quarta-feira, 20 de maio de 2009

A defesa do cara difícil

Como honestidade é difícil e houve muita sinceridade num leitor que se considerou difícil, eu resolvi aceitar o desafio e elaborar uma defesa ao cara difícil, do post da Martha Medeiros.

Veja bem, caro leitor (agora roubando a frase dela), que a crônica da Martha não foi um apelo contra os caras difíceis. Ela foi um alerta. Tanto foi que o conselho final foi que a suposta vítima procure um analista para agüentar a montanha-russa emocional que tal relação irá impor.

No outro dia estava comentando com uma amiga aspectos sobre a genialidade. Já reparou como raramente a pessoa considerada gênio tem uma personalidade estável? Van Gogh? Billie Holiday? Beethoven e tantos outros? Sabe porque isso acontece? No meu ponto de vista são dois fatores: insegurança e inconformidade.

O cara difícil é um cara inseguro. Em geral ele consegue atingir picos de genialidade. Ele consegue resultados acima da média em determinados campos. Nesses momentos ele fica bem e beneficia todos que estão a sua volta com a felicidade que os resultados alcançados lhe proporcionaram. O cara difícil é sonhador, apaixonado e exigente. Quem convive com o cara difícil nestes momentos, pode experimentar sensações jamais vivenciadas porque sonho e felicidade geram experiências inéditas mesmo.

Só que felicidade não dura para sempre. O cara difícil, por ser inseguro, às vezes não consegue acreditar no seu valor. Qualquer comentário pode ser interpretado como crítica. Ele necessita de reafirmação das suas qualidades. Além disso, por ser exigente e inconformado, ao atingir um determinado patamar ele passa a olhar para a frente, a programar o que vem em seguida. O mesmo cara que foi capaz de atingir o céu se força ao inferno, ao isolamento, porque duvida de sua capacidade ou porque esquece das vitórias no momento em que fixa o seu novo objetivo.

O cara difícil usa a comparação com os outros como medidor. Só que nem sempre ele usa as referências corretas ou avalia corretamente os resultados. Com isso, ele pode se magoar, deixar se levar pela irracionalidade, nivelar-se temporariamente por baixo. Ele pode cometer violências consigo próprio que acabam magoando os que estão a sua volta.

Você me pediu, leitor, para exaltar as qualidades, as paixões. É verdade. Não foi à toa que a Martha se deu ao trabalho de escrever sobre o cara difícil. Estar ao lado de um cara difícil e quase sempre uma dádiva. Porque ele sempre contribui com coisas novas e interessantes. O complicado é depender emocionalmente do cara difícil porque tamanha é a oscilação, que a tendência é que quem depende emocionalmente acabe oscilando junto. Nem todo mundo está preparado ou precisa, dependendo das conquistas emocionais que tenha atingido, se submeter a essa inconstância.

Sabe o que eu desconfio, leitor? Eu desconfio que quando a Martha escreveu essa crônica, ela estivesse sentindo muita pena. Não dela e nem do cara difícil. Pena de ter terminado. Acho que ela deve ter conhecido um cara difícil com quem ela tenha vivido momentos inesquecíveis. Que ela em determinadas horas tenha se deixado levar pela ilusão de que realmente ela fosse a escolhida. Que ela tenha enxergado no cara difícil tudo isso que eu descrevi: que ele é um ser que sofre, que não age com o intuito de fazer os outros sofrerem, que ele gostaria de ser mais mediano mas que é uma pessoa que espera sempre mais da vida. Acho que ela deve ter se magoado com acusações injustas, que tenha sofrido por não conseguir fazê-lo enxergar que ela também partilhava de muitos valores e idéias. Que ela era uma pessoa confiável. Talvez ela tenha percebido que ela mesma tenha sido algum dia difícil e que tenha se encontrado, talvez ela tenha lamentado a incapacidade, naquele momento, do cara difícil se encontrar. Talvez ela tenha escrito tudo aquilo, com um desejo secreto de que o cara difícil pudesse ler, enxergar a sua tortura auto-imposta e desnecessária. E que se vendo de fora, pudesse crescer.

Eu como incurável romântica, gostei dessa minha interpretação. E vou ficar aqui torcendo para que a Martha reencontre o seu cara difícil no momento do florescimento. Ou que se não for possível encontrar o mesmo cara difícil, puxa que pena! Que seja então um diferente, mas que valha a pena.

6 comentários:

Pat Ferret disse...

Vou te confessar uma coisa: eu queria ser uma mosquinha na parede da casa da Martha Medeiros, pra saber se ela aplica o que escreve na própria vida... ;-)

Lilly disse...

Meu palpite é que ela tenta sim... mas talvez não consiga se manter sempre firme... lembra o que eu disse? Talvez ela também seja um pouco difícil...

Beth Blue disse...

Estar ao lado de um cara difícil e quase sempre uma dádiva. Porque ele sempre contribui com coisas novas e interessantes. O complicado é depender emocionalmente do cara difícil porque tamanha é a oscilação, que a tendência é que quem depende emocionalmente acabe oscilando junto. Nem todo mundo está preparado ou precisa, dependendo das conquistas emocionais que tenha atingido, se submeter a essa inconstância.

Engraçado, aqui a figura difícil sou eu...coitado do namorado pra aguentar tanta inconstância (sempre uma nova crise)! Pelo menos ele não pode dizer que nosso relacionamento é monótono ;-)

André Lima disse...

Quando foi que tu aprendeu a tirar raio x de cabeça, hein, guria?!

Estou com os olhos rasos d'água. Quer começar a receber a grana da minha analista?

Olha Lilly, já disse que te acho mestre em percepção, observação e espreita. O que pra ti deve funcionar de modo terapêutico - pois uma boa compreensão facilita a assimilação das coisas que nos ocorrem - para quem convive contigo (mesmo virtualmente) é algo para além de bonito. Deve ser o que em ti aproxima os teus amigos.

Descreveste o que é paixão com agudez cirúrgica.

Momento crítica literária de beira de faixa: Ao contrário de ti, não sou fã dos textos da Martha, no entanto acho que os argumentos dela, em geral são muito bons. Os teus também são, só que tua análise é mais focada e menos generalista, acrescentando-se um pouco mais de afetividade e poesia, o que a mim atrai mais.

Meu abraço "difícil"!

Lilly disse...

Olha André,
agora quem ficou com os olhos rasos de água fui eu...

Você pediu paixão e eu lhe dei paixão! rs Não sabia que ia ser tanto assim.

Tudo o que é escrito com sentimento sai sempre melhor. E já que o momento é confessional, a Martha já me arrancou umas boas lágrimas também...

Estava ansiosa pela sua resposta.
Beijão!

P.S. Eu sou uma menina "difícil" também...

3 x Trinta - Solteira, Casada, Divorciada disse...

Oi Lilly,

Boa tarde!!!!

Beijão,

Bela