quinta-feira, 23 de abril de 2009

Realidade


Estava pensando aqui sobre a dificuldade da gente em perceber a realidade no que diz respeito a pessoas e sentimentos.

Quando a gente olha para um objeto, percebe-o do ponto de vista real: "esta caneta é transparente, de tampa azul e lisa".

Olhamos para as pessoas e parece quase impossível fazer essa análise. Porque quando olhamos para as pessoas, não conseguimos perceber o que está diante de nossos olhos. Imediatamente imprimimos neste olhar um tanto de suposições, expectativas, sentimentos implícitos, preconceitos ou mesmo traumas que tornam a imagem difusa e distanciada da realidade. Há momentos em que o turbilhão de sentimentos é tão grande que somos capazes de distorcer totalmente o que vemos, criando uma história paralela dentro da nossa mente, onde situações hipotéticas tomam força e criam algo fantástico que, nem sei porque, acaba derivando em conclusões negativas.

Pensando bem, nem sei se há realidade no que diz respeito a pessoas. Pessoas não são estáticas. Elas agem conforme o momento que estão passando, de acordo com seus sentimentos. Uma pessoa pode ter boas intenções e ser obrigada num determinado momento a tomar uma decisão que pode ser mal interpretada pelos que estão ao redor. Ou podemos olhar uma determinada ação e não enxergar a ação pura e simples. Um exemplo: uma pessoa faz uma caridade. Pergunte para várias pessoas e as respostas podem divergir. "Ah, ela é uma pessoa muito boa, realmente" ou "Penso que ela fez isso porque estava de consciência pesada, queria se redimir de algo" ou "Fulana é muito exibida, fica se fazendo de boazinha para impressionar os outros". No fim fico pensando, das três interpretações, qual a correta?

Talvez não haja a interpretação correta. Mas pode ser que exista uma interpretação que leve a sentimentos bons, que nos dê paz de espírito. Diria que é muito cansativo ficar olhando as coisas e tentando discernir o que de fato é a verdade sendo que a verdade muitas vezes não existe. É relativa. Então, seria bom simplificar tudo isso. Olhar a pessoa que fez a boa ação e reconhecer: puxa, isso que ela fez foi muito bom. Não interessa a motivação.

Lógico que não estou defendendo que fechemos nossos olhos para todo o mal do mundo. De repente o mundo ficou lindo e todas as pessoas são boas. Não é isso. O que eu gostaria de invocar é a capacidade de olharmos para as pessoas com menos níveis intangíveis, menos subjetividade.

Talvez isso tornasse os relacionamentos muito mais fáceis.

3 comentários:

André Lima disse...

É, o outro é sempre a possibilidade de um espelho. No fim a gente só fala é de nós mesmos.
Entendi e apoio mesmo a tua proposta, portanto.

"Quem está diante do sol e fecha os olhos, começa a pensar muitas coisas cheias de calor./ Mas abre os olhos e vê o sol!/ Então já não poderás pensar mais nada..."

Barbara disse...

Sabe, li uma vez um texto sobre o "eu" muito interessante e que me marcou muito. Agora não me lembro o nome do autor mas é um cara super famoso. Resumidamente o que ficou é que somos algo na relação com o outro, se não houvesse o outro não nos perceberíamos. É fácil entender quando retornamos a relação primeira de nossas vidas: mãe-filho. Isso abre mil possibilidades. Assim, realmente, poderíamos olhar esse outro com um olhar mais fraterno. Porque, afinal, estamos todos juntos nessa caminhada maior que é a VIDA. Super beijo, amiga!!!

Lilly disse...

André,
finalmente estou começando a entender a poesia da vida...

Babi,
é isso mesmo... somos pessoas diferentes em cada relação. Não havia me dado conta disso. Cada pessoa, dependendo do papel na nossa vida, desperta um lado diferente. Por isso não somos estáticos, estamos em constante transformação... Que medo! rsrs