite toda e fiquei impressionada, pq mesmo sendo ficção, trata- se de ficção sobre algo real...( nazismo), fiquei remoendo a noite toda como é que podiam ter feito aquilo, e achado que era certo, tipo assim" vamos sair matando judeu por aí"... e não só falarem que iam fazer, mas fazendo de fato... enfim, aquela noite confesso que não dormi bem!
lembrei da copa do mundo da Alemanha em 2006, e tive a impressão que eles organizaram tudo p/ mostrar que hoje são um povo amistoso, receptivo, bem diferente do povo que praticou o nazismo tempos atras...( assisti aos jogos da copa, e pela cobertura, e pelo logotipo da copa, fiquei com essa impressão...)... beijos

Lilly disse...

É verdade, Valeria. Eu convivi muitos anos com alemães e uma vez, visitando Nuremberg que é um pólo do Nazismo, o colega alemão que nos mostra a cidade nos confessou de forma magoada que não era justo que ele, que nem era nascido na época do nazismo fosse julgado como tal. Ele nos mostrou alguns prédios contando para que foram utilizados na época do nazismo e de que forma o governos os converteu em algo que trouxesse uma boa lembrança. Na visão deles, destruir as provas era uma forma de esconder o que se passou. Eles preferiram mostrar através da transformação daqueles prédios que eles eram capazes de praticar o bem. Achei uma simbologia muito bonita.
Beijos!