domingo, 1 de fevereiro de 2009

No dia em que ele dormiu

Saiu do hospital com um peso no peito. Pensou que talvez agora ele tivesse tranquilidade para ouvir as músicas que tanto gostava. "Quem sabe se eu conseguir um mp3 player e fizer umas compilações com os CDs dele?"

Essa idéia deu-lhe um pouco de conforto.

No dia seguinte, procurou uns aparelhinhos sem muito sucesso. "No sábado pego os CDs".

Só que sábado já era tarde. Ele se foi na sexta-feira, no final da tarde.

Embora achasse que era melhor assim, que ele já não merecia mais sofrer tanto, ficou com a sensação de não ter dado adeus. Dez minutos, apenas 10 minutos numa sexta-feira de chuva foram o que a impediram de se despedir.

Ao menos teve uma chance de homenageá-lo na pequena cerimônia com uma das suas músicas preferidas. Uma entre tantas que aprendeu a gostar através dele. O concerto de Aranjuez.

Domingo, tirou pela primeira vez o seu carro da garagem com a certeza de que ele não voltaria a ver o dono. Neste tempo todo em que se tornou a guardiã do veículo, limitou-se a lavá-lo, abastecê-lo, andar com ele somente pequenas distâncias, ciente do ciúme que o seu dono tinha dele. Pensava que um dia, talvez, o carro pudesse retornar à garagem certa.

No meio do caminho para o supermercado, um imprevisto. Precisava de um lenço de papel. Abriu o porta-luvas na procura de um e se deparou com um estojo de CDs. Várias mídias preparadas com cuidado. B.B.King, outros guitarristas americanos, coletâneas de música clássica, Teleman e "The Joshua Tree" do U2.

Este último era um daqueles gostos compartilhados pelos dois. Retirou o CD do estojo e colocou no rádio. Ao início de "Where the streets have no name", subitamente sentiu como era quando ainda bem jovem ouviam juntos as músicas na sala do apartamento do Rio. O álbum era daquela época.

Foi invadida por nostalgia e tristeza. Consciência da separação. Do nunca mais ver. Foi ouvindo as músicas do U2, lembrando disso, dirigindo e chorando.

6 comentários:

Pat Ferret disse...

Oi, amiga. Eu entendi direito o post? Posso fazer algo?

Lilly disse...

Oi Pat,
infelizmente sim, é isso mesmo, ele se foi na 6a.feira. Mas estamos calmas. Ele finalmente descansou. Obrigada pela preocupação.

Beijos.

Pat Ferret disse...

Sinto muito. Precisando de qqr coisa, estou aqui, tá?

Teste disse...

emocionante querida... emocionante... certamente ele esta lendo estas palavras de onde estiver.

bjos.

Betty disse...

Lili,
Quisera ter escrito um post tão bonito.
Ficou como despedida.
Essa sensação esquisita da não despedida fica ,eternamente ,rondando ...

Bjs

Lilly disse...

Amigos,
infelizmente descobri que as mais belas produções vêm justamente do sofrimento...
bjs.