segunda-feira, 16 de maio de 2011

Estudar


Eu não gosto de me abrir muito no blog, não porque seja uma pessoa introspectiva, mas por que sou, apesar de extrovertida, desconfiada. A gente escuta tanta história bizarra envolvendo internet hoje em dia, que fica medindo (pelo menos eu), o que pode ou não ser dito.

No passado eu já escrevi sobre sonhos recorrentes. Sobre elevadores de 4 portas, discos voadores. Enfim, nem lembro direito o que escrevi. Terei que reler. Mas eu senti grande necessidade de dividir algo que aconteceu comigo. Tem muita coisa que a gente lê e que a gente sabe na teoria. Mas eu acho que existe um valor agregado muito maior em falar sobre algo que a gente leu e acabou constatando. Eu sempre falo sobre o "estalo", o "cair da ficha". Quando a gente vive algo e se dá conta de que era sobre isso que fulano estava falando num livro, ou no filme, ou que qualquer pessoa contou para a gente.

Durante grande parte da minha idade adulta, eu tive um sonho. De que eu voltava para o colégio. O sentimento do sonho não tinha nada a ver com saudades de adolescência, dos tempos dourados. O tom, era sempre o de algo inacabado. Eu voltava para o colégio, de uniforme e tudo e encontrava tudo mudado. E me perguntava o que eu fazia ali se já tinha me formado. Às vezes era a faculdade. Eu achava que estava faltando algo para obter o diploma. Eu acordava e não sabia definir exatamente o que faltava e porque eu estava sonhando com aquilo.

Um dia eu li "Quando Nietzsche Chorou". Li por que era moda, ou por que fiquei curiosa, nem lembro direito o motivo. Só sei que li e não gostei muito. Empurrei a leitura. Não me parecia coerente (naquela ocasião), ver um grande nome da filosofia reduzido a trapos, a criatura tão severamente atormentada. Muito embora eu tivesse conhecimento de que grande parte dos grandes nomes, dos ícones que tanto admiramos, foram na verdade almas extremamente sofredoras. Tem horas, que não sei porque, a minha razão não bate com a compreensão. Eu sei do fato mas simplifico. Naquele momento, Nietzsche = sábio < > depressivo. Eu sei, não faz o menor sentido a minha equação. Mas foi o que pensei.

Também durante grande parte de minha idade adulta, eu sofri de alguns males. Ansiedade, pequenas crises de pânico, fobias inexplicáveis. Coisas que eu sofria e queria muito vencer. Coisas que praticamente foram vencidas durante algum tempo, com a vinda do primeiro filho. Por que a maternidade me deu uma força que eu nem sei de onde veio. Maternidade não sonhada, não planejada, mas que configurou um novo sentido à minha vida. E continuei eu deslumbrada por ela, até o segundo filho. Mas quando parte dos problemas retornaram. Por que embora fascinada, eu não estava preparada para toda a responsabilidade que a vida moderna infligiria nas variadas facetas que eu precisava dominar. Metódica, caprichosa ao extremo, perseguidora de ideais nem sempre factíveis, ou cabíveis, eu me enrolei. Eu me perdi nos objetivos, errei as prioridades e comecei a sofrer novamente. E comecei a sonhar com caminhadas livres ao sol das 10 da manhã e dias sem problemas e prazeres simples de infância. Coisas nem tão absurdas mas que para mim pareciam inatingíveis.

E fui seguindo assim, até que minha vida virou de cabeça para baixo. Eu sofri, eu me perdi na minha essência. Mas hoje eu entendo que tudo aquilo foi necessário para que eu voltasse ao meu trilho. Para que eu recuperasse as coisas em que eu acreditava, para que eu voltasse a ser quem eu realmente era e tivesse coragem de perseguir os sonhos que finalmente eu tinha preparo (de vida) para perseguir. Eu sofri, joguei tudo para o alto, separei o que não servia mais e recomecei. Recomeçar, não é nada fácil. Recomeçar, nem sempre é seguir em frente. Muitas vezes é questionar as decisões, duvidar de nossa capacidade.


Eu tive muitas coisas boas em que me apoiar nesse tempo todo. Poderia falar sobre várias delas. Mas eu gostaria de falar sobre algo que estou vivendo nesse momento. Algo que eu iniciei há cerca de um ano e que gradativamente me mostrou a luz no fim do túnel. Essa coisa, foi estudar. Eu comecei devagar com alguns cursos livres. Comecei a me familiarizar com os temas que envolveriam minha nova carreira. Sim, eu resolvi mudar de carreira! Radical! Fui fazendo um cursinho aqui e acolá. No final do ano passado, resolvi investir num curso técnico. Porque eu percebi que precisava de algo mais formal do que os cursos livres vinham me proporcionando. E eu tinha um tempo limitado para me recolocar na nova carreira.

E foi por isso que sumi. Porque o curso técnico começou e um novo mundo, de verdade, sem querer me utilizar de chavões, se descortinou diante dos meus olhos. Eu vi coisas que me remeteram à infância e aos gostos cultivados durante tantos anos, paralelamente ao meu trabalho formal. Eu descobri que para tudo aquilo que me fascinava, havia se não uma, milhares de possibilidades e aplicações diferentes. Eu me reencontrei, reinventei e acima de tudo: recuperei minha dignidade. Eu vi que uma hora, tudo vai dar certo. Que eu vou conseguir mostrar o meu valor e fazer o que gosto. Eu redescobri isso tudo pelo estudo. Leio ávidamente a bibliografia que meus professores passam e discuto de igual para igual os temas com colegas que são na grande maioria, 23 ou 24 anos mais novos do que eu. De igual para igual no que tange ao novo, ao moderno, porque bagagem não me falta, sobra! E eu não me sinto discriminada, eu não me sinto velha. Eu me sinto viva e atual. Eu renasci.

E onde "Quando Nietzsche Chorou" entra nessa história toda? Por que foi assim que um dia eu entendi. Simplesmente lembrei das situações do livro e compreendi por que a gente pode vomitar sem doença e o coração pode disparar e a gente achar que vai morrer, sem motivo aparente. Por que a gente pode olhar para uma comida, e a despeito de sua aparência fresca, achar que algo pode estar estragado ali e que vai nos fazer mal. A gente sente tudo isso, por que a gente está se violentando. Por mais corretos que possam parecer nossos planos, nossa dedicação, a gente pode estar seguindo um caminho totalmente errado. Descobri que tão perigoso quanto não saber o que fazer da vida, pode ser a certeza do que a gente deve fazer da vida. Por que dever, nem sempre é querer. E existe um limite para o que a gente pode suportar.

9 comentários:

Anônimo disse...

amei!!! qual curso técnico que vc começou e pelo qual se apaixonou??? to sentindo o mesmo que vc.... comecei o livre de teatro e mea apaixonei tanto que ano que vem, se deus quiser vou pro técnico( detalhe: sou médica...).kkk nada melhor que aprender e se envolver com algo que nos dá paixão né???

Pri S. disse...

Que texto mais lindo, cheio de sentimento, de coisas boas!

Dá vontade da gente ficar aqui na torcida, desejando que tudo dê certo pra vc.

Admiro a sua coragem e determinação. Fico feliz pelo seu recomeço e pela chance de aprimoração da autoestima.

Só posso dizer aqui que suas palavras me trouxeram esperança e que ao compartilhar esses sentimentos vc fez bem ao meu coração.

Tô na torcida!

Bjos!

Lilly disse...

Val,
estou estudando Comunicação Visual (ou Design Gráfico). Eu sempre amei artes e recortes e com o scrapbooking, descobri um talento para diagramação. E também por causa do scrapbooking comecei a estudar por conta própria o photoshop e foi então que percebi que tenho facilidade para as ferramentas gráficas. Hoje em dia sei trabalhar com várias e também com alguma tecnologia para web. Tudo isso, falando, é muito bonito mas uma hora preciso colocar em prática de verdade, transformando definitivamente numa profissão.

Beijos!

Lilly disse...

Puxa Pri, obrigada pelas palavras carinhosas. Com certeza já estou sentindo o seu apoio através de emanação de boas vibrações. No outro dia, alguém me disse uma frase que fazia tempo que eu não ouvia: "que o universo conspira a nosso favor". Eu acredito nisso e tenho certeza de que vc está me ajudando nessa "conspiração".

Beijos!

Anônimo disse...

AMEI te conhecer hj, querida!! tem até póst no meu bloguinho onde cito nosso encontro. beijão e espero outros encontros em breve. ;)))

Lilly disse...

Eu também, Val!!! Que legal, vou passar lá para ver. Já andei lendo um pouco para me atualizar pois perdi muitos posts. Estou aos poucos lendo várias coisas por aí.
Beijão!!

André Lima disse...

Brava, Lilly! Antes de tudo uma corajosa.

André Lima disse...

Brava, Lilly! Antes de tudo uma corajosa.

Lilly disse...

Viva!! :)