quarta-feira, 15 de abril de 2009

Sem saída

Se tem uma coisa que eu odeio é quando me contam o final de um filme e portanto eu sempre evito fazer isso. Vou ter que contar o final de "Sociedade dos Poetas Mortos" para me fazer entender, entretanto. Quem quiser se preservar, pode parar por aqui.

Eu assisti esse filme no final da minha adolescência, início de idade adulta. Trata-se da estória de um professor que ingressa num colégio particular, daqueles muito tradicionais americanos e que vai conquistando aos poucos os alunos com suas idéias inovadoras. O "motto" dele é o "Carpe Diem", muito utilizado atualmente e que creio ter sido popularizado por esse filme. Ao longo da estória, há um aluno de excelente performance escolar com quem o professor acaba travando um relacionamento mais próximo. É emocionante perceber como o rapaz vai abandonando aos poucos a rigidez desnecessária e mostrando além dos atributos intelectuais, uma sensibilidade reprimida. Num determinado momento, quando o rapaz atinge a plenitude da sua descoberta, ele percebe que aquilo que havia sido traçado desde criança para ele pelos pais, não o faria completamente feliz no futuro. E ele resolve comunicar seus novos planos ao pai, que é igualmente ou mais autoritário e rígido que os princípios do colégio onde o menino estuda. É então, que na minha visão daquela época, o filme desanda. Porque ao receber a negativa do pai, o rapaz acaba se suicidando.

No fim, naquela época, acabei achando o filme ruim. Porque na minha visão, jamais um rapaz com aquele potencial poderia ter tomado uma atitude tão drástica. Eu vi a situação com os meus olhos de jovem criada numa sociedade mais liberal, cheia de sonhos e possibilidades.

Na vida, entretanto, o que parece incompreensível passa a ser dependendo daquilo que vivemos.

Houve um dia, no passado, em que uma situação corriqueira do cotidiano me provocou uma decepção tão grande que de imediato tive uma reação muito violenta e algo se rompeu dentro de mim. Era final de tarde, começava a escurecer. Eu costumo dizer que minha cabeça trabalha sozinha e a minha grande dificuldade é controlar os meus pensamentos que brotam desenfreados.

Naquele dia, após a explosão, minha cabeça se calou. Foi um emudecimento assustador. Se antes eu me assustava com o transbordamento de pensamentos, agora posso dizer que muito pior é não pensar em nada. Eu me sentei de frente a uma janela e durante quase 3 horas eu observei a chuva que caía na noite e chorei. Lágrimas escorriam pelo meu rosto e eu não pensava em nada. Havia um único pensamento muito ao longe, no fundo da minha mente. Algo assustador e doloroso de confessar, algo que reverberava de leve no fundo do vazio, no buraco negro em que eu me encontrava naquele instante.

Saindo da minha letargia eu lembro que tentei ver televisão e que depois dormi. Um sono sem sonhos ou pensamentos. Vazio.

Quando acordei, já mais próxima do meu estado normal, embora triste e esgotada, eu me dei conta de que eu havia sentido o que sente uma pessoa que se suicida: sem saída. É algo duro de admitir, até porque depois que passa, a gente percebe que há saída. Mas em determinados momentos da vida, essa sensação irracional pode invadir qualquer um, percebi eu. Até mesmo nos momentos aparentemente mais improváveis, como resultado de um acúmulo de decepções e do aprisionamento pessoal. Graças a Deus o meu senso de auto-preservação foi muito maior e eu pude sobreviver para enxergar a saída.

2 comentários:

Anônimo disse...

também não entendi o filme quando o vi da primeira vez, mas não pelo mesmo motivo que vc. não ' pesquei ' a rigidez e o moralismo excessivos do colégio, por isso não entendi pq o professor tinha sido feito de bode expiatório pelo suicídio do rapaz...
mas vamos ao seu assunto: já me senti sem saída inúmeras vezes... por vezes costumava repetir aquela fala do filme titanic" se vc não se libertar, o fogo que existe dentro de vc morrerá'... já senti por vezes que o fogo que ardia dentro de mim, estava sendo apagado, que estavam jogando água. como se eu fosse a Rose do filme, e não tivesse nenhum Jack me puxando qdo tentei pular do navio...
Mas voltando ao filme que vc citou: belíssimo... tenho na minha coleção e choro toda vez que vejo o conflito desse rapaz com o pai e com aquilo que ele realmente ama fazer, que é teatro. sou aluna de teatro hoje, e por isso consigo compreender mais ainda. digo, mais, sou médica e aluna de teatro. a vida liberal que levo, a educação que recebi me permitiram entrar nesse caminho. mas aquele rapaz?? o pai queria que se fosse só médico, e nada mais. já imaginou que peso e que responsabilidade nos ombros de um rapaz de 18 anos?? sei do que to falando, pq medicina é lindo, mas desgasta, só pode fazer quem ama. imagina quem não ama e se identifica com algo totalmente diferente.. esse filme é lindo em tds nuances.. parabéns pelo post. beijos.

Lilly disse...

Pois é, Val. Já disse aqui várias vezes que a gente só consegue apreender a profundidade de um sentimento quando se vê numa situação parecida com a do outro. Na minha realidade, situação como a dele não cabia já que meus pais me deram relativa liberdade, com os limites adequados, eu diria. Mas para meu espanto, prisão que me parecia possível ser imposta somente pelos pais, pode vir através de outros relacionamentos, e o pior, escolhidos pela gente. E a gente não percebe que se colocou naquela situação. Muito obrigada pelo comentário! Desculpe a demora... ando super enrolada com uns projetos. Mas assim que der coloco as leituras em dia.

Beijos!