sábado, 28 de fevereiro de 2009

O ônus da independência

Eu sou filha única. Vocês vão imediatamente lembrar daquela célebre frase: "filho único é mimado".

Posso afirmar que isso não é verdade. Eu tive muito conforto material e uma base de educação sólida. Instituições particulares, alto nível de ensino. Meus pais, sendo de origem mais simples, me deram oportunidades, sempre enfatizando o valor das coisas. Eu não recebia nada de "mão beijada". Eu tinha que valorizar o que recebia, entender o que se esperava de mim e o que no futuro eu poderia construir para mim, como resultado do esforço do estudo e do trabalho.

Minha mãe era filha do meio de nove irmãos. Teve que sair de casa cedo para estudar, já no ginásio. Morava na casa de outra família. Meu pai, perdeu o pai aos 16 anos e foi à luta.

Com certeza, recebi desde cedo ingredientes para ser independente, devido a esse quadro que descrevi brevemente. Entretanto, olhando para mim no passado, ainda bem novinha, vejo que havia algo, desde que nasci que me tornava intuitivamente independente.

Eu era pequena de idade e de tamanho. E cheia de opinião. Envergonhava-me se não soubesse alguma matéria que era ensinada na escola. Queria ter boas notas. Em casa, nunca recebi cobrança de nota, que tivesse que ser 9 ou 10 ou melhor da turma. Eu não era a melhor da turma. Mas queria estar entre os melhores. Era um sentimento meu.

Desde cedo aprendi a fazer tarefas de casa, a ser responsável pelo meu quarto, arrumação e muitas vezes limpeza, arrumar o lanche da escola, passar a camisa do colégio, prezar pelo meu material e pelo cumprimento das tarefas escolares, pegar ônibus ou caminhar para as diversas atividades extras que eu frequentava, enfim... Responsabilidades que eu recebia, abraçava e cumpria.

Depois de adulta, isso não mudou muito. Ou melhor, mudou. As responsabilidades cresceram exponencialmente ao ponto de por vezes, tornarem-se quase que insuportáveis. Oportunidade de rever o que realmente é importante ou perfeccionismo exacerbado. Por que quando a gente se acostuma a dar conta de "tudo", sem querer a gente acaba pecando pelo excesso. O parâmetro torna-se exagerado.

Infelizmente, o parâmetro torna-se exagerado no total, para o mundo externo também. Por que quando a gente dá conta de tudo, a gente eleva as expectativas dos outros. Todo mundo está tão acostumado a nos ver dando conta de tudo que se um dia a gente fraqueja, alguém corre para nos cobrar ou dizer que não estamos dando conta. Não importa que a maioria faça quase nada ou muito menos do que a gente produz. O que fica evidente é que a gente fazia e deixou de fazer.

Esse é o ônus da independência.

3 comentários:

Anônimo disse...

concordo plenamente
a independência pesa, sempre terá alguém pra apontar tuas fraquezas, independente das próprias... percebi isso no meu ultimo emprego, onde, no início era extremamente eficaz, pro ativa, dinâmica e após um tempo tive uma crise de bournot... não teve uma viva alma p apoiar, somente criticar, sendo q não faziam metade do q eu fazia mesmo doente...
complexo...

bjoks

Agrilla Bass disse...

tirando a parte de escola particular, este post poderia ter sido escrito por mim!!
vida dura neh.

Lilly disse...

Pois é, Tessa. O que eu costumo dizer é que no trabalho, se a gente é promovido, ganha mais trabalho. Raramente o salário sobe proporcionalmente... rsrsrs

Agrilla, estamos sintonizadas! ;)