Recebi um torpedo no outro dia de uma amiga querida, estrangeira. Avisou-me que havia retornado ao Brasil e que gostaria de me ver. Alguns torpedos depois, ficou acertado que eu a buscaria em casa para um chopp. Sim, alguns torpedos depois. É a comunicação moderna.
Olhei o mapa no google maps e muito confiante no meu senso de direção peguei meu carro, alguns nomes de ruas memorizados e segui para o apartamento dela. Troquei o nome de uma rua pelo de outra e estava feito o estrago. Estava perdida.
Segui sem pânico ou preocupação pelo emaranhado de ruinhas escuras e arborizadas sem um ponto de táxi, uma padaria ou um pedestre que pudesse me auxiliar. Fui e voltei, desci e subi, até que numa esquina avistei um senhor de idade que aguardava alguém. Cautelosamente diminuí a velocidade e parei ao lado do senhor, abaixando o vidro do passageiro para solicitar a informação.
Eis que para minha surpresa, o senhor de idade começou a se movimentar devagar mas incomodamente para longe do carro, como quem procurava um táxi. Ele sequer me olhou, ignorou meu pedido de ajuda.
Foi então que eu me dei conta que o que aquele senhor sentia, era medo. Na minha visão uma mulher de boa aparência, bem vestida, num carro mediano, não servia de forma alguma de ameaça. De início me espantei com a atitude dele, achei até um pouco insana. Pensando depois sobre o ocorrido foi que pude entender a inquietação dele. Ele estava sozinho, a pé, no meio da noite. Provavelmente aflito porque nenhum táxi chegava. Ou a pessoa que ele esperava havia se atrasado. Fatos da cidade violenta que habitamos fazem com que esperemos sempre o pior, que haja algo de ruim por trás do que parece bom, esperamos sempre um golpe, uma armação. Uma mulher aparentemente inocente no fundo pode ser uma isca para um seqüestro ou assalto.
Transportei o sentimento desse senhor para o nosso dia a dia, para nossas relações próximas. Percebo que esse temor nos tomou de tal forma que sem querer, estamos sempre armados, sempre desconfiados, esperando que um gesto ou uma atitude esteja acobertando um sentimento ruim, uma intenção de prejudicar. Tentamos nos proteger de ações que não são sequer tangíveis. Ficamos nos protegendo de conceitos e situações imaginárias. Desconfiamos e desconfiamos, revisitamos conversas e atitudes na busca de uma falha, buscando algo que ateste uma mentira.
Fico me perguntando qual a solução disso. Como desconfiar apenas do que nos traz uma ameaça real, um risco de vida ou de assalto. Como confiar, libertando-nos das preocupações cansativas e desnecessárias. Como eu já disse anteriormente, qual a forma de aceitar o nível de comunicação direto, sem elaborar estórias paralelas.
Creio que o natural seriam os sentimentos positivos. Acreditar, ser feliz. Mas inexplicavelmente percebo que lutamos diariamente contra a negatividade. Lutamos para confiar, para não nos sentirmos desanimados ou melancólicos. Ao que parece o natural não é ser feliz. Ser feliz é uma uma opção, uma conquista, quando conseguimos nos libertar dos sentimentos que nos afligem.
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