A avó a levava para a escola todos os dias. Não saberia dizer quanto tempo antes da entrada ela saía de casa. Certamente um tempo considerável já que o caminho era cheio de paradas obrigatórias.
Primeiro tinha o murão de pedra. Olhando para cima avistava um prédio. Entre as pedras do muro nasciam centenas de florezinhas amarelas que gostava de colher. Mais tarde, quando era mais velha disseram-lhe que o prédio era um convento, possivelmente de Carmelitas.
Cada casa no caminho com suas cores, jardins e portões. Tudo era observado em detalhes. A última casa antes de terminar a rua era bastante sombria, ar de mau-cuidada. Mas nem por isso menos interessante. Talvez fosse até a mais interessante da rua. Acontece que transbordavam para fora de sua cerca amoreiras. Pegava as amoras mais vermelhinhas e comia ali. Nem eram tão gostosas. Azedinhas, bem azedinhas. Mas era o prazer inusitado de comer a fruta no pé. E ainda por cima uma fruta tão exótica.
Na esquina havia uma padaria. E ao pé da geladeira de sorvete estava sempre deitado um gato. Listrado de branco e laranja, dócil. Gostava que lhe acariciassem o pescoço e a cabeça. Ela tinha certeza de que o felino já a conhecia e aguardava a sua chegada, sempre naquele horário. Antes do colégio.
A aula terminava, era hora de voltar para casa. A volta exigia uma sutil mudança. É que na volta o interessante era a calçada do outro lado. Uma das primeiras casas do outro lado era verde-água. Como quase todas daquela época, tinha um pequeno jardim, piso de ladrilho vermelho quebrado em mosaico. E solto no jardim, um cão muito dócil. Veja que não era um cão qualquer! Era igualzinho à Lassie. O cão se deixava tocar na cabeça por entre as grades. Certa vez disse-lhe a dona que ele se chamava Ach.
Saltitava. No verão havia uma planta com cheiro acre que lhe incomodava o nariz. Amendoeiras com suas folhas grandes. Catava os frutos no chão. Quase chegando no seu prédio, duas ou três casas parecidas, daquelas que nem pareciam de cidade. Jardim comprido na frente, vegetação densa de um lado e do outro e um estreito caminho no meio que levava até a casa lá no fundo. Casinhas com porta no meio, entre duas janelas.
Mesmo depois de adulta o caminho para a escola aparecia-lhe em sonhos. Muito real. Como se nenhum tempo tivesse passado desde a sua infância. Às vezes andava para a escola. Em outras passeava na sua bicicleta de rodinhas.
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