Acho que começou quando eu tinha uns 8 anos e a professora da 3a.série mandou comprar um livro: "A mulher que matou os peixes". Minha mãe procurou em algumas livrarias e o livro simplesmente não existia para ser comprado. O problema foi comunicado por várias mães e então o colégio resolveu substituir o livro.
O registro que ficou na minha memória foi de que Clarice Lispector era algo meio obscuro, meio subversivo, porque, imagina, o livro foi recolhido. E parece que foi por causa da tal da ditadura.
Eu não me dava conta, mas de criança, vivi vários mandatos. Médici, Ernesto Geisel, Figueiredo. Eu morava no Méier e me lembro das eleições, de apenas 2 partidos: Arena e MDB. Todo o horror daquela época ficava distante do meu mundo de criança. E o que ficou na memória foi apenas a "Moreninha", "Escrava Isaura", "Estúpido Cupido", os "Flintstones", "Batman", "Speed Racer". Sobre a ditadura mesmo, só fui aprender anos mais tarde, durante o então 2o.grau.
Deve ser por isso, que adiei. Durante a adolescência, tudo o que soava pelo menos remotamente intelectual, me interessava. Li vários clássicos brasileiros e ingleses (sou fã das irmãs Brönte e Jane Austen), li "1984" em 1984 e já emendei na "Revolução dos Bichos". Os jovens de hoje nem sonham com o real significado do "Big Brother". Era natural ler também "Admirável mundo novo". Roland Barthes, Milan Kundera, Marina Colasanti, Roberto Freire, Herman Hesse, um mundo de sonhos, sentimentos e ideais. Mas Clarice Lispector não.... Clarice Lispector é avançado demais, visceral demais, cansativo demais... Não vou conseguir, pensava eu.
Eis que só agora, após ler algumas postagens de outros blogs, decidi resolver esse bloqueio. Me lancei nesse novo projeto. Clarice Lispector, aqui vou eu: "Água viva". Quem sabe depois eu não me animo com Proust?
Agradeço aos bloggers de "Cafeína" e " Festa Móvel" pois indiretamente me incentivaram através de seus posts.
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