quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Ano Novo

Acho extremamente saudável festejar. Realmente precisamos de alguns dias definidos para prestar homenagens, fazer festa, lembrar de pessoas e fatos importantes. Aniversário sempre me emocionou muito, sempre achei que era aquele dia em que eu era a protagonista da estória, o centro das atenções, que naquele dia eu podia tudo. Ultimamente não tenho me emocionado tanto mais. Acho que apesar de sonhadora, a vida me faz fantasiar cada vez menos e isso rouba um pouquinho da mágica da data.

Com Ano Novo, diria que não me lembro de me emocionar. Parece que as pessoas acreditam que todos os problemas, as mágoas, as desilusões se apagam no dia 31. Tudo zera e a partir do dia primeiro a vida se torna melhor. Eu nunca pensei assim. Diria até que antigamente eu era um pouco mais supersticiosa com outras coisas. Hoje em dia, acredito que podemos ser agentes das nossas próprias mudanças. Devemos lutar por aquilo que queremos, ter persistência e fé. E funciona. Nem sempre exatamente do jeito que a gente imagina. Mas sempre há algo de bom a extrair quando nos propomos a mudar e a conquistar.

Hoje, dia 31 de dezembro, eu vou festejar a passagem do Ano Novo. Talvez não da forma como eu imaginava mas o dia não passará em branco. É uma festa bonita, festeja-se a virada do ano, a alegria, a beleza e a progressão da vida. E em 2009, continuarei meus projetos, talvez um pouco mais calejada, mas com certeza otimista, esperançosa e madura. Momentos difíceis existirão como sempre na vida. Mas tenho fé de que conseguirei superá-los.

Feliz 2009. Ou como a minha amiga Cacau diria: 2000 inove.

sábado, 27 de dezembro de 2008

Leituras

Terminei de ler o livro da Clarice Lispector ("Perto do coração selvagem"). A linguagem poética da Clarice é algo realmente belo e perturbador. Devo dizer entretanto que não é um livro apropriado para quem está passando um momento emocionalmente complicado. Por um lado tem a questão da identificação pois creio que a gente tende a se ligar mais a determinados textos quando encontra elementos que coincidem com sentimentos pelos quais estamos passando no momento. Só que a Clarice (através da personagem Joana) definitivamente tem a característica de se refugiar na melancolia. Me parece que é um estado permanente da personagem/escritora. Descobri que os sentimentos, mesmo os negativos, podem tornar-se confortáveis. Podemos nos apegar à melancolia, à raiva, à magoa, da mesma forma como à alegria, ao entusiasmo e etc. Nos acostumamos com um determinado sentimento como fuga ou desculpa para não tentar mudar ou melhorar aspectos da nossa vida.

Ganhei de presente a biografia de Tom Jobim com CD e tudo. Foi um presente inesperado e gostei muito. Começarei a lê-lo imediatamente.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Árvore de Natal



A gente tinha uma árvore de Natal bem pequena e há anos eu vinha prometendo para os meus filhos uma maior. Este ano eu finalmente cumpri a promessa, comprei uma grande, enfeites lindos, tinha um kit de bonecos de pelúcia lá na Etna, não resisti. Bolas de vidro com glitter. Um luxo só... Na hora de montar foi uma festa.

Árvore de Natal para mim tem um significado todo especial. Em casa, quando eu era criança, até a adolescência, eu era responsável por montá-la. Lembro que as aulas terminavam e eu já esperava ansiosa o momento de pegar a árvore e os enfeites. Todo ano era a mesma árvore e os mesmos enfeites. Parece que naquela época a gente não tinha tanta necessidade de novidade o tempo todo. A gente sabia desfrutar melhor os momentos simples.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Comida de Natal


De todas as comidas de Natal, a que não pode faltar para mim é a rabanada.

Quando eu me mudei para São Paulo eu ia sempre para o Rio no Natal. Mas teve um ano em que eu estava quase estourando de tão grávida (porque o meu filho nasceu no dia 15 de janeiro) e o Natal teve que ser comemorado aqui.

Minha mãe foi à padaria comprar pão de rabanada. Para sua surpresa, a atendente não sabia o que era isso. Explico: no Rio, somos muito influenciados pelo portugueses. Além da questão de termos origens da época do império, tem a chegada predominantemente de portugueses e espanhóis na década de 50. Creio que desde o império até os anos 60, os portugueses nunca deixaram de chegar, visto que eu tenho bisavó portuguesa (neste corpinho de japonesa). Voltando à vaca fria, até hoje, muita gente em São Paulo nem faz idéia do que é uma rabanada, já que a influência aqui é italiana.

Hoje, resgatei anos e anos de preparação de pratos natalinos (detalhe que eu detesto cozinhar) e amanheci cortando pão de rabanada (na espessura exata) que eu encontrei no mercadinho local de proprietários portugueses. Minha "ajudante" chegou e eu a ensinei a confeccionar as iguarias.

Às 10 horas da manhã eu estava degustando rabanadas frescas. Achei que era demais abrir uma garrafa de champanhe a essa hora, então contentei-me em acompanhá-la com um bom vinho tinto Cabernet Sauvignon (embora eu imagine que que o recomendado neste caso seria um vinho do Porto).

Será que é por isso que a minha criatividade subitamente reaflorou?

Receitinha rápida de rabanada:

Cortar o pão de rabanada "dormido" na espessura de um dedo grosso.
Colocar numa tigela leite adoçado com um pouco de açúcar.
Pegar cada fatia e mergulhar no leite sem empapar demais. Colocar a fatia molhada numa forma.
Bater ovos com um pouco de açúcar numa tigela.
Esquentar bem o óleo para fritura.
Uma a uma, passar a fatia molhada no leite no ovo dos dois lados e colocar na frigideira quente.
Depositar a rabanada num prato com papel toalha para retirar a gordura (melhor que não fique muito gordurosa).
Após fritar todas as rabanadas, misturar numa vasilha açúcar e canela até ficar numa cor entre a do açúcar e da canela.
Uma a uma, passar a rabanada morna na mistura e arrumar numa travessa.
A mistura de açúcar e canela que sobrar, deixar num recipiente com colher para que a pessoa ao comer possa aproveitar para polvilhar na rabanada.

Sugestão: comer à tarde, antes da ceia, à noite, depois da ceia e na manhã do dia 25. Não importa que com isto você esteja ingerindo umas 3000 calorias.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Susto

Menina de 5 anos:

- Mamãe, preciso de um homem!!
- O quê?

Viro-me para ela, seu olhar contempla um boneco tipo príncipe da Barbie. Estamos na loja de brinquedos.

- Ah, entendi, para namorar com a sua Barbie, né?
- Sim...

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Sonho - Decoração

Faz tempo que eu tenho uns sonhos onde estou em apartamentos imensos, com vários quartos, caminhos complicados e decoração sofisticada. Às vezes me impressiono com o tamanho do apartamento. Vou andando e a cada momento aparecem quartinhos, escadas, caminhos diferentes. Hoje eu tive um sonho deste tipo. O apartamento não era muito grande e eu não me lembro direito do percurso. Mas a decoração era bem colorida. Mais colorida do que das outras vezes. Havia paredes azuis, almofadas floridas, algumas entremeadas de fios brilhantes. Vasos com flores, coisas assim. Tudo estava claro e alegre. Nos sonhos antigos, geralmente o ambiente era sombrio.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

O corpo fala? A aparência importa?

Eu moro perto de um hospital. Hoje pela manhã eu andava pela rua para casa, vindo da academia e vi um médico com os cabelos molhados, meio bagunçados, jaleco na mão. Ele segurava o jaleco pela gola, pendurado no dedo como se fosse um cabide. O jaleco voava para um lado e para o outro e ele ficava tentando equilibrá-lo no dedo e até perdia um pouco a direção na calçada enquanto andava.

Logo atrás dele, vinha outro médico, aproximadamente 60 anos de idade, óculos. O jaleco estava já colocado, impecavelmente passado, vincado, quase que engomado. E o médico andava com um ar extremamente altivo.

Mais uns metros para trás do médico imponente vinha um outro médico mais novo. Entre 35 e 40 anos. Jaleco colocado, passado sem ser engomado, estetoscópio envolvendo o pescoço com a ponta guardada no bolso, ar feliz, andar despreocupado.

Chamou-me a atenção a forma como cada um portava o seu jaleco. E fiquei pensando em como isto devia revelar um pouco da postura deles em relação à vida e à profissão. Analisando as três atitudes de cada um com o seu jaleco, eu concluí que não gostaria de ser atendida pelo primeiro. Seria preconceito meu ou uma análise válida, fico me perguntando.

Sonho - (Re?)-construção


Estou num terreno vazio. Olho para o lado e vejo uma pilha de tijolos. Sei que tenho que construir uma casa mas... como? Vejo um homem desconhecido e ele me diz:
- Não se preocupe. Eu te ajudo.

Muda a cena e vejo um local onde houve um bombardeio. Deito-me em um monte, no meio dos escombros. Olho para a frente e vejo a Catedral da Sagrada Família de Barcelona; a fachada preservada, a parte interna eu não tenho certeza. O céu está cinzento. Penso: "que interessante a beleza estranha de Gaudí. Mesmo em meio à destruição, a catedral continua bonita, parece até que ela combina com o cenário..."

Acordo mas continuo pensando no sonho de olhos fechados.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

WALL-E

Contado pela menina de 5 anos.

- Mamãe, ele quer pegar na mãozinha dela mas ela não deixa. Depois, ele vai ficar todo quebrado. Ela vai consertar e vai querer pegar na mãozinha dele. Mas aí, ele não vai querer mais....

sábado, 13 de dezembro de 2008

Matemática para crianças

S. tem 5 anos.
N. tem 8 anos.

S: - Mamãe, os números não começam no um né, começam no zero. O zero é o primeiro número.
N: - Não, técnicamente os números não têm início pois antes do zero vêm todos os negativos que iniciam no infinito...

"Socorro".

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Seria mais fácil?

Uma sonata em geral é composta de três partes, eventualmente quatro, chamadas de movimentos.

O primeiro movimento é mais ou menos rápido, transmite segurança, algo do tipo "ei, a vida é bela, estou começando, vai tudo bem". O segundo movimento despenca para a melancolia, no tempo "andante", o que estava bem passa a triste e choroso. Em geral, este é o meu movimento preferido na sonata. Por último, no terceiro e quarto movimentos, vem a alegria. Se for Mozart por exemplo, sentiremos um ritmo dançante, daqueles parecendo os minuetos dançados nos filmes de época. Se for Beethoven, aí a história muda um pouco de figura, tem que ser uma coisa mais marcante, triunfal, para fazer aquele fechamento da peça com chave de ouro.

Eu toquei a minha primeira sonata acho que com uns 9 anos de idade. Se não me engano, era Scarlatti. Não que eu fosse prodígio, era o normal da programação rígida do conservatório. Aos 14, 15 anos já tocava peças complexas. O meu preferido sempre foi Beethoven.

Antes de qualquer audição ou prova na sede do Conservatório (pois eu estudava numa filial), era comum, fora as aulas regulares, fazermos ensaios especiais, onde todas as professoras se reuniam em forma de banca e ouviam as peças, cada uma dando a sua avaliação e apontando os trechos a serem melhorados. Música clássica dá muito trabalho. Tem que treinar muito, prestar muita atenção e o erro nunca é aceitável.

Certa vez, eu estava tocando o segundo movimento de uma sonata de Mozart (seria K 280?) e como era um ensaio geral, empenhei-me ao máximo. Na verdade, eu me senti naquele momento só, esqueci da banca, do zum-zum-zum na recepção do conservatório, dos ônibus que freiavam no ponto próximo. Era eu, o piano, duas mãos executando três vozes, linhas melódicas que passeavam da mão direita para a esquerda. Creio que foi a minha melhor execução daquele movimento. E quando me virei para trás, minha professora, saudosa D. Dariléa Hill tinha lágrimas nos olhos.

Desde cedo era assim, desde pequenininha a professora falava: staccatto, agora com sentimento, pianíssimo, forte. E fui aprendendo a dar sentimento para pequenas bolinhas pretas no papel.

Fico pensando se é isso que me faz olhar para as coisas não como elas são mas carregadas de algum sentimento. Não que isso seja sempre bom. Pergunto-me se eu nunca tivesse aprendido a tocar uma sonata com sentimento, se seria mais fácil.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Vida vegetal










Eu não sei se é só mulher. Mas a gente fica conversando e tentando achar motivo para as coisas. Fica numas elocubrações sem fim. Estava eu no meio de uma dessas conversas com uma amiga, aí disse para ela:

- Sei lá, não acho mais nada. Vou virar planta: que não pensa, só curte o vento, a água, os sais minerais... e fica ali vivendo, consciente só da sua existência...
- Nossa, profundo isso.
- Mas vou ser uma planta bonita, uma orquídea.

Pronto! Com isso, passou o momento reflexão e começou a palhaçada. A minha amiga que é muito espirituosa já começou:

- X. seria urtiga, Y. um cacto, aquela outra um chuchu, porque dá em qualquer lugar. Ih! Olha o que você fez. Agora não paro de imaginar as pessoas como plantas! Tem a goiabeira, que enverga mas não quebra, eu seria um coqueiro para morar na praia...
- Tem a hera que não sai do muro né?
- Ai, não consigo parar, tá vendo? Sua culpa! Tem o moita né? Tá sempre quieto e se escondendo de alguma coisa.
- Putz, e ainda iam cag. nele né?
- Exatamente! Sabe a fulana? Coroa de cristo! De aparência delicada, complicada de "pegar", cheia de espinhos... A avenca: demora para se acostumar num lugar, de aparência frágil, mas difícil de lidar...
- E a violeta? Que fica no cantinho, não pode pegar sol e nem água demais... delicadinha...
- Tem o que está para pé de limão né? Atarracadinho e azedo.... E o abacateiro?
- Abacateiro?
- Ué, aquele olhar sério, postura severa. Ao mesmo tempo transmite credibilidade e resistência. Ai, você também não tem sensibilidade.
- Poxa, nunca tinha pensado dessa forma sobre um abacateiro.
- Para quem queria ser planta você é bem superficial, hein?
- Porque não penso mais! Já comecei a virar planta....

Para terminar eu pergunto: o que você seria no mundo vegetal? Isso dá até assunto para meme hein?! Aliás, tô achando isso aqui tudo meio nerd. Acho que o meu amigo afinal tem razão...

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Martha Stewart

Provando o meu ponto do post anterior... Fazia tempo que eu não visitava este blog... ele desperta a minha Martha Stewart interior.... (leia-se Martha Stewart "diva" dos Arts & Crafts e não a sonegadora de impostos....)

http://kellymccaleb.typepad.com/

Agora vou rasgar uma seda aqui... pouco me importando com a revolta que as minhas declarações podem causar... americano é f... os caras fazem tudo bem feito. Veja este blog por exemplo, as fotos que a mulher tira... os trabalhos manuais.... os caras podem ser neuróticos por "excelência" mas no fim a gente tem que admitir que funciona porque as coisas realmente ficam boas. Quer ver outra coisa totalmente fútil? Cheerleader, patinação no gelo. Já viu como aqueles caras treinam e as acrobacias que eles fazem? Olha, eu tiro o chapéu...

Provei que eu não sou nerd? Tá bom... sou só de vez em quando...

Rótulos

Eu tenho um amigo que insiste em me chamar de nerd. E eu tento explicar para ele que nerd não pega sol, não se acaba na academia sonhando com músculos definidos, não usa batom Dior e nem tem sonho de consumo de comprar bolsa Gucci.

Mas ele tem uns argumentos do tipo, você é nerd porque:

1. Lê Clarice Lispector
2. Vê filme cult
3. Usa óculos de armação grossa
4. Tem Ipod (?????????)
5. Toca piano
6. Escuta rock alternativo
7. Escreve blog (essa foi ótima)
8. Gosta de videogame

Para tudo isso eu tenho contra-argumentos. A conclusão que eu chego é que não adianta querer rotular. Eu costumo dizer que sou uma pessoa eclética. Transito em todas as "tribos". E já conheci nerds bombados e pessoas com cara de intelectuais e que gostavam de pagode, por exemplo. Acho até enfadonho essa coisa de rejeitar o outro porque não preenche todos os quesitos esperados para um modelo pré-estabelecido. Tipo: "eu escrevo um blog então só posso me vestir como clubber" ou "eu gosto de cinema cult e só assisto no Espaço Unibanco, mesmo que esteja passando no Cidade Jardim, cheio de gente bonita". Onde fica a graça da diversidade?

Só que o tal amigo, não admite ser geek. Ele não tem ipod mas vive baixando umas músicas da internet, conhece todos os softwares utilizados para esse fim, sabe dizer em detalhes as vantagens e desvantagens de uma TV de LCD para a outra, tem Bluray, HDTV, joga videogame e por aí vai. E também ouve rock alternativo, diga-se de passagem.

Pronto, me vinguei. Rotulei.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Desdém


Estava um dia desses conversando com um amigo e em determinado ponto da conversa ele me disse com um certo desdém:

"Ah, você vê filme vietnamita mas não vê filme brasileiro né?"

E eu apressei-me em explicar que vejo filme brasileiro sim. Filme para mim tem é que ser bom, independente da nacionalidade. O do Giannechini com a Paola não-sei-o-que, eu não vou ver nem que me paguem, pode ser preconceito meu mas vi o trailer e já não gostei. Só se alguém me sinalizar uma impressão diferente...


Agora, já que notei um certo tom você-é-metida-a-cult na observação do meu amigo, vou ter que contar o seguinte: eu sou sócia de uma grande locadora que parece que anda com uns problemas legais e por conta disso não consigo alugar filmes, não sei por quanto tempo. Eu passava sempre por uma locadora pequena perto de casa e não dava muito crédito. Entrei lá e fiz a inscrição. Qual não foi a minha surpresa quando constatei que:

1. Tem uma seção todinha dividida por DIRETOR... olha que chique.... aí eu já descobri um filme do Jim Jarmusch que eu não tinha visto e aluguei (mas ainda não vi).

2. Tem uma outra seção de cinema ASIÁTICO e EUROPEU dividida por países....

Gostei!

Avaliação

Tem sempre aqueles momentos na vida em que a gente dá uma pausa na correria, olha para trás e constata, como Otto Lara Resende:

"Ultimamente, passaram-se muitos anos".

Esta citação eu li no "Cartas Perto do Coração", creio que na primeira vez foi Fernando Sabino que escreveu para Clarice Lispector e mais tarde, em outra carta, ela escreveu para ele, concordando que para ela a frase também cabia.

Não sei o que se passava na cabeça deles na ocasião. Mas me atingiu em cheio.

Personagens

Depois que a gente começa a escrever, percebemos como isso é bom. Não é à toa que certos autores criam pseudônimos, assumem uma determinada identidade e criam estórias totalmente diferentes da sua vida pessoal. Ou o contrário, a "pessoa" escritor escreve sobre qualquer outra coisa e o "personagem" escritor extravaza os problemas, os dilemas, os sonhos, tudo aquilo que necessita de voz no momento.

É uma terapia.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Desafio

"Viver em sociedade é um desafio porque às vezes ficamos presos a determinadas normas que nos obrigam a seguir regras limitadoras do nosso ser ou do nosso não-ser... Quero dizer com isso que nós temos, no mínimo, duas personalidades: a objetiva, que todos ao nosso redor conhecem; e a subjetiva... Em alguns momentos, esta se mostra tão misteriosa que se perguntarmos - Quem somos? Não saberemos dizer ao certo!!!Agora de uma coisa eu tenho certeza: sempre devemos ser autênticos, as pessoas precisam nos aceitar pelo que somos e não pelo que parecemos ser... Aqui reside o eterno conflito da aparência x essência. E você... O que pensa disso?"

Clarice Lispector - Perto do Coração Selvagem

Ainda sobre sonhos

Estou chegando à conclusão de que essa relação que a gente tem com os sonhos é coisa de família. Porque tem gente que fala que não lembra dos sonhos, ou que sonha em preto e branco. Eu sempre lembrei muito dos meus sonhos. E pelas postagens anteriores, já ficou evidente que são coloridos.

Hoje quando acordei, minha filha estava dormindo comigo. Eu nem vi a hora em que ela foi para a minha cama. Levantei-me da cama e ela, ainda de olhos fechados me disse (já com aquele volume de voz na altura e velocidade aceleradíssima para falar que lhe são peculiares):

- Mamãe, sonhei que o N. estava colocando a boca no bolo. Era um bolo branquinho com uns morangos. Devia ser um bolo muito gostoso, né mamãe? (Isto, esticando o lábio inferior para a frente, como quem tocava o bolo).

Eu concordei que devia ser gostoso.

No outro dia estava conversando com um amigo sobre os sonhos. E ele me dizia que acha isso tudo de interpretação uma bobagem. Na verdade, creio que ele quis dizer interpretação como se fosse uma coisa meio mística ou premonitória. Eu disse para ele que o que me fascina nos sonhos é o fato de que a nossa mente produz uma estória completamente nova enquanto estamos dormindo, como se ela tivesse vontade própria. Os estudiosos tentam ligar estas imagens aos fatos do nosso cotidiano que nos marcaram ou àquelas questões que andam soltas no nosso inconsciente. Se essas teorias são corretas, ou não, nada muda o fato de que eles se auto-produzem enquanto dormimos.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Dia e Noite

Menina de 5 anos deitada no escuro:

- Mamãããããe!!!
- Que foi?
- Você sabe que eu tenho medo de ficar sozinha no escuro.

Deitando-me ao lado dela:

- Mas porque você tem medo?
- Eu não sei, fico imaginando que vão acontecer umas coisas.
- Como o que? As coisas que existem de dia no claro, são as mesmas que as de noite, só estão no escuro.
- Vampiro.
- Vampiro não existe.
- Morcego. De dia ele fica lá, penduradinho dormindo. De noite ele fica voando.

"Good point".

- Ah, mas ele fica voando lá fora, não vai entrar aqui dentro.
- Mas pode entrar.

Sonho - Pães

Hoje eu tive um sonho comprido... não lembro de todos os detalhes. Sei que havia pessoas conhecidas mas já esqueci quem eram. No final do sonho aconteceu o seguinte: ventava muito fora de casa... uma ventania fora do normal, de tirar tudo do lugar, coisa que acontece muito no Rio mas que não é tão comum aqui em São Paulo. Por algum motivo entrei no meu quarto e me aproximei da minha cama. Apesar do vento, fazia muito sol. A cortina estava fechada mas o tom do quarto era dourado, como se o sol estivesse refletindo lá dentro. Olhei para o meu travesseiro branco e ele estava coberto de comida de passarinho. Eu pensei: "está ventando muito e o vento levantou todo o alpiste que havia nas tigelas das gaiolas". Cheguei mais perto ainda do travesseiro e avistei uns objetos parecendo de madeira clara, peguei um deles e pareciam pinhas, porém de madeira clara. De repente a pinha se transformou em algo um pouco maior e mais redondo e foi então que me dei conta de que era pão. Virei o pão e ele tinha uns 3 sulcos. Era pão de sal. Tudo era meio bege-dourado. Alpiste, paredes e pães.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Revelações sobre o banheiro feminino

Certa vez retornei irritada do banheiro da empresa, nem me lembro porque, mas sei que contei a um amigo o que eu tinha encontrado por lá. Ele me perguntou espantado: "quer dizer que mulher também faz porcaria no banheiro?" E eu: "ô, se faz"...

Fora as coisas mais óbvias do tipo: papel higiênico no chão e tampa de vaso molhada (causado pelo xixi em pé), tem também as experiências mais "hard" como coisas que deveriam ter ido para dentro do vaso mas que espantosamente foram para fora. Tem também aqueles episódios de dar pena, onde o problema não foi gerado pela pessoa em si mas pela falta de pressão da válvula. Enfim... O que posso dizer é que essas porcarias geralmente são notadas pela próxima pessoa que entra e quem fez normalmente não está mais no local.

Normalmente em banheiro de empresa tem aquelas pias compridas com mais de uma torneira. Depois do almoço é aquele congestionamento: mulheres escovando os dentes, passando fio dental, se maquiando. Eu geralmente evito esses horários de "rush", me dá uma certa claustrofobia, fora a chance maior de presenciar certos odores não desejados.

Mas o que me irrita de verdade é quando o fato acontece quando a gente está ali no banheiro, ao lado da pessoa. A criatura lava as mãos e com toda a educação adquirida na beira do rio, lavando roupas, ela sacode as mãos com um vigor que fica evidente que as suas mãos precisam ficar secas, mas todo o resto (e nisso inclua-se espelhos, pias e pessoas) podem ficar molhados. E a ironia da coisa é que a despeito do meu comentário preconceituoso, na maior parte das vezes a pessoa está longe de ter alguma vez passado alguma situação de privação. O que demonstra que falta de educação pode acontecer em qualquer lugar. Inclusive em berço de ouro.

Orgulho Tricolor

Fiquei muito dividida no jogo de ontem ("São Paulo x Fluminense"). Dividida porque eu praticamente não acompanho o futebol e se o faço é pelo meu filho que torce com bastante dedicação pelo São Paulo. Na maior parte das vezes, acabo assistindo aos jogos do
Tricolor Paulista e torcendo para ele. Conheço os jogadores quase todos e do Fluminense nenhum.

Como explicar esse sentimento? Quando criança, escolhi o time pela camisa. Pelas cores. Eu admirava (e admiro até hoje) as cores do Fluminense. E existe algo de orgulho carioca que permanece lá no fundo, querendo se manifestar, ao ver o meu time jogando contra um time paulista. Mesmo achando hoje em dia, experiência de carioca que vive há anos em São Paulo, que bairrismo é uma tremenda bobagem.

Vou lançar assim, sem compromisso, mesmo sabendo que posso provocar um pouquinho os meus amigos paulistas tricolores, uma coisa que li certa vez, que dizia Nelson Rodrigues: "Tricolor verdadeiro só o Fluminense. O resto são apenas times de três cores".