Em "Água Viva", Clarice Lispector escreve como quem compõe uma música ou quem pinta um quadro abstrato. Livre do compromisso de contar uma estória, da estrutura 'introdução-desenvolvimento-conclusão", ela vai pincelando as idéias. É muito louco e muito sedutor. E difícil de ler.
Fiquei pensando sobre esta forma de escrita "fluida" e no quanto de irracionalidade existe dentro de nossa racionalidade. Sim, porque, é o que dizem, o homem é racional. Racional porque consegue tomar dados e chegar a conclusões lógicas. Sendo assim, como entender o pensamento que tem vida própria? Não é verdade que frequentemente somos tomados por pensamentos que entram e vão "soltos", sem controle? Às vezes passam-se anos e num estalo, lá está aquele pensamento novamente.
Passamos um dia inteiro concentrados, sem devaneios, "focados" nas atividades diárias. Dormimos e lá está o pensamento de novo, em forma de sonho. O que é um sonho? Sonhamos com o presente e com fatos e pessoas muito antigos, praticamente esquecidos. É o pensamento que vive livre enquanto dormimos. Acordo de noite e os ecos do pensamento e de músicas me invadem.
Pensamos o tempo inteiro. Resolvemos equações matemáticas ao mesmo tempo em que escutamos sons e sensações. Achamos que pensamos linearmente, mas contrariando qualquer teoria de física, os pensamentos estão lá, todos ao mesmo tempo, ocupando o mesmo espaço no mesmo lugar.
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