segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Julgamento, culpa, visão, medo

Estou aqui com tantos pensamentos, constatações e insights. Queria dividir tudo isto com as pessoas, falar sobre o que tenho aprendido mas é difícil. Difícil de se organizar e difícil de me fazer entender. É aquilo que eu sempre falo, da constatação, do "cair a ficha". A gente fica preso nuns pensamentos, sem ver saída. Um belo dia acontece algo, vem o clarão e a gente enxerga o erro. E tenta melhorar. Por mais que a gente tente explicar isto para outra pessoa, na maior parte das vezes não é possível. A pessoa compreende o que a gente diz mas não consegue praticar. Ou nem alcança o ponto de vista. Tem que sentir na pele para aprender. E às vezes nem aprende.

Estou percebendo o seguinte. A gente nasce míope. Aprendemos um monte de regras ao longo da infância, da adolescência, regras mínimas para nos tornarmos seres aptos a viver em sociedade. Algumas vezes aprendemos regras de mais, outras de menos. Estas regras fazem com que olhemos para os outros e os julguemos de acordo com o mínimo que aprendemos e o que a nossa visão alcança. Um exemplo: a gente aprende que tem que dar bom dia, agradecer que a pessoa abriu a porta do elevador. Aí a gente dá bom dia e o outro não responde, pronto: julgamento! "Que pessoa sem educação". Mas se a gente parasse para conversar com a pessoa, poderia descobrir que ela não respondeu simplesmente por estar enfrentando um problema sério, nem se deu conta de tão sofrida.

Me lembrei de um dia, tava numa loja, em Paris. Veio uma mulher e pediu licença para alguém que estava comigo. E esta pessoa não se mexeu. E a mulher, brandiu em francês: mas parece que é surdo! E o fato é, a pessoa em questão, realmente tinha problemas de audição exatamente do lado que a mulher falou. Por sorte, não se deu conta do ocorrido.

Presenciando fatos assim, a gente fica menos míope, amplia a visão. A gente lembra do acontecido e passa a julgar menos. Quanto mais a gente enxerga, menos a gente julga e menos culpado a gente se sente, creio eu. E mais feliz a gente fica, mais apto a se doar e a receber. Este é o ciclo da vida. Não ter medo, "se jogar" dentro dos seus limites. Galgar cada degrau no seu tempo certo. Conversar muito. Falar com o máximo de pessoas, ouvir diferentes pontos de vista. Ampliar, ampliar a visão (não entendia porque a Clarice Lispector ficava repetindo as palavras. Acabei de entender).

Não ter medo de errar. Ser responsável e caprichoso na medida certa. Sem culpas, sem medo. Não ter vergonha. Não ter vergonha do corpo, de pedir desculpas. Perdoar. Não se achar menos do que os outros. Não pensar que não é suficiente para os outros.

Eu vejo as coisas de fora. Vejo as pessoas se aprisionando em si próprias, se boicotando. Algumas vezes enxergo por ter cometido os mesmo erros e já ter me libertado de alguns. Não sou perfeita, longe disso. Tenho muito a melhorar. E já melhorei muitas coisas. Temo só não conseguir enxergar em mim mais coisas que me aprisionam e não conseguir melhorar mais.
Temo por esperança e não por impossibilidade. Aprendi que as coisas são possíveis.

É tudo isso que tenho aprendido e pensado. Mas não consigo dizer direito.

2 comentários:

Cacau! disse...

Essas são algumas das maravilhas da maturidade. Quando era mais nova achava que era demagogia ouvir de uma senhora mais velha:"não me troco por uma de vinte anos!" Ou a variação: "queria ter 20 com a cabeça de 40." Nem preciso explicar que agora entendo. E vou mais longe na segunda afirmação: gostaria dos 20 apenas pela ilusão de ter mais tempo, pois até fisicamente me prefiro agora. Até com meus poucos cabelos brancos. Entendo o que vc disse como "live and let live", ouça, entenda, aceite. Mas isso não se ensina. É auto-aprendizado. Desculpe o testamento!

Lilly disse...

Pois é Cacau, como sempre captou a mensagem. Testamento nada, gosto dos complementos. Dentro deste assunto eu só lamento aqueles que mesmo com a maturidade não conseguem aprender. Se fecham tanto dentro de si mesmos que não conseguem enxergar essas maravilhas. Pois com o tempo aprendemos que isso tudo é muito libertador.