terça-feira, 4 de novembro de 2008

Racionalidade

Em "Água Viva", Clarice Lispector escreve como quem compõe uma música ou quem pinta um quadro abstrato. Livre do compromisso de contar uma estória, da estrutura 'introdução-desenvolvimento-conclusão", ela vai pincelando as idéias. É muito louco e muito sedutor. E difícil de ler.

Fiquei pensando sobre esta forma de escrita "fluida" e no quanto de irracionalidade existe dentro de nossa racionalidade. Sim, porque, é o que dizem, o homem é racional. Racional porque consegue tomar dados e chegar a conclusões lógicas. Sendo assim, como entender o pensamento que tem vida própria? Não é verdade que frequentemente somos tomados por pensamentos que entram e vão "soltos", sem controle? Às vezes passam-se anos e num estalo, lá está aquele pensamento novamente.

Passamos um dia inteiro concentrados, sem devaneios, "focados" nas atividades diárias. Dormimos e lá está o pensamento de novo, em forma de sonho. O que é um sonho? Sonhamos com o presente e com fatos e pessoas muito antigos, praticamente esquecidos. É o pensamento que vive livre enquanto dormimos. Acordo de noite e os ecos do pensamento e de músicas me invadem.

Pensamos o tempo inteiro. Resolvemos equações matemáticas ao mesmo tempo em que escutamos sons e sensações. Achamos que pensamos linearmente, mas contrariando qualquer teoria de física, os pensamentos estão lá, todos ao mesmo tempo, ocupando o mesmo espaço no mesmo lugar.

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