quinta-feira, 5 de março de 2009

Eu recebi uma dádiva

Uma não. Várias. Recebi a dádiva de ter uma mente imaginativa. O que me traz benefícios e também dor. A dádiva de ter sensibilidade apurada. E de ter uma filha muito parecida comigo.

Nós temos uma vasta biblioteca infantil. Eu adoro comprar livros para os meus filhos. Compro, leio sozinha e depois com eles. Certa vez, comprei um livro chamado "Quem tem medo de monstros". Achei que meu filho ia gostar porque desde cedo ele se interessa por monstros, naves espaciais, estórias com perfil mais de aventura.

Ontem minha filha pediu para eu ler um livro antes de dormir. Resolvi procurar algo diferente e me deparei com o tal livro. Começamos a ler, o monstro apareceu na estória e várias perguntas surgiram. Notei um certo tom de apreensão. Na medida em que o monstro começou a se aproximar mais do menino e a aprontar algumas travessuras, as mãozinhas dela seguraram o meu braço e permaneceram agarradas até que a estória terminasse.

O problema é que o monstro no livro desaparece sem explicações. Ainda bem que eu me lembro de como era na idade dela. As coisas que eu imaginaria em cima de um livro desses. Tratei de dar alguns esclarecimentos para ela. Que o menino poderia ter dormido e sonhado. Ou que ele quis se divertir e inventou na cabeça uma estória fantástica que se tornou a brincadeira dele. Falei algumas outras coisas e ela se acalmou.

Ela me perguntou porque o monstro do livro era tão feio, com tantas pintas e chifres. E eu disse para ela: "você gosta de desenhar também né? E você também desenha monstros. Quando você desenha, não faz o máximo para que o seu monstro fique bem amedrontador?", ela assentiu. "Pois com o autor deste livro também é assim. Ele queria que você achasse que o monstro dele também era amedrontador".

Resolvendo pendências do passado....

Hoje minha filha acordou de excelente humor.

Um comentário:

Cacau! disse...

Eu recebi a dádiva de ter uma filha completamente diferente de mim... Fico constantemente encantada com sua criatividade, comparando-a ao meu senso prático; ela, a fantasia, eu, o pé no chão. Pure magic... Mas acho que muitas vezes acabo sufocando-a, e isso me deixa muito infeliz. Culpa de mãe.