segunda-feira, 18 de maio de 2009

Pelo direito de ser infeliz

Hoje eu acordei com o espírito do contra. Sim, fiquei com vontade de escrever tudo ao contrário. Eu me dei conta de que há algo cruel na teoria do "Carpe diem", de buscar a felicidade, da auto-ajuda.

Descobri que é proibido ser infeliz. Sim, tudo o que se prega hoje em dia é que sejamos felizes. É necessário ser sempre eficiente e feliz.

Fiquei pensando no seguinte: ficar infeliz muitas vezes é necessário. Não estou defendendo a depressão. Que fiquemos anos a fio afastados do mundo sofrendo. É bem verdade que eu já vi gente que deixou de viver achando normal e concordo que não é bom.

Depressão é muito diferente de ficar triste, de ficar infeliz, mesmo que a infelicidade dure alguns meses ou alguns anos.

A gente passa por provações na vida: desilusões, perda de entes queridos, fatalidades que nos tiram alguma capacidade, doenças. Tudo o que se ouve hoje em dia é que não podemos nos
deixar abater.

Concordo que não se pode deixar abater para sempre. Entretanto, estamos esquecendo de que
em determinadas situações, é permitido sofrer. E nem sempre por um período curto de tempo.
Pode ser que necessitemos de um tempo maior para nos recuperar.

Vou abrir demais o meu coração agora. Ano passado eu enfrentei duas "paradas" muito duras: descobri que meu pai tinha uma doença terminal (e ele acabou falecendo no início do ano)
e terminei o meu casamento.

Eu não deixei de trabalhar, não deixei de cuidar dos meus filhos, não deixei de pagar minhas
contas, não deixei de sonhar. O tempo todo, em meio ao sofrimento, eu procurei manter pensamento positivo e fazer tudo o que estivesse ao meu alcance para ficar bem.

Descobri entretanto que não importa o que se faça, principalmente quando somos eficientes demais, que seja suficiente. As pessoas sempre esperam mais. Você não pode deixar de nutrir os sentimentos dos seus filhos, mesmo que esteja com o coração esfacelado. Você não pode render menos no trabalho, não é permitido errar, mesmo que as pessoas te conheçam há anos e já tenham presenciado mostras das sua competência. Você não pode beber um pouco demais, você não pode perder os objetivos, mesmo que os tenha tido por uma vida inteira e nunca tenha perdido o foco neles, você não pode se sentir perdido.Você não pode tirar um day-off; qualquer uma dessas ações, mesmo que você tenha sido aluno exemplar, tenha passado no vestibular para faculdade de "ponta", fale 3 línguas, seja bom profissional, uma pessoa honesta, tenha conquistado crescimento pessoal e material: no momento em que você se entregue a qualquer uma dessas atitudes, passa a ser fraco, um perdedor, como os americanos gostam de dizer. O mundo está pronto a olhar, julgar e condenar. Nós mesmos estamos prontos a ditar a
nossa própria sentença.

Pretendo desconstruir uma série de mensagens, uma série de conceitos. Sim, porque estou muito subversiva hoje. Estou contrariando até a modernidade.

7 comentários:

Cacau! disse...

Lilly, querida, você pode tudo. E o luto é sim permitido e necessário, você tem razão! Negá-lo é negar-se a oportunidade de concluir a perda e se recuperar totalmente, ou o tanto que seja possível recuperar-se. Viva seu luto, sua dor, sua o que for. Você tem seu tempo. E ninguém tem nada com isso.

Lilly disse...

O poder é relativo, pq a gente quer se permitir mas rola pressão. A minha revolta é quanto a isso. Ninguém tenta entender o lado do outro. Estamos todos muito egoístas, cada um visando seus objetivos e olhando para o próprio umbigo... às vezes eu mesma me pego fazendo isso sem querer...

Cacau! disse...

Não sei o que dizer. Não há ninguém perto de você que se permita ouvir, entender e não julgar? Que possa expressar uma preocupação sem pressão? Muitas vezes a gente só quer um colo, não é? Alguém que faça um cafuné e diga: vai passar... E vai. Você merece novas oportunidades, é uma pessoa do bem. Apesar da maldadezinha com o J.
Só um conselho, mesmo que não tenha sido solicitado: viva sua vida sem grandes alardes sobre o que você faz ou deixa de fazer. Compartilhe com poucas pessoas e escolhidas a dedo. E vamu que vamu.

Lilly disse...

É Cacau, concordo com tudo o que você disse. Entretanto, para um leonino, viver sem alarde é algo praticamente impossível. Vai contra a nossa natureza e você bem sabe disso :) ;)

Cacau! disse...

Minha filha sofre em dolby stereo surround sound ultra mega blaster. Espero que ela não sofra tanto no futuro...

Anônimo disse...

escrevi 2 posts parecidos com esse seu no ano passado... um falava sobre viver o luto.. outro sobre o direito de chorar por qqer razão... concordo com seu tezto e assino embaixo, nesse ponto pensamos bem parecido. beijos:)

Lilly disse...

Puxa, que legal. Gostei de reler e faz praticamente um ano... Interessante os sentimentos que são comuns a pessoas que nem se conhecem. Já escrevi sobre isso também mas já nem me lembro mais em qual post.
Beijos!