quinta-feira, 17 de junho de 2010

Esquecido de si mesmo

Sempre me soou tão vaga essa estória de esquecer de si mesmo. Houve tempos em que eu tentava interpretar a frase e o que vinha de compreensão era  algo do tipo: esquecer de ler um livro, de ir ao salão cuidar do cabelo, não frequentar a academia. Tão certa estava eu de meus objetivos.

Um dia eu escutei um programa no rádio em que a ouvinte mandava uma pergunta e o Max Gehringer respondia. Era algo relativo a seguir a carreira dos sonhos, sobre como era difícil, ela perguntava sobre como dar a guinada na vida para atingir esse sonho. E o que ele dizia era que às vezes uma mudança significativa não requer necessariamente uma reviravolta mas sim uma mudança de visão. De repente a moça poderia não largar tudo mas se dedicar mais ao sonho como um hobby e que poderia se tornar algo mais prazeroso.

Vou confessar que não sei se foram exatamente essas as palavras do Max Gehringer. Mas foi assim que eu memorizei. Foi assim que eu entendi por ter eu mesma me desviado dos meus sonhos por uma carreira mais realista, mais pé no chão e que me proporcionou melhor retorno. E eu não me arrependo.

Mas é então que eu volto ao ponto inicial do meu post. A gente só entende na profundidade da afirmação do que é "esquecer de si mesmo", quando a gente esquece de verdade. Assim como muitas outras situações na vida, é claro. A gente só vai apreender na totalidade, quando acontece com a gente. Então eu entendi um dia que esquecer de si mesmo era algo muito mais grave do que esquecer de fazer a unha ou de ver o lançamento de um cineasta preferido. Esquecer de si mesmo era esquecer não só dos sonhos mas de quase tudo aquilo que nos dá prazer. Desde hábitos muito simples como comer uma fatia de pizza.

Um dia a gente se dá conta, de tão esquecidos de nós mesmos que a gente não faz quase nada mais daquilo que a gente gostava. A gente percebe que se entregou a uma máscara de perfeição, de 105% de eficiência no trabalho, no lar, na amizade. Perfeição imaginada, sem perceber que na verdade é uma bomba relógio, prestes a explodir. E quando ela explode, ironicamente, ela não traz de volta imediatamente nossas convicções primordiais, o que ela causa é um estrago que de princípio nos faz questionar tudo aquilo que somos. Até no que foi adquirido de bagagem, não estava previsto no plano inicial mas que não é necessariamente ruim.

No outro dia eu li em um quadrinho no blog da Beth (Noites em claro) que dizia que "life is not about finding yourself, it is about building yourself". E eu concordo em termos. Acho que a gente precisa "se construir" mas não deixa de ter que de tempos em tempos achar a gente de volta. Porque a gente faz planejamentos e acaba se desviando da rota, como disse anteriormente. E o que pude perceber é que no fundo, a gente não deixa de ter dentro de nós aquela criancinha. Quando a gente se desvia e se reencontra, a gente se pega rindo sozinho quando percebe de volta na gente um pequeno prazer de infância. Não adianta ser bem sucedido, ter algum conforto material, se a gente não exerce em vida adulta nada do que a gente ansiava ou sonhava quando era criança, foi o que eu descobri. Vai variar de pessoa para pessoa. Pode ser desde desenhar uns garatujos, desde que para você pareçam bonitos, até colecionar figurinha da Copa. Cabe a você descobrir, ou melhor, lembrar o que é.

6 comentários:

Márcia de Albuquerque Alves disse...

Lilly que texto mais forte é esse???
Me vi nele!
Eu acredito que a gente se perde muito ao longo do caminho, e em certo momento a vida vai cobrar mais paixão, paixão que as vezes você deixou prá tráz. Sinto isso na minha.

adorei o texto, vou refletir o dia inteiro agora kkk

bjs

Lilly disse...

Coisas de quem anda se reencontrando... rsrs
Boa sorte!! Depois conta para a gente o que voce relembrou...

SIL...Jasmim Flor ... disse...

Lilly, ótimo texto, parece que nós mulheres temos esse dom de nos doar a tal ponto que esqueçemos quem realmente somos, eu levei anos para me redescobrir, e venho acompanhando o retorno de algumas amigas que também perceberam o quanto deixaram para tráz. Vamos recuperar nossos sonhos. Para quem não consegue mais lembrar dos sonhos de infancia, crie novos sonhos, bjs

Lilly disse...

É verdade, Yasmin. Caracteriza a mulher e uma determinada fase da vida também...Que bom que você se deu a oportunidade de se redescobrir. Sim, o importante é não deixar de sonhar!
Beijos.

Labelle® Paz disse...

Eu tive que aprender a desconstruir algumas coisas que realizei ao longo da minha vida para construir outras que me deixavam mais leve, mais feliz e com um sorriso largo no rosto. Recomendo! Nunca é tarde para recomeçar.

Lilly disse...

Gostei do "sorriso largo no rosto". :-)