sexta-feira, 11 de junho de 2010

Imortalidade

Eu sou da época em que vampiro era o Lestat. Dilemas quanto à imortalidade, ô pessoalzinho angustiado, esses vampiros da Anne Rice, a constatação da monstruosidade indesejada mas inevitável e outras questões que já não recordo mais. Em algum ponto da trilogia eu abandonei as estórias pois a sanguinolência acabou me enjoando. Em algum ponto comecei a achar tudo aquilo mórbido demais.

Crepúsculo, que estou lendo agora, tem várias questões em comum com às do vampiro Lestat, embora de forma infinitamente, eu diria que até excessivamente, mais adocicada. Pelo menos até o ponto do livro onde eu cheguei.

Duas coisas me fascinam. A primeira, nos escritores de ficção em geral, quando os personagens não são humanos, em como eles conseguem transcender o mundo real e abordar aspectos psicológicos, conflitos gerados a partir de características não-humanas. Não bastasse o ser humano ser complicado o suficiente, o escritor tem a capacidade de criar em seu personagem um debate interno, tal qual os humanos travam com suas próprias consciências, entretanto tendo por pano de fundo o fantástico. Vale a pena então citar novamente as reflexões que a "Morte" faz consigo mesma na "Menina que roubava livros". Genial.

Em segundo lugar vem a Imortalidade. Creio que o mais frequente seja sonhar que seja possível manter-nos jovens para sempre, desfrutando dos prazeres da vida proporcionados por poderes sobrenaturais. Então a gente se depara com personagens em certo ponto da jornada entediados, cansados de viverem para sempre. Lembra do Highlander? Além do cansaço, a tristeza de ver os humanos queridos indo, o medo de amar e de perder, que é inevitável nesse contexto.

A cada dia que passa eu me fixo muito menos nos motivos pelos quais as coisas acontecem e mais no que pode ser feito ou o que podemos ganhar com determinadas situações. A gente tende a achar que em algum ponto a velhice vai nos afetar e que a gente vai se deprimir, sem alternativas, tomados pela incapacidade de fazer aquilo que gostamos. Um grande equívoco. Quantas pessoas jovens vemos diariamente que desperdiçam sua juventude em atitudes totalmente improdutivas? Pessoas que acordam, vão para o trabalho, fofocam um pouco, comentam superficialmente as últimas notícias, voltam para casa para ver o futebol ou a novela, e passam pela vida sem nenhum interesse em especial, sem abrir um único livro. Diante deste quadro, não estariam elas já quase mortas, sem nem terem que esperar a velhice?

Eu não sei se eu me cansaria da imortalidade. Pode ser que sim. Mas fico realmente tentando imaginar se na imortalidade eu encontraria algum alento para a angústia e a frustração que às vezes me invadem por não dar conta de tudo o que eu quero conhecer e dominar. Se assim eu me daria o prazer de saborear as coisas devagar, sem a pressa que a vida moderna nos impõe. Tempo para executar todos os projetos imaginados e que demandam dedicação, que muitas vezes se perde no cotidiano, nos afazeres comuns e diários, por sua vez não menos importantes. O prazer de desfrutar o simples e o grandioso. Sem pressa e consequentemente sem cobrança.

2 comentários:

Márcia de Albuquerque Alves disse...

Oi Lilly!

Adorei o post! Li todos os livros da saga "Luz e escuridão", estou ansioda pelo lançamento do Eclipse, mas, o que mais gosto nesse tipo de livro é a imortalidade, a idéia de viver prá sempre, a questão do que é real e imaginário, e da capacidade que ele tem de nos fazer sair deste cotidiano que vivemos e embarcar nessa viagem.
Apesar da critica o considerar um livro muito simples, para mim a idéia é válida, incentiva os jovens e adolescentes a ler.
No meu estágio de alunos de 9 a 11 anos boa parte deles já leram os livros, acho que isso é uma vantagem prá educação, porque estão lendo, exercitando a leitura.
Bem adooooooooooro Harry Pother não seria diferente de Edward e Bela.

Bjs amei, amei o post

Lilly disse...

Sim, o livro é simples mas bem escrito. E as reflexões, completamente válidas. Os vampiros encontram na busca do conhecimento e da perfeição o remédio para o tédio da vida eterna e para a angústia de terem se tornado monstros que repudiam a sua própria monstruosidade. Eles buscam soluções através do crescimento pessoal. Nós não somos vampiros mas podemos nos valer das mesmas soluções.

Obrigada pelo comentário :)
Beijos.