Recebi um texto atribuído a Leo Buscaglia onde em linha gerais ele diz que para se desenvolver uma relação é necessário demonstrar através de ações o amor que se sente.
Uma vez, eu pincelei de leve esse assunto num post. Que não basta sentir, tem que externar através de palavras e atitudes. Existem coisas que parecem óbvias quando a gente lê mas que não são tão óbvias no momento de praticar. Resolvi falar sobre isso porque o texto fechou exatamente com um dos curtas de "Paris je t'aime" entitulado "Bastille" que eu vi recentemente.
Fico me segurando para não escrever sobre o filme porque detesto ser daquelas pessoas que contam o final da história. Mas para quem tiver interesse, pode dar uma procurada no Youtube e assistir; descobri que praticamente todos os curtas podem ser encontrados lá.
Nessa estória, o marido que planeja abandonar a mulher desiste da idéia quando recebe a notícia de que ela está em fase terminal de leucemia. Ele decide voltar com ela para casa e cuidar dela até que ela morre em seus braços. E a frase que me marcou no filme: "en force de se comporter comme un homme amoureux il devint de nouveux un homme amoureux" que seria algo como "de tanto se comportar como um homem apaixonado ele se tornou novamente um homem apaixonado".
Não que seja sempre possível resgatar de volta os sentimentos que se sentia antes que a relação se desgastasse. A situação do filme foi muito específica, uma decisão baseada na doença da mulher. Mas me pareceu original essa visão, a de que os atos gentis e carinhosos de uma pessoa apaixonada, em princípio simulados, pudesse por fim resultar na recuperação dos sentimentos que haviam se perdido.
4 comentários:
"de tanto se comportar como um homem apaixonado ele se tornou novamente um homem apaixonado".
Certamente tem um fundo de verdade nessa estória. Eu acho que amar só não basta. Tem que demonstrar no dia-a-dia, de preferência não apenas com palavras mas com gestos. Pequenos gestos de atenção dizem mais do que mil palavras.
Dizer eu te amo é muito fácil, dar o carinho e a atenção que o outro merece no dia-a-dia de uma relação é mais complicado. Eu felizmente ainda estou na fase boa (e pretendo continuar nela por um bom tempo, hehehe), mas já vivi um casamento de anos e aprendi na marra que a gente não pode deixar o barco afundar. Se bem que às vezes ele está fadado a afundar apesar de nós mesmos...
E se o câncer que ela tinha não fosse terminal, ele teria continuado com ela?
Isso não é amor, é compaixão. Talvez um amor protetor, mas não romântico.
Concordo com a parte de que externar o amor é preciso, mas simular sentir o que não sente não resgata o amor. Experiência própria.
Se o câncer não fosse terminal ele a teria abandonado. É verdade, de início foi compaixão. Mas de tão forte a compaixão, ao agir daquela forma ele foi se apaixonando de novo pois ele ainda refletia sobre as características que ela tinha e e que o fizeram se apaixonar por ela. Eu concordo com você, é muito improvável resgatar um amor assim. Mas não é impossível... Neste caso, creio que a compaixão deu o ingrediente diferente...
Nossa, esse assunto é muito complicado! A ponto de eu concordar com a Beth, o Bruno e você. Sim, ao mesmo tempo.
Eu não tenho não tenho dúvida de que o amor existe por si, a princípio, e não é possível vêlo onde ele não está. Ou, apenas acho que pode ser assim. Porque talvez este "a princípio" pode ser só amor em potência. É algo que te diz: "Olha, dá pra ter amor aqui" E a gente vai lá e faz, pela prática. Ou não, deixa morrer. Neste caso (eu não vi o filme), a doença pode ter sido, para ele, o clarear desta oportunidade. Visão que não teria surgido se a moça estivesse sã.
Em Aristóteles a gente vê uma coisa desse tipo, na Ética. A virtude é característica adquirida pelo âmbito prático da razão, não pelo intelectual-contemplativo. O que apreende o que é um fim nobre é a razão prática que o faz somente praticando a virtude. Bonito, não?
É, acho que amor também é prático. Melhor: se pratica para que exixta. Ninguém dá muito valor a uma coisa que só em idéia pode ser amada.
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