Com essa mania minha de ficar só falando de Woody Allen, algumas pessoas acabaram se interessando. Um amigo meu me escreveu dizendo que já tinha visto uns filmes só não sabia que eram dele. Sobre “Vicky Cristina Barcelona”, ele me disse que achou muito engraçado o início do filme quando o personagem do Javier Bardem convida as duas americanas para passar o final de semana com ele e para ficarem todos “juntos”. Meu amigo me perguntou se essa naturalidade para tratar da questão poderia ter algo a ver com o fato do cara ser artista. Eu diria que pode ter a ver sim, mais liberdade de expressão e de costumes. Mas respondi para ele que além disso, existem pessoas que são mais sinceras mesmo, que fazem menos rodeios.
Se pararmos para pensar, a gente sempre procura dar desculpas para as coisas com o medo de ser indelicado. Eu conheci uma pessoa que uma vez, ao ser convidada para passar a tarde na casa de uma amiga, respondeu: “hoje não”. Ao que a amiga indagou: “por quê?” e a resposta foi: “porque não quero”. A amiga, já acostumada com a sinceridade costumaz, à comunicação pura e simples, não se ofendeu e ainda comentou: “é isso aí, sinceridade total, sem nenhum rodeio”.
Eu diria que com os alemães com quem eu trabalhei, também eram assim. Lógicos, práticos. Sentimentos latinos à parte, eu diria que este tipo de comunicação facilita muito as coisas pois elimina todas as mensagens subliminares, todos os níveis abstratos que possam ficar pairando no ar.
Adicionalmente, disse ao meu amigo do e-mail que existem pessoas que lidam com a sinceridade na mesma medida em que outras lidam com a mentira. Sim, pelos motivos expostos anteriormente, ou por motivos pessoais, não há quem não minta. A mentira pode ser pequena, como a desculpa para não comparecer ao aniversário do amigo, ou grande. Então não sejamos hipócritas e nem críticos demais, no fundo todo mundo mente.
O que pode incomodar na mentira é quando ela se torna excessiva ou frequentemente proposital, deixando de cumprir o papel de proteger o outro da verdade e aproximando-se do limiar da maldade. Quando se torna diária, ao ponto de confundir ou mascarar desejos reais e contínuos. Fica difícil de conviver com quem se habitua a mentir porque a conversa se torna inútil. Não adianta ouvir frases nas quais não se acredita porque no fim, não sabemos o que responder. A conversa se torna abstrata demais. A pessoa que se acostuma a mentir acaba criando um mundo virtual, para ela e para os outros, mas que aos poucos começa a ser percebida pelos que a rodeiam. Porque num determinado momento, a mentira e a verdade ficam tão misturadas que o controle é perdido e o que é dito num dia é desdito no dia seguinte.
Hoje em dia estou longe de julgar o que é certo ou errado. Se melhor é ser sincero demais e abolir as mentirinhas, ou se é possível ser feliz mentindo o tempo todo. O que posso dizer é o que serve para mim. Eu não consigo contar grandes mentiras e nem conviver com alguém que seja tão “escapista”. Mas isso é a minha forma de pensar. Por outro lado, posso me magoar em alguns momentos com sinceridade demais. Acho que a medida no final é sempre o nosso bem-estar. O quanto compreensivos ou exigentes podemos ser diante das situações.
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