sábado, 30 de maio de 2009

Tribos

Eu voltei a andar de metrô. Minha experiência com o metrô me traz sensações tão diversas que poderia escrever posts e posts sem fim. Metrô e caminhada. Caminhada também me faz pensar. Sempre.

Tenho "freqüentado" a estação Conceição do metrô. Estação antes desconhecida para mim. Chego sempre apressada, sempre atrasada. Ontem, ao contrário do normal, voltei para casa sem hora, sem preocupação. E voltei por uma entrada diferente do metrô. Por um lado bastante movimentado, escadarias e marquises. Neste lado, por onde eu ia, me deparei com uma cena inusitada. Dezenas de grupinhos de adolescentes, tribos particulares, adolescentes vestidos de forma singular, ou nem tanto, singular para eles talvez mas deixando de ser singular a partir do momento em que eles passaram a receber uma classificação.

Emo? Anime? Clubber? Nem sei ao certo classificar aquelas tribos. O que me chamou a atenção não foi a classificação em si, foi o conceito. Me explico:

Olhando aqueles grupinhos de adolescentes, na verdade, foram apenas segundos de observação, eu me dei conta agora de que podia até ter parado, observado com mais atenção, me prolongado mais. O que eu captei naqueles segundos, naquela passagem pela entrada do metrô, foi a necessidade que temos de nos auto-classificar e de sem querer classificar os outros.

Sim, podemos nos considerar descolados. Podemos dizer para nós mesmos: "sou eclético, tenho uma mente aberta e não julgo as pessoas". Mas o fato é que se nos dermos conta, paramos algumas vezes por dia para observar as pessoas e avaliar. Medimos os gostos, as atitudes, analisamos as amostras e emitimos uma conclusão, uma avaliação. O objetivo? Quase sempre coerência. Combinamos variáveis como se houvesse regra pré-estabelecida. Ela gosta de academia + Lê Clarice Lispector = "incoerência", há algo errado.

Sim, alguns, mais do que outros talvez. Cerebrais, melancólicos, intelectuais, instrospectivos. Não sei classificar ao certo. Pessoas que buscam incessantemente uma coerência de gostos e atitudes. Perdem-se no mundo virtual, não no sentido de internet, um mundo virtual existente desde sempre, naquele mundinho próprio que somente eles habitam. Sem querer, por mais descolados, sim somos pessoas singulares, diversas, compreensivas, incompreendidas, buscando ao contrário do que parece, o conceito da normalidade, dentro da anormalidade que é onde nos classificamos.

Olhando aqueles grupinhos de adolescentes, tão distintos e desconhecidos ao meu mundo particular, foi assim que me senti. Cidadã do mundo, experiente nas coisas da vida e da cidade grande, surpreendida por uma cena desconhecida, vestimentas nunca antes vistas, crenças e pensamentos desconhecidos. Eu me senti ignorante por alguns segundos, alienada. Eu me dei conta das fronteiras do meu conhecimento. Eu viajei na imaginação, me entreguei à fascinação do desconhecido e da complexidade da natureza humana.

Um comentário:

3 x Trinta - Solteira, Casada, Divorciada disse...

Oi Lilly,

Como usuária do Metrô todos os dias, me identifiquei com vc. São Paulo faz a gente se sentir assim, né? No meio de um mundo de possibilidades. Gosto disso.

Beijos e bom sábado,

Bela