quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Ano Novo

Acho extremamente saudável festejar. Realmente precisamos de alguns dias definidos para prestar homenagens, fazer festa, lembrar de pessoas e fatos importantes. Aniversário sempre me emocionou muito, sempre achei que era aquele dia em que eu era a protagonista da estória, o centro das atenções, que naquele dia eu podia tudo. Ultimamente não tenho me emocionado tanto mais. Acho que apesar de sonhadora, a vida me faz fantasiar cada vez menos e isso rouba um pouquinho da mágica da data.

Com Ano Novo, diria que não me lembro de me emocionar. Parece que as pessoas acreditam que todos os problemas, as mágoas, as desilusões se apagam no dia 31. Tudo zera e a partir do dia primeiro a vida se torna melhor. Eu nunca pensei assim. Diria até que antigamente eu era um pouco mais supersticiosa com outras coisas. Hoje em dia, acredito que podemos ser agentes das nossas próprias mudanças. Devemos lutar por aquilo que queremos, ter persistência e fé. E funciona. Nem sempre exatamente do jeito que a gente imagina. Mas sempre há algo de bom a extrair quando nos propomos a mudar e a conquistar.

Hoje, dia 31 de dezembro, eu vou festejar a passagem do Ano Novo. Talvez não da forma como eu imaginava mas o dia não passará em branco. É uma festa bonita, festeja-se a virada do ano, a alegria, a beleza e a progressão da vida. E em 2009, continuarei meus projetos, talvez um pouco mais calejada, mas com certeza otimista, esperançosa e madura. Momentos difíceis existirão como sempre na vida. Mas tenho fé de que conseguirei superá-los.

Feliz 2009. Ou como a minha amiga Cacau diria: 2000 inove.

sábado, 27 de dezembro de 2008

Leituras

Terminei de ler o livro da Clarice Lispector ("Perto do coração selvagem"). A linguagem poética da Clarice é algo realmente belo e perturbador. Devo dizer entretanto que não é um livro apropriado para quem está passando um momento emocionalmente complicado. Por um lado tem a questão da identificação pois creio que a gente tende a se ligar mais a determinados textos quando encontra elementos que coincidem com sentimentos pelos quais estamos passando no momento. Só que a Clarice (através da personagem Joana) definitivamente tem a característica de se refugiar na melancolia. Me parece que é um estado permanente da personagem/escritora. Descobri que os sentimentos, mesmo os negativos, podem tornar-se confortáveis. Podemos nos apegar à melancolia, à raiva, à magoa, da mesma forma como à alegria, ao entusiasmo e etc. Nos acostumamos com um determinado sentimento como fuga ou desculpa para não tentar mudar ou melhorar aspectos da nossa vida.

Ganhei de presente a biografia de Tom Jobim com CD e tudo. Foi um presente inesperado e gostei muito. Começarei a lê-lo imediatamente.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Árvore de Natal



A gente tinha uma árvore de Natal bem pequena e há anos eu vinha prometendo para os meus filhos uma maior. Este ano eu finalmente cumpri a promessa, comprei uma grande, enfeites lindos, tinha um kit de bonecos de pelúcia lá na Etna, não resisti. Bolas de vidro com glitter. Um luxo só... Na hora de montar foi uma festa.

Árvore de Natal para mim tem um significado todo especial. Em casa, quando eu era criança, até a adolescência, eu era responsável por montá-la. Lembro que as aulas terminavam e eu já esperava ansiosa o momento de pegar a árvore e os enfeites. Todo ano era a mesma árvore e os mesmos enfeites. Parece que naquela época a gente não tinha tanta necessidade de novidade o tempo todo. A gente sabia desfrutar melhor os momentos simples.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Comida de Natal


De todas as comidas de Natal, a que não pode faltar para mim é a rabanada.

Quando eu me mudei para São Paulo eu ia sempre para o Rio no Natal. Mas teve um ano em que eu estava quase estourando de tão grávida (porque o meu filho nasceu no dia 15 de janeiro) e o Natal teve que ser comemorado aqui.

Minha mãe foi à padaria comprar pão de rabanada. Para sua surpresa, a atendente não sabia o que era isso. Explico: no Rio, somos muito influenciados pelo portugueses. Além da questão de termos origens da época do império, tem a chegada predominantemente de portugueses e espanhóis na década de 50. Creio que desde o império até os anos 60, os portugueses nunca deixaram de chegar, visto que eu tenho bisavó portuguesa (neste corpinho de japonesa). Voltando à vaca fria, até hoje, muita gente em São Paulo nem faz idéia do que é uma rabanada, já que a influência aqui é italiana.

Hoje, resgatei anos e anos de preparação de pratos natalinos (detalhe que eu detesto cozinhar) e amanheci cortando pão de rabanada (na espessura exata) que eu encontrei no mercadinho local de proprietários portugueses. Minha "ajudante" chegou e eu a ensinei a confeccionar as iguarias.

Às 10 horas da manhã eu estava degustando rabanadas frescas. Achei que era demais abrir uma garrafa de champanhe a essa hora, então contentei-me em acompanhá-la com um bom vinho tinto Cabernet Sauvignon (embora eu imagine que que o recomendado neste caso seria um vinho do Porto).

Será que é por isso que a minha criatividade subitamente reaflorou?

Receitinha rápida de rabanada:

Cortar o pão de rabanada "dormido" na espessura de um dedo grosso.
Colocar numa tigela leite adoçado com um pouco de açúcar.
Pegar cada fatia e mergulhar no leite sem empapar demais. Colocar a fatia molhada numa forma.
Bater ovos com um pouco de açúcar numa tigela.
Esquentar bem o óleo para fritura.
Uma a uma, passar a fatia molhada no leite no ovo dos dois lados e colocar na frigideira quente.
Depositar a rabanada num prato com papel toalha para retirar a gordura (melhor que não fique muito gordurosa).
Após fritar todas as rabanadas, misturar numa vasilha açúcar e canela até ficar numa cor entre a do açúcar e da canela.
Uma a uma, passar a rabanada morna na mistura e arrumar numa travessa.
A mistura de açúcar e canela que sobrar, deixar num recipiente com colher para que a pessoa ao comer possa aproveitar para polvilhar na rabanada.

Sugestão: comer à tarde, antes da ceia, à noite, depois da ceia e na manhã do dia 25. Não importa que com isto você esteja ingerindo umas 3000 calorias.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Susto

Menina de 5 anos:

- Mamãe, preciso de um homem!!
- O quê?

Viro-me para ela, seu olhar contempla um boneco tipo príncipe da Barbie. Estamos na loja de brinquedos.

- Ah, entendi, para namorar com a sua Barbie, né?
- Sim...

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Sonho - Decoração

Faz tempo que eu tenho uns sonhos onde estou em apartamentos imensos, com vários quartos, caminhos complicados e decoração sofisticada. Às vezes me impressiono com o tamanho do apartamento. Vou andando e a cada momento aparecem quartinhos, escadas, caminhos diferentes. Hoje eu tive um sonho deste tipo. O apartamento não era muito grande e eu não me lembro direito do percurso. Mas a decoração era bem colorida. Mais colorida do que das outras vezes. Havia paredes azuis, almofadas floridas, algumas entremeadas de fios brilhantes. Vasos com flores, coisas assim. Tudo estava claro e alegre. Nos sonhos antigos, geralmente o ambiente era sombrio.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

O corpo fala? A aparência importa?

Eu moro perto de um hospital. Hoje pela manhã eu andava pela rua para casa, vindo da academia e vi um médico com os cabelos molhados, meio bagunçados, jaleco na mão. Ele segurava o jaleco pela gola, pendurado no dedo como se fosse um cabide. O jaleco voava para um lado e para o outro e ele ficava tentando equilibrá-lo no dedo e até perdia um pouco a direção na calçada enquanto andava.

Logo atrás dele, vinha outro médico, aproximadamente 60 anos de idade, óculos. O jaleco estava já colocado, impecavelmente passado, vincado, quase que engomado. E o médico andava com um ar extremamente altivo.

Mais uns metros para trás do médico imponente vinha um outro médico mais novo. Entre 35 e 40 anos. Jaleco colocado, passado sem ser engomado, estetoscópio envolvendo o pescoço com a ponta guardada no bolso, ar feliz, andar despreocupado.

Chamou-me a atenção a forma como cada um portava o seu jaleco. E fiquei pensando em como isto devia revelar um pouco da postura deles em relação à vida e à profissão. Analisando as três atitudes de cada um com o seu jaleco, eu concluí que não gostaria de ser atendida pelo primeiro. Seria preconceito meu ou uma análise válida, fico me perguntando.

Sonho - (Re?)-construção


Estou num terreno vazio. Olho para o lado e vejo uma pilha de tijolos. Sei que tenho que construir uma casa mas... como? Vejo um homem desconhecido e ele me diz:
- Não se preocupe. Eu te ajudo.

Muda a cena e vejo um local onde houve um bombardeio. Deito-me em um monte, no meio dos escombros. Olho para a frente e vejo a Catedral da Sagrada Família de Barcelona; a fachada preservada, a parte interna eu não tenho certeza. O céu está cinzento. Penso: "que interessante a beleza estranha de Gaudí. Mesmo em meio à destruição, a catedral continua bonita, parece até que ela combina com o cenário..."

Acordo mas continuo pensando no sonho de olhos fechados.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

WALL-E

Contado pela menina de 5 anos.

- Mamãe, ele quer pegar na mãozinha dela mas ela não deixa. Depois, ele vai ficar todo quebrado. Ela vai consertar e vai querer pegar na mãozinha dele. Mas aí, ele não vai querer mais....

sábado, 13 de dezembro de 2008

Matemática para crianças

S. tem 5 anos.
N. tem 8 anos.

S: - Mamãe, os números não começam no um né, começam no zero. O zero é o primeiro número.
N: - Não, técnicamente os números não têm início pois antes do zero vêm todos os negativos que iniciam no infinito...

"Socorro".

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Seria mais fácil?

Uma sonata em geral é composta de três partes, eventualmente quatro, chamadas de movimentos.

O primeiro movimento é mais ou menos rápido, transmite segurança, algo do tipo "ei, a vida é bela, estou começando, vai tudo bem". O segundo movimento despenca para a melancolia, no tempo "andante", o que estava bem passa a triste e choroso. Em geral, este é o meu movimento preferido na sonata. Por último, no terceiro e quarto movimentos, vem a alegria. Se for Mozart por exemplo, sentiremos um ritmo dançante, daqueles parecendo os minuetos dançados nos filmes de época. Se for Beethoven, aí a história muda um pouco de figura, tem que ser uma coisa mais marcante, triunfal, para fazer aquele fechamento da peça com chave de ouro.

Eu toquei a minha primeira sonata acho que com uns 9 anos de idade. Se não me engano, era Scarlatti. Não que eu fosse prodígio, era o normal da programação rígida do conservatório. Aos 14, 15 anos já tocava peças complexas. O meu preferido sempre foi Beethoven.

Antes de qualquer audição ou prova na sede do Conservatório (pois eu estudava numa filial), era comum, fora as aulas regulares, fazermos ensaios especiais, onde todas as professoras se reuniam em forma de banca e ouviam as peças, cada uma dando a sua avaliação e apontando os trechos a serem melhorados. Música clássica dá muito trabalho. Tem que treinar muito, prestar muita atenção e o erro nunca é aceitável.

Certa vez, eu estava tocando o segundo movimento de uma sonata de Mozart (seria K 280?) e como era um ensaio geral, empenhei-me ao máximo. Na verdade, eu me senti naquele momento só, esqueci da banca, do zum-zum-zum na recepção do conservatório, dos ônibus que freiavam no ponto próximo. Era eu, o piano, duas mãos executando três vozes, linhas melódicas que passeavam da mão direita para a esquerda. Creio que foi a minha melhor execução daquele movimento. E quando me virei para trás, minha professora, saudosa D. Dariléa Hill tinha lágrimas nos olhos.

Desde cedo era assim, desde pequenininha a professora falava: staccatto, agora com sentimento, pianíssimo, forte. E fui aprendendo a dar sentimento para pequenas bolinhas pretas no papel.

Fico pensando se é isso que me faz olhar para as coisas não como elas são mas carregadas de algum sentimento. Não que isso seja sempre bom. Pergunto-me se eu nunca tivesse aprendido a tocar uma sonata com sentimento, se seria mais fácil.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Vida vegetal










Eu não sei se é só mulher. Mas a gente fica conversando e tentando achar motivo para as coisas. Fica numas elocubrações sem fim. Estava eu no meio de uma dessas conversas com uma amiga, aí disse para ela:

- Sei lá, não acho mais nada. Vou virar planta: que não pensa, só curte o vento, a água, os sais minerais... e fica ali vivendo, consciente só da sua existência...
- Nossa, profundo isso.
- Mas vou ser uma planta bonita, uma orquídea.

Pronto! Com isso, passou o momento reflexão e começou a palhaçada. A minha amiga que é muito espirituosa já começou:

- X. seria urtiga, Y. um cacto, aquela outra um chuchu, porque dá em qualquer lugar. Ih! Olha o que você fez. Agora não paro de imaginar as pessoas como plantas! Tem a goiabeira, que enverga mas não quebra, eu seria um coqueiro para morar na praia...
- Tem a hera que não sai do muro né?
- Ai, não consigo parar, tá vendo? Sua culpa! Tem o moita né? Tá sempre quieto e se escondendo de alguma coisa.
- Putz, e ainda iam cag. nele né?
- Exatamente! Sabe a fulana? Coroa de cristo! De aparência delicada, complicada de "pegar", cheia de espinhos... A avenca: demora para se acostumar num lugar, de aparência frágil, mas difícil de lidar...
- E a violeta? Que fica no cantinho, não pode pegar sol e nem água demais... delicadinha...
- Tem o que está para pé de limão né? Atarracadinho e azedo.... E o abacateiro?
- Abacateiro?
- Ué, aquele olhar sério, postura severa. Ao mesmo tempo transmite credibilidade e resistência. Ai, você também não tem sensibilidade.
- Poxa, nunca tinha pensado dessa forma sobre um abacateiro.
- Para quem queria ser planta você é bem superficial, hein?
- Porque não penso mais! Já comecei a virar planta....

Para terminar eu pergunto: o que você seria no mundo vegetal? Isso dá até assunto para meme hein?! Aliás, tô achando isso aqui tudo meio nerd. Acho que o meu amigo afinal tem razão...

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Martha Stewart

Provando o meu ponto do post anterior... Fazia tempo que eu não visitava este blog... ele desperta a minha Martha Stewart interior.... (leia-se Martha Stewart "diva" dos Arts & Crafts e não a sonegadora de impostos....)

http://kellymccaleb.typepad.com/

Agora vou rasgar uma seda aqui... pouco me importando com a revolta que as minhas declarações podem causar... americano é f... os caras fazem tudo bem feito. Veja este blog por exemplo, as fotos que a mulher tira... os trabalhos manuais.... os caras podem ser neuróticos por "excelência" mas no fim a gente tem que admitir que funciona porque as coisas realmente ficam boas. Quer ver outra coisa totalmente fútil? Cheerleader, patinação no gelo. Já viu como aqueles caras treinam e as acrobacias que eles fazem? Olha, eu tiro o chapéu...

Provei que eu não sou nerd? Tá bom... sou só de vez em quando...

Rótulos

Eu tenho um amigo que insiste em me chamar de nerd. E eu tento explicar para ele que nerd não pega sol, não se acaba na academia sonhando com músculos definidos, não usa batom Dior e nem tem sonho de consumo de comprar bolsa Gucci.

Mas ele tem uns argumentos do tipo, você é nerd porque:

1. Lê Clarice Lispector
2. Vê filme cult
3. Usa óculos de armação grossa
4. Tem Ipod (?????????)
5. Toca piano
6. Escuta rock alternativo
7. Escreve blog (essa foi ótima)
8. Gosta de videogame

Para tudo isso eu tenho contra-argumentos. A conclusão que eu chego é que não adianta querer rotular. Eu costumo dizer que sou uma pessoa eclética. Transito em todas as "tribos". E já conheci nerds bombados e pessoas com cara de intelectuais e que gostavam de pagode, por exemplo. Acho até enfadonho essa coisa de rejeitar o outro porque não preenche todos os quesitos esperados para um modelo pré-estabelecido. Tipo: "eu escrevo um blog então só posso me vestir como clubber" ou "eu gosto de cinema cult e só assisto no Espaço Unibanco, mesmo que esteja passando no Cidade Jardim, cheio de gente bonita". Onde fica a graça da diversidade?

Só que o tal amigo, não admite ser geek. Ele não tem ipod mas vive baixando umas músicas da internet, conhece todos os softwares utilizados para esse fim, sabe dizer em detalhes as vantagens e desvantagens de uma TV de LCD para a outra, tem Bluray, HDTV, joga videogame e por aí vai. E também ouve rock alternativo, diga-se de passagem.

Pronto, me vinguei. Rotulei.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Desdém


Estava um dia desses conversando com um amigo e em determinado ponto da conversa ele me disse com um certo desdém:

"Ah, você vê filme vietnamita mas não vê filme brasileiro né?"

E eu apressei-me em explicar que vejo filme brasileiro sim. Filme para mim tem é que ser bom, independente da nacionalidade. O do Giannechini com a Paola não-sei-o-que, eu não vou ver nem que me paguem, pode ser preconceito meu mas vi o trailer e já não gostei. Só se alguém me sinalizar uma impressão diferente...


Agora, já que notei um certo tom você-é-metida-a-cult na observação do meu amigo, vou ter que contar o seguinte: eu sou sócia de uma grande locadora que parece que anda com uns problemas legais e por conta disso não consigo alugar filmes, não sei por quanto tempo. Eu passava sempre por uma locadora pequena perto de casa e não dava muito crédito. Entrei lá e fiz a inscrição. Qual não foi a minha surpresa quando constatei que:

1. Tem uma seção todinha dividida por DIRETOR... olha que chique.... aí eu já descobri um filme do Jim Jarmusch que eu não tinha visto e aluguei (mas ainda não vi).

2. Tem uma outra seção de cinema ASIÁTICO e EUROPEU dividida por países....

Gostei!

Avaliação

Tem sempre aqueles momentos na vida em que a gente dá uma pausa na correria, olha para trás e constata, como Otto Lara Resende:

"Ultimamente, passaram-se muitos anos".

Esta citação eu li no "Cartas Perto do Coração", creio que na primeira vez foi Fernando Sabino que escreveu para Clarice Lispector e mais tarde, em outra carta, ela escreveu para ele, concordando que para ela a frase também cabia.

Não sei o que se passava na cabeça deles na ocasião. Mas me atingiu em cheio.

Personagens

Depois que a gente começa a escrever, percebemos como isso é bom. Não é à toa que certos autores criam pseudônimos, assumem uma determinada identidade e criam estórias totalmente diferentes da sua vida pessoal. Ou o contrário, a "pessoa" escritor escreve sobre qualquer outra coisa e o "personagem" escritor extravaza os problemas, os dilemas, os sonhos, tudo aquilo que necessita de voz no momento.

É uma terapia.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Desafio

"Viver em sociedade é um desafio porque às vezes ficamos presos a determinadas normas que nos obrigam a seguir regras limitadoras do nosso ser ou do nosso não-ser... Quero dizer com isso que nós temos, no mínimo, duas personalidades: a objetiva, que todos ao nosso redor conhecem; e a subjetiva... Em alguns momentos, esta se mostra tão misteriosa que se perguntarmos - Quem somos? Não saberemos dizer ao certo!!!Agora de uma coisa eu tenho certeza: sempre devemos ser autênticos, as pessoas precisam nos aceitar pelo que somos e não pelo que parecemos ser... Aqui reside o eterno conflito da aparência x essência. E você... O que pensa disso?"

Clarice Lispector - Perto do Coração Selvagem

Ainda sobre sonhos

Estou chegando à conclusão de que essa relação que a gente tem com os sonhos é coisa de família. Porque tem gente que fala que não lembra dos sonhos, ou que sonha em preto e branco. Eu sempre lembrei muito dos meus sonhos. E pelas postagens anteriores, já ficou evidente que são coloridos.

Hoje quando acordei, minha filha estava dormindo comigo. Eu nem vi a hora em que ela foi para a minha cama. Levantei-me da cama e ela, ainda de olhos fechados me disse (já com aquele volume de voz na altura e velocidade aceleradíssima para falar que lhe são peculiares):

- Mamãe, sonhei que o N. estava colocando a boca no bolo. Era um bolo branquinho com uns morangos. Devia ser um bolo muito gostoso, né mamãe? (Isto, esticando o lábio inferior para a frente, como quem tocava o bolo).

Eu concordei que devia ser gostoso.

No outro dia estava conversando com um amigo sobre os sonhos. E ele me dizia que acha isso tudo de interpretação uma bobagem. Na verdade, creio que ele quis dizer interpretação como se fosse uma coisa meio mística ou premonitória. Eu disse para ele que o que me fascina nos sonhos é o fato de que a nossa mente produz uma estória completamente nova enquanto estamos dormindo, como se ela tivesse vontade própria. Os estudiosos tentam ligar estas imagens aos fatos do nosso cotidiano que nos marcaram ou àquelas questões que andam soltas no nosso inconsciente. Se essas teorias são corretas, ou não, nada muda o fato de que eles se auto-produzem enquanto dormimos.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Dia e Noite

Menina de 5 anos deitada no escuro:

- Mamãããããe!!!
- Que foi?
- Você sabe que eu tenho medo de ficar sozinha no escuro.

Deitando-me ao lado dela:

- Mas porque você tem medo?
- Eu não sei, fico imaginando que vão acontecer umas coisas.
- Como o que? As coisas que existem de dia no claro, são as mesmas que as de noite, só estão no escuro.
- Vampiro.
- Vampiro não existe.
- Morcego. De dia ele fica lá, penduradinho dormindo. De noite ele fica voando.

"Good point".

- Ah, mas ele fica voando lá fora, não vai entrar aqui dentro.
- Mas pode entrar.

Sonho - Pães

Hoje eu tive um sonho comprido... não lembro de todos os detalhes. Sei que havia pessoas conhecidas mas já esqueci quem eram. No final do sonho aconteceu o seguinte: ventava muito fora de casa... uma ventania fora do normal, de tirar tudo do lugar, coisa que acontece muito no Rio mas que não é tão comum aqui em São Paulo. Por algum motivo entrei no meu quarto e me aproximei da minha cama. Apesar do vento, fazia muito sol. A cortina estava fechada mas o tom do quarto era dourado, como se o sol estivesse refletindo lá dentro. Olhei para o meu travesseiro branco e ele estava coberto de comida de passarinho. Eu pensei: "está ventando muito e o vento levantou todo o alpiste que havia nas tigelas das gaiolas". Cheguei mais perto ainda do travesseiro e avistei uns objetos parecendo de madeira clara, peguei um deles e pareciam pinhas, porém de madeira clara. De repente a pinha se transformou em algo um pouco maior e mais redondo e foi então que me dei conta de que era pão. Virei o pão e ele tinha uns 3 sulcos. Era pão de sal. Tudo era meio bege-dourado. Alpiste, paredes e pães.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Revelações sobre o banheiro feminino

Certa vez retornei irritada do banheiro da empresa, nem me lembro porque, mas sei que contei a um amigo o que eu tinha encontrado por lá. Ele me perguntou espantado: "quer dizer que mulher também faz porcaria no banheiro?" E eu: "ô, se faz"...

Fora as coisas mais óbvias do tipo: papel higiênico no chão e tampa de vaso molhada (causado pelo xixi em pé), tem também as experiências mais "hard" como coisas que deveriam ter ido para dentro do vaso mas que espantosamente foram para fora. Tem também aqueles episódios de dar pena, onde o problema não foi gerado pela pessoa em si mas pela falta de pressão da válvula. Enfim... O que posso dizer é que essas porcarias geralmente são notadas pela próxima pessoa que entra e quem fez normalmente não está mais no local.

Normalmente em banheiro de empresa tem aquelas pias compridas com mais de uma torneira. Depois do almoço é aquele congestionamento: mulheres escovando os dentes, passando fio dental, se maquiando. Eu geralmente evito esses horários de "rush", me dá uma certa claustrofobia, fora a chance maior de presenciar certos odores não desejados.

Mas o que me irrita de verdade é quando o fato acontece quando a gente está ali no banheiro, ao lado da pessoa. A criatura lava as mãos e com toda a educação adquirida na beira do rio, lavando roupas, ela sacode as mãos com um vigor que fica evidente que as suas mãos precisam ficar secas, mas todo o resto (e nisso inclua-se espelhos, pias e pessoas) podem ficar molhados. E a ironia da coisa é que a despeito do meu comentário preconceituoso, na maior parte das vezes a pessoa está longe de ter alguma vez passado alguma situação de privação. O que demonstra que falta de educação pode acontecer em qualquer lugar. Inclusive em berço de ouro.

Orgulho Tricolor

Fiquei muito dividida no jogo de ontem ("São Paulo x Fluminense"). Dividida porque eu praticamente não acompanho o futebol e se o faço é pelo meu filho que torce com bastante dedicação pelo São Paulo. Na maior parte das vezes, acabo assistindo aos jogos do
Tricolor Paulista e torcendo para ele. Conheço os jogadores quase todos e do Fluminense nenhum.

Como explicar esse sentimento? Quando criança, escolhi o time pela camisa. Pelas cores. Eu admirava (e admiro até hoje) as cores do Fluminense. E existe algo de orgulho carioca que permanece lá no fundo, querendo se manifestar, ao ver o meu time jogando contra um time paulista. Mesmo achando hoje em dia, experiência de carioca que vive há anos em São Paulo, que bairrismo é uma tremenda bobagem.

Vou lançar assim, sem compromisso, mesmo sabendo que posso provocar um pouquinho os meus amigos paulistas tricolores, uma coisa que li certa vez, que dizia Nelson Rodrigues: "Tricolor verdadeiro só o Fluminense. O resto são apenas times de três cores".

domingo, 30 de novembro de 2008

Cease the day...

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Eu me empolguei...

Ano passado na apresentação de ballet da minha filha, meu pai tirou uma foto primorosa. Em close, ela vestida de anjo, um desfoque meio acidental, a quadra de futebol ao fundo. A pele de porcelana e os cabelos quase negros contrastando com o branco e prata da roupa. Asas parecendo verdadeiras.

"Boom", veio na minha cabeça imaginativa: "Asas do Desejo". E eu, na empolgação, joguei no Photoshop, transformei o fundo todo em preto e branco, aumentei o brilho na minha filha, desfoquei um pouco mais a parte em PB. A página artesanal, é claro, tinha que ser em preto. Um pouco mais de branco, uns brilhinhos e estava pronto.

Ao exibir, toda orgulhosa, o resultado final para a minha filha, percebo no seu rostinho um certo desconcerto. Ela que aos seus 5 anos ainda está mais para "Ma Vie en Rose", me pergunta: "Mamãe, porque você fez dessar cor?". E eu, meio balbuciando, tento me explicar, palavras desconexas de quem já sabe de antemão que não importa o que seja dito, não vai convencer. Que preto e branco é chique, lindo, que ela tava linda de branco, e etc e tal.




Em tempo: O "Ma Vie en Rose", ao qual me refiro não se trata da tradicional canção interpretada por "La Piaf", "La Vie en Rose". Lembrei-me do excelente (quase homônimo) filme francês que vi uma vez de um menino que era gay e tinha visões de Barbies dançando ao ritmo disco. Imperdível.



Do amor platônico

Assim ela me contou e faço deste blog instrumento:

Ela tinha uns 10 anos. Nem sabe direito como começou. Parece que foi num dia, sala de aula um tanto agitada, olhou para trás e no meio da confusão estava ele, alheio ao barulho, cabelos castanhos e pele branca, na fileira ao lado. Ela diria que foi "amor à primeira vista".

A partir daí, as aulas nunca foram mais as mesmas. Entre uma matéria e outra, lições copiadas do quadro-negro, olhares furtivos para trás cheios de curiosidade e timidez. Chegar ou sair da sala, movimentos automáticos até então, foram preenchidos com expectativa e surpresa.

Ela ia a pé para a escola. Mas nunca se encontraram no caminho. Não é de se surpreender então que ela ficasse tão entusiasmada um dia, quando saindo da padaria, ela o visse lá do outro lado da rua. Havia um carro. O que estavam fazendo, ele e seu pai, se consertando ou lavando, pouco importou. A camisa de estampa diferente, meio parecendo pano de cortina, que em qualquer outro menino pareceria engraçada, nele lhe pareceu interessante.

Passar naquela calçada, em frente àquele prédio, tornou-se também motivo de anseio, quase angústia esperançosa.

O ano terminou, outro ano começou e ele não estava mais. Nunca mais o viu, nem mesmo em frente ao prédio. Depois de alguns meses, acreditou que tinha se mudado dali para outro lugar.
Restou daquele ano apenas a foto escolar que durante as férias havia lhe dado conforto.

Seis anos se passaram. Chamou-lhe a outra amiga, um certo dia, para ir à sua casa. Chegou a ter, no fundo de sua memória, um lampejo de lembrança daquele que morava anos atrás, no prédio ao lado. E qual não foi a sua confusão de emoções ao ver que quem conversava com o irmão da sua amiga, em frente ao prédio era justamente aquele menino. Menos menino é claro, quase corpo de homem, mas o mesmo rosto tranquilo. Num tempo praticamente incontável, talvez menos de um segundo, vieram-lhe na mente todas aquelas imagens: sala de aula, foto escolar de final de ano, camisa de cortina...

Foram apresentados. O nome, ela já sabia. No olhar dele, não conseguiu vislumbrar nenhum traço de reconhecimento. Sendo assim, guardou para si o fato de já se conhecerem. Naquele momento, mesmo tantos anos depois, reacendeu-se com mais vigor adolescente o amor infantil.

A partir dali, encontraram-se muitas vezes, durante mais alguns anos. Roda de amigos divertida. Tornou-se a relação bem menos platônica mas nem tanto possível. Seguiram-se mais encontros e desencontros, até que o movimento da vida finalmente os separou.

Eu que vejo de fora observo: como é bonito perceber que seus olhos brilham, quando daquela época ela me conta. Lembrando que naquele tempo despreocupado bastava um olhar ou uma conversa para preencher o seu dia de alegria. Roubo para mim um pouco da memória dela, na esperança de que ao torná-la minha, retire algum ensinamento.

Neste Natal...

Não quero enfeite de porta e nem guirlanda colorida.
Árvore de Natal e Papai Noel também não quero.
Nem peru, farofa ou pernil.
Ou nozes, castanhas e frutas secas.
Talvez uma taça de vinho.
Sem ceias ruidosas ou íntimas.
Se possível, apenas um cartão (pode ser branco) que diga:
Paz, saúde e amor.
E não quero acreditar nessas palavras tampouco.
Quero que sejam verdadeiras.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Não quero ser geek!

Li certa vez, creio que foram palavras do sr. Bill Gates, que a verdadeira revolução da informática seria quando o computador fosse para o usuário do dia-a-dia como uma geladeira ou um fogão, o verdadeiro "plug-use". Ligou e pronto.

Com todo este problema da internet em casa, que eu ainda não consegui resolver, comecei a refletir sobre o assunto. O fato é, eu tenho essa sina de trabalhar com informática (sim, leitores desconhecidos, pasmem, eu sou do mundo da tecnologia). Então, todo mundo espera que eu seja a expert em tudo relacionado a informática. Mas na área de TI, acontece algo parecido com a medicina. Não é porque o cara é ginecologista que ele vai sair tratando de cérebros, por exemplo.

Mesmo sem conhecer tudo relacionado à microinformática, eu tenho alguma atração natural pelos computadores. Gosto de fazer uns downloads, escrever blog, adoro um Photoshop, conversar no MSN e no Orkut, enfim... Me acostumei a um entretenimento digital. Mas me revolto com toda a sobrecarga que vem junto. Não quero saber se o windows é 2000 ou Vista, de firewall, de senha de wireless, de anti-vírus, qual o melhor navegador, se já tem o plug-in x ou y.... Tudo isso me cansa.

E é aí, que vejo com uma certa desilusão, que estamos cada vez mais longe de ter o nosso "micro-fogão" ou "micro-geladeira". Por que no fim é assim: a internet parou? Foi o Bitcomet que eu baixei que ferrou tudo? Ou será que o problema é do provedor? É no modem? O firewall tá configurado direito? Ah! E como se não bastasse, tem o celular também. Porque se o servidor pop não tiver correto, não dá para mandar e-mail, e o MMS.... arrrgh...

Se há algo de Polyanna nessa história a extrair é que pelo menos a gente se volta aos prazeres normais. Ler um bom livro ou revista, resgatar aquele CD antigo, ir ao cinema... Até porque no fim, com internet e tudo, não troco um bom papo na mesa do bar com os amigos por nenhum MSN...

Tá vendo? Eu detesto a Polyanna mas não deixo de dar-lhe um certo crédito....

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Sonho - Viagem para Boston

Sonhei hoje que arrumei 3 malas e que ia para Boston. Resolvi sair direto de algum lugar (acho que era do trabalho) mas não tinha passaporte. Olhei no relógio, 8:55h, faltava apenas 1 hora para embarcar. Tempo que não dá nem para chegar no Aeroporto de Guarulhos. Eu olhava em volta e pensava: "onde estão as 3 malas"? E nas mãos, tinha um molho de chaves. E fiquei naquela indecisão, entre ir para casa buscar as malas ou sair direto para o aeroporto, pensando que mesmo assim, não dava mais tempo...

Acordei, passei a mão na bochecha esquerda para tirar uns fios de cabelo. Pensei: "ufa, ainda bem que não foi na testa. Não vou esquecer o sonho"...

Gris


Desde sábado estou me sentindo assim. Cinza. Os dias estão cinza e eu também, por dentro.

Ontem não me ocorreu nada para dizer. Nadinha. E de noite, ainda briguei com a moça da Central de Relacionamento do meu provedor, como se isso adiantasse alguma coisa. Ainda estou sem internet em casa, faz 1 semana e meia.




O inverno cismou de voltar né? Posso até usar a citação francesa que encontrei:

"Novembre est un beau mois. Mais il fault aimer le gris. Et l'oeil en saisir la lumière."
Gilles Vigneault
(Novembro é um belo mês. Mas é preciso amar o cinza. E o olho segurar a luz).

Ontem vesti um suéter amarelo canário para tentar quebrar o cinza. Mas misturei com preto, acho que não adiantou. Me lembrou aquele filme, acho que sueco, onde tudo é preto e branco mas de repente as pessoas começam a ficar da cor do sentimento que elas têm por dentro, e é então que se instaura a confusão. Sim, as pessoas disfarçam bem.

Não lembro o nome do filme. Se lembrar, falo depois.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Mais de Charlie e Lola











- Mãe, inconstitucionalíssimamente tem 11 sílabas, mais do que paralelepípedo que tem 7 sílabas.

Contando nos dedos:

- Mamãe! Prédio tem 4 SÍBOLAS!

Tentei não rir. Mas foi inevitável. Rimos os três, descontroladamente.

Passeio na Cultura

Ultimamente, em 99% das vezes que tenho um aniversário de criança para ir, compro livro de presente. Vou à Livraria Cultura e me farto. Porque a escolha em si já é divertida; quando as crianças são menores, eu leio os livros antes para me assegurar de que a estória é boa. É comum eu sair com o presente e com mais uns 2 ou 3 livros para os meus filhos. Se o livro é mais extenso, leio bem a sinopse e pelo menos algumas páginas.

Ontem, fomos os 3 lá. E meus filhos, como bons leitores, já se sentaram ao pé do dragão de madeira e pegaram uns livros para olhar. O N. leu o "Grinch" inteirinho, que eu não sabia, mas é do Dr.Seuss e a edição traz também os textos originais em inglês. Acabei comprando dois, um para ele e outro para o amigo dele. A S. pegou uns livrinhos das "Princesas do Mar", que é desenho de televisão, mas eu incentivo por ser de um cartunista brasileiro, o Fábio Yabu.

Olho para o lado do dragão e o que vejo? "A mulher que matou os peixes", de Clarice Lispector. Já contei num post passado a frustração infantil que este livro me causou por ter sido retirado de circulação na época da ditadura. Nem preciso dizer que comprei o livro né...

Ouvi uma mãe negociando o livro que ele ia comprar e me intrometi na conversa dos dois. A mãe, muito gentilmente, me atualizou sobre o fato de que existe versão em português (O pequeno Nicolau da Martins Fontes) para "Le Petit Nicolas" de Sempé e Goscinny que eu li quando estava estudando francês. É um livro muito engraçadinho, divertido mesmo para adultos (meio infantis como eu).

Só não deu tempo de ler o livro da Clarice ontem...

Shanghai Kiss


É engraçado como certas traduções de títulos de filmes e a foto que usam na divulgação podem arruinar com um filme.

Eu já tinha visto este filme na locadora várias vezes. O título em português é "O amor em Beverly Hills". Considerando que a atriz que está em destaque normalmente faz filmes no papel de cheerleader, eu nunca cogitei em pegar. Mas como estava meio sem opção, resolvi ler a sinopse. Me chamou a atenção o fato de que o personagem principal faz uma viagem a Shanghai, tem contato com fatos do passado familiar e tudo mais. Então resolvi arriscar. Oportunidade para uma dose de drama.


Posso dizer que o filme não é ruim. A trilha sonora é agradável, a gente tem oportunidade de ver Shanghai, uma cidade limpíssima, moderna e ao mesmo tempo com construções antigas preservadas, o filme aborda muito de leve umas questões sobre orientais criados no mundo ocidental que talvez só sendo oriental para entender. E como eu sou meio oriental, entendo perfeitamente. E me parece paradoxal o fato de que no filme, quem tem o papel relevante é o chinês mas quem aparece em destaque na propaganda é a americana estilo Barbie que apesar de principal, ataca quase que de coadjuvante.

A conclusão é: o filme não tem nada a ver com a imagem que o poster acima passa... E eu não me arrependi. Concordam comigo que o título original é infinitamente mais interessante?
Deu vontade de ir a Shanghai.

Sonho - Mar


Sábado eu fui agraciada com um sonho. Sonhei que estava no mar, de roupa e tudo. Eu, a madrinha da minha filha e a filha dela (que também estavam com roupa normal). Era um mar de águas cristalinas, de um verde claro. O céu estava azul e eu não sentia o sol queimando. Onde eu estava, não avistava areia para nenhum dos lados embora conseguisse ficar com os pés firmes no chão. E o engraçado é que apesar de não ver a areia, sabia que ela estava a esquerda de mim, embora pela posição das ondas, o normal seria que estivesse atrás. De tempos em tempos via umas ondas enormes e quando elas chegavam perto, apenas nos levantavam do chão, lá no alto, sem estourarem em cima da gente. A água tinha a temperatura agradável, nem fria e nem morna demais. Minha única preocupação era com I., a menina de 4 anos que estava conosco. Quando vinha a onda, eu achava que ela podia se afogar e a segurava firme. Mas a onda passava e ficava tudo bem.

Foi um sonho muito agradável.

sábado, 22 de novembro de 2008

O fracasso de uma intelectual

Tentando retomar o meu espírito intelectual abandonado há alguns anos atrás, tentei ler 2 livros nestes últimos dias:

- O elogio ao ócio: comentei sobre esse livro recentemente. Não me perguntem como mas eu tinha o livro lá em casa. Fiz a besteira de ler o prefácio. Besteira porque esse é daqueles livros em que você já entende a teoria do cara e daí em frente o o escritor só faz girar em círculos em cima deste tema principal. Ele discute muito os sistemas políticos: comunismo, socialismo, etc. Digamos assim, no momento não tô com espírito pra isso.

- Intrigada com a minha recente incapacidade de sonhar, me deparei com uma autobiografia de Jung e achei que seria interessante já que Jung trabalhava muito com interpretação de sonhos. Ia tudo muito bem, lembranças de infância e tal. Em determinado ponto ele começou a descrever um sonho de infância e no momento em que ele começou a interpretá-lo, um sonho de menino de 4 anos, foi quando no meu ponto de vista a coisa desandou e eu desisti do livro. Ele enxergou um "falo" não sei onde... pode ter sido o meu sono atacando. Mas o fato é que percebi que não ia "virar".

Sigo no meu empenho em achar algo para ler...

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

As confirmações deram para conversar comigo...

Sabe quando a gente vai salvar um comentário e aparece aquela palavra de confirmação que quase parece uma palavra mas não é? Pois é! Fui comentar agora para uma amiga e veio para mim: "mistral" e em seguida "really". Fiquei pensando se na verdade são todas palavras de fato, mas como eu não falo croata, por exemplo, não tava entendendo... :P

Mundos Paralelos

Nem sei bem o que quero dizer com isso.
Também não sei se eu queria dizer isso.

Mas pensei: "o perigo é se ficar mais confortável aqui dentro do que lá fora".

Sobre escrever (dedicado aos blogueiros)

Terminei de ler o "Cartas perto do coração" do Fernando Sabino com a Clarice Lispector.

Eu gostei "mais ou menos" do livro. Acho que porque eu esperava mais revelações sobre as vidas deles. Em determinados momentos, existem comentários evasivos demais, como se eles sentissem que essas cartas poderiam ser publicadas no futuro.

Eu até reconheço que posso ter colocado uma expectativa no livro que não era o propósito dele. Como só me interessei por Clarice Lispector agora, ficou aquele anseio por algo mais biográfico.

Guardadas as devidas proporções, a gente percebe que mesmo os grandes gênios passam por dúvidas e inquietações como as que nós, humildes blogueiros, passamos. A escolha de um título, a elaboração de uma frase, o gostar ou não do que foi escrito, o quanto deve ser dito, se a peça deve ser assinada ou não.

Tem dois comentários que me chamaram a atenção. Por um lado, o FS diz que deixou de criar, que passou a escrever somente para sustento próprio. Ele diz que colunas de jornal e crônicas não são arte de verdade. E por outro lado, a Clarice diz num determinado momento, sobre "Grande Sertão - Veredas", que ela considera uma das obras-primas da literatura brasileira, que livro bom é aquele que prende, que faz com que o leitor não queira largar o livro.

Pensando sobre o comentário da Clarice, tive que discordar do Fernando. Claro que existe uma diferença entre escrever com licença poética e escrever crônicas. Eu mesma, invejo quem escreve poesia. Não tenho talento para isso. Creio que possuo um vocabulário considerável mas quando leio um livro como "Água Viva" ou mesmo uma poesia de qualquer autor, me pego me perguntando porque, se eu conheço todas aquelas palavras e entendo tudo o que está sendo dito, não sou capaz de produzir textos com tanta riqueza e colorido e com metáforas tão emocionantes. Invejo o ritmo da poesia, a colocação de uma vírgula que muda todo o sentido, uma palavra solta...

Por outro lado, é como a Clarice disse. Se um texto é bem escrito e consegue prender a atenção do leitor, creio que ele acaba cumprindo bem o seu papel. No momento da criação, teve a função de exorcisar algum pensamento do autor ou de compartilhar uma idéia ou experiência. Teve a preocupação quanto à elaboração, ao formato, à fluência. E do lado de quem lê, tem o interesse, a concordância, o divertimento, o se sentir apoiado ou compreendido. A gente poderia até dizer que um blog, por exemplo, alimenta o lado "voyeur" de todos nós. Mas vamos "combinar" que se for mau escrito, ninguém vai querer ler.

E por último, devo observar em benefício próprio, com humilde orgulho de quem escreve intuitivamente (quase que empiricamente, eu diria), que tem uma passagem em que eles comentam sobre a inocência do iniciante. Da beleza que existe naquilo que é escrito por alguém que ainda não ficou viciado ou guiado (tolhido) por modelos. Isso me deu muito conforto.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Sonhos

Ando preocupada. Ultimamente não estou conseguindo lembrar de meus sonhos. Isto me chamou a atenção porque li vários blogs em que as pessoas relatam seus sonhos. E no livro que estou lendo, Fernando Sabino também conta alguns sonhos por carta para Clarice Lispector.

Já tive todo tipo de sonhos. Aqueles óbvios, que aparentemente todo mundo tem, do tipo ser véspera de início de aulas e sonhar que estava indo para a escola sem sapatos, por exemplo. Sonhar que estava sem roupa em público, eu nunca sonhei.

Muito antigamente, eu tinha dois sonhos recorrentes. Nunca mais eles vieram. No primeiro, eu estava andando num shopping e olhava para uma escada rolante que subitamente aumentava a velocidade e as pessoas começavam a voar lá de cima. Em outras vezes, eu estava na escada e desesperada me agarrava ao corrimão para não voar. Eu nunca voava. O segundo sonho, pode parecer mais tranquilo mas não era. Eu entrava num elevador antigo, de madeira escura, com 4 portas e 4 painéis de botões. Às vezes, tinha porta pantográfica (essa palavra é o máximo). Eu "mirava" num botão, achando que ia para um determinado andar, e o elevador parava em outro. E lá ficava eu, para sempre, naquele elevador, tentando achar o andar certo. Era algo Stephen King.

Certa vez, tive um sonho impressionante. Só de imagens, sem pessoas, como se fosse um filme de Akira Kurosawa. Belo e simples. Imagens fluidas, passando de uma a outra. Eu não participava dele. Acordei com vontade de escrever sobre esse sonho. Fiz umas anotações num caderno. Esse merece um post a parte.

Ultimamente, vinha tendo uns sonhos interativos. Coisa impressionante. De dormir, começar a sonhar como continuação da realidade, acordar meio perdida, sem saber se eu tinha sonhado ou não.

E agora, estou sem memória. Para sonhos.

A pergunta que não quer calar

Quem diabos é Michael Bublé?

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Vicky Cristina Barcelona


Eu gostei.

Eu estava desde ontem ensaiando para escrever sobre o filme. Certos assuntos eu fico digerindo durante dias porque quero falar mas não sei muito bem por onde começar. Como li hoje uma crítica num blog em que a pessoa não gostou do filme, resolvi me manifestar.

Eu gostei dos atores, das inúmeras tomadas de Barcelona. Eu estive em Barcelona em Maio deste ano e o espírito é exatamente esse. Gaudí é referência constante. As ruelas do Born, do bairro gótico. A impressão que a gente tem de estar o tempo todo tomando vinho e comendo tapas. Lamento não ter ido ao Parc Guell. E a Sagrada Família é realmente impressionante. A cidade emana cultura e criatividade: nas construções, na decoração e na moda. E tudo isto está no filme.

Mantendo-se fiel a alguns elementos constantes em seus filmes: a obsessão por uma determinada atriz, a queridinha do momento, como já foi Diane Keaton, Mia Farrow e agora Scarlett Johansson, os diálogos nervosos, as complicações amorosas. Adoro quando determinado personagem encontra outro e durante alguns segundos a câmera concentra-se somente na pessoa que foi surpreendida e a gente anseia para ver a reação do outro personagem mas ele adia até o último instante (isto foi algo que eu já tinha notado mas só me dei conta neste filme). A trilha sonora é interessante como sempre. Tem algo de Almodóvar, de Volver, na cena do violão. O colorido é bege-dourado. Como Barcelona inteira.

Claro que Penélope Cruz rouba a cena. Javier Bardem é o "xavequeiro" do pedaço. Aquele cara que se aproveita dos momentos de carência e se utiliza dos clichês para ganhar a mulherada. O tipo falso sofredor. Dentro da situação, a gente já sabe o que ele vai dizer. Está no perfil psicológico. E María Elena é a essência, o verdadeiro talento, a referência. E nas discussões, natural que seja abandonado o polido tom nova-iorquino para o tom escandaloso espanhol, recheado de "conhos", "mierdas" e "puta-qualquer coisa", coisa que Penélope personifica de maneira triunfal. E a trama se complica e a gente imagina um modo de vida meio à la Picasso.

Pronto. Não sei se me expliquei. Mas falei.



Batalha linguística

Carioca: Pois é, tive que levar o meu carro para fazer lanternagem depois daquela batida.
Paulista: Ahahahaha.... lanternagem? Quer dizer que no carro só tem lanterna para arrumar?
Carioca: Olha, me diz onde fica o funil?

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Linha Cruzada

A: olha essa mulher
B: qual ?
A: a da impressora...
B: sim
A: teve um dia que ela falou uma grosseria, hj ouvi outra no banheiro ela fala que nem homem, meio machona
B: pois é.. é meio estranha ne?
A: sim, muito. Eu não escutei direito a conversa, foi algo assim, outra pessoa tava no banheiro com ela e perguntou: onde está tal coisa?
A: aí ela respondeu com voz de macho: aqui, cacete, não tá vendo? me deu muito medo dela
B: nooosssa
A: eu queria ver esse desenho: Persepolis
B: nossa .. como vc muda de assunto rapido
A: rsrs... a M. diz que eu e ela somos Gilmore Girls porque no seriado, elas conversam exatamente assim aí é engraçado porque às vezes, mesmo depois de mudar o assunto, a gente volta no anterior aí dá uma linha cruzada, confunde tudo. Acho que mulheres em geral são assim
B: pois é.. mas eu nao sou mulher
A: rsrs... desculpe

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Cada um com o seu presente

Tem uma coisa muito legal em ter mais de um filho pequeno que é ouvir os diálogos deles. Às vezes, estou deitada de manhã cedinho na cama e eles já estão se aprontando para ir para o colégio com a babá. E saem uns diálogos muito interessantes.

Teve aquele dia em que eu não lembro exatamente o assunto mas, tentarei reproduzir. S. é uma menina de 5 anos e N. um menino de 8.

S: é no planeta Terra né?
N: é sim.
S: eu conheço outro planeta sem ser a Terra! A Lua!
N: S., a Lua não é um planeta, é um satélite!

Irmão mais velho é assim. Fica querendo tirar onda em cima do mais novo, bancar o maioral. Para piorar, junta um mais velho que é pura razão e a mais nova que é pura criatividade. Saem essas conversas assim. Os dois são os próprios "Charlie and Lola", coisas que só quem tem filhos e assiste Discovery Kids vai entender. Com a diferença de que o Charlie é um amor com a Lola.

Hoje teve essa:

S: Mamãe! Eu já sei o que vou pedir de Natal para a tia P.! Uma pasta de dente Colgate! (isso porque eu compro pasta infantil Tandy e ela adora afirmar a individualidade dela escolhendo coisas diferentes das que eu escolho).

N: S.! Pasta de dente de presente de Natal! (gargalhadas misto de incredulidade e deboche) Onde já se viu pedir pasta de dente de Natal!

E eu, com pena:
N., deixa... cada um pede de Natal o que bem entende....

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Sobre o perdão

Estava voltando esbaforida do Body Jump hoje de manhã e não sei porque me veio essa idéia na cabeça. Deve ter sido o esforço da aula; eu já suspeitava mas no outro dia li que para produção de arte e escritos, geralmente o artista vivencia os maiores surtos criativos em momentos de emoção extrema. Parece que o sofrimento realmente provoca belas criações...

Brincadeiras à parte, tava pensando o seguinte: tem coisas que a gente ouve mas não apreende. Aí, um belo dia vem um estalo: e aquilo que falaram para a gente ou que a gente leu, faz todo o sentido.

Uma das coisas mais difíceis para pessoas teimosas, de opinião forte, é perdoar. Acho que tem gente que nem precisa perdoar porque simplesmente não guarda mágoas. Acontece que a vida proporciona oportunidades para a pessoa exercitar o perdão, entretanto às vezes a pessoa não se dá conta da oportunidade.

Perdoar é necessário porque ao guardar a mágoa, a pessoa interioriza um sentimento ruim que só traz mais sentimentos ruins. Quem guarda o rancor, vive com uma errônea sensação de que ao guardar esta raiva, estará indiretamente fazendo o provocador da mágoa sofrer. Mas isso não é verdade. Na maioria das vezes, a pessoa nem se dá conta, pois a gente nunca sabe o que se passa realmente dentro da cabeça de outra pessoa.

Remoendo esses pensamentos negativos, a pessoa sofre. E quem fez sofrer, continua lá, inatingível.

Outro ponto é: as pessoas tomam atitudes muitas vezes motivadas por sentimentos próprios, dilemas pessoais. Se a consequência foi fazer alguém sofrer, muitas vezes não era a intenção. Mas quem guarda a mágoa se apega no sentimento de que o ato foi pessoal, com a pura intenção de prejudicar.

Somente no momento em que nos colocamos na posição inversa é que estamos prontos para perdoar. Imagine a pessoa que foi demitida e remói a experiência durante muito tempo. Um dia ela sobe na carreira e se vê na posição de demitir alguém. Neste momento é que vem a constatação do dilema que o seu empregador no passado pode ter vivido.

As oportunidades aparecem. Cabe a nós notá-las e usá-las como aprendizado, perdoando ao final...

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Hein?



O que a China tem em comum com a Venezuela? O filme "Três Gerações - Um Destino".
Motivada por excelentes filmes que assisti no passado: "Banquete de Casamento", "Comer, Beber e Viver", "As Coisas Simples da Vida", "Lanternas Vermelhas", embarquei neste filme por ser cinema chinês.




Mas me arrependi... vi o filme inteirinho.... mas conforme o filme se desenrolava, mais vontade eu tinha de desligar o aparelho de DVD. O bonito figurino e colorido do filme não foram suficientes para me conquistar.

A trama longa e arrastada, onde filha vai se transformando em mãe até que a "maldição" que recai sobre esta linhagem de mulheres acabe, se assemelha a qualquer dramalhão de novela venezuelana ou mexicana, onde mulheres apaixonadas e inocentes engravidam e são abandonadas por seus "algozes", com direito a mais de um suicídio.

O mais engraçado é que até a filha adotada fica com a mesma cara depois que cresce... só vendo para entender (ou não entender).

Não quero influenciar ninguém, cada um com a sua opinião... Mas até o sonolento "Cheiro de Papaya Verde" (franco-vietnamita) consegue ser mais empolgante...





domingo, 9 de novembro de 2008

Estória ou história

Cara... vou sair desse blogger. Hj eu tô atacada...

Essa eu achei para responder a pergunta de um amigo:

(referência: http://www.nlnp.net/)

_ ESTÓRIA ou HISTÓRIA?

As palavras "estória" e "história" são aceitas por diversos autores, com significados distintos:

- estória: exposição romanceada de fatos imaginários, narrativas, contos, fábulas;

- história: para dados históricos, que se baseiam em documentos ou testemunhos.

Estas duas palavras constam do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras. Mas o Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa recomenda simplesmente a grafia história, nos dois sentidos. E o dicionário de Caldas Aulete refere-se à forma estória como um brasileirismo, isto é, apenas um aportuguesamento da forma inglesa "story".



Dior Kiss


Eu avisei que um dia ia começar a publicar essas gafes... demorei... essa até que é bem antiga.

Tenho uma amiga que é muito falante e espontânea e acontece de quase toda semana ela dar um fora...

Essa minha amiga tem um gosto por maquiagens caras. Tudo dela é muito chique: Lancôme, Dior, marquinhas como essas. Um dia, ela comprou um gloss novo, daqueles tubinhos melecadinhos que se passam direto na boca e que dão um ar "espelhado" nos lábios. Voltando do banheiro do trabalho com o gloss devidamente passado, ela me chamou no msn para me mostrar, pois ela sentava a uma distância visível de mim. Foi uma mensagem do tipo: "Olha pra cá", e quando olhei, ela fez um bico para mostrar o tal gloss maravilhoso. Só que no exato momento em que ela fez o bico para mim, passava no corredor entre eu e ela um rapaz. Ele arregalou os olhos para ela e não teve dúvidas: mandou um beijo de volta.

Nós rimos descontroladamente por mais ou menos uns 15 minutos, daqueles risos de tirar o fôlego e de chorar...

Mas a estória não parou por aí...

Acontece que o tal rapaz, desconfia-se, tem opções sexuais diferentes. Ele, muito gentil, voltou à mesa dela, mais ou menos uma hora depois com uma caixa de bombons importados:

- Please, take one.

Bottom-line: "Sorry, dear, here's a token of my appreciation".

Comfort Eagle


Tava ouvindo aqui o CD e lembrei... como eu disse antes, tenho uma certa tendência a ficar "obcecada" por algumas músicas. Às vezes compro um CD e fico ouvindo durantes meses no carro, o mesmo CD. Sim, eu ainda tô na era do CD, ainda não me acostumei a ficar baixando músicas, ainda me apego ao objeto. Mas isto é um hábito a ser quebrado.

É comum, devido à essa obsessão que as músicas me lembrem coisas que eu fazia numa determinada época. No final de 2002, quando eu descobri o "Cake", fiquei com o CD no carro ouvindo direto. E isso me lembra uma determinada estrada que eu pegava todo dia durante 4 meses. Acontece que no final desse período eu engravidei e estava sempre enjoada, e ouvir "Cake" começou a me enjoar... Durante um bom tempo, mesmo depois que a minha filha nasceu eu não podia mais ouvir esse grupo porque me lembrava do enjôo. Ainda bem que passou...

sábado, 8 de novembro de 2008

Viver devagar

Em "Cartas perto do coração", Fernando Sabino escreveu para Clarice Lispector de Nova York, no dia 6 de julho de 1946:

"... Sendo vidas, nada mais nos resta fazer senão irmos vivendo. Atravessei um período duro, Clarice. Também precisei muito de uma palavra amiga, e, afinal, o meu livro está ali, num canto, esperando uma resolução. Já nem sei mais nada, e às vezes tinha vontade de ir mais devagar. Viver devagar é que é bom, e entreviver-se, amando, desejando e sofrendo, avançando e recuando, tirando das coisas ao redor uma íntima compensação, recriando em si mesmo a reserva dos outros e vivendo em uníssono. Isso é que é viver, e viver afinal é questão de paciência. É isso mesmo, é ir olhando e dizer: aquilo é bonito! ..."

Há um tempo atrás, postei um poema de Mário Quintana em que ele fala sobre o tempo e eu comentava exatamente isso, que a falta de tempo é um sentimento atemporal, ele sempre existiu, independentemente de avanço tecnológico. Vai do quanto a pessoa aspira na vida e das prioridades que ela coloca. Coincidentemente, me caiu no outro dia uma "Super interessante" nas mãos e num artigo sobre ansiedade, li o seguinte:

Tempos ansiosos?
"Mas essa noção de que vivemos numa época especialmente estressante é coisa ultrapassada, na verdade. A idéia de "era da ansiedade" nasceu antes da internet e do computador. Apareceu pela primeira vez em 1947, num poema do inglês Wystan Hugh Auden, que, desiludido com a humanidade depois da 2a.guerra mundial, criticou o homem e sua busca sem sentido por significado"

O que o artigo fala e que serve para reflexão é que a vida sempre apresentou dificuldades a serem enfrentadas e que são fatores geradores de ansiedade. Na pré-história o homem precisava buscar a comida e fugir de animais selvagens, na Idade Média eram as guerras e invasões, e por aí vai. Peste Negra, guerras mundiais, tudo isso sempre gerou stress...

Já deu para perceber que estou nessa fase Clarice Lispector agora né... Encontrei esse livro na prateleira e estou lendo...

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Da amizade entre menino e menina

Menina de 5 anos, exasperada:

- Mamãe, eu adoro o T.A. e ele me adora. Mas sabe, a gente não quer se casar. O L. vive falando pra gente assim: "namoradinhos, namoradinhos". E a gente não quer mais isso. Vou pegar um papel para escrever uma carta para a mãe do L. que é para ele parar com isso porque a gente não aguenta mais. Mas eu não sei escrever. Você escreve pra mim?

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Filosofando


Este post de certa forma é uma resposta a um comentário que uma amiga me fez no post passado. Eu já li algumas coisas budistas (poucas) . Confesso que fiquei um pouco irritada com a filosofia do nada. Acho que não dá para aplicar esta filosofia o tempo inteiro, jogar tudo para o alto, radicalizar e ficar ali, vivendo como uma planta.


Por outro lado, a gente até entende o benefício de se desligar de si mesmo por alguns minutos. Em certos momentos, isso é extremamente necessário, pois acontece de certos pensamentos incômodos e repetitivos invadirem a gente. Tem pessoas que são naturalmente "zen" e parece que nada lhes atinge. Infelizmente eu não sou assim. Outra coisa é, às vezes, o quadro nem é tão negro mas se estamos num momento ruim, tendemos à auto-punição e enxergamos os fatos vestidos de negativismo, criando situações na nossa cabeça que nem existem.


É nessas horas que temos que nos valer dos ensinamentos orientais para esvaziar a cabeça. Esvaziá-la dos pensamentos que desnecessariamente causam sofrimento. Quem faz Yoga sabe que no momento final da aula, há um momento de meditação. E o instrutor nos conduz a um estado de consciência corporal. É o existir sem pensamentos. Ele manda que nós nos concentremos e abandonemos todos os pensamentos desnecessários e que não fazem parte daquela prática. E olha, funciona.


É amiga, você tem razão. Clarice Lispector, de certa forma tem algo de budista. Pelo menos no livro que estou lendo "Água Viva", ela "pincela", como ela mesma diz, alguns pensamentos que lembram esta filosofia. Vou transcrever algo que li logo após o seu comentário e que acho que tem a ver com o que estamos discutindo:

"Quando se vê, o ato de ver não tem forma - o que se vê às vezes tem forma, às vezes não. O ato de ver é inefável. E às vezes o que é visto também é inefável. E é assim certa espécie de pensar-sentir que chamarei de "liberdade", só para lhe dar um nome. Liberdade mesmo - enquanto ato de percepção - não tem forma. E como o verdadeiro pensamento se pensa a si mesmo, essa espécie de pensamento atinge seu objetivo no próprio ato de pensar. Não quero dizer com isso que é vagamente ou gratuitamente. Acontece que o pensamento primário - enquanto ato de pensamento - já tem forma e é mais facilmente transmissível a si mesmo, ou melhor, à própria pessoa que o está pensando; e tem por isso - por ter forma - um alcance limitado. Enquanto o pensamento dito "liberdade" é livre como o ato de pensamento. É livre a um ponto que ao próprio pensador esse pensamento parece sem autor.

O verdadeiro pensamento parece sem autor.

E a beatitude tem essa mesma marca. A beatitude começa no momento em que o ato de pensar liberou-se da necessidade de forma. A beatitude começa no momento em que o pensar-sentir ultrapassou a necessidade de pensar do autor - este não precisa mais pensar e encontra-se agora perto da grandeza do nada. poderia dizer "tudo". Mas "tudo" é quantidade, e quantidade tem limite no seu próprio começo. A verdadeira incomensurabilidade é o nada, que não tem barreiras e é onde uma pessoa pode espraiar sem pensar-sentir.Essa beatitude não é em si leiga ou religiosa. E tudo isso não implica necessariamente no problema da existência ou não-existência de um Deus. Estou falando é que o pensamento do homem e o modo como esse pensar-sentir pode chegar a um grau extremo de incomunicabilidade - que, sem sofisma ou paradoxo, é ao mesmo tempo, para esse homem, o ponto de comunicabilidade maior. Ele se comunica com ele mesmo."

Para quem ouve pela primeira vez, parece "viagem" mas a gente só se dá conta do que é o tal do "nada", do não existir, da consciência corporal, enfim, como queiram chamar, depois que a gente consegue vivenciar esta experiência pelo menos uma vez.




terça-feira, 4 de novembro de 2008

Sintonia

Comentei com uma pessoa sobre o livro que eu estou lendo e ela me enviou uma passagem muito legal (não sei de qual livro, vai ver que é do mesmo):

"Um meio de obter é não procurar, um meio de ter é o não pedir e somente acreditar que o silêncio que se crê em você é resposta ao seu mistério".

Racionalidade

Em "Água Viva", Clarice Lispector escreve como quem compõe uma música ou quem pinta um quadro abstrato. Livre do compromisso de contar uma estória, da estrutura 'introdução-desenvolvimento-conclusão", ela vai pincelando as idéias. É muito louco e muito sedutor. E difícil de ler.

Fiquei pensando sobre esta forma de escrita "fluida" e no quanto de irracionalidade existe dentro de nossa racionalidade. Sim, porque, é o que dizem, o homem é racional. Racional porque consegue tomar dados e chegar a conclusões lógicas. Sendo assim, como entender o pensamento que tem vida própria? Não é verdade que frequentemente somos tomados por pensamentos que entram e vão "soltos", sem controle? Às vezes passam-se anos e num estalo, lá está aquele pensamento novamente.

Passamos um dia inteiro concentrados, sem devaneios, "focados" nas atividades diárias. Dormimos e lá está o pensamento de novo, em forma de sonho. O que é um sonho? Sonhamos com o presente e com fatos e pessoas muito antigos, praticamente esquecidos. É o pensamento que vive livre enquanto dormimos. Acordo de noite e os ecos do pensamento e de músicas me invadem.

Pensamos o tempo inteiro. Resolvemos equações matemáticas ao mesmo tempo em que escutamos sons e sensações. Achamos que pensamos linearmente, mas contrariando qualquer teoria de física, os pensamentos estão lá, todos ao mesmo tempo, ocupando o mesmo espaço no mesmo lugar.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Clarice Lispector

Acho que começou quando eu tinha uns 8 anos e a professora da 3a.série mandou comprar um livro: "A mulher que matou os peixes". Minha mãe procurou em algumas livrarias e o livro simplesmente não existia para ser comprado. O problema foi comunicado por várias mães e então o colégio resolveu substituir o livro.

O registro que ficou na minha memória foi de que Clarice Lispector era algo meio obscuro, meio subversivo, porque, imagina, o livro foi recolhido. E parece que foi por causa da tal da ditadura.

Eu não me dava conta, mas de criança, vivi vários mandatos. Médici, Ernesto Geisel, Figueiredo. Eu morava no Méier e me lembro das eleições, de apenas 2 partidos: Arena e MDB. Todo o horror daquela época ficava distante do meu mundo de criança. E o que ficou na memória foi apenas a "Moreninha", "Escrava Isaura", "Estúpido Cupido", os "Flintstones", "Batman", "Speed Racer". Sobre a ditadura mesmo, só fui aprender anos mais tarde, durante o então 2o.grau.

Deve ser por isso, que adiei. Durante a adolescência, tudo o que soava pelo menos remotamente intelectual, me interessava. Li vários clássicos brasileiros e ingleses (sou fã das irmãs Brönte e Jane Austen), li "1984" em 1984 e já emendei na "Revolução dos Bichos". Os jovens de hoje nem sonham com o real significado do "Big Brother". Era natural ler também "Admirável mundo novo". Roland Barthes, Milan Kundera, Marina Colasanti, Roberto Freire, Herman Hesse, um mundo de sonhos, sentimentos e ideais. Mas Clarice Lispector não.... Clarice Lispector é avançado demais, visceral demais, cansativo demais... Não vou conseguir, pensava eu.

Eis que só agora, após ler algumas postagens de outros blogs, decidi resolver esse bloqueio. Me lancei nesse novo projeto. Clarice Lispector, aqui vou eu: "Água viva". Quem sabe depois eu não me animo com Proust?

Agradeço aos bloggers de "Cafeína" e " Festa Móvel" pois indiretamente me incentivaram através de seus posts.

Como assim?

Como assim, Capitu não traiu?! Ai meu Deus, essa discussão não termina.

Não vale lançar no ar e não explicar porque. Estou esperando a réplica!!!

Ponte para o passado

"The rain song" em algum dia num passado distante:

"Uniforme escolar, a "bonita" calça Levi's marrom e camisa bege, 16 anos, impaciente para sair da aula de físico-química, 2o. andar de um prédio que não existe mais, querendo estar em qualquer lugar menos naquela cadeira de colégio. O nome do professor? Coitado, Ibiapina. Acho que a culpa não é dele. É simplesmente a incompatibilidade da matéria com os meus gostos. Na aula do Menezes, tudo melhora, penso eu. Matemática é sempre bom. Cacau e Marco, um cabeludo metaleiro chamado Armando, Mônica, meus amigos de turma.

O sinal vai tocar, a aula vai terminar e eu vou correndo pra casa. Sinal de intervalo já é alguma coisa. Dá para ver o pessoal todo no corredor que mais parece um varandão e fofocar rapidamente com as amigas. Tênis All Star para os privilegiados, mochila Cantão, casaco Company. Oportunidade de expressar a individualidade mesmo naquele horrendo uniforme marrom. Calça rabiscada também vale. E desfiada na barra. Brinco de prata, brinco hippie, segundo furo, pulseirinha de tear. Cresce logo, cabelo. Quero bem comprido, igual ao da Lenora, enrolado só na ponta.

O Walter, desenhista do pedaço, desenha umas tatuagens temporárias nas meninas com nanquim. Sim, com nanquim mesmo, e verniz. Henna? O que é isso? Imagina o sol em cima dessa tatuagem. Tenho sorte, ganhei dele também uma divisória de fichário do Dio. Os pedidos não param.

Segundo ano, o que vou fazer da vida? Ano que vem é pré-vestibular. Música ou informática? Nossa, tudo a ver né? Definitivamente não sou CDF. Não gosto de nota baixa mas não sou. Melhor saber se alguém vai na Mamute neste final de semana. Marisa, Carla, Mário, André, Max. Ou que filme ver no final de semana. "O primeiro ano do resto de nossas vidas?". Aquele Rob Lowe é um gato.

Toca logo, sinal... Quero ir embora pra casa."

domingo, 2 de novembro de 2008

A traição de Capitu

Terminei de ler o livro (Dom Casmurro). Foi uma experiência interessante. Aos 11, 12 anos eu já era uma leitora voraz. Mas de novo tenho que dizer que o aproveitamento do livro na época deve ter sido baixíssimo. Se bem que, a gente observa as crianças, o que elas são capazes de aprender com tão pouca idade e é surpreendente. Talvez eu tenha esquecido de como foi naquela época.

Aviso ao leitor: se você pretende fazer como eu e reler o livro, então pare por aqui. Eu não lembrava praticamente nada do final e fiquei ansiosa pela conclusão. Aconselho parar por aqui porque vou comentar o final.

Que Capitu traiu, traiu. Sem sombra de dúvida, o Ezequiel era filho do Escobar. Se hoje eu tivesse que participar novamente do trabalho da escola, eu levantaria uma questão diferente. Na verdade, nem lembro se a dúvida na época era quanto à traição ou o motivo da traição. Porque o que fica no ar realmente é o motivo.

Machado de Assis coloca dois elementos muito fortes no livro: primeiro, ele enfatiza muito o anseio que o Bentinho tem por um filho. Depois de um número significativo de anos de casados, ele comenta a frustração de não ter um filho. E ao que parece, Capitu era muito dedicada e apaixonada por ele. Pode ser que de uma forma "bizarra", ela tenha decido agradar o marido com um filho... quem sabe...

Em nenhum ponto do livro, enquanto havia a amizade entre os dois casais, houve uma suspeita do Bentinho em relação a um possível relacionamento entre Capitu e Escobar. Mas, ao mesmo tempo, há um momento em que ele mesmo sente despertar uma atração passageira por Sancha. Eu diria que esta é a segunda hipótese. Que algo muito rápido tenha se passado entre Capitu e Escobar, somando-se a isso o fato de que ela tinha um talento para dissimular as coisas mesmo... desde nova ela conseguia disfarçar muito melhor do que Bentinho, como ele mesmo descrevia.

Talvez o intuito do escritor tenha sido deixar o leitor com a mesma dúvida que Bentinho. Na verdade, creio que ele nunca pensou na primeira hipótese que eu coloquei. A constatação dia após dia da semelhança de Ezequiel com Escobar levou-o a concluir que Ezequiel não era seu filho. E a dúvida era apenas sobre quando a traição poderia ter ocorrido, pois ele mesmo não conseguiu descobrir. E Capitu, dissimulada, obviamente negou o caso até a morte.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Amor ou egoísmo

Venho há dias querendo falar sobre o caso do recente sequestro que terminou tragicamente. O que mais me impressionou na história toda, não foi o cerco policial, a estratégia utilizada, a troca de reféns, nada disso. Eu diria que acompanhei tudo de longe, apenas ansiando pelo momento em que aquelas meninas fossem soltas. O pior mesmo, para mim, foi ouvir o depoimento do sequestrador, algo como: eu tentei esquecer durante 1 mês, tentei sair, conhecer outras pessoas, beber e nada adiantou.

Não escrevi antes, por não me achar competente o suficiente. Tantos já escreveram sobre o amor: poetas, filósofos, psicanalistas, jornalistas. Pensei: quem sou eu para falar sobre o tema. Mesmo até porque no fim, acho que ninguém sabe ao certo definir ou mesmo se ele existe ou não.

Mas não consegui me calar.

A sensação que esse jovem passou, não foi diferente do que 99,9% da população da terra já passou um dia. Quem é que nunca sofreu uma desilusão amorosa, não sentiu a dor de querer alguém e de ver esta pessoa afastada de si. Amor real ou platônico, adulto, adolescente ou infantil, quase sempre acontece um dia. Com certeza o problema aí não foi a desilusão amorosa em si, mas isto aliado a outros problemas mais sérios.

Mesmo que a situação não derive para algo trágico, infelizmente, creio que exista em muitos casos um equívoco: o de confundir egoísmo com amor.

Fico imaginando que se uma pessoa ama, ela quer o bem do outro, para que juntos possam viver este amor e compartilhar bons momentos. É natural que um ciuminho ou um sentimento forte de rejeição provoquem um desejo de vingança ou pensamentos não tão politicamente corretos. Mas tudo não passa de uma farsa, uma fantasia. Por que, quem ama, no fundo tem a esperança de que um dia volte a ser amado. E para isto, é preciso que o outro ainda exista e que esteja bem. É como diz aquela canção: "cedo ou tarde a gente vai se encontrar, com certeza numa bem melhor".

Se o sentimento, por outro lado, é violento o suficiente para provocar a destruição do seu objeto de desejo, ou de suscitar uma vontade de vingança em que a pessoa de verdade se satisfaz ao ver a humilhação do outro, então imagino que este sentimento não seja amor de verdade, e sim egoísmo, pois ao que parece o outro existe mais para satisfazer aos desejos próprios. Não seria o amor algo como querer alguém quase tanto ou mais do que a si próprio?

E por fim, fico me perguntando de que adianta exigir amor. Creio que parte da graça do processo de enamoramento esteja na imprevisibilidade. Seja no amor à primeira vista, no amor conquistado ou no "amor que chega de mansinho, sem pedir licença", o que conta é o acelerar de corações e a alegria de se ver finalmente junto da pessoa amada. Exigir amor é o mesmo que comprar a própria infelicidade, pois uma hora ou outra, a verdade aparece. E o que se segue é somente desgosto. Não deu certo? Pode ter sido o momento errado, uma impressão equivocada, desencontros de todo o tipo. De que adianta insistir? Não é melhor "ficar bem na fita" e tentar trilhar o seu caminho? No futuro, os caminhos se cruzando novamente ou não, ficarão as boas lembranças.

Sendo assim, eu pergunto: foi amor ou egoísmo?

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Capitu

Citei num post passado o dilema de Capitu: "Traiu ou não?". E uma pessoa me respondeu que comentou sobre isso no outro dia. Foi então que me dei conta: quando li este livro, tinha por volta de uns 11, 12 anos. Pensei: o que uma jovem de 11 anos pode saber sobre clássicos ou sobre questões tão complexas? Aí me bateu aquela curiosidade. Eu me dei conta de que ler Dom Casmurro aos 11 anos não pode ser igual a lê-lo mais de 20 anos depois (ufa, disfarcei bem). Pois bem: lancei-me neste projeto. Estou relendo Dom Camurro. O que posso dizer até o momento:

1. Apesar de bem espertinha para a minha idade na época, tenho certeza de que não compreendi mais do que 40% do livro, devido à complexidade de vocabulário, referências e sutilezas.
2. Machado de Assis era mesmo bom pra caral... O cara tem uma ironia para descrever as coisas, uma sensibilidade... Muito bom.
3. Parei para pensar sobre a época. Quando eu era criança, os escravos pareciam algo tãããão distante da minha realidade. Agora me dou conta de que quando o meu bisavô nasceu, no Rio de Janeiro, no Engenho Novo, ainda havia escravos.
4. Até onde li (vou continuar amanhã), o Bentinho ainda não foi para o seminário. E a Capitu está parecendo sim, ardilosa. Aos 14 anos a menina já tem uma malícia danada.
5. Aplausos para as cenas do muro e do penteado.
6. Mudam os tempos, os costumes, o tempo. Mas sentimentos são atemporais.
7. Adoreeei, o olhar de cigana dissimulada, de ressaca (tormenta).

Aguardem os próximos capítulos e o desfecho.

Em tempo: na minha época de colégio, fizemos uma encenação com um julgamento. Cada parte expunha os pontos do livro que indicavam se a ré (Capitu) era culpada ou inocente. Eu era contra a inocência de Capitu. Veremos mais de 20 anos depois se sustento a minha opinião.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Inaugurando o Wild Life

Volta e meia tenho postado algumas frases engraçadinhas que meus filhos falam ou mesmo livros legais que encontrei para eles, coisas deste tipo. No final de semana, tive a experiência de ir com os dois num supermercado cheio. E foi como descrevi para um amigo meu: "Wild Life".

Ser mãe é lindo, recompensador, emoção sem igual e tudo mais que falam por aí. Mas é como uma amiga minha, mãe de um bebê de 1 mês, me disse no outro dia: "ninguém me contou que ia ser tão difícil. Ninguém fala a verdade".

É, gente, os primeiros dias são muuuito difíceis mesmo. A gente não acertou ainda o tempo entre uma mamada e outra, o bebê mal mamou e já quer de novo. Às vezes são espaços de apenas uma hora e meia. E também tem aquela estória de que "cada mamada é uma cagada". Em questão de horas, a gente vira um verdadeiro zumbi, sem noção de tempo, o que é dia vira noite e vice-versa, nos tornamos um trapo humano que mal consegue tomar banho direito.

O bom é que tudo isso passa (apesar de que 1 mês parece que dura 1 ano) e ficam as lembranças no mínimo curiosas.

Um das histórias preferidas do meu filho é de quando ele tinha menos de 1 mês de idade. Vocês sabem né? Que criança adora história com porcaria? Pois bem, estava eu lá, sozinha, no meio da madrugada, nem me lembro se antes ou depois da mamada, e levei o bebê para trocar a fralda. E me lembro que no momento em que fui limpar "lá", bem no meiozinho, avistei um pontinho amarelo. Não sei se foi o sono ou se foi por ser um fato totalmente inusitado mesmo, que não me dei conta imediatamente do que era e prestei mais atenção ao pontinho (vejam que isso foi em questão de milésimos de segundos) e foi então que o pontinho aumentou e se transformou num jato. Sim, vocês devem estar perguntando: "jato de quê?". De cocô! Sim, porque cocô de recém-nascido é assim, amarelo, pastoso e segundo o que descobri nesta ocasião, sai com uma pressão impressionante! E o que fiz? Tomada pela surpresa, a única reação que me ocorreu foi colocar a mão na frente. Sim, senhores, eu aparei o jato de cocô com a mão! Mas não consegui impedir que fraldas, lençóis e até a parede ficassem sujos...

Estão vendo como são fortes as emoções?

Cai o livro no vão da cama

O menino de 8 anos tenta pegar... a mão não passa,
A mãe tenta pegar, óbvio que a mão também não passa,
Tentam pegar com um brinquedo de dentadura que também não passa.

- S.!! Tenta você!!

A menina de 5 anos coloca a mão no vão:

- Mamãe! Estou sentindo o livro com os meus dedos.
- Vai, S., tenta pegar!
- Legal, S.!
- Mamãe! Consegui!

Aplausos. Não cabe em si de orgulho.

- Tá vendo mamãe? Os pequeninos também podem ajudar!

Conversa ouvida no corredor

Como resumir uma tragédia de uma forma bizarra:

"Ela era uma menina daquelas bonitinhas que estava se achando. Ele, também estava se achando. Aí começaram com aquela brincadeira de seqüestro. Veio a polícia, não tinha como voltar atrás. Aí, não teve jeito mesmo, só dando tiro".

Dá para acreditar nisso? É bizarro ou não é?

sábado, 18 de outubro de 2008

Silêncio é de ouro...

Acho que é culpa da escola... Eu fui educada para ter opinião sobre tudo... Ou será mal de carioca? Uma vez me disseram que carioca tem opinião sobre tudo. Mas voltando ao colégio, são diversos debates, "Capitu traiu ou não?", "Devemos ser a favor do aborto?", coisas deste tipo... Aí, a gente cresce assim, sendo "assertivo", essa palavra tão em moda hoje em dia. A gente quer conversar, dar opinião, falar sobre tudo e todos. Mas o que não explicam pra gente é que também tem o momento de se calar. Hora de guardar pensamentos para a gente, de não tentar se explicar tanto. Por que às vezes, por melhor que a gente tente se explicar, as palavras chegam no ouvido da pessoa de uma forma diferente. A gente acha que está dizendo uma coisa e a pessoa está entendendo outra. E nisso, ao invés de ajudar, a gente acaba atrapalhando. Tem aquela coisa também, de interpretação de texto. O escritor floreia tudo e a gente tem que ficar lendo e relendo para extrair o que realmente ele quis dizer. E no fim, a gente pensa que tem que fazer isso também na comunicação. De repente, a gente está falando ali, "preto no branco" mas quem ouve acha que tem que interpretar algo na nossa fala...

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

O direito de ser piegas

A gente recebe esses e-mails pela internet: é oração, corrente, texto de Arnaldo Jabor (depois daquele texto do câncer de mama da Patricia Pilar fiquei traumatizada, sempre acho que os créditos são falsos), texto de Mário Quintana... é muita coisa que a gente lê, algumas muito legais, outras nem tanto. Hoje recebi um texto que achei bonitinho e que transcrevo abaixo, correndo o risco de parecer piegas. Na verdade, vou aproveitar o gancho do texto para dizer que estou pouco me lixando do que vão pensar. Eu gostei e pronto. Quem não gostou, deleta!

Piquenique das Tartarugas

Uma família de tartarugas decidiu sair para um piquenique. As tartarugas, sendo naturalmente lentas, levaram 7 anos preparando-se para o passeio. Passados 6 meses, após acharem o lugar ideal, ao desembalarem a cesta de piquenique descobriram que estavam sem sal. Então, designaram a tartaruga mais nova para voltar à casa e pegar o sal, por ser a mais rápida. A pequena tartaruga lamentou, chorou e esperneou. Concordou em ir, mas com uma condição: que ninguém comeria até que ela retornasse. Três anos se passaram...seis anos... e a pequenina não tinha retornado. Ao sétimo ano de sua ausência, a tartaruga mais velha já não suportando mais a fome, decidiu desembalar um sanduíche. Nesta hora, a pequena tartaruga saiu de trás de uma árvore e gritou:

- Viu! Eu sabia que vocês não iam me esperar. Agora que eu não vou mesmo buscar o sal!

Na nossa vida as coisas acontecem mais ou menos da mesma forma. Desperdiçamos nosso tempo esperando que as pessoas vivam à altura de nossas expectativas. Ficamos tão preocupados com o que os outros estão fazendo que deixamos de escrever nossa própria história.

Como disse Mário Quintana: "O pior dos problemas da gente é que ninguém tem nada com isso. Viva sua vida e deixe de se preocupar com a opinião e o interesse dos outros por você. O sucesso parece estar ligado à ação. Pessoas bem-sucedidas mantêm-se ativas. Elas cometem erros, mas não desistem."

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Que lipo nada!


Passe alguns meses ao lado de um infartado e uma pré-diabética e você vai finalmente aceitar o fato de que não tem mistério: o que engorda é gordura, açúcar (carboidrato) mesmo. Não é remédio, lipo ou dieta louca que vai resolver o problema.

Desculpe se acabei com as esperanças. Não adianta espernear. O que você precisa é encontrar o seu gatilho, nem que ele seja o medo (como no nosso caso). E substituir o prazer de comer por outros prazeres.

Constatatei que açúcar realmente é vício. Primeiro, quando a gente começa a cortar, a gente quer pular da janela. Depois de um tempo a gente esquece. E por último, a gente fica até enjoado se comer um doce muito melado. Os "cravings" cessam. Posso olhar para a foto acima que não me abalo.

Ajuda conhecer melhor os alimentos. Saber o que tem gordura magra, embarcar nos integrais, aprender sobre temperos, diminuir quantidades. Por que tem isso também: quanto mais você come, mais você quer comer.

E por último. Mexa-se. Com o tempo, você vai descobrir que exercício é prazeroso. Deu vontade de comer? Mexa-se mais. E no fim, você vai aprender que é mais gostoso fazer exercício do que comer demais.

Não é hipocrisia não. Pode acreditar. Aliás, aconselho que acredite: estamos falando de pessoas entre 30 e 40 anos. O estilo de vida de hoje propicia esses problemas. Coisas que pensamos que só aconteceriam com a gente na velhice. Detonei o seu gatilho?


O tamanho das coisas

Estava lendo no outro dia o blog da Rosely Sayão, muito interessante para quem tem filhos ou contato com crianças e jovens:

http://blogdaroselysayao.blog.uol.com.br/

Num dos posts motivados pela proximidade com o Dia das Crianças, falando sobre aspectos da infância, ela usa um texto de Manoel de Barros, do qual extraio um trecho abaixo:

Achadouros
“Acho que o quintal onde a gente brincou é maior do que a cidade. A gente só descobre isso depois de grande. A gente descobre que o tamanho das coisas há que ser medido pela intimidade que temos com as coisas. Há de ser como acontece com o amor. Assim, as pedrinhas do nosso quintal são sempre maiores do que as outras pedras do mundo. Justo pelo motivo da intimidade."

Dias antes eu havia recebido por e-mail um ppt falando sobre o mesmo conceito, aplicado a pessoas, o fato de como uma pessoa se torna maior ou menor para nós dependendo de ações, da espontaneidade, do carinho, do envolvimento que ela tem conosco. Este texto estava creditado a "Ercília Ferraz de Arruda Pollice".

E no fim é isso mesmo. Meu quarto é meu mundo. É lá que leio os melhores livros, vejo alguns filmes e penso sobre a vida deitada na cama, olhando através da janela. Gosto dele na mesma medida em que gosto de viajar, sair e ver gente. Arrisco adicionar a este conceito de tamanho, que ele pode variar não só pela intimidade como pelo momento e o estado emocional em que nos encontramos.

Quem nunca se sentiu sufocado ao ar livre?

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Small talk

No outro dia eu assisti um filme onde o cara dizia: "I hate small talk".

Eu diria que eu adoro "small talk", long talks, whatever-kind-of-talk. Converso com quem estiver do meu lado numa boa. Gosto de ouvir o que as pessoas pensam, ouvir os sotaques (aqui em SP tem sotaque de tudo quanto é tipo, às vezes só de mudar de bairro o sotaque já muda), de ouvir as pérolas.

Hoje tava no elevador, num momento de introspecção matutina e a galera já embarcou no "small talk" preferido da sexta-feira. Neste momento, não consegui me inserir na conversa, devido ao estado letárgico em que eu me encontrava. A semana inteira fez um frio desgraçado em São Paulo. Dias cinzas, chuvosos. Hoje, sexta-feira, apesar do frio, amanheceu com um sol maravilhoso e o céu completamente azul. Aí, é de se esperar que as pessoas comecem com aqueles comentários costumeiros: "será que vai chover no final de semana?". Isso porque já há alguns meses é assim em São Paulo. Faz sol durante a semana, chega até a esquentar mas no final de semana sempre chove. Para esta pergunta, tem a resposta obrigatória: "eu ouvi dizer que vai chover no domingo".

Eu fico impressionada com como as pessoas acompanham fielmente as previsões do tempo. No outro dia, não trouxe guarda-chuva para o trabalho. E alguém me disse: "você não viu na previsão que ia chover?". Nessas horas, se o intuito é fazer "small talk", a gente simplesmente ignora o fato de se viu ou não a previsão e lança uma dessas respostas óbvias: "eu vi, mas esqueci"...

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Lembranças de muito tempo atrás

O post de hoje vai em homenagem à minha querida avó E. pois hoje seria o aniversário dela se ainda estivesse viva.

A minha avó, à sua maneira, foi daquelas avós que todo mundo sonha em ter. Ela brincava comigo, me preparava doces maravilhosos (arroz doce quentinho, bolinho de fubá frito com açúcar e canela, doce de abóbora, de mamão verde ralado). Me ensinou a brincar de "cama-de-gato", diversão para quando faltava luz, contava-me estórias da sua época, um passado para mim tão distante, da quando não havia televisão.

Juntas assistimos algumas novelas quando eu ainda era bem pequena: "Estúpido Cupido", a "Moreninha". Todo dia à tarde, ela se sentava para tomar o seu copo de café preto com pão com manteiga. Ensinou-me o básico de tricô e crochê, artes que ela dominava com maestria.

Momento mágico era quando eu pedia para ela abrir suas caixinhas de jóia em madeira marchetada. Ela não gostava de usar jóias mas meu avô era fascinado por elas e nas datas especiais sempre a presenteava com uma nova peça. Meus olhos de criança brilhavam vendo o colorido das águas-marinhas, esmeraldas, madrepérolas, dos anéis e dos broches. Eram jóias e bijuterias finas simples, compradas com esforço.

Ela gostava de música e radio-novela que escutava no seu radinho de pilha sempre ligado no final da tarde. Sua música preferida era o "Brejeiro" de Ernesto Nazaré que eu me esforçava em dedilhar como podia, quando ainda não tinha domínio suficiente no piano para fazê-lo, só para agradar.

Já bem idosa, tinha os cabelos branquinhos e fofos como algodão. Com a sua fragilidade, mãos levinhas e dedos fininhos, secava e desembaraçava com carinho os meus longos cabelos então negros.

Uma pessoa querida, quando se vai, nunca é esquecida. Seja a separação por morte ou pelo destino, no fim ficam as boas lembranças. E o tempo ajuda a amenizar a dor.