terça-feira, 12 de maio de 2009

A arte de ser feliz

O perigo da cultura de massa é receber as mensagens de uma forma simplificada demais. Hoje em dia a gente ouve o tempo todo por aí: "cease the day", é preciso retirar a alegria das coisas simples, aproveitar os momentos, buscar a felicidade e tudo mais.

O grande problema de se perseguir essa mensagem tal qual ela é dita na televisão, no rádio, na revista, nas propagandas é que acabamos atingindo a satisfação imediata e não o bem-estar duradouro. Tudo hoje em dia precisa ser rápido e simples, precisamos cumprir métricas até na vida pessoal. Acaba que a felicidade se resume a momentos de prazer corriqueiro, bebida em excesso, consumo em excesso, sexo em excesso, balada em excesso. Acabado o prazer, volta-se para casa com a sensação de vazio. A felicidade tão almejada acaba se transformando em vício.

A gente ouve o seguinte: que para aprender a ser feliz, é necessário pensar mais em si próprio, aprender a dizer não e a se permitir mais. O problema é quando a pessoa é infeliz por não se amar de verdade, não visualizar suas qualidades, seus talentos. Porque às vezes ela até tem o foco nela mesma, pensa nos seus objetivos como indivíduo, luta pelos mesmos. Só que não atinge o máximo do que é capaz por se enxergar menos do que realmente é.

Quando o impedimento para a felicidade é a baixa auto-estima e se junta a mensagem truncada que eu mencionei anteriormente, está feito o desastre. Porque neste caso, o que se consegue não é o crescimento de verdade. Muitas vezes, a busca acaba privilegiando o egoísmo que acaba nem sendo notado, já que existe a desculpa para se comportar dessa forma, a desculpa de ser feliz. Então, não importa que se minta, que se exija o máximo do outro, sentimentos verdadeiros, sem oferecer a verdade em troca. Porque o que importa é ser feliz.

Reconheço que não é fácil equilibrar a balança. Saber o quanto que se deve de um lado "se permitir" e do outro ceder. Por outro lado, quem sempre vê o lado do outro, quem sempre se coloca no lugar e tenta ser compreensivo, acaba voltando à estaca zero, deixando de viver experiências enriquecedoras por colocar o outro sempre como prioridade.

Creio que neste caso, um bom medidor é sempre a permanência da alegria. Posso dizer com muita convicção que ninguém consegue viver sozinho. O quanto mais afastamos pessoas com nossos atos, menos estamos sendo eficientes na compreensão do que é buscar a felicidade. No fundo o que todos queremos é ser amados. Alguns precisam do amor dos pais, outros do amor de alguém especial, do amor dos filhos, das pessoas em geral. Estamos sempre buscando o amor de alguém; o amor que parece óbvio nem sempre é tão óbvio assim, ele pode existir sem ser sentido, tornando-se assim praticamente inexistente. Ou pode não existir de verdade, numa relação onde todos crêem que ele seria natural.

Na busca do amor, seja qual forma ele tiver, sempre corremos o risco de não sermos correspondidos. Há amores na vida que nunca retornam da forma como a gente espera. Não estou falando só sobre amor entre homem e mulher. Estou falando até de relações familiares. Não adianta lutar contra, em alguns casos é preciso apenas aceitar, seja porque a relação é difícil de resolver ou porque sem querer acabamos almejando algo impossível. O amor correspondido precisa sempre do consentimento da outra parte, consentimento que não conseguimos controlar, que não cabe a nós decidir e nem provar.

É nessa hora que entra a auto-estima. Porque se aprendemos a nos amar de verdade, essa sensação por si só já alimenta a nossa "carência". Atraímos para perto de nós outras pessoas que podem não ocupar exatamente o lugar daquilo que nos falta mas que podem nos ajudar a preencher a lacuna. Estou falando de pessoas de verdade, a quem ajudamos sem esperar nada em troca. E que por fim acabam nos presenteando pelo reconhecimento do sentimento de confiança e colaboração.

Quem sabe até se num determinado momento, quando nos saciamos com outros tipos de amor, aquele que parecia primordial pode até perder a importância, pois certas coisas são assim. Com a experiência aprendemos a valorizar coisas diferentes e aquilo que parecia insubstituível no passado, um belo dia acaba se tornando menos relevante.

3 comentários:

Beth Blue disse...

Ser feliz é tão simples e ao mesmo tempo tão complicado, né? Cada dia acredito mais que a felicidade está nas pequenas coisas do cotidiano. Não necessariamente no excesso de diversão, sexo, álcool etc.

Pelo menos para mim, a felicidade está nos pequenos detalhes que muitas vezes passam despercebidos na correria do dia-a-dia...nas amizades, nos sorrisos, na conversa amiga, num abraço quando se menos espera, um café gostoso, um bom filme ou livro que faz a gente rir e depois chorar. A alegria de se descobrir criativo e o orgulho ao ver os resultados (scrapbooking!). A alegria de ser quem você é.

A vida é um milagre e devemos tentar viver cada dia como se fosse o último...CARPE DIEM.

Lilly disse...

Pois é, Beth concordo com você. Sabe, creio que existe uma diferença cultural também. Tenho a impressão de que o europeu sabe cultivar melhor esses valores. Nós aqui recebemos muitos valores americanos, de consumo exagerado.

Beijos!

Lilly disse...

Beth, esse comentário me chegou por e-mail e achei legal registrar. Tem a ver com o seu comentário:

"o carpe diem, só é válido se vc souber escolher bem e valorizar o momento ou a coisa que você quer guardar na memória, e que te faz feliz. Porque se esses momentos forem bem escolhidos, se vc tiver valores sólidos, você pode transformar esses momentos em coisas duradouras sim. Mesmo que tenham data de validade."