quarta-feira, 18 de março de 2009

Fala comigo...

O maior motivo de reclamação e desentendimento entre eu e o meu pai quando eu era adolescente era o telefone. Eu pegava no telefone e tinha a capacidade de conversar durante horas.... sério mesmo, por horas digo, três, quatro horas. Meu pai dizia para mim: pelo menos liga depois das oito. Eu pegava o telefone depois das oito da noite e ficava às vezes até meia-noite. Aí a reclamação mudava: você não pode ficar tanto tempo. E se alguém precisar ligar para falar algo importante?

Fiquei lembrando disso e de como a comunicação atual mudou. No modelo antigo, telefone tradicional, sem nenhum recurso tecnológico, o telefone tocava, a gente atendia, falava... sentimentos eram percebidos ou intuídos pelo tom de voz e pela mudança na modulação. Pausas, respiração. Era possível enganar? Sim, mas era um pouco mais difícil.

Veio o celular, o rapport já mudou de figura. "Ah, desculpe, a ligação tá falhando". Desliga-se o celular com a desculpa de que o sinal está ruim. Toca o telefone, aquela olhada no visor para ver quem é e se decidir se vai atender ou não.

MSN? As pessoas conversam, tem os emoticons que simulam os sentimentos. Simulam sim porque a pessoa tá ali, de saco cheio mas manda uma carinha feliz. Tem o offline, o bloqueio, várias conversas paralelas, a conexão cai e gera um mal-entendido.

Estamos cada vez mais ligados e dependentes da tecnologia. É impossível não perguntar onde isso vai chegar. Quando eu era criança, subia no andar das minhas melhores amigas, tocava a campainha e encontrava as pessoas ali, do jeito que estivessem. Descabeladas, de pijama, alegres ou tristes. E a gente se gostava assim mesmo. Agora, a gente fala no celular, recebe um torpedo da amiga desmarcando o encontro, fala no msn, sem ter nenhuma idéia do que se passa do outro lado.

Eu não sou contra a tecnologia. Dependo dela e me utilizo dela inclusive para lazer. Só fico me perguntando às vezes se ao ingressarmos cada vez mais no mundo virtual não estamos deixando de lado o simples da vida que também é bom. Fico pensando se não há um preço nessa troca. Se o preço não é que estejamos tornando os sentimentos reais em sentimentos virtuais.

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