quarta-feira, 29 de abril de 2009
De novo sobre o luto
Dirigi-me ao interior de São Paulo. Estrada vazia, tranquilidade, verde, curvas suaves e velocidade. Vou rezar para não ter passado por nenhum radar.
Entrei na cidadezinha adormecida. Poucos carros na rua, quase ninguém andando pelas ruas. Segui o caminho que o meu instinto mandou. No centro, característico das cidades de interior, uma dúvida. Utilizei a técnica de sempre. Perguntar a um transeunte que portava a característica de uma pessoa que mora no interior. Tranquilidade, presteza, gentileza. Após as tranquilas mas precisas instruções, cheguei ao meu destino.
Após estacionar o carro em frente ao cemitério, de novo dúvida. Dei "bom dia" para o jornaleiro, perguntei pelo velório e ele me apontou o local. Fui caminhando apressada pois já era quase hora da saída do cortejo. Rapidamente encontrei a sala correta. No meio da cantoria e do choro, consegui avistar minha amiga. Eu a vi e as lágrimas escorreram. A imagem de força com a qual estou acostumada, fragilizada pela dor. Chorei por ela e por mim. Eu me permiti chorar tudo o que não havia chorado no enterro do meu pai. Despida do orgulho, da responsabilidade, simplesmente fiquei ali, inerte, chorando ao som dos cânticos, observando as pessoas, tentando apreender os sentimentos de cada um presente.
Segui o cortejo até o local do sepultamento. Mais lágrimas. Sofridas.
Eu me comuniquei por e-mail com a minha amiga. Falamos sobre as perdas, sobre as providências a serem tomadas após a morte. Sobre mexer nos pertences das pessoas, destiná-las a doação, coisas do tipo.
Ela me contou sobre os momentos que antecederam a morte.
Fiquei pensando sobre isso. Sobre as mortes de pessoas queridas que eu precisei enfrentar até hoje. No fim acabei refletindo sobre algo que ela concordou comigo. Falei sobre o quanto é importante vivenciarmos estes últimos momentos. É algo de extrema dor mas que carrega em si algo de beleza. Eu jamais esquecerei da forma como a minha avó se despediu de mim antes de morrer. Jamais esquecerei da oportunidade de carinho que pude desfrutar com meu pai nos seus últimos momentos de vida. O quanto que o sofrimento provocou a nossa aproximação, experiências que nos melhores momentos de nossas vidas não fomos capazes de partilhar.
Fico então com a sensação, mais uma vez, de que mesmo na dor há uma beleza implícita. Recebemos a oportunidade de nos despir das vergonhas, das mágoas, dos traumas e de praticar a pura emoção, do amor incondicional. De aproveitar um momento único que jamais irá se repetir em nossas vidas. E que por isso, jamais será esquecido.
segunda-feira, 27 de abril de 2009
Sobre a paixão
domingo, 26 de abril de 2009
Da série: dúvidas existenciais infantis parte III
- Mãe, por que as modelos ganham tanto dinheiro? Assim, o trabalho delas é vestir umas roupas bonitas e passear na passarela. Eu não pagaria tanto dinheiro para elas. O que elas fazem? Só se cuidam para ter um corpo legal.
Silêncio.
Da série: dúvidas existenciais infantis parte II
- Mãe, por que a gente não consegue ver a cara da gente?
- Porque os olhos da gente só olham para a frente.
- Mas por que a gente não consegue ver a cara da gente?
Gesticulando:
- Porque para ver a cara da gente, o olho tinha que dar a volta assim, para ficar de frente para a gente.
- Ah, é mesmo.
Da série: dúvidas existenciais infantis parte I
- Mãe, qual o sentido da vida?
- Hein, você leu isso em algum lugar?
- Não, tava pensando aqui mesmo, porque a gente existe?
- Olha, se você descobrir, me conta?
- To falando sério, mãe. Pra que a gente existe?
Aumentando o som:
- N., escuta que música legal!!
sexta-feira, 24 de abril de 2009
O livro antes de dormir
Agora estou enfrentando o seguinte. Meu filho já lê bem e muito rápido. Mas ainda gosta que eu leia para ele. Então no outro dia, ele pegou um livro na página 15 e pediu que eu lesse até terminar o capítulo. No meio da leitura ele se vira para mim e diz: "você não está entendendo nada, né?". E eu: "não mesmo mas não me importo, vou lendo para você". Segui lendo o livro até a página 18 e paramos.
No dia seguinte, meu filho pediu que eu pegasse o livro novamente para ler. Só que desta vez, já estava na página 48 pois ele havia lido sozinho durante o dia. Ou seja, chance mínima de eu entender a estória.
O livro em questão é da série "Deltora Quest", não sei qual volume. No capítulo que eu li no outro dia, tinha um personagem que falava uma língua diferente mas que não era tão difícil de entender. Estranhei as primeiras frases mas quando percebi a formação das palavras, passei a ler rápido. Consistia em trocar todas as vogais sempre por "a". E em alguns casos as consoantes era substituídas para que a pronúncia ficasse correta.
Terminei de ler o capítulo e disse para ele:
- Baa naata. Darma bam.
- Baa naata. Darma bam vaça tambam.
Coisas de mãe nerd.
Ciúmes
Tem gente que sente ciúmes o tempo todo. Outros dizem que não sentem mas eu sinceramente acho que sentem só que não expressam. Talvez seja esporádico, é verdade. Mas algum dia na vida, qualquer um sente.
O fato é que situações como a descrita no post mencionado acontecem e são impressionantes. Porque a pessoa que sente ciúmes é invadida por pensamentos irracionais mas que são capazes de produzir estórias com encadeamento lógico em que tudo se torna justificativa para provar que a situação de traição ocorreu. Eu não sei se existe quem não sinta ciúmes. Mas confesso que já senti e por isso consigo imaginar como a tal mulher se sentiu.
O que a mulher sentiu, não foi nada bom. Ela se torturou durante dias, acabou torturando também o marido, por uma situação totalmente irreal, algo que não existiu.
Pensando racionalmente então, chegamos à conclusão de que o ciúme não vale a pena. Tem gente que ainda se agarra ao ciúme afirmando que se o objeto do ciúme não desse motivos, o ciúme não existiria. O fato é que o ciúme existe na cabeça de quem sente, mesmo que o outro não dê motivos.
Ciúme não provoca pensamentos e nem sentimentos bons. Ciúme não dá garantia de nada. Sentindo ou não ciúmes, se o outro um dia tiver que embarcar numa traição, ele vai fazer, independentemente dos cuidados que se possa crer que estejam sendo tomados devido aos ciúmes.
Creio que é muito difícil para quem está tomado pelos ciúmes pensar racionalmente. Mas estou aprendendo com o tempo que é possível reprogramar pensamentos. Quanto mais a gente elabora sobre o que é importante na vida para a gente, mais a gente consegue controlar as emoções para que elas não descambem para o lado negativo. E quem se beneficia desse controle somos sempre nós mesmos por isso vale a pena investir nesse aprendizado.
quinta-feira, 23 de abril de 2009
Realidade
segunda-feira, 20 de abril de 2009
Prometo que vou tentar não ser repetitiva
Sobre as pessoas especiais
O considerar alguém especial é algo íntimo e nem sempre perceptível pelo outro. Não é perceptível porque às vezes a outra pessoa está tão imersa no seu auto-julgamento que não consegue enxergar a forma como ela é de fato percebida por nós.
Eu tenho aprendido muitas coisas ao longo dos anos. Um dos grandes aprendizados, talvez o maior de todos, foi o do perdão. Eu tenho conseguido enxergar de tal forma o ser humano que tem sido muito difícil eu cultivar a raiva por alguém. Acho que raiva, todo mundo sente em algum momento. Não vou dizer que não sinto raiva. Mas ela vem como um sentimento leve, que não perdura.
No passado eu cultivei raiva muito profunda por pelo menos duas pessoas. Situações dessas de "cheque-mate" que a vida cria entre as pessoas. Percebi com o tempo que a raiva que eu sentia fazia muito mais mal a mim mesma do que aos outros. O sentimento ruim fica aprisionado dentro da gente nos corroendo enquanto que a outra parte nem se dá conta.
A vida quis que essas duas pessoas cruzassem a minha vida de novo e me procurassem para se desculpar. E o gesto, diante de uma pessoa mais amadurecida, contou tanto que eu consegui de verdade perdoar. E senti o valor libertador disso.
Sendo assim, posso dizer com tranquilidade que estou quase que imune à raiva. Eu prefiro ficar com os sentimentos bons, enriquecedores que a pessoa tenha me proporcionado. Afinal, somos todos humanos, querendo acertar mas nem sempre conseguindo. E o melhor que temos a fazer é aproveitar o que a vida nos oferece de bom e se tivermos que relembrar de algo, que seja das coisas boas.
domingo, 19 de abril de 2009
Sobre estar perdido
Engraçado como quando nos encontramos assim, somos cobrados por uma decisão, por um reposicionamento. Dependendo da extensão do que aconteceu para que nos sintamos assim, não é possível nos reestruturamos em velocidade "warp". Creio que a elaboração de um novo plano e de novos parâmetros ocorra no seu tempo, tempo que vai ser proporcional à dimensão do estrago que provocou o alienamento.
No outro dia vi duas pessoas conversando e uma delas dizia: "eu não sei o que fazer". Ao que a outra lhe respondeu: "se não sabe o que fazer, não faça nada". Pearls of wisdom. Pérolas gratuitas que a gente recebe quando menos espera.
De nada adianta então se apressar para elaborar um plano falso, baseado em incertezas. Muito melhor é parar, observar as tendências, tentar entender o que foi aprendido, até que aos poucos um novo objetivo vá se formando, baseado no real. Se não agimos assim, se perseguimos um objetivo que a gente sabe que precisa existir mesmo sem saber exatamente qual é, corremos o risco de errar ainda mais, almejando algo que pode não ser o que queremos exatamente ou utilizando-nos de um caminho torto para alcançar o que queremos mas que ainda não é possível.
Por último devo observar que ainda é melhor estar temporariamente perdido e consciente disso do que ter objetivos claros e não se dar conta de que a forma como se executa os planos não contém a paciência ou os princípios básicos que levam ao sucesso. Pois quando isso acontece, em algum ponto da vida o plano dá errado. E é aí que fica muito mais difícil se reposicionar. Pois reposicionar-se em cima de algo distorcido é muito mais difícil do que elaborar em cima do ético e do real.
Os sonhos e o sono
Concluí que isso aconteceu porque eu estava tranquila, feliz, sem preocupações e principalmente porque a minha noite de sono transcorreu sem interrupções.
Esfriou muito em São Paulo. As noites já começam a ser muito frias. Dormi na minha cama macia, enrolada (ou melhor, afundada, perdida) no meu edredon.
Sonho - Aranhas
Em seguida ao sonho dos gatos, eu sonhei que corria por dentro de um estacionamento porque chovia muito. O estacionamento era coberto por uma estrutura toda vazada de quadrados que por fim não protegia nada. Eu corria e me encharcava toda porque a chuva estava fortíssima.
Cheguei em casa. Minha empregada me disse que algo deveria ser feito pois de repente, muitos insetos começaram a invadir a casa. A gente não se dava conta mas aranhas de todos os tipos e outros insetos peçonhentos, desconhecidos para mim, mas que ela sabia nomear, andavam aparecendo e querendo entrar nos cômodos pelas janelas. Conforme ela me contava sobre os insetos, eu os visualizava de uma forma muito real, eles apareciam no sonho como se projetados a partir de um livro de ciências.
Eu fiquei tentando imaginar qual seria o melhor método de combate. Pensei na dedetização tradicional mas alguém me disse que não funcionaria. Essa situação me provocava tremendo pavor uma vez que sinto um medo incontrolável de insetos.
O sonho prosseguiu de novo com meus filhos e com brinquedos. Legos. Mas não lembro do final.
Sonho - Evento de doação de gatos
Meu filho começou a montar o brinquedo mas perdeu as instruções. Eu quis voltar para a área coberta onde havia muitos stands com demonstração de brinquedos e gatos. A entrada dessa área estava bloqueada por dois balcões. Havia uma apresentação de gatos acontecendo no momento, por isso o bloqueio.
Disse para a moça que eu gostaria de adotar um gato e se havia algum disponível. Ela me disse que não. Veio falar comigo um veterinário de óculos, cara muito sisuda. Ele disse que se eu me candidatasse, que no máximo em 2 semanas um gato era enviado para a minha casa.
Fiquei sentada por alguns minutos ali um pouco decepcionada. Fiquei refletindo sobre como isso acontece, da gente demorar para decidir algo e que às vezes quando a gente decide já pode ser tarde.
quinta-feira, 16 de abril de 2009
Aula de informática
Sobre o bom-humor
Dentre tantas as revisões que andei fazendo sobre a minha vida, em que foi inevitável entrar muitas vezes no passado, chamou-me a atenção o quanto o bom-humor, a brincadeira, a piada são constantes e importantes na minha vida.
Desde que me entendo por gente, começando com o meu pai e continuando com os amigos, sempre estive cercada ou talvez seja melhor dizer que sempre busquei pessoas com esse perfil. Boas gargalhadas, fazer graça de si mesmo, até nas situações adversas.
Reencontrei virtualmente há coisa de 1 ano, um grande amigo de faculdade. Nós nos correspondemos com frequência trocando lembranças com um toque de humor especial, exatamente como era na época da faculdade. Só que dessa vez, tudo em forma escrita, o que antes era vivenciado entre uma aula e outra ou num trabalho em grupo.
Recentemente ele me deu uma dica de um programa hilário que tem alguns episódios gravados no Youtube. O nome é: Larica Total. Trata -se de um programa de culinária com um cunho muito original. É um programa voltado para solteiros onde receitas bastante simples são passadas com recursos muito reduzidos, algumas vezes até bizarros. O lema do programa é que: só porque se está sozinho, não quer dizer que seja necessário morrer de fome. Ele tenta estimular a platéia a resolver seus problemas de fome, seja qual for a hora do dia, mostrando que não há porque ter preguiça de cozinhar.
Domingo foi um dia muito agradável e tranquilo e eu consegui assistir vários desses episódios e dar boas risadas.
Contei para ele que assisti o programa e que gostei muito e a resposta dele, que transcrevo ipsis-literis para não perder a comicidade que lhe é peculiar, foi:
"O primeiro, frango total flex, o do macarrão tb é bom (putz a hora que o cara derruba água da panela
e apaga o fogo e ele pára pra fazer uma faxina...é ótimo).
Tem tb um misto quente gratinado (bem sofisticado) que deve ficar gostoso.
Eu me identifiquei com o programa pq eu me vi nos meus tempos de flat, república...
Uma vez, eu e um amigo bebíamos e um outro criticou achando que deveríamos ser mais saudáveis.
Aí descemos fomos no supermercado e voltamos com ingredientes para fazer, de n sabores,
caipirinhas de gatorade !!!!
Teve tb miojo night, festa do salgadinho...a gente se virava rsrsrsrsrsrs".
É como eu sempre digo ultimamente. Bom-humor e coisas simples. Prazeres simples. Tá aí a chave da felicidade.
Aviso aos leitores
Volta e meia eu recebo uns e-mails de amigas ou amigos comentando: olha, acho que você deve andar triste porque achei os seus últimos posts muito melancólicos. Ou: você parou de escrever, o que está acontecendo?
Coincidentemente ontem eu comecei finalmente a ler o livro "Conversas com Woody Allen" e durante as entrevistas ele discute muito o processo criativo dele. Sem nenhuma pretensão, preciso confessar que me identifiquei com algumas coisas que ele diz logo no início do livro. Sobre os personagens terem a ver com ele, com as experiências dele. E o quanto que o público tenta captar das relações passadas dele através das situações dos filmes. E o que ele diz sobre isso é exatamente o que eu comentei com uma amiga minha certa vez. As histórias dos filmes dele têm a ver com fatos vividos não necessariamente por ele, às vezes tratam-se de observações de outros casais, de amigos. Ou podem ser algo que ele viveu, retratado de forma muito exagera da.
Assim acontece comigo também. Várias vezes acontece de eu estar muito feliz mas conversar sobre um tema melancólico com uma amiga e então vem uma idéia para um post, alguma idéia que eu gostaria de plantar na mente dessa pessoa e que eu acredito que tornaria a vida dela mais fácil. Ou o contrário. Posso estar melancólica ou com algum tipo de sofrimento e querer escrever algo alegre para levantar o astral.
De qualquer forma, fico muito lisonjeada que as pessoas estejam me acompanhando e se preocupando comigo.
Ter público é a grande graça de escrever. Principalmente quando a gente não precisa ter a preocupação de agradar. Sem metas a cumprir.
quarta-feira, 15 de abril de 2009
Competição invisível
Começa cedo, creio eu. Deve ser na infância que começamos a criar a nossa lista de quesitos para o sucesso ou insucesso. Sim, podemos ser muito cartesianos em se tratando de avaliação pessoal.
Quando a gente conversa com alguém num momento de auto-piedade e auto-comiseração, a gente observa essa lista aparecendo. A importância de cada tópico desta lista é atribuída segundo percepções pessoais. A pessoa se coloca numa competição invisível com ou sem parâmetro (leia-se por parâmetro, outras pessoas) para comparação. E em geral, o resultado é falha.
Pior do que isso é valorizar um único ponto de aparente falha diante de tantos outros conquistados. Parece que a gente tende a sofrer de uma amnésia quando estamos em crise. Se não tomamos cuidado, lembramos só da parte ruim e esquecemos das boas.
Outra coisa que observo é que ao longo do nosso desenvolvimento, nem sempre a nossa visão pessoal muda em relação a essa lista imaginária. Muitas vezes aquilo que considerávamos inadequado no passado já foi superado mas ao fazer o "checklist", a gente não consegue avaliar corretamente o status real diante do quesito listado. E atribuímos falha para algo que na verdade já ganhamos o "ponto".
Bom é quando passamos a enxergar nossas conquistas e atribuir corretamente os resultados. Nesse momento arriscaria dizer até que certos quesitos deixam de figurar da lista pois passam a ser conquistas reais e que jamais serão perdidas. Muito bom quando essa lista diminui. Tirando-nos dessa cansativa e muitas vezes inútil competição invisível. Competição que somente nós conhecemos, notas atribuídas por nós, competição que não tem ganhador ou perdedor a não ser dentro das nossas mentes.
Carpe Diem
Quem já acompanhou um paciente terminal ou já passou por uma situação em que sentiu a sua vida ameaçada de alguma forma, apreende, creio eu, o verdadeiro significado desta frase. Por "Carpe Diem", entenda-se não mudanças bruscas ou impulsivas. O "Carpe Diem" pode ser simplesmente desfrutar de uma pequena janelinha que se abre num dia que promete ser difícil. Pode ser observar o sol da manhã indo para o trabalho, desfrutar o aroma do café numa pequena pausa, o roçar dos lençóis macios e frios quando nos deitamos para dormir.
De um paciente terminal, tudo é roubado. O sabor dos alimentos, a liberdade de ir e vir, a visão, a lucidez.
Por isso é preciso aprender o real significado do "Carpe Diem". Para que ao menos se não for roubada a memória, ela sirva como saída para consolar e alimentar alguma esperança, quando for necessário.
Sem saída
Eu assisti esse filme no final da minha adolescência, início de idade adulta. Trata-se da estória de um professor que ingressa num colégio particular, daqueles muito tradicionais americanos e que vai conquistando aos poucos os alunos com suas idéias inovadoras. O "motto" dele é o "Carpe Diem", muito utilizado atualmente e que creio ter sido popularizado por esse filme. Ao longo da estória, há um aluno de excelente performance escolar com quem o professor acaba travando um relacionamento mais próximo. É emocionante perceber como o rapaz vai abandonando aos poucos a rigidez desnecessária e mostrando além dos atributos intelectuais, uma sensibilidade reprimida. Num determinado momento, quando o rapaz atinge a plenitude da sua descoberta, ele percebe que aquilo que havia sido traçado desde criança para ele pelos pais, não o faria completamente feliz no futuro. E ele resolve comunicar seus novos planos ao pai, que é igualmente ou mais autoritário e rígido que os princípios do colégio onde o menino estuda. É então, que na minha visão daquela época, o filme desanda. Porque ao receber a negativa do pai, o rapaz acaba se suicidando.
No fim, naquela época, acabei achando o filme ruim. Porque na minha visão, jamais um rapaz com aquele potencial poderia ter tomado uma atitude tão drástica. Eu vi a situação com os meus olhos de jovem criada numa sociedade mais liberal, cheia de sonhos e possibilidades.
Na vida, entretanto, o que parece incompreensível passa a ser dependendo daquilo que vivemos.
Houve um dia, no passado, em que uma situação corriqueira do cotidiano me provocou uma decepção tão grande que de imediato tive uma reação muito violenta e algo se rompeu dentro de mim. Era final de tarde, começava a escurecer. Eu costumo dizer que minha cabeça trabalha sozinha e a minha grande dificuldade é controlar os meus pensamentos que brotam desenfreados.
Naquele dia, após a explosão, minha cabeça se calou. Foi um emudecimento assustador. Se antes eu me assustava com o transbordamento de pensamentos, agora posso dizer que muito pior é não pensar em nada. Eu me sentei de frente a uma janela e durante quase 3 horas eu observei a chuva que caía na noite e chorei. Lágrimas escorriam pelo meu rosto e eu não pensava em nada. Havia um único pensamento muito ao longe, no fundo da minha mente. Algo assustador e doloroso de confessar, algo que reverberava de leve no fundo do vazio, no buraco negro em que eu me encontrava naquele instante.
Saindo da minha letargia eu lembro que tentei ver televisão e que depois dormi. Um sono sem sonhos ou pensamentos. Vazio.
Quando acordei, já mais próxima do meu estado normal, embora triste e esgotada, eu me dei conta de que eu havia sentido o que sente uma pessoa que se suicida: sem saída. É algo duro de admitir, até porque depois que passa, a gente percebe que há saída. Mas em determinados momentos da vida, essa sensação irracional pode invadir qualquer um, percebi eu. Até mesmo nos momentos aparentemente mais improváveis, como resultado de um acúmulo de decepções e do aprisionamento pessoal. Graças a Deus o meu senso de auto-preservação foi muito maior e eu pude sobreviver para enxergar a saída.
quarta-feira, 8 de abril de 2009
A importância do futebol
O sabor de um Alpino
Eu devia ter uns 3 anos de idade. Meu pai trabalhava e estudava e eu o via pouco. Não me recordo de vê-lo pela manhã. Recordo-me dele à noite quando chegava e me trazia figurinhas para um álbum da Hanna Barbera e um Alpino. Durante muito tempo, no meu registro de tempo infantil foi assim: um Alpino por noite.
Abrir aquela "empadinha" de chocolate tinha um significado mágico para mim. Eu observava as curvinhas que o chocolate fazia na lateral, e o papel alumínio que desgrudava dele. O sabor do chocolate era diferente. Mais intenso, mais espesso.
Há coisas que hoje eu como e não têm mais o sabor de antigamente. Bolinho Ana Maria, por exemplo. Parece que algo mudou na receita, ou eu que mudei a percepção, vai saber.
segunda-feira, 6 de abril de 2009
Sobre as despedidas
A cultura e as diferenças
Dentre todas as histórias que ele me contou, a única que fixou na minha mente foi talvez a que eu achei mais bizarra, mais divertida. Ele dizia que era muito difícil viver por lá sozinho, o povo era muito fechado e era um tanto difícil fazer amizades. Sendo assim, não era incomum que ele fosse sozinho ao cinema.
Ele chegava no cinema e se deprimia um pouco ao ver os casais juntos se divertindo enquanto ele ficava sozinho. Pois um dia, ele observava um casal muito amoroso que levava um saquinho de papel pardo, com balas e bombons, imaginava ele. Eis que o namorado, muito zeloso e gentil abre o saquinho e tira de lá exatas duas bananas. E os pombinhos, felizes, começam a descascá-las e a comê-las antes do filme.
Explicação para a cena é: na Coréia, pelo menos naquela época, frutas tropicais eram artigo de luxo, caríssimas. E isso explica o gesto de amor praticado pelo dedicado namorado.
sexta-feira, 3 de abril de 2009
Caixa de Pandora - o mico do concurso
Eu tinha uma amiga por volta de uns 14, 15 anos com quem acontecia uma coisa meio irritante. A gente de vez em quando dava de gostar do mesmo cara. Nesta ocasião em particular, cada uma tinha um target diferente. E nos unimos no mesmo objetivo, numa missão.
A gente estudava em frente ao Maracanã. No final de semana anterior, a gente tinha ido numa matinê de um clube do bairro, local que frequentávamos em domingos alternados. Acontece que batendo papo com os "targets" na matinê, descobrimos que durante a semana eles iam participar de uma prova de ingresso a uma escola militar.
Pensando em como nós duas éramos, creio que a idéia só pode ter sido minha, porque eu sempre tive muita imaginação. Combinamos de depois da saída do colégio andar por dentro do Maracanã (que a gente conhecia bem porque frequentava umas aulas de natação e ginástica olímpica por lá) e achar o local da prova para encontrar os nossos amigos. Andamos pelos portões até que encontramos o portão de entrada. Vou dizer que a passagem pelo portão já foi suficientemente constrangedora. O que a gente não calculou é que num concurso onde são oferecidas centenas de vagas, o número de participantes é algo na casa dos milhares. Então tivemos que atravessar por aquele portão, de dentro do Maracanã para a calçada de fora, de cabeça baixa, pois tratava-se de um concurso exclusivamente masculino. Presenças femininas no máximo eram de umas mães perdidas por lá.
Passado o sufoco do portão, pasmem: encontramos os nossos amigos. Encontramos, papeamos e resolvemos voltar por fora do Maracanã para evitar o constrangimento do portão novamente. O lado do Maracanã era o que dava para a UERJ e a gente tinha que voltar para uma das ruas que dava acesso para a Rua S. Francisco Xavier.
Seguimos caminhando pela calçada e nela há um ponto em que ela fica muitíssimo larga, com uma grande passarela que se não me engano, vai para o metrô ou atravessa para a UERJ, não sei ao certo. A passarela estava inteiramente tomada por meninos sentados, aguardando o início do concurso. Comentamos entre nós a quantidade de "gente" que havia ali, novamente muito envergonhadas. Não bastasse a nossa vergonha pelas gracinhas que já tínhamos escutado no maldito portão, quando chegamos mais ou menos no meio do caminho para a "liberdade", bem em frente a tal passarela, um desgraçado resolveu levantar, apontar para nós e instigar os outros que estavam sentados por ali. Resultado? Centenas de garotos levantando, apontando para nós, aplaudindo e assoviando.
Saímos correndo de lá, tomadas pela vergonha e pelo medo de sermos descobertas por nossos pais. O normal seria chegarmos em casa por volta de meio-dia e meia. Naquele dia chegamos pra lá de uma hora da tarde. Meu pai era muito bravo e ficava em casa durante o dia porque ele trabalhava de madrugada. Eu nem me lembro qual foi a desculpa que inventei. A única coisa que me lembro é que rezava para que o carro da Globo que andava por lá, com repórteres entrevistando os candidatos não tivesse presenciado a cena e nos registrado no RJ TV....
Como Gilmore Girls
reganhar2 re.ga.nhar2(contr de arreganhar) vint 1 desus Tiritar de frio; arreganhar-se. 2 Morrer (o animal) arreganhando os dentes."
Prazo de expiração dos segredos
Fiquei pensando então: que ao longo da vida a gente vai coletando esses segredos e chega um momento em que a gente se sente livre para contar, para admitir. O que antes parecia gravíssimo, com o tempo passa a ser até cômico, divertido. É por isso que tem esses velhinhos que chegam aos 80, 90 anos com muita história para contar. E a roda se forma em volta para ouvir. Histórias reais, sejam de dificuldades, bonitas ou engraçadas, se contadas por quem viveu, ficam sempre mais interessantes.
Só falta agora eu querer abrir aqui a caixa de Pandora... hehehehehe
Brinquedo novo
A vontade de criar essa ferramenta surgiu ontem quando eu comecei a escrever um post e me lembrei vagamente de já ter falado sobre o assunto antes.
Consegui adicionar o gadget hoje pela manhã e está funcionando bem, embora não bonitinho; melhor seria se eu tivesse hospedado os resultados dentro do blog mas fiquei com preguiça de procurar o resto.
O fato é que consegui fazer minha pesquisa dentro do blog. Descobrir quantas vezes falei sobre elevadores. E o fato é que falei 11 vezes, inclusive no post onde conto o pesadelo que me perseguia. Daqui a pouco vou ter que criar um marcador só para elevadores.
quinta-feira, 2 de abril de 2009
Elevador polonês
Pois é, menino é assim mesmo. Eles têm essas brincadeiras.
Não que eles fossem bater na gente, não batiam, mas se desse um azar de estar perto na hora, podia sobrar alguma coisa para as meninas também. Isso acontecia quando eu tinha lá pelos meus 11 anos.
Anos mais tarde, uma das minhas melhores amigas mudou-se para um prédio quase ao lado do meu. E eu ia lá com muita frequência. O irmão dela tinha muitos amigos e a gente acabava conversando muito com eles, jogando WAR, essas coisas mais de adolescentes. Nós éramos as únicas duas meninas de um grupo grande de meninos. Eventualmente vinha uma terceira.
Pois aos 16 anos mais ou menos, a história se repetia. Porque quando os nossos amigos entravam no elevador, que tem apenas 4 cantos, eles corriam cada qual para um canto. E quem sobrasse no meio, ia apanhando do térreo até o último andar, onde a minha amiga morava. Ou o contrário. Da cobertura até o térreo. E posso dizer, que por pelo menos umas duas vezes, eu e minha amiga nos metemos no meio da confusão, sem efetivamente apanhar, mas assustadas com a confusão de um elevador chacoalhando, onde se distribuiam socos e ponta-pés.
Menina que convive com menino é assim. A gente não entende porque eles fazem essas coisas. Mas a gente acaba se acostumando.
Sobre elevadores
De início, usar o elevador foi uma experiência assustadora. Eu que até então subia 3 lances de escada para chegar até o meu apartamento antigo, tive que superar a experiência de pegar um elevador. Afinal, quem é que nunca tinha ouvido histórias amedrontadoras de elevadores caindo ou de pessoas que abriam a porta e caiam direto no vão do elevador, né. Fora ficar preso no elevador, que também era uma possibilidade aterrorizante.
Eu que sempre fui baixinha, precisava me esticar para apertar os botões. Por sorte eu conseguia alcançar bem o meu andar que era o 5o. Ir para os andares das minhas amigas já era uma tarefa mais árdua porque uma morava no 9o. e a outra no 12o. E por falar em 12o. Isso também era muito assustador. A casa de máquinas ficava dois andares para cima, chegava-se até ela através de uma escadinha que saía do 13o.andar que por si só já dava aquele toque de terror. Não sei se todo mundo sabe que uma casa de máquinas (pelo menos daquele tempo) faz uns barulhos bem ao estilo de "Os outros".
Veja quantas fantasias a mente infantil é capaz de criar. Eu não sei porque mas criança consegue ser bem cruel. Por mais que a gente tivesse medo, sempre fingia que não e tentava amedrontar os outros com as histórias que havia ouvido.
Certa vez, entramos no elevador, eu e minhas amigas e no chão tinha uma caixa de camisa. Sabe aquelas caixas retangulares onde a camisa fica guardada dentro de um plástico, com o colarinho e o punho bem fixos por alfinetes e barbatanas? Pois é. Era meio da manhã, horário que a fome já começava a bater. Descíamos do 9o. andar e vimos a caixa. Era comum as pessoas colocarem as coisas no elevador para outra pessoa pegar em outro andar. Crianças que éramos e meninas, curiosas, abrimos a tal caixa. Que para nossa surpresa e felicidade estava abarrotada de salgadinhos. Coxinhas, empadas, croquetes, salgadinhos desse tipo. E quentinhos. Claro que não tivemos dúvidas e enchemos cada uma a boca com um tanto de salgadinhos. E a caixa seguiu elevador abaixo quase pela metade.
Um tempinho mais tarde, bateu o medo. E se os salgados estivessem envenenados? Imagina se criança, que tem medo de elevador e da bruxa da Branca de Neve não ia uma hora ou outra chegar nessa conclusão né?
Bom, o fato é que ninguém morreu e os salgadinhos com certeza estavam deliciosos. Com um gostinho a mais por serem proibidos.
quarta-feira, 1 de abril de 2009
O poder da gafe na internet
"Tira a garrafa da criatura na frente do computador!"
Esse é o tipo de atitude que pode colocar alguém em situação difícil. Tem que evitar a internet nesses momentos. :)
Mas o pior mesmo é quando a criatura nem bebeu e sai por aí disparando e-mails sem sentido. Imagina a situação: você escreve um e-mail para a pessoa passando um texto legal. Uma hora depois, você recebe um e-mail dessa pessoa, toda preocupada, dizendo assim: "eu não vi que você tinha copiado um amigo, ainda bem que não escrevi (muita) besteira".
Páro para pensar: "mas eu não copiei nenhum amigo". Olho lá e o amigo está copiado. Será que estava tão distraída assim? Só que analisando o e-mail inicial, não só não era o do texto que eu havia passado no mesmo dia como era um e-mail de quase 1 ano antes. Onde havia um amigo copiado. E indo um pouco além, o que deveria ser direcionado para mim foi respondido com um reply all.
Não consegui dar o tom de comédia que eu queria para a história. Só posso dizer que no momento que percebi (mas não entendi) o que tinha acontecido, eu gargalhei de perder o ar por alguns minutos.
Estranhas coincidências
Umas duas semanas depois desse evento, eu estava passando por uma praça bem bonitinha que há perto de casa. Na verdade o farol fechou e eu parei. Pois exatamente na frente do meu carro, cruzou a francesa, a filha, com dois belíssimos cachorros. E eles ficaram passeando na praça.
Naquela mesma semana, de novo eu vi a francesa com seus cachorros. Depois, nunca mais os vi, ou não passei mais lá, ou não estava mais atenta.
Hoje passei pela mesma praça, por onde passo quase todo dia há muitos anos. E me lembrei dessa história. Fiquei refletindo sobre a quantidade de vezes que essas coincidências acontecem comigo.