sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Desapego



Quando a gente ouve falar em desapego, a gente pensa logo em desapego material. A gente lembra de Jesus Cristo em seus trajes modestos e em plácidos monges tibetanos que vivem isolados de tudo e de todos. E parece tão longe de nossa realidade, tão distante de nosso dia-a-dia.

Entendi recentemente que apego é um conceito muito mais amplo.

Ser desapegado implica em não gerar expectativas exageradas e sobretudo desnecessárias. Porque expectativa parece andar de mãos dadas com a decepção. Decepção porque se muitas vezes nem nós mesmo somos capazes de prever as consequências de nossos atos ou escolhas, imagina então quem vive ao nosso redor. Um desconhecido é capaz de entender que a gente queria andar naquela ponta da calçada? Uma amiga consegue prever que naquele modelo de blusa a gente acha que a cor não cai bem? Se a resposta dessas perguntas é não, para que então complicar, gerando em cima de situações simples mais e mais fatores de expectativa potencializando a nossa decepção? Criando no que poderia ser binário uma verdadeira múltipla escolha onde as respostas certas parecem nunca ser marcadas?

Claro que ser desapegado também implica em não valorizar tanto algo material. Por que o que é material deprecia, pode ser roubado ou destruído. Então a gente pode cuidar tendo a compreensão de que um dia aquilo pode ser tirado de nós por motivos alheios ao nosso controle. Pode ser mais fácil se a gente tiver por dentro coisas que não poderão ser tomadas: as nossas virtudes.

Dentro da amplitude do desapego, descobri que precisamos nos desapegar dos pensamentos, dos maus hábitos. A gente busca às vezes no mundo externo, em terceiros, as causas das nossas desgraças e não percebe que sem querer a gente é que está cultivando aquilo que nos incomoda. Sem notar, a gente trás de volta para dentro da cabeça o pensamento nocivo, ou mesmo aquelas coisinhas que a gente pensa, aparentemente sem importância, lembranças, análises, como nós gostamos de pensar, mas que na verdade são as nossas algemas, que nos mantêm presos no mesmo lugar.

"I will not harbor negative thoughts". Eu não vou abrigar pensamentos negativos.

Assim citou Elizabeth Gilbert em seu best-seller. Um grande passo é reconhecer que esses pensamentos existem e que eles não são saudáveis. É a prática do desapego. É mais fácil a gente voltar num pensamento antigo, mesmo ruim, do que substituí-lo por um novo. A gente tem medo de criar novas complicações. Então porque deixar ir? Deixa eu ficar aqui quietinha com o meu antigo pensamento. É o que a gente sente no fundo, sem se dar conta.

Se a mente insiste em não ajudar, mesmo a gente sabendo que não quer abrigar os tais pensamentos, então vale de tudo. Vale repetir a tal frase, do "Eu não vou abrigar pensamentos negativos". Vale rezar, vale cantarolar, vale correr, fazer abdominal, lavar a louça, ler um livro, ver um filme. Só não pode é deixar ele lá, como a mesma autora tão bem apontou: como um mantra de negatividade. Então basta a nós, se não somos capazes de esvaziar nossas mentes, substituir o mantra ruim por um mantra bom. Pode ser um inventado, não precisa ser complicado. Só precisa nos fazer bem.

9 comentários:

Depois dos 25, mas antes do 40! disse...

Eu estou nessa fase de não abrigar pensamentos negativos há um bom tempo, mas não é fácil mesmo. Ontem mesmo passei por uma situação horrorosa com a síndica do prédio e levei o desaforo para casa. Só vou falar com ela a hora em que a raiva tiver passado e sentarmos apenas para resolver o problema. Mas que o pensamento ruins sobre ela estão pipocando na minha cabeça... a isso não dá para negar... rs

Legal o post.

Beijos

SIL...Jasmim Flor ... disse...

Gosto de refletir sobre essa palavra, pois na prática, no dia-a-dia temos que praticá-la com frequência.
Eu mesma como recém separada tive que me desapegar de muitas coisas, a pior foi lidar com o fato que meus filhos ficaram morando com o pai, mas com o tempo percebi que eles ainda estão comigo só que de uma forma diferente, o difícil foi o desapego da "idéia" de que filhos devem morar com a mãe. Estamos bem com o novo modo de viver, só é diferente.
Como agora me envolvi emocionalmente com um amigo muito especial, e me vejo na condição de me desapegar desse sentimento novo para preservar a amizade, pois ele prefere assim.
A vida é assim o desapego de sentimentos, pessoas, idéias que cultivamos com o tempo é sempre algo difícil.
Parabéns pela escolha do tema gostei muito, bjs

Anônimo disse...

Seu texto me faz lembrar algo que vi escrito no blog de uma amiga minha: as coisas e pessoas estão na nossa vida só de passagem. Nada dura para sempre nem é definitivo. Se aprendemos a pensar assim, não sofremos tanto quando as coisas não saem como esperamos.
E mais uma coisa: temos que aprender que é duro, mas ninguem veio a esse mundo para atender às nossas necessidades...
bjs

Beth Blue disse...

Então basta a nós, se não somos capazes de esvaziar nossas mentes, substituir o mantra ruim por um mantra bom. Pode ser um inventado, não precisa ser complicado. Só precisa nos fazer bem.

Eu juro que tento!!! É o que muitos chamariam de programação neuro-linguística...Difícil, mas não impossível.

Tem selo pra você lá no meu blog ;-)

Márcia de Albuquerque Alves disse...

Oi Lilly, eu nunca tinha parado prá pensar em desapego assim, muito interessante!
Só via o desapego justamente como você falou, mas, percebendo assim como no teu texto, vemos que realmente se apegar a determinadas coisas nos afasta muito do que poderia ser melhor. Me apego e insisto em pensamentos e metas que muitas vezes me iludem, me desviam do que seria melhor prá mim.
E esvaziar a mente, é realmente um desafio, um desafio e tanto.

ótimo texto, estou refletindo sobre ele.
bjs

Janine disse...

Oi Lilly,
Estou e-xa-ta-men-te treinando os meus desapegos. Quero me desprender de velhos conceitos, de velhas idéias...quero descortinar o novo...dói um pouquinho. Mas me sinto mais feliz e acho que é isso que importa!
Beijos!

Janine disse...

Olá Lilly,
Tem um selinho pra você no meu blog." O que é mágico pra você?" Beijos!

Unknown disse...

Oi Lily, quantos mil-anos né? amei saber que vc tem seu cantinho aqui no espaço virtual..adorei esse texto! já quis até me meter no budismo pra aprender essa "arte" - desapego também de amor em excesso? sempre tive isso na cabeça - amar tanto de achar que não vive sem aquela pessoa..
sucesso e um beijo grande

Lilly disse...

É verdade, somos mais felizes livres, sem amarras a objetos, conceitos ou pessoas. Podemos amar sem aprisionar. Praticar a gentileza sempre.

Obrigada pela visita! Volte sempre!