quarta-feira, 29 de abril de 2009

De novo sobre o luto

Domingo eu amanheci num enterro. Eu acordei muito cedo, após poucas horas de sono. Eu me levantei, me vesti, entrei no meu carro e peguei a estrada. Após tantos anos dirigindo, engraçado como o carro acabou se tornando o meu velho amigo. Entro nele, escolho minhas músicas preferidas e fico ali, naquele momento só meu. Eu, meu carro, música, estrada. Acaba sendo um momento prazeiroso.

Dirigi-me ao interior de São Paulo. Estrada vazia, tranquilidade, verde, curvas suaves e velocidade. Vou rezar para não ter passado por nenhum radar.

Entrei na cidadezinha adormecida. Poucos carros na rua, quase ninguém andando pelas ruas. Segui o caminho que o meu instinto mandou. No centro, característico das cidades de interior, uma dúvida. Utilizei a técnica de sempre. Perguntar a um transeunte que portava a característica de uma pessoa que mora no interior. Tranquilidade, presteza, gentileza. Após as tranquilas mas precisas instruções, cheguei ao meu destino.

Após estacionar o carro em frente ao cemitério, de novo dúvida. Dei "bom dia" para o jornaleiro, perguntei pelo velório e ele me apontou o local. Fui caminhando apressada pois já era quase hora da saída do cortejo. Rapidamente encontrei a sala correta. No meio da cantoria e do choro, consegui avistar minha amiga. Eu a vi e as lágrimas escorreram. A imagem de força com a qual estou acostumada, fragilizada pela dor. Chorei por ela e por mim. Eu me permiti chorar tudo o que não havia chorado no enterro do meu pai. Despida do orgulho, da responsabilidade, simplesmente fiquei ali, inerte, chorando ao som dos cânticos, observando as pessoas, tentando apreender os sentimentos de cada um presente.

Segui o cortejo até o local do sepultamento. Mais lágrimas. Sofridas.

Eu me comuniquei por e-mail com a minha amiga. Falamos sobre as perdas, sobre as providências a serem tomadas após a morte. Sobre mexer nos pertences das pessoas, destiná-las a doação, coisas do tipo.

Ela me contou sobre os momentos que antecederam a morte.

Fiquei pensando sobre isso. Sobre as mortes de pessoas queridas que eu precisei enfrentar até hoje. No fim acabei refletindo sobre algo que ela concordou comigo. Falei sobre o quanto é importante vivenciarmos estes últimos momentos. É algo de extrema dor mas que carrega em si algo de beleza. Eu jamais esquecerei da forma como a minha avó se despediu de mim antes de morrer. Jamais esquecerei da oportunidade de carinho que pude desfrutar com meu pai nos seus últimos momentos de vida. O quanto que o sofrimento provocou a nossa aproximação, experiências que nos melhores momentos de nossas vidas não fomos capazes de partilhar.

Fico então com a sensação, mais uma vez, de que mesmo na dor há uma beleza implícita. Recebemos a oportunidade de nos despir das vergonhas, das mágoas, dos traumas e de praticar a pura emoção, do amor incondicional. De aproveitar um momento único que jamais irá se repetir em nossas vidas. E que por isso, jamais será esquecido.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Sobre a paixão


Faz tempo que ando querendo escrever um post. Mas não me senti nem no momento e nem na organização suficiente para isso.


Eu sempre me perguntei, desde longa data, o quanto o amor e a paixão são algo natural do ser humano ou se são característicos da nossa cultura; algo que a gente aprende desde cedo, culpa dos autores românticos que surgiram e se mantiveram vivos até os dias de hoje. Canção de amor, história de amor, a gente ouve tudo isso e começa a sonhar acordado com o dia em que o grande amor vai acontecer.

A gente sonha com um amor romântico e acaba projetando desejos e ansiando por alguém que irá resolver a nossa vida, que irá nos resgatar e tornar tudo mais colorido. E isso faz com que a gente cometa erros terríveis, penso eu. Porque ao passar a responsabilidade da nossa alegria para outra pessoa, a gente acaba anulando o que de verdade importa para nós e passa a viver expectativas dos outros e não as nossas.

Ao me dar conta disso foi que comecei a desacreditar do amor romântico. Exatamente daquele pelo qual eu tanto ansiei no passado. Porque eu percebi que a gente tem na verdade é que gostar de si próprio. E que gostando da gente é que passamos a enxergar a vida mais colorida e a nos tornar mais interessantes para os outros. Interessantes de verdade porque mostramos as nossas reais qualidades. Foi então que passei a ansiar por um amor funcional. Um amor que me completasse nas vontades que eu descobri serem as minhas, verdadeiras.

Só que sonhando com o amor prático, com aquele que vai se encaixar de verdade naquilo que eu espero da vida, voltei à mesma dúvida. Fico observando as pessoas, as situações. Fico lembrando de coisas que aconteceram no passado. Existe algo intrínseco nas pessoas que faz com que num momento elas passem da indiferença à atenção. É quando passam a enxergar uma determinada pessoa com um olhar diferente. Algo que não pode ser definido. A forma como um cabelo cai para determinado lado, um olhar, a paixão com que se fala sobre determinado assunto. Cheiro, feromônio, sei lá o que. Mas parece que algo torna a máxima (seria de Mário Quintana?) que "apaixonar-se é inevitável", verdadeira. E não existe fórmula. Pode ser amor à primeira vista, amigos de longa data, um gostar que vai aparecendo aos poucos. O interessante é que ele aparece e às vezes de onde menos se espera, nas situações mais inusitadas e improváveis.

De repente uma pessoa que antes nem existia passa a ser o centro dos pensamentos e do desejo. Vontade de agradar e de estar junto. Percebe-se o olhar que se perde nos momentos de introspecção e que brilha quando a pessoa entregue, nos conta do outro. E o medo de não ser correspondido, as "borboletas no estômago", a sensação de queda-livre, sem saber se lá embaixo haverá um colchão aparador ou o chão que destroçará tudo. Montanha-russa, alegria e angústia, um turbilhão de emoções.

Fiquei olhando para isso tudo e pensando que no fim não importa. Se foi aprendido ou se é do instinto, melhor é se entregar à paixão de viver. Amar a si e ao outro, descobrir o que há de bom na vida a ser vivido. Poucos morreram de verdade de amor. E no fim, não há quem não lembre com saudades de uma grande paixão, seja ela correspondida de verdade, ou não.


domingo, 26 de abril de 2009

Da série: dúvidas existenciais infantis parte III

Menino de 9 anos no carro, indo para a casa da avó:

- Mãe, por que as modelos ganham tanto dinheiro? Assim, o trabalho delas é vestir umas roupas bonitas e passear na passarela. Eu não pagaria tanto dinheiro para elas. O que elas fazem? Só se cuidam para ter um corpo legal.

Silêncio.

Da série: dúvidas existenciais infantis parte II

Menina de 5 anos aguardando o elevador:

- Mãe, por que a gente não consegue ver a cara da gente?
- Porque os olhos da gente só olham para a frente.
- Mas por que a gente não consegue ver a cara da gente?

Gesticulando:

- Porque para ver a cara da gente, o olho tinha que dar a volta assim, para ficar de frente para a gente.
- Ah, é mesmo.

Da série: dúvidas existenciais infantis parte I

Menino de 9 anos no carro, voltando do shopping por volta de 12:30h, enquando reduzo na lombada eletrônica:

- Mãe, qual o sentido da vida?
- Hein, você leu isso em algum lugar?
- Não, tava pensando aqui mesmo, porque a gente existe?
- Olha, se você descobrir, me conta?
- To falando sério, mãe. Pra que a gente existe?

Aumentando o som:

- N., escuta que música legal!!

sexta-feira, 24 de abril de 2009

O livro antes de dormir

Quando o filho é bem pequeno funciona assim: a gente escolhe um livrinho, deita junto na cama lê o livro inteiro, dá boa noite e apaga a luz do quarto. Conforme eles crescem, às vezes um livrinho só já não satisfaz mais.

Agora estou enfrentando o seguinte. Meu filho já lê bem e muito rápido. Mas ainda gosta que eu leia para ele. Então no outro dia, ele pegou um livro na página 15 e pediu que eu lesse até terminar o capítulo. No meio da leitura ele se vira para mim e diz: "você não está entendendo nada, né?". E eu: "não mesmo mas não me importo, vou lendo para você". Segui lendo o livro até a página 18 e paramos.

No dia seguinte, meu filho pediu que eu pegasse o livro novamente para ler. Só que desta vez, já estava na página 48 pois ele havia lido sozinho durante o dia. Ou seja, chance mínima de eu entender a estória.

O livro em questão é da série "Deltora Quest", não sei qual volume. No capítulo que eu li no outro dia, tinha um personagem que falava uma língua diferente mas que não era tão difícil de entender. Estranhei as primeiras frases mas quando percebi a formação das palavras, passei a ler rápido. Consistia em trocar todas as vogais sempre por "a". E em alguns casos as consoantes era substituídas para que a pronúncia ficasse correta.

Terminei de ler o capítulo e disse para ele:

- Baa naata. Darma bam.
- Baa naata. Darma bam vaça tambam.

Coisas de mãe nerd.

Ciúmes

Tava lendo aqui um post bem-humorado falando sobre ciúmes e me deu vontade de comentar um pouco sobre isso.

Tem gente que sente ciúmes o tempo todo. Outros dizem que não sentem mas eu sinceramente acho que sentem só que não expressam. Talvez seja esporádico, é verdade. Mas algum dia na vida, qualquer um sente.

O fato é que situações como a descrita no post mencionado acontecem e são impressionantes. Porque a pessoa que sente ciúmes é invadida por pensamentos irracionais mas que são capazes de produzir estórias com encadeamento lógico em que tudo se torna justificativa para provar que a situação de traição ocorreu. Eu não sei se existe quem não sinta ciúmes. Mas confesso que já senti e por isso consigo imaginar como a tal mulher se sentiu.

O que a mulher sentiu, não foi nada bom. Ela se torturou durante dias, acabou torturando também o marido, por uma situação totalmente irreal, algo que não existiu.

Pensando racionalmente então, chegamos à conclusão de que o ciúme não vale a pena. Tem gente que ainda se agarra ao ciúme afirmando que se o objeto do ciúme não desse motivos, o ciúme não existiria. O fato é que o ciúme existe na cabeça de quem sente, mesmo que o outro não dê motivos.

Ciúme não provoca pensamentos e nem sentimentos bons. Ciúme não dá garantia de nada. Sentindo ou não ciúmes, se o outro um dia tiver que embarcar numa traição, ele vai fazer, independentemente dos cuidados que se possa crer que estejam sendo tomados devido aos ciúmes.

Creio que é muito difícil para quem está tomado pelos ciúmes pensar racionalmente. Mas estou aprendendo com o tempo que é possível reprogramar pensamentos. Quanto mais a gente elabora sobre o que é importante na vida para a gente, mais a gente consegue controlar as emoções para que elas não descambem para o lado negativo. E quem se beneficia desse controle somos sempre nós mesmos por isso vale a pena investir nesse aprendizado.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Realidade


Estava pensando aqui sobre a dificuldade da gente em perceber a realidade no que diz respeito a pessoas e sentimentos.

Quando a gente olha para um objeto, percebe-o do ponto de vista real: "esta caneta é transparente, de tampa azul e lisa".

Olhamos para as pessoas e parece quase impossível fazer essa análise. Porque quando olhamos para as pessoas, não conseguimos perceber o que está diante de nossos olhos. Imediatamente imprimimos neste olhar um tanto de suposições, expectativas, sentimentos implícitos, preconceitos ou mesmo traumas que tornam a imagem difusa e distanciada da realidade. Há momentos em que o turbilhão de sentimentos é tão grande que somos capazes de distorcer totalmente o que vemos, criando uma história paralela dentro da nossa mente, onde situações hipotéticas tomam força e criam algo fantástico que, nem sei porque, acaba derivando em conclusões negativas.

Pensando bem, nem sei se há realidade no que diz respeito a pessoas. Pessoas não são estáticas. Elas agem conforme o momento que estão passando, de acordo com seus sentimentos. Uma pessoa pode ter boas intenções e ser obrigada num determinado momento a tomar uma decisão que pode ser mal interpretada pelos que estão ao redor. Ou podemos olhar uma determinada ação e não enxergar a ação pura e simples. Um exemplo: uma pessoa faz uma caridade. Pergunte para várias pessoas e as respostas podem divergir. "Ah, ela é uma pessoa muito boa, realmente" ou "Penso que ela fez isso porque estava de consciência pesada, queria se redimir de algo" ou "Fulana é muito exibida, fica se fazendo de boazinha para impressionar os outros". No fim fico pensando, das três interpretações, qual a correta?

Talvez não haja a interpretação correta. Mas pode ser que exista uma interpretação que leve a sentimentos bons, que nos dê paz de espírito. Diria que é muito cansativo ficar olhando as coisas e tentando discernir o que de fato é a verdade sendo que a verdade muitas vezes não existe. É relativa. Então, seria bom simplificar tudo isso. Olhar a pessoa que fez a boa ação e reconhecer: puxa, isso que ela fez foi muito bom. Não interessa a motivação.

Lógico que não estou defendendo que fechemos nossos olhos para todo o mal do mundo. De repente o mundo ficou lindo e todas as pessoas são boas. Não é isso. O que eu gostaria de invocar é a capacidade de olharmos para as pessoas com menos níveis intangíveis, menos subjetividade.

Talvez isso tornasse os relacionamentos muito mais fáceis.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Simpls

Adorei isso. Tô usando o dia inteiro...


Prometo que vou tentar não ser repetitiva


Eu descobri que posso ter um padrão obsessivo. Quando me interesso por alguma coisa, fico um tempo fixada naquilo. A verdade é que Woody Allen sempre foi um gosto meu. Diferente de obsessão, acho que a obsessão pode nos acometer por um tempo e depois desaparecer.


Hoje eu acordei tarde, segui para a padaria para tomar café, com o livro de entrevistas com o Woody Allen nas mãos. Digamos assim que o cara do "Larica Total" tem um pouco de razão. Quando a gente está sozinho, tende a não querer comer, nem se arrumar, a gente fica meio largado.


Enfim, segui para a padaria, pedi o meu tradicional "média com pão na chapa" e abri o meu livro para ler. No outro dia mesmo eu havia comentado que lendo o livro a gente tem vontade de rever os filmes. Pois ontem, resgatei da coleção do meu falecido pai, todos os filmes que ele tinha de Woody Allen. E devo dizer que são quase todos.

Fiquei saboreando o café e lendo o livro.

O que tem de interessante é que como são entrevistas, ele explica em cada filme a motivação, as cenas que foram cortadas, as que foram improvisadas. Uma das minhas cenas preferidas nos filmes dele é a do "Annie Hall" onde ele e Diane Keaton se põem a preparar lagostas vivas. E eles se atrapalham muito com aqueles seres se movimentando, ele com a neurose peculiar, ela rindo muito. E eis que ele conta no livro que a cena foi improvisada, de fato filmaram outras cenas mais ensaiadas mas acabou na edição final a que era mais espontânea, onde eles riam de verdade da movimentação de lagostas.

Agora estou eu aqui com esses 27 DVDs sem saber por onde começar.

Sobre as pessoas especiais

Ao longo da vida encontramos pessoas que assumem um papel que permanente ou temporário acaba fazendo a diferença.

O considerar alguém especial é algo íntimo e nem sempre perceptível pelo outro. Não é perceptível porque às vezes a outra pessoa está tão imersa no seu auto-julgamento que não consegue enxergar a forma como ela é de fato percebida por nós.

Eu tenho aprendido muitas coisas ao longo dos anos. Um dos grandes aprendizados, talvez o maior de todos, foi o do perdão. Eu tenho conseguido enxergar de tal forma o ser humano que tem sido muito difícil eu cultivar a raiva por alguém. Acho que raiva, todo mundo sente em algum momento. Não vou dizer que não sinto raiva. Mas ela vem como um sentimento leve, que não perdura.

No passado eu cultivei raiva muito profunda por pelo menos duas pessoas. Situações dessas de "cheque-mate" que a vida cria entre as pessoas. Percebi com o tempo que a raiva que eu sentia fazia muito mais mal a mim mesma do que aos outros. O sentimento ruim fica aprisionado dentro da gente nos corroendo enquanto que a outra parte nem se dá conta.

A vida quis que essas duas pessoas cruzassem a minha vida de novo e me procurassem para se desculpar. E o gesto, diante de uma pessoa mais amadurecida, contou tanto que eu consegui de verdade perdoar. E senti o valor libertador disso.

Sendo assim, posso dizer com tranquilidade que estou quase que imune à raiva. Eu prefiro ficar com os sentimentos bons, enriquecedores que a pessoa tenha me proporcionado. Afinal, somos todos humanos, querendo acertar mas nem sempre conseguindo. E o melhor que temos a fazer é aproveitar o que a vida nos oferece de bom e se tivermos que relembrar de algo, que seja das coisas boas.

domingo, 19 de abril de 2009

Sobre estar perdido

Há momentos na vida em que a gente simplesmente não sabe o que fazer. Seja porque uma decisão é exigida da gente ou porque atingimos algumas metas que havíamos traçado ou mesmo porque perseguimos alguns objetivos e quando chegamos neles não colhemos exatamente os resultados esperados.

Engraçado como quando nos encontramos assim, somos cobrados por uma decisão, por um reposicionamento. Dependendo da extensão do que aconteceu para que nos sintamos assim, não é possível nos reestruturamos em velocidade "warp". Creio que a elaboração de um novo plano e de novos parâmetros ocorra no seu tempo, tempo que vai ser proporcional à dimensão do estrago que provocou o alienamento.

No outro dia vi duas pessoas conversando e uma delas dizia: "eu não sei o que fazer". Ao que a outra lhe respondeu: "se não sabe o que fazer, não faça nada". Pearls of wisdom. Pérolas gratuitas que a gente recebe quando menos espera.

De nada adianta então se apressar para elaborar um plano falso, baseado em incertezas. Muito melhor é parar, observar as tendências, tentar entender o que foi aprendido, até que aos poucos um novo objetivo vá se formando, baseado no real. Se não agimos assim, se perseguimos um objetivo que a gente sabe que precisa existir mesmo sem saber exatamente qual é, corremos o risco de errar ainda mais, almejando algo que pode não ser o que queremos exatamente ou utilizando-nos de um caminho torto para alcançar o que queremos mas que ainda não é possível.

Por último devo observar que ainda é melhor estar temporariamente perdido e consciente disso do que ter objetivos claros e não se dar conta de que a forma como se executa os planos não contém a paciência ou os princípios básicos que levam ao sucesso. Pois quando isso acontece, em algum ponto da vida o plano dá errado. E é aí que fica muito mais difícil se reposicionar. Pois reposicionar-se em cima de algo distorcido é muito mais difícil do que elaborar em cima do ético e do real.

Os sonhos e o sono

Fazia muito tempo que eu não sonhava de forma tão nítida e tão rica. Hoje eu dormi um sono daqueles muito gostosos. Eu deitei e dormi profundamente por mais de 9 horas.

Concluí que isso aconteceu porque eu estava tranquila, feliz, sem preocupações e principalmente porque a minha noite de sono transcorreu sem interrupções.

Esfriou muito em São Paulo. As noites já começam a ser muito frias. Dormi na minha cama macia, enrolada (ou melhor, afundada, perdida) no meu edredon.

Sonho - Aranhas


Hoje eu sonhei muito. Muito mesmo. Tenho a sensação de que tive mais alguns sonhos dos quais não me lembro.

Em seguida ao sonho dos gatos, eu sonhei que corria por dentro de um estacionamento porque chovia muito. O estacionamento era coberto por uma estrutura toda vazada de quadrados que por fim não protegia nada. Eu corria e me encharcava toda porque a chuva estava fortíssima.

Cheguei em casa. Minha empregada me disse que algo deveria ser feito pois de repente, muitos insetos começaram a invadir a casa. A gente não se dava conta mas aranhas de todos os tipos e outros insetos peçonhentos, desconhecidos para mim, mas que ela sabia nomear, andavam aparecendo e querendo entrar nos cômodos pelas janelas. Conforme ela me contava sobre os insetos, eu os visualizava de uma forma muito real, eles apareciam no sonho como se projetados a partir de um livro de ciências.

Eu fiquei tentando imaginar qual seria o melhor método de combate. Pensei na dedetização tradicional mas alguém me disse que não funcionaria. Essa situação me provocava tremendo pavor uma vez que sinto um medo incontrolável de insetos.

O sonho prosseguiu de novo com meus filhos e com brinquedos. Legos. Mas não lembro do final.

Sonho - Evento de doação de gatos


Eu estava levando os meus filhos numa festa onde as próprias crianças montavam brinquedos. Entramos na festa e recebemos um kit. Continuamos andando e havia várias quadras separadas por telas de arame, tudo muito organizado e enfeitado. Bandeirinhas coloridas de São João.

Meu filho começou a montar o brinquedo mas perdeu as instruções. Eu quis voltar para a área coberta onde havia muitos stands com demonstração de brinquedos e gatos. A entrada dessa área estava bloqueada por dois balcões. Havia uma apresentação de gatos acontecendo no momento, por isso o bloqueio.

Disse para a moça que eu gostaria de adotar um gato e se havia algum disponível. Ela me disse que não. Veio falar comigo um veterinário de óculos, cara muito sisuda. Ele disse que se eu me candidatasse, que no máximo em 2 semanas um gato era enviado para a minha casa.

Fiquei sentada por alguns minutos ali um pouco decepcionada. Fiquei refletindo sobre como isso acontece, da gente demorar para decidir algo e que às vezes quando a gente decide já pode ser tarde.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Aula de informática

Deve ser normal isso. Mas fiquei pasma hoje. Com meu filho (de 9 anos) me mostrando que já sabe copiar imagens do Google e colar no word e no powerpoint. E criar textos mudando a fonte, salvar o arquivo e tudo mais...

Sobre o bom-humor

Dentre tantas as revisões que andei fazendo sobre a minha vida, em que foi inevitável entrar muitas vezes no passado, chamou-me a atenção o quanto o bom-humor, a brincadeira, a piada são constantes e importantes na minha vida.

Desde que me entendo por gente, começando com o meu pai e continuando com os amigos, sempre estive cercada ou talvez seja melhor dizer que sempre busquei pessoas com esse perfil. Boas gargalhadas, fazer graça de si mesmo, até nas situações adversas.

Reencontrei virtualmente há coisa de 1 ano, um grande amigo de faculdade. Nós nos correspondemos com frequência trocando lembranças com um toque de humor especial, exatamente como era na época da faculdade. Só que dessa vez, tudo em forma escrita, o que antes era vivenciado entre uma aula e outra ou num trabalho em grupo.

Recentemente ele me deu uma dica de um programa hilário  que tem alguns episódios gravados no Youtube. O nome é: Larica Total. Trata -se de um programa de culinária com um cunho muito original. É um programa voltado para solteiros onde receitas bastante simples são passadas com recursos muito reduzidos, algumas vezes até bizarros. O lema do programa é que: só porque se está sozinho, não quer dizer que seja necessário morrer de fome. Ele tenta estimular a platéia a resolver seus problemas de fome, seja qual for a hora do dia, mostrando que não há porque ter preguiça de cozinhar.

Domingo foi um dia muito agradável e tranquilo e eu consegui assistir vários desses episódios e dar boas risadas.

Contei para ele que assisti o programa e que gostei muito e a resposta dele, que transcrevo ipsis-literis para não perder a comicidade que lhe é peculiar, foi:

"O primeiro, frango total flex, o do macarrão tb é bom (putz a hora que o cara derruba água da panela
e apaga o fogo e ele pára pra fazer uma faxina...é ótimo).

Tem tb um misto quente gratinado (bem sofisticado) que deve ficar gostoso.

Eu me identifiquei com o programa pq eu me vi nos meus tempos de flat, república...

Uma vez, eu e um amigo bebíamos e um outro criticou achando que deveríamos ser mais saudáveis.
Aí descemos fomos no supermercado e voltamos com ingredientes para fazer, de n sabores,
caipirinhas de gatorade !!!!

Teve tb miojo night, festa do salgadinho...a gente se virava rsrsrsrsrsrs".

É como eu sempre digo ultimamente. Bom-humor e coisas simples. Prazeres simples. Tá aí a chave da felicidade.

Aviso aos leitores

Volta e meia eu recebo uns e-mails de amigas ou amigos comentando: olha, acho que você deve andar triste porque achei os seus últimos posts muito melancólicos. Ou: você parou de escrever, o que está acontecendo?

Coincidentemente ontem eu comecei finalmente a ler o livro "Conversas com Woody Allen" e durante as entrevistas ele discute muito o processo criativo dele. Sem nenhuma pretensão, preciso confessar que me identifiquei com algumas coisas que ele diz logo no início do livro. Sobre os personagens terem a ver com ele, com as experiências dele. E o quanto que o público tenta captar das relações passadas dele através das situações dos filmes. E o que ele diz sobre isso é exatamente o que eu comentei com uma amiga minha certa vez. As histórias dos filmes dele têm a ver com fatos vividos não necessariamente por ele, às vezes tratam-se de observações de outros casais, de amigos. Ou podem ser algo que ele viveu, retratado de forma muito exagera da.

Assim acontece comigo também. Várias vezes acontece de eu estar muito feliz mas conversar sobre um tema melancólico com uma amiga e então vem uma idéia para um post, alguma idéia que eu gostaria de plantar na mente dessa pessoa e que eu acredito que tornaria a vida dela mais fácil. Ou o contrário. Posso estar melancólica ou com algum tipo de sofrimento e querer escrever algo alegre para levantar o astral.

De qualquer forma, fico muito lisonjeada que as pessoas estejam me acompanhando e se preocupando comigo.
Ter público é a grande graça de escrever. Principalmente quando a gente não precisa ter a preocupação de agradar. Sem metas a cumprir.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Competição invisível

Começa cedo, creio eu. Deve ser na infância que começamos a criar a nossa lista de quesitos para o sucesso ou insucesso. Sim, podemos ser muito cartesianos em se tratando de avaliação pessoal.

Quando a gente conversa com alguém num momento de auto-piedade e auto-comiseração, a gente observa essa lista aparecendo. A importância de cada tópico desta lista é atribuída segundo percepções pessoais. A pessoa se coloca numa competição invisível com ou sem parâmetro (leia-se por parâmetro, outras pessoas) para comparação. E em geral, o resultado é falha.

Pior do que isso é valorizar um único ponto de aparente falha diante de tantos outros conquistados. Parece que a gente tende a sofrer de uma amnésia quando estamos em crise. Se não tomamos cuidado, lembramos só da parte ruim e esquecemos das boas.

Outra coisa que observo é que ao longo do nosso desenvolvimento, nem sempre a nossa visão pessoal muda em relação a essa lista imaginária. Muitas vezes aquilo que considerávamos inadequado no passado já foi superado mas ao fazer o "checklist", a gente não consegue avaliar corretamente o status real diante do quesito listado. E atribuímos falha para algo que na verdade já ganhamos o "ponto".

Bom é quando passamos a enxergar nossas conquistas e atribuir corretamente os resultados. Nesse momento arriscaria dizer até que certos quesitos deixam de figurar da lista pois passam a ser conquistas reais e que jamais serão perdidas. Muito bom quando essa lista diminui. Tirando-nos dessa cansativa e muitas vezes inútil competição invisível. Competição que somente nós conhecemos, notas atribuídas por nós, competição que não tem ganhador ou perdedor a não ser dentro das nossas mentes.




Carpe Diem

Às vezes eu me sinto repetitiva ao escrever sobre determinados assuntos. Mas creio que assim é a nossa cabeça. Pensamos repetitivamente sobre alguns temas, não necessariamente da mesma forma.

Quem já acompanhou um paciente terminal ou já passou por uma situação em que sentiu a sua vida ameaçada de alguma forma, apreende, creio eu, o verdadeiro significado desta frase. Por "Carpe Diem", entenda-se não mudanças bruscas ou impulsivas. O "Carpe Diem" pode ser simplesmente desfrutar de uma pequena janelinha que se abre num dia que promete ser difícil. Pode ser observar o sol da manhã indo para o trabalho, desfrutar o aroma do café numa pequena pausa, o roçar dos lençóis macios e frios quando nos deitamos para dormir.

De um paciente terminal, tudo é roubado. O sabor dos alimentos, a liberdade de ir e vir, a visão, a lucidez.

Por isso é preciso aprender o real significado do "Carpe Diem". Para que ao menos se não for roubada a memória, ela sirva como saída para consolar e alimentar alguma esperança, quando for necessário.

Sem saída

Se tem uma coisa que eu odeio é quando me contam o final de um filme e portanto eu sempre evito fazer isso. Vou ter que contar o final de "Sociedade dos Poetas Mortos" para me fazer entender, entretanto. Quem quiser se preservar, pode parar por aqui.

Eu assisti esse filme no final da minha adolescência, início de idade adulta. Trata-se da estória de um professor que ingressa num colégio particular, daqueles muito tradicionais americanos e que vai conquistando aos poucos os alunos com suas idéias inovadoras. O "motto" dele é o "Carpe Diem", muito utilizado atualmente e que creio ter sido popularizado por esse filme. Ao longo da estória, há um aluno de excelente performance escolar com quem o professor acaba travando um relacionamento mais próximo. É emocionante perceber como o rapaz vai abandonando aos poucos a rigidez desnecessária e mostrando além dos atributos intelectuais, uma sensibilidade reprimida. Num determinado momento, quando o rapaz atinge a plenitude da sua descoberta, ele percebe que aquilo que havia sido traçado desde criança para ele pelos pais, não o faria completamente feliz no futuro. E ele resolve comunicar seus novos planos ao pai, que é igualmente ou mais autoritário e rígido que os princípios do colégio onde o menino estuda. É então, que na minha visão daquela época, o filme desanda. Porque ao receber a negativa do pai, o rapaz acaba se suicidando.

No fim, naquela época, acabei achando o filme ruim. Porque na minha visão, jamais um rapaz com aquele potencial poderia ter tomado uma atitude tão drástica. Eu vi a situação com os meus olhos de jovem criada numa sociedade mais liberal, cheia de sonhos e possibilidades.

Na vida, entretanto, o que parece incompreensível passa a ser dependendo daquilo que vivemos.

Houve um dia, no passado, em que uma situação corriqueira do cotidiano me provocou uma decepção tão grande que de imediato tive uma reação muito violenta e algo se rompeu dentro de mim. Era final de tarde, começava a escurecer. Eu costumo dizer que minha cabeça trabalha sozinha e a minha grande dificuldade é controlar os meus pensamentos que brotam desenfreados.

Naquele dia, após a explosão, minha cabeça se calou. Foi um emudecimento assustador. Se antes eu me assustava com o transbordamento de pensamentos, agora posso dizer que muito pior é não pensar em nada. Eu me sentei de frente a uma janela e durante quase 3 horas eu observei a chuva que caía na noite e chorei. Lágrimas escorriam pelo meu rosto e eu não pensava em nada. Havia um único pensamento muito ao longe, no fundo da minha mente. Algo assustador e doloroso de confessar, algo que reverberava de leve no fundo do vazio, no buraco negro em que eu me encontrava naquele instante.

Saindo da minha letargia eu lembro que tentei ver televisão e que depois dormi. Um sono sem sonhos ou pensamentos. Vazio.

Quando acordei, já mais próxima do meu estado normal, embora triste e esgotada, eu me dei conta de que eu havia sentido o que sente uma pessoa que se suicida: sem saída. É algo duro de admitir, até porque depois que passa, a gente percebe que há saída. Mas em determinados momentos da vida, essa sensação irracional pode invadir qualquer um, percebi eu. Até mesmo nos momentos aparentemente mais improváveis, como resultado de um acúmulo de decepções e do aprisionamento pessoal. Graças a Deus o meu senso de auto-preservação foi muito maior e eu pude sobreviver para enxergar a saída.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

A importância do futebol


Fazia muito tempo que eu não andava pela estação da Sé. Precisei andar de metrô e chegando à estação da Sé eu me surpreendi. Pois agora na linha vermelha, as direções estão indicadas da seguinte forma: Corinthians - Itaquera para a esquerda e Palmeiras - Barra Funda para a direita. Adicionaram os nomes dos times aos nomes das estações.

Fiquei olhando as placas e sorrindo sozinha.

Peguei a linha vermelha até um ponto onde eu não havia andado ainda. Achei bonito ficar olhando de cima, enquanto o trem corria pelos trilhos, os viadutos, mesmo que pichados, os prédios da Bela Vista ao longe, as casinhas de bairro antigo e os condomínios mais novos.

Sim, essa cidade tem poesia. Ou talvez esteja nos olhos de quem vê.

O sabor de um Alpino


O que há de especial na forma como eu me lembro da infância não é somente eu lembrar dos fatos em si. Mas de eu visualizar cenas e lembrar das sensações que eu sentia naquela ocasião.

Eu devia ter uns 3 anos de idade. Meu pai trabalhava e estudava e eu o via pouco. Não me recordo de vê-lo pela manhã. Recordo-me dele à noite quando chegava e me trazia figurinhas para um álbum da Hanna Barbera e um Alpino. Durante muito tempo, no meu registro de tempo infantil foi assim: um Alpino por noite.

Abrir aquela "empadinha" de chocolate tinha um significado mágico para mim. Eu observava as curvinhas que o chocolate fazia na lateral, e o papel alumínio que desgrudava dele. O sabor do chocolate era diferente. Mais intenso, mais espesso.

Há coisas que hoje eu como e não têm mais o sabor de antigamente. Bolinho Ana Maria, por exemplo. Parece que algo mudou na receita, ou eu que mudei a percepção, vai saber.

Mas Alpino, não. Alpino tem exatamente o mesmo sabor, um aroma único. E que se tornam ainda melhores se for ganhado.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Sobre as despedidas


O ano é 87, creio eu. Início de 87. Quatro amigos num maverick vermelho. Conversa, palhaçada, como sempre. Ouvindo música no rádio, daqueles prazeres simples que a gente se esquece às vezes de praticar. No meio da conversa, uma música triste no rádio. Ou talvez a música nem fosse tão triste, tornou-se melancólica devido ao sentimento implícito neles do que estava por vir.


Pausa para reflexão. Fim de uma fase, objetivos diferentes. O ciclo de convivência de dois anos chegava ao fim. E foi então que vieram as lágrimas. Poucas, escorrendo devagar pelo rosto. Se todos choraram não saberia dizer. Mas com certeza duas choraram. Pois para elas, o ciclo de 2 anos na verdade foi a consolidação de uma amizade desenvolvida ao longo de 10 anos de convivência.

O que eles não sabiam, ou não se deram conta naquele momento foi que o que parecia um momento único seria um entre vários que enfrentaram ou ainda enfrentariam na vida. As pessoas chegam e vão. Por motivos previsíveis ou não, com tempo para curtir antes da despedida ou sem direito a despedida. Seria arriscado dizer que certa pessoas vêm com um propósito e depois que a missão termina, elas se vão? Ou se vão por um tempo e depois voltam.

É por isso que não adianta sofrer por antecedência, não adianta sofrer por aquilo que ainda está por vir. É preciso viver com intensidade e alegria o momento para que quando finalmente chegue a hora, seja possível lembrar do que foi bom. E se a gente apreende esse sentimento, de viver o que há de bom na vida, seja ao sentir o sol da manhã batendo no rosto ou de viver grandes realizações, o sofrimento diminui e a gente consegue dar um tom de permanência à felicidade pois há quem diga que a vida na verdade é feita de momentos felizes.

Deus quis que aquelas amigas se reencontrassem da maneira que a vida lhes permitiu. Se o contato não pôde ser mais diário, pelo menos foi duradouro no sentido de que mesmo à distância, o sentimento de intimidade, sinceridade e de bem-querer perdurasse ao longo dos anos.

A cultura e as diferenças


Há muitos anos atrás, trabalhei com um consultor que havia passado 1 ano trabalhando na Coréia. Nos tempos de globalização de hoje isso não é algo tão raro mas naquela época era. Ele nos contava várias coisas sobre aquele país. Os costumes, as dificuldades, sobre o clima muito frio e sobre as inovações tecnológicas que ainda não haviam chegado aqui.

Dentre todas as histórias que ele me contou, a única que fixou na minha mente foi talvez a que eu achei mais bizarra, mais divertida. Ele dizia que era muito difícil viver por lá sozinho, o povo era muito fechado e era um tanto difícil fazer amizades. Sendo assim, não era incomum que ele fosse sozinho ao cinema.

Ele chegava no cinema e se deprimia um pouco ao ver os casais juntos se divertindo enquanto ele ficava sozinho. Pois um dia, ele observava um casal muito amoroso que levava um saquinho de papel pardo, com balas e bombons, imaginava ele. Eis que o namorado, muito zeloso e gentil abre o saquinho e tira de lá exatas duas bananas. E os pombinhos, felizes, começam a descascá-las e a comê-las antes do filme.

Explicação para a cena é: na Coréia, pelo menos naquela época, frutas tropicais eram artigo de luxo, caríssimas. E isso explica o gesto de amor praticado pelo dedicado namorado.


sexta-feira, 3 de abril de 2009

Caixa de Pandora - o mico do concurso

Bom, com essa história do salgadinho e dos bloggers se confessando por aqui, eu resolvi contar uma que guardava há muitos séculos. Nem sei se vai ter muita graça porque é o tipo de situação que só vendo para entender.

Eu tinha uma amiga por volta de uns 14, 15 anos com quem acontecia uma coisa meio irritante. A gente de vez em quando dava de gostar do mesmo cara. Nesta ocasião em particular, cada uma tinha um target diferente. E nos unimos no mesmo objetivo, numa missão.

A gente estudava em frente ao Maracanã. No final de semana anterior, a gente tinha ido numa matinê de um clube do bairro, local que frequentávamos em domingos alternados. Acontece que batendo papo com os "targets" na matinê, descobrimos que durante a semana eles iam participar de uma prova de ingresso a uma escola militar.

Pensando em como nós duas éramos, creio que a idéia só pode ter sido minha, porque eu sempre tive muita imaginação. Combinamos de depois da saída do colégio andar por dentro do Maracanã (que a gente conhecia bem porque frequentava umas aulas de natação e ginástica olímpica por lá) e achar o local da prova para encontrar os nossos amigos. Andamos pelos portões até que encontramos o portão de entrada. Vou dizer que a passagem pelo portão já foi suficientemente constrangedora. O que a gente não calculou é que num concurso onde são oferecidas centenas de vagas, o número de participantes é algo na casa dos milhares. Então tivemos que atravessar por aquele portão, de dentro do Maracanã para a calçada de fora, de cabeça baixa, pois tratava-se de um concurso exclusivamente masculino. Presenças femininas no máximo eram de umas mães perdidas por lá.

Passado o sufoco do portão, pasmem: encontramos os nossos amigos. Encontramos, papeamos e resolvemos voltar por fora do Maracanã para evitar o constrangimento do portão novamente. O lado do Maracanã era o que dava para a UERJ e a gente tinha que voltar para uma das ruas que dava acesso para a Rua S. Francisco Xavier.

Seguimos caminhando pela calçada e nela há um ponto em que ela fica muitíssimo larga, com uma grande passarela que se não me engano, vai para o metrô ou atravessa para a UERJ, não sei ao certo. A passarela estava inteiramente tomada por meninos sentados, aguardando o início do concurso. Comentamos entre nós a quantidade de "gente" que havia ali, novamente muito envergonhadas. Não bastasse a nossa vergonha pelas gracinhas que já tínhamos escutado no maldito portão, quando chegamos mais ou menos no meio do caminho para a "liberdade", bem em frente a tal passarela, um desgraçado resolveu levantar, apontar para nós e instigar os outros que estavam sentados por ali. Resultado? Centenas de garotos levantando, apontando para nós, aplaudindo e assoviando.

Saímos correndo de lá, tomadas pela vergonha e pelo medo de sermos descobertas por nossos pais. O normal seria chegarmos em casa por volta de meio-dia e meia. Naquele dia chegamos pra lá de uma hora da tarde. Meu pai era muito bravo e ficava em casa durante o dia porque ele trabalhava de madrugada. Eu nem me lembro qual foi a desculpa que inventei. A única coisa que me lembro é que rezava para que o carro da Globo que andava por lá, com repórteres entrevistando os candidatos não tivesse presenciado a cena e nos registrado no RJ TV....

Como Gilmore Girls


Eu tenho uma grande amiga com a qual travo conversas sem fim e difíceis de acompanhar. Eu me explico: é que ambas falamos muito, muito rápido e trocamos de assunto com muita facilidade. Os assuntos vêm e vão e a gente raramente se perde mas de vez em quando ocorrem umas linhas cruzadas. A gente costuma brincar que as nossas conversas são dignas de "Gilmore Girls", seriado americano, do qual ambas somos grandes fãs.


De vez em quando ela fala pra mim ao final de uma conversa (que também acontece por escrito): "entendeu, Lorelai?".

A diversidade dos nossos diálogos é tanta, que até piada no meio da desgraça própria a gente fala. Bom, eu falo, mas a especialista nisto é ela. Eu vivo dizendo para ela que ela tinha que criar o próprio blog. Porque assim como os "gilmorismos" da Lorelai, ela tem as suas pérolas dignas de serem registradas.

Só para ter uma idéia, hoje ela me escreveu um e-mail contando várias coisas, dentre elas uma doença de uma pessoa querida. E eis o "diálogo" que se seguiu:

Lorelai: "Ela está muito fraquinha, deitada e reclamando muito."

Rory: "Ah, isso é da doença mesmo. Vamos rezar para que ela melhore, com o tempo ela vai reganhando as forças."

Lorelai: "Existe a palavra "reganhando" ? kkkk"

Rory: "Eu já ri um monte aqui mas respondendo à sua pergunta, segundo o Michaelis da Língua Portuguesa:

reganhar1 re.ga.nhar1(re+ganhar) vtd Tornar a ganhar; readquirir, reaver, recobrar, recuperar.
reganhar2 re.ga.nhar2(contr de arreganhar) vint 1 desus Tiritar de frio; arreganhar-se. 2 Morrer (o animal) arreganhando os dentes."

Lorelai: "Olha, pensa bem... na dúvida não use mais esse termo reganhar... kkkkkkkkk".

Prazo de expiração dos segredos

Tava escrevendo ontem sobre o dia em que eu roubei salgadinhos e me veio uma constatação: a gente faz coisas na vida que sente vergonha ou se arrepende, ou tem medo que descubram porque acha que vai levar bronca. Imagina quantos anos eu precisei para admitir publicamente que eu roubei uns salgadinhos anônimos no elevador.

Fiquei pensando então: que ao longo da vida a gente vai coletando esses segredos e chega um momento em que a gente se sente livre para contar, para admitir. O que antes parecia gravíssimo, com o tempo passa a ser até cômico, divertido. É por isso que tem esses velhinhos que chegam aos 80, 90 anos com muita história para contar. E a roda se forma em volta para ouvir. Histórias reais, sejam de dificuldades, bonitas ou engraçadas, se contadas por quem viveu, ficam sempre mais interessantes.

Só falta agora eu querer abrir aqui a caixa de Pandora... hehehehehe

Brinquedo novo

Com a ajuda da Pat Ferret eu adicionei uma caixinha nova de pesquisa no blog.

A vontade de criar essa ferramenta surgiu ontem quando eu comecei a escrever um post e me lembrei vagamente de já ter falado sobre o assunto antes.

Consegui adicionar o gadget hoje pela manhã e está funcionando bem, embora não bonitinho; melhor seria se eu tivesse hospedado os resultados dentro do blog mas fiquei com preguiça de procurar o resto.

O fato é que consegui fazer minha pesquisa dentro do blog. Descobrir quantas vezes falei sobre elevadores. E o fato é que falei 11 vezes, inclusive no post onde conto o pesadelo que me perseguia. Daqui a pouco vou ter que criar um marcador só para elevadores.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Elevador polonês

Quando eu estava na 5a.série, antes de tocar o sinal do fim do recreio, já tinha que sair correndo para entrar na sala de aula. Era o seguinte: os meninos iam se enfileirando antes de entrar na sala para fazer corredor polonês e bater nos outros que entravam.

Pois é, menino é assim mesmo. Eles têm essas brincadeiras.

Não que eles fossem bater na gente, não batiam, mas se desse um azar de estar perto na hora, podia sobrar alguma coisa para as meninas também. Isso acontecia quando eu tinha lá pelos meus 11 anos.

Anos mais tarde, uma das minhas melhores amigas mudou-se para um prédio quase ao lado do meu. E eu ia lá com muita frequência. O irmão dela tinha muitos amigos e a gente acabava conversando muito com eles, jogando WAR, essas coisas mais de adolescentes. Nós éramos as únicas duas meninas de um grupo grande de meninos. Eventualmente vinha uma terceira.

Pois aos 16 anos mais ou menos, a história se repetia. Porque quando os nossos amigos entravam no elevador, que tem apenas 4 cantos, eles corriam cada qual para um canto. E quem sobrasse no meio, ia apanhando do térreo até o último andar, onde a minha amiga morava. Ou o contrário. Da cobertura até o térreo. E posso dizer, que por pelo menos umas duas vezes, eu e minha amiga nos metemos no meio da confusão, sem efetivamente apanhar, mas assustadas com a confusão de um elevador chacoalhando, onde se distribuiam socos e ponta-pés.

Menina que convive com menino é assim. A gente não entende porque eles fazem essas coisas. Mas a gente acaba se acostumando.

Sobre elevadores

Eu estava lendo uma historinha do Felipe no Presente a limpo passada no elevador. Eu me lembrei de alguns fatos de quando me mudei para um prédio com elevador quando tinha uns 7 anos de idade.

De início, usar o elevador foi uma experiência assustadora. Eu que até então subia 3 lances de escada para chegar até o meu apartamento antigo, tive que superar a experiência de pegar um elevador. Afinal, quem é que nunca tinha ouvido histórias amedrontadoras de elevadores caindo ou de pessoas que abriam a porta e caiam direto no vão do elevador, né. Fora ficar preso no elevador, que também era uma possibilidade aterrorizante.

Eu que sempre fui baixinha, precisava me esticar para apertar os botões. Por sorte eu conseguia alcançar bem o meu andar que era o 5o. Ir para os andares das minhas amigas já era uma tarefa mais árdua porque uma morava no 9o. e a outra no 12o. E por falar em 12o. Isso também era muito assustador. A casa de máquinas ficava dois andares para cima, chegava-se até ela através de uma escadinha que saía do 13o.andar que por si só já dava aquele toque de terror. Não sei se todo mundo sabe que uma casa de máquinas (pelo menos daquele tempo) faz uns barulhos bem ao estilo de "Os outros".

Veja quantas fantasias a mente infantil é capaz de criar. Eu não sei porque mas criança consegue ser bem cruel. Por mais que a gente tivesse medo, sempre fingia que não e tentava amedrontar os outros com as histórias que havia ouvido.

Certa vez, entramos no elevador, eu e minhas amigas e no chão tinha uma caixa de camisa. Sabe aquelas caixas retangulares onde a camisa fica guardada dentro de um plástico, com o colarinho e o punho bem fixos por alfinetes e barbatanas? Pois é. Era meio da manhã, horário que a fome já começava a bater. Descíamos do 9o. andar e vimos a caixa. Era comum as pessoas colocarem as coisas no elevador para outra pessoa pegar em outro andar. Crianças que éramos e meninas, curiosas, abrimos a tal caixa. Que para nossa surpresa e felicidade estava abarrotada de salgadinhos. Coxinhas, empadas, croquetes, salgadinhos desse tipo. E quentinhos. Claro que não tivemos dúvidas e enchemos cada uma a boca com um tanto de salgadinhos. E a caixa seguiu elevador abaixo quase pela metade.

Um tempinho mais tarde, bateu o medo. E se os salgados estivessem envenenados? Imagina se criança, que tem medo de elevador e da bruxa da Branca de Neve não ia uma hora ou outra chegar nessa conclusão né?

Bom, o fato é que ninguém morreu e os salgadinhos com certeza estavam deliciosos. Com um gostinho a mais por serem proibidos.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

O poder da gafe na internet

Um dia recebi um e-mail de uma amiga surtada. Parece que ela tinha tomado um vinho, fez um post inspirado e saiu disparando e-mails entusiasmados sobre o post. Tudo bem que eu já passei por essa experiência (de beber um pouco e escrever) mas respondi para ela:

"Tira a garrafa da criatura na frente do computador!"

Esse é o tipo de atitude que pode colocar alguém em situação difícil. Tem que evitar a internet nesses momentos. :)

Mas o pior mesmo é quando a criatura nem bebeu e sai por aí disparando e-mails sem sentido. Imagina a situação: você escreve um e-mail para a pessoa passando um texto legal. Uma hora depois, você recebe um e-mail dessa pessoa, toda preocupada, dizendo assim: "eu não vi que você tinha copiado um amigo, ainda bem que não escrevi (muita) besteira".

Páro para pensar: "mas eu não copiei nenhum amigo". Olho lá e o amigo está copiado. Será que estava tão distraída assim? Só que analisando o e-mail inicial, não só não era o do texto que eu havia passado no mesmo dia como era um e-mail de quase 1 ano antes. Onde havia um amigo copiado. E indo um pouco além, o que deveria ser direcionado para mim foi respondido com um reply all.

Não consegui dar o tom de comédia que eu queria para a história. Só posso dizer que no momento que percebi (mas não entendi) o que tinha acontecido, eu gargalhei de perder o ar por alguns minutos.

Estranhas coincidências

Certo dia viajei para uma cidadezinha do interior de São Paulo, dessas pequeninas e com charme. Lojinhas de artesanato, restaurantezinhos. Bateu uma fome no meio da manhã e eu entrei num café. As donas eram duas francesas, mãe e filha, que me acolheram com muita simpatia. Conversamos um pouco e elas me contaram que moravam em São Paulo mas mantinham aquele café e se revezavam para cuidar dele.

Umas duas semanas depois desse evento, eu estava passando por uma praça bem bonitinha que há perto de casa. Na verdade o farol fechou e eu parei. Pois exatamente na frente do meu carro, cruzou a francesa, a filha, com dois belíssimos cachorros. E eles ficaram passeando na praça.

Naquela mesma semana, de novo eu vi a francesa com seus cachorros. Depois, nunca mais os vi, ou não passei mais lá, ou não estava mais atenta.

Hoje passei pela mesma praça, por onde passo quase todo dia há muitos anos. E me lembrei dessa história. Fiquei refletindo sobre a quantidade de vezes que essas coincidências acontecem comigo.